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Outras atividades econômicas presentes no Vale

A expansão das atividades comerciais do cultivo do café, da silvicultura do eucalipto e da pecuária semi-intensiva no Vale do Jequitinhonha da segunda metade do século XX em diante, implicou o aumento da demanda por terras favoráveis ao desenvolvimento dessas atividades. Em contrapartida os terrenos familiares pequenos e geralmente descontínuos deslocaram-se para áreas marginalizadas pelas empresas e grandes fazendas comerciais. Considerando-se que as transformações técnicas ocorridas no Vale ocorreram por meio de medidas estatais, principalmente a isenção fiscal e o fornecimento de crédito, os agricultores familiares, pequenos lavradores, foram destituídos de toda e qualquer possibilidades de acesso aos benefícios oferecidos pelo Estado.

Coerente com a trajetória de lavradores de toda a região dos cerrados, os agricultores locais ficaram ao largo do processo de intensificação agrícola, absorvendo apenas fragmentos dessa transformação - na maioria das vezes apenas na pecuária e nas pastagens (RIBEIRO E GALIZONI, 2000, p.168).

Essas famílias tiveram que se adaptar às mudanças na estrutura fundiária local, passaram a ocupar terras de menor extensão e de pior qualidade, limitadas geograficamente, como no caso das grotas no Alto Jequitinhonha, vales profundos intercalados com as chapadas. É nas grotas que está concentrada grande parte dos expropriados pelas lavouras comerciais. Essas famílias mesclam cultivos de frutas, plantas medicinais com culturas como o milho, feijão, mandioca, cana de açúcar e café, nos chamados quintais ou terreiros.

Apesar de limitados quanto à disponibilidade de terras, financiamentos e insumos agrícolas, os produtores familiares desenvolveram suas culturas nos interstícios das grandes lavouras, contrapondo-se à lógica mercantilista introduzida pelas lavouras comerciais na região. Ao analisar o Mapa 6, onde estão especificadas outras atividades que compõem as áreas dos municípios, é possível verificar que elas ainda são as principais fontes de ocupação de terras no Vale do Jequitinhonha.

Ainda na categoria outras atividades, enquadra-se a atividade mineradora, principalmente no Alto Jequitinhonha. Essa atividade adquiriu novos contornos na década de 1970 do século passado, em comparação à intensa extração aurífera e diamantífera no século XVIII e XIX, com a chegada de grandes companhias nacionais e internacionais de extração de pedras preciosas e ornamentais, bem como de outros minerais como o lítio e a grafita (ZHOURI, 2010 p.216). No entanto, os projetos minerários que orientaram a ocupação de alguns municípios do Vale do Jequitinhonha pautaram-se pela espoliação ambiental e também

  Municípios como Itinga, Araçuaí e Pedra Azul foram palco da expansão da extração de granito, através do estabelecimento de contratos de arrendamentos de terras junto aos proprietários. Zhouri (2010, p. 242), em um estudo pormenorizado dos impactos da atividade mineradora de cunho empresarial, verificou que os danos ambientais causados pelas empresas nas localidades não eram reparados, sendo necessária a execução de medidas judiciais,

Em janeiro de 2007, por exemplo, foi aberto Inquérito Civil Público na promotoria de Araçuaí para apurar denúncia de uma moradora, a pedreira que funcionava acima de sua casa estava poluindo um rio e uma lagoa dentro da fazenda Laranjeira. Ela e seus vizinhos fazem uso desta lagoa para a dessedentação de animais. (ZHOURI, 2010, p.216).

Já em Pedra Azul, Zhouri (2010) destaca que os efeitos da atividade mineradora foram sentidos através dos danos às residências locais. A prática de explosões recorrentes nas pedreiras resultou em aspersão de poeira, além de promoverem rachaduras nas casas, assoreamento de rios pela deposição de rejeitos.

A comparação da distribuição espacial da categoria “outras atividades”, tais como a agricultura de subsistência e a mineração entre 1995 e 2006, revela duas situações: a dos municípios que passaram por uma diminuição do percentual de área ocupada e os municípios que, por outro lado, tiveram um aumento da área ocupada por outras atividades que não os cultivos empresariais.

No entanto, poucos municípios se enquadram na primeira situação, como Itamarandiba, Carbonita, Veredinha, Capelinha e Angelândia, no Alto Jequitinhonha, que apresentaram uma redução da classe percentual de ocupação das áreas municipais com outras atividades. Para o mesmo período, observou-se o aumento da participação da silvicultura do eucalipto na composição da área de Itamarandiba, Carbonita e Veredinha. Já em Capelinha e Angelândia, a redução do percentual da área ocupada por outras atividades foi seguida do aumento da participação tanto da silvicultura, quanto do café e pecuária. Em face da expansão das atividades comerciais no Vale do Jequitinhonha, foram as outras atividades econômicas as responsáveis pela maior parte da ocupação das áreas municipais. Entre 1995 e 2006 há o recrudescimento da ocupação das áreas municipais com essa categoria.

As outras atividades são aquelas que ocupam a maior área, mas não necessariamente são aquelas que geram mais renda, e também não impactam na melhora do desenvolvimento regional. Essas atividades estão distribuídas de forma homogênea nas três microrregiões do Vale do Jequitinhonha (Mapa 6). Entretanto, em uma análise comparativa entre os anos 1995 e 2006 verifica-se que no Alto Jequitinhonha houve uma redução da classe percentual de área

ocupada, principalmente nos municípios como Capelinha em que expandiu-se as lavouras de café.

No Médio Jequitinhonha, em 1995, os municípios concentraram-se na classe de 25- 50%, 50-75% e 75-100% referentes ao percentual da área ocupada com as outras atividades. Esse cenário se altera em 2006, quando a grande maioria dos municípios passa a ser enquadrada na classe de 50-75%.

Já no Baixo Jequitinhonha, muitos municípios não apresentavam dados referentes à área ocupada com a categoria “outras atividades” em 1995, mas aqueles que os apresentaram se enquadraram na classe de 0-25%, 25-50% e 50-75%. Por outro lado, em 2006, com mais dados disponíveis, verificou-se uma concentração nas classes 25-50% e 50-75%, como registra o Mapa 6.

MUNICIPAL EM 1995 E 2006 Jequitinhonha Caraí Novo Diamantina Palmópolis