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4.2 Medidas de prevenção, punição e proteção às vítimas

4.2.3 A atuação do Poder Judiciário

4.2.3.4 A atuação da Justiça do Trabalho

No âmbito da Justiça do Trabalho, em caso de identificação de situações laborais exploratórias, normalmente identificadas como trabalho em condições análogas à de escravo, tem sido determinada, além do pagamento das verbas trabalhistas, previdenciárias e fiscais inadimplidas, bem como das verbas rescisórias devidas em caso de rescisão indireta, a obrigatoriedade de pagamento de indenizações com fulcro no reconhecimento da existência de danos individuais e coletivos. Verificaram-se, além disso, casos de responsabilização em cadeia.

Conforme se salientou, os julgados têm identificado a necessidade de pagamento das verbas trabalhistas não adimplidas. Em não raros casos, são fixadas ainda indenizações por danos morais, tendo em vista as condições degradantes a que os trabalhadores eram submetidos. Nesse sentido, cita-se o RO-28325/2003-008-11-00 do TRT 11, que proveu o Recurso Ordinário para afastar a sentença de improcedência, tendo em vista a existência de prova de que os trabalhadores das empresas recorridas trabalhavam em regime de trabalho forçado na colheita de dendê, sem carteira assinada e com pagamentos em atraso, bem como abaixo do mínimo legal, notadamente em virtude da manutenção de um armazém onde os trabalhadores deveriam adquirir gêneros alimentícios (muitas vezes já vencidos) mediante dedução salarial. Além disso, em casos de rescisão contratual, ao procurar o patrão para a percepção das

verbas rescisórias, os trabalhadores eram ameaçados143. Assim, eram robustas

as provas de violação a direitos trabalhistas mínimos em virtude da submissão dos trabalhadores à condição análoga à de escravo a ensejar reparações judiciais144.

Quanto à propositura da ação visando ao pagamento de verbas inadimplidas, bem como de indenizações, verificou-se também a existência de TERCEIRA SEÇÃO. Julgamento: 26/08/2009. Publicação: DJe 17/09/2009. Fonte: LEXSTJ v. 243 p. 253.

143 Tribunal Regional do Trabalho da 23ª Região. RO-28325/2003-008-11-00. Relator: LAIRTO

JOSÉ VELOSO. Julgamento em 10/09/2004.

144 Também foi decidido de forma semelhante em: Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região.

Processo 0061000-08.2005.5.05.0019 RO, ac. nº 022367/2008, Relatora: DESEMBARGADORA DALILA ANDRADE, 2ª. TURMA. Data do julgamento: 21/10/2008; Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região. RO 00073-2002-811-10-00-6. Relator: JOSÉ RIBAMAR O. LIMA JÚNIOR. 2ª TURMA. Data do julgamento: 07/05/2003. Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região. Processo 0071500-16.2006.5.05.0661 RO, ac. nº 019282/2007. Relatora: DESEMBARGADORA DALILA ANDRADE, 2ª. TURMA, DJ 07/08/2007.

jurisprudência no sentido de reconhecer legitimidade ao Ministério Público do Trabalho para propor ações civis públicas. Os julgados indicaram que o Ministério Público tem como uma de suas atribuições a tutela de direitos constitucionais em sentido amplo, além de outros ”interesses e direitos individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos”, conforme se extrai da Lei

Complementar no 75/93 (01110-1998-777-24-00-0 (RO) – TRT 24145) e, no

mesmo sentido, de 00972-2002-071-24-00-0 (RO) – TRT 24146 e 00971-2002-

071-24-00-6 (RO) – TRT 24147.

Chamaram à atenção os casos de condenação à indenização por danos morais individuais e coletivos. O dano moral coletivo decorre da lesão a interesses metaindividuais socialmente relevantes, gerando sentimento de repúdio em determinado grupo ou, até mesmo, em toda a sociedade. Por essa razão, diz-se que a violação de interesses dessa natureza afeta não apenas o(s) indivíduo(s) que tenha(m) sofrido lesão, bem como vários outros sujeitos. Em determinados julgamentos, entendeu-se que o trabalho escravo representa mecanismo de aviltamento a interesses de toda a sociedade brasileira, motivo pelo qual foram acolhidos pedidos de indenização por dano moral coletivo.

Adotam esse entendimento: 00742-2012-084-03-00-4 RO148, 00110-2011-101-03-

00-0 RO149 e as sentenças proferidas no bojo da ação civil pública 0276/2002150 e

da ação civil pública 0218/2002151.

A análise jurisprudencial permitiu evidenciar, ainda, casos em que os tomadores de serviço contratantes de terceirizadas, inclusive em casos de

145 Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região. 01110-1998-777-24-00-0 (RO). Relator:

ANTONIO CARLOS PALUDO. Data da decisão: 21/10/1998. Fonte: DO/MS N° 4896 de 13/11/1998, p. 63.

146 Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região. 00972-2002-071-24-00-0 (RO). Relator

RICARDO G. M. ZANDONA. Data da decisão: 23/10/2003. Fonte: DO/MS N° 6121 de 11/11/2003, p. 29.

147 Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região. 00971-2002-071-24-00-6 (RO). Relator:

RICARDO G. M. ZANDONA. Data da decisão: 10/09/2003. Fonte: DO/MS N° 6090 de 26/09/2003, p. 42.

148 Tribunal Regional do Trabalho 3ª Região. 00742-2012-084-03-00-4 RO. Relator: ROGÉRIO

VALLE FERREIRA. SEXTA TURMA. Data de publicação: 26/11/2012.

149 Tribunal Regional do Trabalho 3ª Região. 00110-2011-101-03-00-0 RO. SEXTA TURMA.

Relator: JORGE BERG DE MENDONÇA. Data de Publicação: 28/10/2011. Fonte: DEJT 27/10/2011, p. 283.

150 Justiça do Trabalho da 8ª Região. Vara do Trabalho de Parauapebas/Pa. Ação Civil Pública

0276/2002. Sentença do Juiz Titular JORGE ANTÔNIO RAMOS VIERA. Data do julgamento: 30/09/2002.

151 Justiça do Trabalho da 8ª Região. Vara do Trabalho de Parauapebas/Pa. Ação Civil Pública

0218/2002. Sentença do Juiz Titular JORGE ANTÔNIO RAMOS VIERA. Data do julgamento: 30/04/2003.

empreitada, foram responsabilizados por verbas trabalhistas inadimplidas em casos de trabalho escravo. Como fundamento, foi utilizada a Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho, que atribui ao tomador de serviços responsabilidade subsidiária ou solidária em se tratando de terceirização fraudulenta em caso de inadimplemento de parcelas trabalhistas, bem como os artigos 186, 187, 927 e 942 do Código Civil. Nesse sentido, cita-se ACÓRDÃO

0000779-47.2012.5.04.0373 RO proferido pelo TRT4152, RECLAMAÇÃO

TRABALHISTA Nº 00756-2004-661-05-00-2 apreciada pela Vara do Trabalho de

Barreiras153, RECLAMAÇÃO TRABALHISTA 00322.2004.661.05.00-2 também

apreciada pela Vara de Barreiras154 e RR - 325-52.2010.5.04.0821 proferido pela

8ª Turma do TST155.

Verificou-se, também, a existência de um julgado acerca da recusa judicial de homologação de pretenso acordo entre partes. O juiz achou por bem designar audiência com comparecimento de ambas as partes para que fosse homologado acordo sob a forma de escritura pública, tendo em vista a existência de indícios de que os trabalhadores acordantes estavam submetidos a trabalho escravo. A decisão em sede de recurso mantém a sentença que indeferiu o pedido homologatório ainda que os trabalhadores tenham firmado declarações em cartório, pois presumido é o vício de consentimento em razão da situação fática

em que se encontravam (00968-2002-071-24-00-2 (RO) – TRT 24)156.

Naturalmente, alguns julgamentos evidenciaram postura regressista, como

a adotada no AIRR 15-12.2011.5.04.0821157, no qual se afirma que há de ser

considerado trabalho escravo apenas aquele em que há efetiva privação de liberdade, fazendo menção às Convenções 29 e 105 da OIT.

152 Tribunal Regional do Trabalho 4ª Região. ACÓRDÃO 0000779-47.2012.5.04.0373 RO. Relator:

DESEMBARGADOR HERBERT PAULO BECK. Órgão Julgador: 11ª TURMA. Julgamento em: 26/09/2011.

153 Vara do Trabalho de Barreiras. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA N.º 00756-2004-661-05-00-2.

Juíza HINEUMA MÁRCIA CAVALCANTI HAGE. Decisão em: 29/03/2005.

154 Vara do Trabalho de Barreiras. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA N.º 00322.2004.661.05.00-2.

Juíza Alice Maria Santos Braga. Decisão em: 03/11/2004.

155 Tribunal Superior do Trabalho. RR - 325-52.2010.5.04.0821. Relatora: MARIA LAURA

FRANCO LIMA DE FARIA. 8ª TURMA. Data de julgamento: 24/10/2012. Fonte: DEJT 26/102012.

156 Tribunal Regional Federal da 24ª Região. 00968-2002-071-24-00-2 (RO). Relator: AMAURY

RODRIGUES PINTO JÚNIOR. Data da decisão: 26/05/2004. Fonte: DO/MS N° 6289 de 19/07/2004, p. 24.

157 Tribunal Superior do Trabalho. AIRR 15-12.2011.5.04.0821. Relator: MIN. IVES GANDRA.7ª