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A aplicação do conceito de construção sustentável

2. REVISÃO DO ESTADO DA ARTE

2.4. Boas práticas

2.4.1. Sustentabilidade

2.4.1.3. A aplicação do conceito de construção sustentável

Os temas relacionados com a sustentabilidade, como é o caso da construção sustentável, são cada vez mais mencionados, estudados e aplicados nas mais diversas áreas da sociedade civil. No entanto, verifica-se que muitas empresas ligadas ao setor da construção apresentam dificuldades em aplicar as ideias associadas ao conceito de construção sustentável, que levariam, previsivelmente, a uma redução do impacto gerado pelas suas atividades, podendo assim trazer ganhos tanto para a empresa como para a sociedade (Tello e Ribeiro, 2012). Os autores Tan, Shen, e Yao (2011) realçam esta posição, indicando que existe, de facto, a necessidade das empresas de construção implementarem práticas sustentáveis, e que isso poderá significar também uma clara vantagem competitiva em relação à concorrência (Tan, Shen e Yao, 2011).

Existem várias fontes de informação que abordam o tema da construção sustentável e que enumeram uma série de exemplos de boas práticas de sustentabilidade aplicáveis às organizações ligadas à construção.

Num âmbito mais generalizado, Bragança (n.d.-a) enumera as linhas de orientação para os quatro principais fluxos (energia, água, materiais e resíduos), e que se apresentam de seguida:

Redução da procura: “É preciso parar de gastar mais do que aquilo que realmente precisamos.”

Aumento da eficiência da utilização: “Grande parte do consumo de recursos nunca chega a ter utilidade efetiva. Os recursos perdem-se na ineficiência do sistema.”

Aproveitamento das condições locais: “Os recursos a utilizar em 1º lugar deverão ser os do concelho ou região, atentos aos impactos de exploração e do transporte de recursos produzidos noutros locais mais afastados.”

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A reutilização, reabilitação e reciclagem: “Tudo o que utilizamos pode ter uma vida útil muito maior, poupando recursos e diminuindo os resíduos.”

“Resgate” do impacto ambiental: “Pode haver desenvolvimento económico sem que

os danos ambientais sejam significativos e há muitas formas de consegui-lo, nomeadamente através da aplicação de sistemas energeticamente eficientes.”

Os autores Tan, Shen, e Yao (2011) apresentam também uma série de práticas de construção sustentável, que poderão ser visualizadas no quadro 3 com os respetivos princípios associados.

Quadro 3 – Os princípios associados às dimensões/aspetos da sustentabilidade (adaptado de Tan et al., 2011)

PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS PRINCÍPIOS

Cumprimento da legislação relacionada com a sustentabilidade

Cumprir as diferentes legislações governamentais de sustentabilidade,

incluindo a exigência ambiental e a responsabilidade social, melhorando também

a competitividade da empresa.

Projeto e aquisições

Melhorar o valor do projeto ao longo de todo o seu ciclo de vida, através de uma conceção ”verde” e promoção das melhores práticas em contratos de construção em toda a cadeia

de abastecimento.

Tecnologia e inovação

Melhorar a capacidade tecnológica e de inovação da empresa por forma a aumentar a

sustentabilidade, tanto do processo de construção como dos ativos resultantes.

Estrutura organizacional e processo

Reorganizar e redesenhar a estrutura organizacional e de processos para facilitar a

implementação da política e estratégia de sustentabilidade.

Educação e formação

Aumentar o compromisso das organizações perante a construção sustentável, melhorando a educação e formação de todos

os funcionários da empresa.

Medição e elaboração de relatórios

Desenvolver um sistema de medição e elaboração de relatórios ou usar referências

existentes para avaliar o desempenho ambiental e social das empresas e identificar

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De modo a enumerar exemplos mais concretos de boas práticas para empresas de construção que procuram alcançar os objetivos propostos pelo conceito de sustentabilidade, é possível recorrer ao guia elaborado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Esta publicação tem como principal objetivo ser uma referência para organizações do setor da construção, apresentando e descrevendo uma série de boas práticas, já utilizadas por outras organizações, que visam promover a implementação da sustentabilidade nas diversas dimensões do conceito. Segue então agora uma seleção de boas práticas recolhidas a partir da consulta desta mesma publicação, divididas por 5 categorias distintivas (Tello e Ribeiro, 2012):

1) Gestão empresarial:

a) Desenvolvimento de um sistema integrado de gestão;

b) Incorporação da sustentabilidade no sistema de gestão da qualidade; c) Implementação de um sistema de gestão de riscos na construção;

d) Incorporação das recomendações da Norma ISO 26000 (responsabilidade social) ao sistema de gestão;

e) Elaboração de um relatório de sustentabilidade; f) Elaboração de inventário de gases de efeito estufa.

2) Relacionamento com os stakeholders3:

a) Diálogo e criação de acordos com diferentes stakeholders5;

b) Alinhamento de ações de responsabilidade social com a estratégia de negócios; c) Desenvolvimento da cadeia de fornecimento para sustentabilidade;

d) Relacionamento com as comunidades vizinhas às obras; e) Apoio ao desenvolvimento local.

3) Melhorias no processo construtivo:

a) Definição de critérios de sustentabilidade para empreendimentos; b) Adoção do Building Information Modeling (BIM);

c) Implantação de produção ecoeficiente em obras;

d) Otimização do processo construtivo para minimizar a produção de resíduos; e) Melhoria do desempenho ambiental dos estaleiros de obras;

f) Implementação de gestão de resíduos nos estaleiros de obras;

3 Stakeholders – termo em inglês que se refere a pessoas ou grupos com interesse (partes interessadas) no desempenho de uma empresa e na

sua organização. Os stakeholders de uma empresa são tidos geralmente como o conjunto dos acionistas, colaboradores, clientes, credores, fornecedores e a sociedade em geral (Stakeholder, 2009).

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g) Certificação da eficiência energética em edificações.

4) Saúde e segurança no trabalho:

a) Implementação de um sistema de gestão de saúde e segurança no trabalho; b) Ergonomia nos estaleiros de obras e escritórios da empresa.

5) Mão-de-obra na construção:

a) Formação de mão-de-obra em comunidades vizinhas às obras; b) Contratação de mão-de-obra do sexo feminino;

c) Inclusão social de reclusos e ex-reclusos do sistema prisional e trabalhadores retirados do trabalho escravo.

6) Desenvolvimento Imobiliário Urbano

a) Construção de passeios seguindo os princípios da sustentabilidade;

b) Plano de manutenção preventiva e modernização de equipamentos em condomínios.

Um excelente meio de garantir a implementação de práticas sustentáveis nas empresas e a sua posterior divulgação é a publicação de relatórios de sustentabilidade. Inicialmente limitado a um nicho de mercado, a publicação deste tipo de relatórios evoluiu consideravelmente nos últimos anos, sendo cada vez mais adotados por um maior número de empresas do setor da construção (Bragança, [s.d.]).

Os relatórios de sustentabilidade poderão até ser considerados como essenciais para as empresas, visto que a sua elaboração consiste na prática de medição, divulgação e prestação do desempenho da empresa aos seus colaboradores internos e externos, visando garantir o desenvolvimento sustentável (Bragança, [s.d.]).

Como forma de orientação para as entidades interessadas em adotar este tipo de ferramenta de divulgação da sustentabilidade, a organização Global Reporting Initiative estabelece uma série de diretrizes para a elaboração de relatórios de sustentabilidade (quadro 4) (Bragança, [s.d.]).

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Quadro 4 – Diretrizes para os relatórios de sustentabilidade (Bragança, [s.d.])

De modo a uniformizar e a regulamentar a aplicação da sustentabilidade no âmbito da construção, existe atualmente uma diversificada legislação publicada, que procura estabelecer as regras para as atividades relacionadas com a sustentabilidade na construção, tendo assim como principal objetivo melhorar de uma forma notória o equilíbrio entre as dimensões na atuação das organizações do setor da construção.

Dos diversos regulamentos existentes, é possível distinguir dois grandes grupos: as normas CEN (European Committee for Standardization) e as normas ISO (International Organization

for Standardization). No trabalho desenvolvido por Couto (2014), é possível encontrar dois

quadros que apresentam de forma sucinta cada uma das normas inseridas nestes dois grupos e as respetivas características gerais, as quais se apresentam de seguida (Couto, 2014).

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Quadro 5 – Síntese das normas CEN (Couto, 2014)

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