• Nenhum resultado encontrado

A análise do quadro geral das atividades no Vale do Jequitinhonha

A expansão da pecuária nos anos 1960 e a introdução das lavouras de café e das áreas de reflorestamentos de eucalipto nos anos 1970 promoveram alterações profundas na organização do espaço regional no Vale do Jequitinhonha. Essas alterações estão relacionadas à apropriação empresarial da terra e à mudança no seu padrão de uso. Ambos os processos promoveram a desarticulação da propriedade familiar, bem como da produção de alimentos, atividade típica da maioria dos estabelecimentos agropecuários no Jequitinhonha até então.

Da década de 1970 em diante, a incorporação de terras por essas três atividades pautou-se no argumento da subutilização; argumento esse que subsidiou as ações dos governos federal e estadual para conceder incentivos fiscais, como forma de ocupar espaços antes ociosos. Simultaneamente, criou-se na população local uma grande expectativa quanto às possibilidades de obtenção de empregos e melhores remunerações, o que não se confirmou em razão do caráter empresarial e das especificidades de cada atividade. No caso do eucalipto, por exemplo, a mão de obra local valeu-se da grande oferta de empregos para o plantio das mudas. No entanto, entre o plantio e o corte, essa mesma mão de obra não obteve acesso aos postos de trabalho gerados inicialmente, por causa do tempo exigido para o crescimento do vegetal.

Em 1995, a pecuária, a cafeicultura e a silvicultura do eucalipto somadas ocupavam 35,7% de toda a extensão territorial do Vale do Jequitinhonha, o que representava 1.854.134 hectares. Já em 2006, as terras alocadas nessas três atividades respondiam por 40,2% de todo o Vale do Jequitinhonha, ou 2.085.035 hectares. Esse crescimento, entretanto, foi desigual entre as atividades. A cafeicultura obteve o maior crescimento entre 1995 e 2006. As lavouras se expandiram 12,5% entre um ano e outro. Curiosamente, as lavouras de café foram as que ocuparam menor proporção de terras no ano de 2006, se comparado à pecuária e à silvicultura (aproximadamente 339 km2).

Em todo o Vale, a área ocupada pela silvicultura do eucalipto cresceu apenas 1,6% entre 1995 e 2006. Ao passo que, neste ano, a área correspondente aos eucaliptais encontrava-se na casa de 1632 km2, as áreas relativas à produção cafeeira e à pecuária eram, respectivamente, de 339 km2 e 18.880 km2. A elevada participação das outras atividades econômicas no Vale, a dizer as que se vinculam principalmente ao pequeno produtor e à produção de alimentos confirma a expectativa de que mesmo com o avanço das atividades empresariais de elevada incorporação de capital, são as pequenas

  lavouras as responsáveis pela maior ocupação de terras do Jequitinhonha. Associada à mineração, a categoria outros ocupava uma área 30.847 km2 em 2006.

Com 52 municípios, o Vale de Jequitinhonha respondeu em 2008 por aproximadamente 1,17% do PIB mineiro, com o valor de aproximadamente R$2.874.231,000. Desse total, 15,4% foram fornecidos pela atividade agropecuária, principalmente por meio do cultivo de café, eucalipto e pela criação bovina. O café e o eucalipto se inseriram na dinâmica de modernização agrícola levada a cabo no Jequitinhonha desde os anos 1970, responsável pela desarticulação da produção familiar e pela incorporação de grandes extensões de terra, desencadeando intenso processo de concentração fundiária e expropriação. Além disso, a bovinocultura esteve presente durante toda a história do Vale e mantém até os dias atuais o baixo nível técnico, sendo destaque na economia da maioria dos municípios locais.

Considerando-se as sub-regiões isoladamente, é possível verificar que no Alto Jequitinhonha todos os municípios comportavam as três atividades, em menor ou em maior área. Todavia, essa realidade não é verificada no Médio e Baixo Jequitinhonha, regiões majoritariamente ocupadas pela bovinocultura. No caso do Médio Jequitinhonha, as condições naturais foram preponderantes na expansão da pecuária bovina, principalmente em razão da existência de salinas, mas também foram na reduzida ocupação das terras locais com a lavoura de café, pois

[...] o café é planta de clima úmido e quente, mas uma planta de “meio termo”, na expressão de Ney Strauch, não se dando bem com as secas prolongadas, os excessos de luz e calor, nem com as baixas temperaturas. As condições ideais de chuva giram em torno de 1.200 a 1.600 milímetros por ano, preferentemente com regime de duas estações [...] (caso do cerrado). [...] Quanto umidade do ar mais favorável é a que varia entre 75 e 85% oscilando as temperaturas entre 18 e 21º C. (GUIMARÃES,1960, p.205).

O café se adaptou bem ao clima úmido e ao solo de boa qualidade do Baixo Jequitinhonha, mas, sua expansão foi contida pela expansãp da pecuária. Em razão desse crescimento, ela converteu-se em importante área de comércio de gado. Das três microrregiões a que melhor se adaptou ao café foi a do Alto Jequitinhonha, cujos municípios se encontram geograficamente em áreas favoráveis à expansão desse cultivo. Nela estão as maiores altitudes de todo o Vale do Jequitinhonha, como se atesta o Mapa 3.

No tocante ao reflorestamento com eucalipto, nota-se também uma grande concentração espacial no Alto Jequitinhonha, sub-região que abriga extensas áreas de chapadas, planaltos com topos aplainados que favorecem a produção mecanizada

introduzida com a ocupação pelas grandes empresas. Em Carbonita, Alto Jequitinhonha, a ampliação dos eucaliptais significou a redução das demais atividades, com destaque para a categoria “outros”.

Comparando as áreas relativas por atividade econômica no ano de 2006, verifica-se um padrão de distribuição das atividades econômicas, à exceção da categoria outras atividades, bem distribuída em todo o território do Vale. Esse padrão está diretamente ligado às condições geográficas, no caso do Alto e Médio Jequitinhonha, e aos impulsos econômicos oriundos da Bahia, no caso do Baixo Jequitinhonha.

 

4. INDICADORES SOCIAIS E (DES) ENVOLVIMENTO NO VALE DO