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4 FEMINISMO, SERVIÇO SOCIAL E PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

5.2 DIMENSÃO ORGANIZATIVA: CFESS e ABEPSS

5.2.2 A Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

Conforme as informações coletadas no Questionário de Pesquisa, a ABEPSS iniciou o processo de incorporação do debate sobre mulheres/gênero/feminismo a partir do Projeto de Formação Profissional aprovado em 1996 pela categoria, em que tal discussão foi registrada no Documento das Diretrizes Gerais para os Cursos de Serviço Social.

A articulação da ABEPSS com grupos de pesquisas na área de mulheres/gênero/

feminismo é algo muito recente, pois teve início a partir da aprovação dos Grupos Temáticos

de Pesquisa (GTP’s) no ano de 2010299

, os quais ainda estão em fase de implementação. São alguns dos objetivos dos GTP’s: I - Propor e implementar estratégias de

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Foi no XII ENPESS (2010/Rio de Janeiro) que se desencadeou a estrutura dos Grupos Temáticos de Pesquisa (GTP’s), uma estratégia da ABEPSS voltada para o fortalecimento da pesquisa na área de Serviço Social (pós graduação e graduação) e para a resistência política em face do produtivismo acadêmico (APRESENTAÇÃO DOS ANAIS DO XII ENPESS). Neste encontro ocorreram Colóquios dos GTP’s, e dentre eles, o Colóquio do GTP de “Classe Social, Gênero, Raça/Etnia, Geração, Diversidade Sexual e Serviço Social”, com a participação dos (as) seguintes palestrantes: Elisabeth Pinto, Serafim Paz, Mirla Cisne e Marylucia Mesquita.

articulação entre grupos e redes de pesquisa na perspectiva do fortalecimento da área do Serviço Social; II – Organizar estratégias de fortalecimento ou redimensionamento das linhas de pesquisa na área de Serviço Social; III- Realizar levantamentos permanentes das pesquisas desenvolvidas e dos eixos temáticos de cada GTP; IV- Coordenar ações acadêmico-científicas da entidade relativas aos eixos de cada grupo temático;VI- Socializar as pesquisas relativas aos eixos de cada grupo temático com a sociedade, com outras entidades da categoria e demais interessados; VII - Contribuir com a construção de uma agenda de pesquisa voltada para a temática do GTP que expresse as necessidades e os interesses da profissão junto à mesma (ABEPSS, 2012).

Nesta pesquisa, o foco da investigação foi o GTP “Serviço Social, Relações de

Exploração/Opressão de Gênero, Raça/Etnia, Geração, Sexualidades”, particularmente o

item sobre “Gênero”. O ementário geral deste GTP apresenta o seguinte conteúdo:

Sistema capitalista-patriarcal-racista-heteronormativo. Serviço Social, relações de exploração/opressão de gênero, raça/etnia, geração e sexualidades. Interseccionalidade das opressões de classe, gênero, raça/cor/etnia, geração e sexualidade (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL, 2012, p. 01).

Conforme já vimos, as reflexões em torno da “interseccionalidade das opressões de classe, gênero, raça/etnia, geração e sexualidade” trazem o risco de obscurecer o caráter central e fundante da superação das contradições de classe social para um projeto de plena emancipação dos indivíduos sociais, sejam homens ou mulheres.

Considerando que o capitalismo invade todas as dimensões da vida social, utilizando- se das diversas formas de opressão (mulheres, população negra e LGBT) como parte de sua lógica de acumulação, a superação dos antagonismos de classe social do sistema capitalista adquire um status diferenciado. Nessa direção, não se trata de secundarizar as lutas específicas de grupos culturalmente oprimidos, mas de apreender as diversas formas de opressão na totalidade das relações sociais capitalistas, fundamento necessário para a crítica desse sistema e unificação das lutas contra as mais diversas formas de opressão.

As opressões do sistema capitalista e patriarcal, se apreendidas na totalidade social, econômica, política e cultural da sociedade capitalista, certamente nos oferecem os conhecimentos necessários para alimentar as críticas e as lutas pela transformação dessas relações de exploração/opressão, que sem desprezar as particularidades da condição das mulheres, toma como horizonte a superação dos antagonismos de classe social e o projeto de emancipação humana.

Especialmente sobre o debate de “Gênero”, a ementa privilegia a perspectiva da

“Divisão Sexual do Trabalho”, trabalho doméstico e a reflexão sobre reprodução social no

capitalismo.

Gênero: Divisão sexual do trabalho, trabalho doméstico e reprodução social no capitalismo; Condição social das mulheres e políticas públicas. Violência contra mulher e a Lei Maria da Penha: atualidade e desafios. Feminismo: teoria, história, debates e dilemas estratégicos na contemporaneidade. Feminismo, Serviço Social e Projeto Ético-Político do Serviço Social (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL, 2012, p. 01).

A ementa sugere que o termo “gênero” aparece somente para designar uma área de estudo, uma vez que não comparece como fundamento teórico do debate sobre a questão das mulheres. Dessa forma, o debate da temática de “gênero” exclui o enfoque centrado na categoria gênero enquanto relações de poder e na dimensão do simbólico.

A ementa faz a opção por uma abordagem situada no campo da tradição feminista socialista e marxista, especialmente a perspectiva da “Divisão Sexual do Trabalho”, apreendida como o elemento chave da opressão feminina. Este é o enfoque de análise que mais representa a contribuição da tradição marxista ao feminismo, porém também pode apresentar limites teórico-políticos ao projeto de emancipação das mulheres na perspectiva da emancipação humana, se negar a concepção marxista de classe social.

Também não faz referência ao patriarcado no contexto da atual sociedade capitalista. Entendemos que a superação de uma tradicional e desigual Divisão Sexual do Trabalho não conduz necessariamente as mulheres à plena liberdade, exigindo a superação das classes sociais e do patriarcado, apreendidas na totalidade social, econômica, política e cultural da sociedade capitalista.

Um aspecto importante desta ementa que precisa ser ressaltado é a discussão sobre esta temática articulada ao Projeto Ético-Político do Serviço Social, tendo em vista a necessidade de estreitar o debate sobre a questão da opressão das mulheres, a luta feminista e o Serviço Social, na perspectiva da afirmação da direção social do Projeto Ético-Político.

Mesmo estando em processo de consolidação, o GTP “Serviço Social, Relações de

Exploração/Opressão de Gênero, Raça/Etnia, Geração, Sexualidades”, particularmente o

debate na área de “Gênero”, já representa um avanço no que diz respeito a inclusão do debate sobre feminismo e a adoção de uma abordagem no campo feminista socialista e marxista, com o enfoque da Divisão Sexual do Trabalho, uma vez que tais conteúdos não estão explícitos

nos Documentos da Diretrizes Curriculares, vindo a suprir essa lacuna no debate de “gênero” nesses documentos.

Pelo exposto, foi possível identificar que a ABEPSS incorpora o debate feminista e sobre emancipação das mulheres com a adoção do enfoque sobre “Divisão Sexual do

Trabalho” na área de “gênero” e as abordagens sobre a interseção classe social-gênero e o

sistema capitalista-patriarcal.

No próximo item veremos como os fundamentos teóricos dessas perspectivas aparecem na literatura publicada na profissão entre 2000 e 2011, particularmente nos trabalhos sobre feminismo e emancipação das mulheres publicados nos anais dos ENPESS’s, CBAS’s e na Revista Serviço Social & Sociedade.

5.3 DIMENSÃO TEÓRICA: ENPESS, CBAS E REVISTA SERVIÇO SOCIAL E