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2. BREVES CONSIDERAÇÕES NO CAMPO DA ARQUITETURA

2.4. A Arquitetura

A arquitetura é resultado do trabalho das sociedades humanas. Nesse sentido, ela é uma expressão e representação cultural concreta, autêntica e completa de uma sociedade, portanto, a partir das características de uma arquitetura é possível especular em relação às características da sociedade que a produziu.

[...]Como expressão de um determinado meio cultural, a arquitetura

não poderia ficar condicionada apenas por aspectos físicos, tecnológicos ou econômicos. Os elementos físicos e econômicos são vistos como modificadores, mas nunca como determinantes da arquitetura. Não existe um único elemento determinador, mas um conjunto deles, ou melhor, um conjunto de valores responsáveis pela conformação dos espaços construídos (RAPOPORT, 1972).

Ao estudar a arquitetura observa-se, assim, que a cada época histórica pertence uma linha de pensamento e uma produção decorrente desses pensamentos, que reflete a cultura (como idéias de pensamento) nesse espaço-tempo de referência. Também se pode observar que a materialização (que perpassa as fases de planejamento até a finalização da construção arquitetônica) dessas idéias apresentava diferentes metodologias de construção, por sua vez ligadas a valores culturais da época. Sendo assim, o resultado dessa materialização - as edificações - pode ser considerado como expressão dos conceitos e teorias de cada momento histórico. Refuta-se, portanto, a relevância da historicidade no ―fazer arquitetura‖.

Para entender a concepção contemporânea de Arquitetura, podemos tomar, para fins de entendimento, o ―modelo de quatro funções‖9 (HILLIER, & HANSON, 1984), que se centrava na idéia da função do edifício, como uma referência inicial de compreensão da arquitetura, encontrando sugestão de não apenas uma estrutura arquitetônica profunda por trás da aparência dos edifícios, cidades ou paisagens, mas de quatro, em que cada função desempenhada pelo espaço, caracteriza uma área de reflexão arquitetônica, e exige um determinado corpo de conhecimento teórico, a que se pode referir como uma sub-disciplina da arquitetura.

Vista dessa forma, entendemos que a Arquitetura se torna um conjunto de relações com as coisas, mais precisamente, de certas relações do homem com o espaço. Em

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Cada um destes domínios teóricos é constituído por, e dividido em, subáreas de conhecimento especializado, que caracterizam o objeto de vários ramos do ensino e da pesquisa: Controles térmico, acústico e luminoso (função de modificação climática); Psicologia ambiental, sintaxe espacial (função de modificação comportamental); questões de economia das edificações, sistemas construtivos (função de modificação de recursos); Semiologia arquitetônica, estética arquitetônica (função de modificação simbólica).

tais relações, os homens procuram satisfazer um determinado conjunto de expectativas que têm para com o espaço, expectativas que supostamente tem algo em comum, na medida em que justificam uma profissão e um correspondente campo de conhecimento, ambos mutantes ao longo do tempo.

Isto posto, as implicações do uso do espaço, exigem um desdobramento das categorias oferecidas pelo ―modelo de quatro funções‖ anteriormente descrito, discutido por Kohlsdorf & Holanda (2003). O modelo fala de ―modificador comportamental‖ como uma categoria muito ampla, que poderia incluir o que as pessoas fazem (as atividades propriamente ditas), além do ―como‖ elas o fazem (sistema de encontros através dos quais as atividades são levadas a efeito), e assim por diante.

Nos concentrando na função simbólica, Hillier & Learman observaram que, na função simbólica e cultural, o avanço tem sido impreciso e lento (1972). A ampla classe do ―simbólico‖ pode ser desdobrada em 3 aspectos. Por um lado, há avanços interessantes no que diz respeito à percepção visual do espaço, aí incluindo o desenvolvimento de algoritmos matemáticos para a caracterização da ordem espacial como visualmente percebida. Esta abordagem específica está sendo denominada aspectos topoceptivos do desempenho espacial e tenta estabelecer exclusivamente as relações entre as questões da orientabilidade e da identidade dos lugares, e aqueles atributos espaciais que são percebidos através de estímulos visuais.

Quando falamos de identidade espacial, estamos já em outra chave, os aspectos

emocionais do desempenho espacial. Quanto aos aspectos simbólicos, podem se referir a

valores de significação individual ou coletiva, mais especificamente àqueles valores relativos a papéis, posições, hierarquias sociais, visões de mundo, etc., particularmente tratados nesta tese.

Em resumo, o modelo de quatro funções parece apontar para um modelo de sete funções, conforme diz Kohlsdorf (2003), constituído pelos seguintes aspectos: funcionais; de co-presença; bio-climáticos; econômicos; topoceptivos; emocionais e simbólicos.

Coelho Netto em seu livro A construção do Sentido da Arquitetura (2002), também traça elementos que forneceram sólidas bases para o entendimento, e um provável

conceito, de espaço arquitetônico. Ele traça sete eixos espaciais e procura definir estes eixos como ―formadores do sentido do espaço‖ (COELHO NETTO, 2002, p.29)

Observaremos apenas os eixos espaço construído e espaço não-construído por entendermos que estes estão relacionados a outros eixos também importantes para a formação de um conceito de espaço, ligado, de certa forma, ao conceito de arquitetura proposto por Lúcio Costa, ao preconizar que ― arquitetura é antes de mais nada, construção‖(LÚCIO COSTA, 1995, p.608).

Ao falarmos de espaço construído estamos, necessariamente, falando de oposições entre espaço interior e exterior e ainda em espaço privado e público, que também constituem eixo ordenador ―da estrutura fundamental da linguagem arquitetural‖ (COELHO NETTO, 2002, pp.48), ordenam a arquitetura, nascem e se desenvolvem da mesma necessidade do homem em criar espaços para que ele, como ser, construa sua sociedade nos moldes que as experiências anteriores o orientem.

Considerando-se que estes aspectos se apresentam indissociáveis, entende-se que é necessário desenvolver uma metodologia adequada à análise de todos, ao mesmo tempo, uma vez que apesar de haver uma interação entre pessoa e ambiente e de haver no ambiente mais do que se pode perceber (ITTELSON, 1973), a experiência é holística por natureza, vivida pelas pessoas como um todo. Isso não significa que suas dimensões não possam ser lembradas separadamente, e sim que a natureza fenomenológica da experiência proporciona um sentido de campo unitário.

Se avaliar a arquitetura fosse apenas uma questão de sair perguntando às pessoas sobre sua satisfação quanto a edifícios e cidades, seria muito simples. A arquitetura ―funciona‖ porque satisfaz expectativas humanas, mas estas expectativas mudam ao longo do tempo, e muda-se também a arquitetura, sendo estas expectativas e a arquitetura constitutivas de sociedades específicas.

A arquitetura nos convida a realizar uma síntese pessoal envolvendo subjetividade e objetividade em nossas análises. Arquitetônica é relação – entre espaço e usuário - , não a coisa em si e, portanto, se estabelecerá também uma relação (arquitetônica) quando o ser humano interagir com o ambiente natural, por exemplo. É sob o olhar do espaço humanizado, ou seja, preenchido por humanos, que a qualificação de lugar se funda.

Levando em conta estas considerações e chamando a atenção para a importância do contexto, com suas regras e expectativas sociais, na versão sócio-cultural construtivista, pode-se considerar que o processo de planejamento arquitetônico seja designado como canalizador cultural. Deve-se, a exemplo de tal processo, dar o devido destaque ao caráter processual da concretização do espaço e do desenvolvimento humano em sua dimensão semiótica e sistêmica, o que é necessário para abranger a complexidade do fenômeno da interdependência social em seus aspectos macro (histórico-cultural), micro (contextual/situacional) e subjetivo (individual), os quais estão em permanente processo de mudança ou transformação ao longo do transcorrer do tempo.

A partir da visão sócio-cultural aqui empregada pode-se especular que os aspectos de co-presença, em consonência com a ―experienciação do lugar‖ de Coutinho(1998) agem como atualizadores dos demais, uma vez que o ―como‖ o sujeito age implica em modificações de toda ordem na relação indivíduo-espaço, como se pretende investigar neste trabalho.

Ás instâncias da alma do cliente juntam-se as do arquiteto como individualidade artística, um a estimar um condizente bojo ao seu espiritual lazer, o outro a impregnar em teia de conciliação, a matéria da arquitetura, não elaborada para si, com a feição sentimental que lhe é própria para que tal aglutinação melhor se verifique, o criador aspira a defrontar-se com um programa, querde natureza abstrata, quer de ordem concreta, mediante o qual ele a si possa afeiçoar, com a sua interpretação afetiva, não somente a escultura mas ainda o espaço a se conter na desejada obra (Coutinho, 1998,p.55)

Por essas definições, o ambiente não age em resposta a ação do homem, isoladamente, nem o homem imprime ao espaço modificações isoladas. O espaço construído, enquanto síntese atua como regulador, atribuindo ordem às ações do sujeito e o sujeito, ao mesmo tempo em que é regulado, modifica o espaço, re-organizando-o, o que dispara uma variabilidade na ordenação das ações do próprio sujeito.

Nesse sentido, entende-se que os aspectos relativos ao modelo de sete funções (HILLIER E HANSON, 1984), poderiam considerar - o que parece não acontecer - a relação fluida e mutante entre as funções, uma vez que um mesmo espaço apresenta todos estes aspectos, numa complexa relação de co-organização, embora havendo um movimento responsivo em torno de cada uma das funções de mutação, por parte do usuário. Sendo assim, o espaço é constantemente transformado no transcorrer do tempo, apresentando-se dinâmico e podendo ser considerado como constantemente inacabado.

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DAS PREMISSAS TEÓRICAS SOBRE

PSICOLOGIA