• Nenhum resultado encontrado

A auto-ocupação no Brasil: evolução dos indicadores básicos (1997-2003)

CAPÍTULO III – LIMITES E DESAFIOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESTÍMULO À AUTO-

3.1. A auto-ocupação no Brasil: evolução dos indicadores básicos (1997-2003)

Esta seção caracteriza os empreendimentos dos auto-ocupados brasileiros a partir dos dados da Ecinf de 1997 e 2003. Pretende-se avaliar o grau de formalização e o desempenho econômico desses empreendimentos, comparando os resultados obtidos nos dois anos em questão. O objetivo mais geral é levantar elementos que contribuirão para o exame das políticas de crédito e assistência direcionadas aos empreendimentos de auto-ocupados, que será realizado na seção 3.3 deste capítulo. Dada a heterogeneidade que marca a auto-ocupação no Brasil, destacada preocupação foi concedida à diferenciação entre os empreendimentos de conta própria e os de pequenos empregadores.

Conforme se observa no Gráfico 3.1, a Ecinf 1997 constatou a existência de 9.477.973 empreendimentos de auto-ocupados no Brasil, sendo 8.151.616 deles (86%) empreendimentos de conta própria e 1.326.357 (14%) de pequenos empregadores. Os dados de 2003 revelam que a quantidade de empreendimentos de auto-ocupados no país cresceu 9% em relação ao ano de 1997, alcançando 10.335.962. Por tipo de empreendimento, os de conta própria

85 As pessoas contratadas por trabalho em domicílio, ou seja, que desenvolviam suas tarefas fora do local onde o

negócio era estabelecido e não tinham vínculo de emprego com o empreendimento, foram desconsideradas. De acordo com a Ecinf 2003, 537.423 empreendimentos informais (5,2% do total) contratavam regularmente ou ocasionalmente trabalhadores em domicílio.

aumentaram 12%, enquanto os de pequenos empregadores diminuíram 7% quando comparados a 1997.

Gráfico 3.1 – Número de empreendimentos de auto-ocupados segundo o tipo do empreendimento (Brasil: 1997 - 2003) 9.478 8.152 10.336 9.097 1.326 1.239 - 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000

Total Conta própria Pequeno empregador

Em

mil

1997 2003

Fonte: Ecinf 1997 e 2003/IBGE-SEBRAE. Elaboração própria.

9%

12%

-7%

Chama atenção o fato da grande maioria dos empreendimentos de auto-ocupados ocuparem apenas uma pessoa, ou seja, o próprio auto-ocupado, sem qualquer empregado (remunerado ou não) ou sócio. Conforme aponta a Tabela 3.1, considerando todos os empreendimentos de auto-ocupados (de conta própria e de pequenos empregadores), 80% desses empreendimentos eram unipessoais, tanto em 1997 quanto em 2003. Nos dois anos estudados, apenas 8% ocupavam três ou mais pessoas, manifestando, assim, a baixa capacidade que a auto- ocupação possui de gerar empregos no país (essa constatação será reafirmada na seção seguinte).

Tanto em 1997 como em 2003, 96% dos empreendimentos de conta própria pertenciam a um só auto-ocupado, sendo os demais constituídos por dois ou mais sócios. Entre os empreendimentos de pequenos empregadores, a existência de dois ou mais sócios era pouco mais freqüente. Aproximadamente 85% desses empreendimentos compunham-se de um só

proprietário, enquanto cerca de 15% eram sociedades formadas por dois ou mais proprietários nos dois anos em análise.

Tabela 3.1 – Empreendimentos de auto-ocupados (em %), por tipo, segundo número de pessoas ocupadas e existência de sociedade (Brasil: 1997 - 2003)

1997 2003

Total Conta própria Pequeno

empregador Total Conta própria

Pequeno empregador

Número de pessoas ocupadas, incluindo auto- ocupados 1 pessoa 80% 93% 0% 80% 91% 0% 2 pessoas 12% 6% 49% 12% 7% 48% 3 pessoas 4% 1% 24% 4% 1% 24% 4 ou mais pessoas 4% 0% 27% 4% 1% 28% Existência de sociedade Único proprietário 94% 96% 84% 94% 96% 85% 2 sócios 6% 4% 15% 5% 4% 13% 3 ou mais sócios 1% 0% 1% 0% 0% 1%

Fonte: Ecinf 1997 e 2003/ IBGE-SEBRAE. Elaboração própria. Indicadores

A distribuição geográfica dos empreendimentos de auto-ocupados nos dois anos pesquisados pela Ecinf revela uma pequena redução relativa do número de empreendimentos localizados na região centro-sul do país. Em 1997, 68% dos empreendimentos de auto-ocupados estavam localizados nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, enquanto em 2003 esse percentual se reduziu para 66%. Por outro lado, observa-se que a auto-ocupação se elevou, relativamente, nas regiões de menor desenvolvimento econômico e social do país. Enquanto o Norte e o Nordeste concentravam cerca de 32% do total dos empreendimentos dos auto-ocupados em 1997, em 2003 esse percentual foi de 34%86. O Gráfico 3.2 apresenta a variação percentual do número de empreendimentos de auto-ocupados nesse período, segundo as Grandes Regiões do país, revelando como se deu esse movimento de redução relativa da participação da região centro-sul do país no total de empreendimentos de auto-ocupados do país.

Conforme se observa, o crescimento relativo do número de empreendimentos de auto-ocupados na região Norte foi, de fato, acentuado (47%), seguido pela região Nordeste, que apresentou um crescimento de 10%, a despeito da redução em 7% no número de empreendimentos de pequenos empregadores. Destacam-se no Gráfico 3.2, ainda, as

86 Todos os dados apresentados ao longo desta seção, quando não estiverem com as devidas referências, têm como

significativas quedas relativas do número de empreendimentos de pequenos empregadores nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, de -16% e -19%, respectivamente.

Ainda sob a perspectiva regional, vale ressaltar que as regiões Norte e Nordeste possuíam, relativamente, mais empreendimentos de conta própria que as demais regiões. Em 1997 e 2003, mais de 88% do total de empreendimentos de auto-ocupados dessas regiões eram de conta própria. As regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, por outro lado, revelaram as maiores proporções de auto-ocupados empregadores do país. Nos dois anos em questão, entre 15% e 18% dos empreendimentos de auto-ocupados eram de pequenos empregadores nessas regiões, com exceção do Sudeste no ano de 2003, que apresentou apenas 11% de empreendimentos de pequenos empregadores (proporção menor que a verificada na região Norte, de 12%).

Gráfico 3.2 – Variação relativa (em %) do número de empreendimentos de auto-ocupados, segundo Grandes Regiões e tipo do empreendimento (Brasil: 2003/1997)

47% 10% 8% 4% 47% 12% 12% 2% 48% -7% -16% 14% -19% -4% 0% -20% -10% 0% 10% 20% 30% 40% 50%

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Total de empreendimentos Empreendimentos de conta própria Empreendimentos de pequeno empregador Fonte: Ecinf 1997 e 2003/IBGE-SEBRAE. Elaboração própria.

A investigação sobre os motivos que levaram à auto-ocupação revela que, nos empreendimentos de conta própria, a falta de oportunidade de emprego foi a principal causa nos dois anos de análise – 27% dos casos, em 1997, e 33%, em 2003 –, tendo esse motivo se elevado, portanto, em 6 pontos percentuais. O segundo principal motivo apontado pelos empreendimentos de conta própria foi a complementação da renda familiar, que atingiu 20% em 1997 e 19% em 2003. Em terceiro lugar, apareceu a independência proporcionada pela situação de auto- ocupação, que reduziu de 19% em 1997 para 15% em 2003. Esses resultados sugerem, assim, que o número de auto-ocupados conta própria impelidos pelo desemprego e pela precarização dos postos de trabalho a essa situação ocupacional aumentou sensivelmente de 1997 para 2003, o que pode ser observado na Tabela 3.2.

Tabela 3.2 – Empreendimentos de auto-ocupados (em %), por tipo, segundo os motivos que levaram à abertura do empreendimento (Brasil: 1997 - 2003)

1997 2003

Total Conta própria Pequeno

empregador Total Conta própria

Pequeno empregador

Não encontrou emprego 26% 27% 15% 31% 33% 16%

Complementação da renda familiar 18% 20% 8% 18% 19% 8%

Independência 20% 19% 26% 16% 15% 24%

Experiência na área 8% 8% 13% 8% 8% 14%

Tradição familiar 8% 7% 13% 8% 8% 12%

Negócio promissor 8% 8% 11% 7% 7% 11%

Outro motivo 5% 5% 7% 6% 6% 7%

Era um trabalho secundário 2% 2% 2% 2% 2% 3%

Horário flexível 2% 2% 0% 2% 2% 1%

Oportunidade de fazer sociedade 2% 1% 4% 1% 1% 4%

Fonte: Ecinf 1997 e 2003/ IBGE-SEBRAE. Elaboração própria.

Motivos que levaram à abertura do empreendimento

O desejo de independência foi o motivo mais apontado pelos pequenos empregadores quando questionados sobre as razões que os levaram a abrir o empreendimento. Na verdade, por trás desta decisão, pode estar também a precarização e a falta de oportunidade no mercado de trabalho. Por outro lado, não se pode ignorar que essa motivação entre os pequenos empregadores foi sensivelmente maior que entre os conta própria. Em 1997, 26% dos empreendimentos de pequenos empregadores apontaram esse motivo como determinante para o início do empreendimento, tendo ocorrido uma pequena redução desse percentual em 2003 (para 24%). A falta de emprego apareceu em segundo lugar como o principal motivo apontado pelos pequenos empregadores para terem iniciado os seus empreendimentos, tendo alcançado 15% do total de empreendimentos de pequenos empregadores, em 1997, e 16%, em 2003. Somados aos 8% de empreendimentos que foram iniciados para complementar a renda familiar (tanto em 1997 como

em 2003), tem-se que pelo menos um quarto dos empreendimentos de pequenos empregadores iniciaram suas atividades em razão do baixo dinamismo e/ou da precarização do mercado de trabalho brasileiro.

Os dados da Ecinf sobre o aporte de capital necessário para a abertura dos empreendimentos dos auto-ocupados confirmam que a auto-ocupação surge, de fato, como uma alternativa em caso de desemprego. Constata-se que aproximadamente um terço do total de empreendimentos de auto-ocupados não demandaram aporte inicial de capital em 1997 e 2003. Outros 60% utilizaram apenas recursos próprios ou empréstimos com amigos e parentes. A utilização de empréstimo bancário para abertura do empreendimento foi mínima: por volta de 1%, para empreendimentos de conta própria, e de 2% a 3%, para empreendimentos de pequenos empregadores. Dessa forma, diante de uma situação de desemprego, e da ausência de mecanismos de proteção social abrangentes, a auto-ocupação aparece como uma estratégia de sobrevivência.

Quanto ao local de funcionamento, cerca de 64% dos empreendimentos de conta própria funcionavam exclusivamente fora do domicílio em que residiam seus proprietários nos dois anos em análise. Nesse conjunto, de 1997 para 2003, registrou-se uma pequena redução relativa do número de empreendimentos funcionando em lojas, oficinas ou escritórios (de três pontos percentuais), acompanhada por uma elevação do número de empreendimentos de conta própria que funcionava no domicílio do cliente (um ponto percentual) ou em veículo automotor (dois pontos percentuais).

Considerando apenas os empreendimentos de pequenos empregadores, 82% em 1997 e 79% em 2003 funcionavam exclusivamente fora do domicílio em que o proprietário residia. Dentre esses, a participação percentual dos empreendimentos que funcionavam em lojas, oficinas ou escritórios caiu de 73%, em 1997, para 71% em 2003. Assim como no caso dos empreendimentos de conta própria, ocorreu uma pequena elevação relativa no número de empreendimentos que funcionava no domicílio do cliente ou em veículo automotor (de 1 ponto percentual em cada caso). Os dados sinalizam, assim, que os auto-ocupados tenderam a buscar alternativas de menores custos para o estabelecimento de seus empreendimentos.

Tabela 3.3 – Empreendimentos de auto-ocupados (em %), por tipo, segundo o local de funcionamento do empreendimento (Brasil: 1997 - 2003)

1997 2003

Total Conta própria Pequeno

empregador Total Conta própria

Pequeno empregador

Só no domicílio em que reside 28% 30% 17% 27% 29% 17%

Só fora do domicílio em que reside 67% 64% 82% 65% 63% 79%

Loja, Oficina, Escritório 35% 27% 73% 31% 24% 71%

No domicílio do cliente 40% 45% 18% 42% 46% 19%

Em veículo automotor 8% 9% 4% 10% 11% 4%

Em via ou área pública 13% 15% 4% 13% 15% 4%

Outros 2% 3% 1% 3% 3% 1%

No domicílio e fora dele 5% 5% 2% 8% 8% 4%

Loja, Oficina, Escritório 10% 8% 41% 8% 7% 33%

No domicílio do cliente 72% 74% 38% 70% 71% 41%

Em veículo automotor 1% 1% 7% 2% 2% 5%

Em via ou área pública 11% 11% 8% 12% 12% 7%

Outros 6% 6% 5% 7% 7% 13%

Fonte: Ecinf 1997 e 2003/ IBGE-SEBRAE. Elaboração própria.

Local de funcionamento do empreendimento

Nos dois anos analisados, verificou-se que a quase totalidade dos empreendimentos de auto-ocupados funcionavam em caráter permanente. Aproximadamente 90% dos empreendimentos de conta própria exerciam suas atividades todos os meses do ano, 7% eram sazonais e apenas 3% funcionavam eventualmente. Dentre os empreendimentos de pequenos empregadores, quase 95% funcionavam permanentemente em 1997 e 2003, 5% eram sazonais e menos que 1% operava apenas eventualmente.

Apesar de regulares, esses empreendimentos atuavam à margem de qualquer regulamentação. O Gráfico 3.3 mostra que, em 1997, apenas 8% dos empreendimentos de conta própria e 45% dos empreendimentos de pequenos empregadores possuíam constituição jurídica. Em 2003, essas participações caíram para 7% e 44%. No que se refere ao registro de microempresa (Lei 7.256/84), somente 7% dos empreendimentos de conta própria o possuíam em 1997 e 6% em 2003. Entre os empreendimentos de pequenos empregadores, essas participações foram 36% e 38%, respectivamente.

Ainda no Gráfico 3.3, outro indicador sugere que o grau de formalização dos empreendimentos de auto-ocupados é baixo, tendo sofrido redução de 1997 para 2003. Em 1997, 28% dos empreendimentos de conta própria possuíam alguma licença municipal ou estadual para desenvolverem os seus negócios (incluindo alvarás, licenças de localização, registros como autônomos, etc.). Em 2003, esse percentual foi reduzido para 19%. A queda relativa do número

de empreendimentos com alguma licença municipal ou estadual foi ainda maior entre os empreendimentos de pequenos empregadores, que passou de 69% para 52%87.

Gráfico 3.3 – Empreendimentos de auto-ocupados (em %), por tipo, segundo indicadores de formalização (Brasil: 1997 - 2003) 28% 8% 7% 69% 45% 36% 19% 7% 6% 52% 44% 38% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% Possuem licença municipal ou estadual Possuem constituição jurídica Possuem registro de microempresa Possuem licença municipal ou estadual Possuem constituição jurídica Possuem registro de microempresa Empreendimentos de conta própria Empreendimentos de pequeno empregador

1997 2003

Sobre o desempenho econômico dos empreendimentos dos auto-ocupados, os dados indicam que ocorreu uma sensível deterioração de 1997 para 2003. Cerca de 93% dos empreendimentos foram classificados pela Ecinf como “lucrativos”88 em 1997, enquanto em 2003 essa situação alcançou apenas 73% do total de empreendimentos, uma redução de vinte pontos percentuais. Entre os conta própria, o percentual de empreendimentos com resultado

87 Além disso, as informações da Ecinf indicam que a prática do trabalho nos empreendimentos de auto-ocupados é

individual, sendo muito escassas as filiações a sindicatos ou órgãos de classe. Somente 9% dos empreendimentos de conta própria eram filiados a alguma entidade desse tipo em 1997, tendo esse percentual se reduzido para 8% em 2003. Entre os empreendimentos de pequenos empregadores, cerca de 28% eram filiados nos dois anos em análise.

88 Foram considerados “lucrativos” os empreendimentos cujas receitas do mês de referência superaram as despesas.

Há que se mencionar, entretanto, que o termo “lucro” utilizado pela pesquisa do IBGE não é muito adequado, uma vez que os custos apurados por esses empreendimentos não diferenciam remuneração do capital, do trabalho do auto- ocupado, da mão-de-obra não-remunerada, entre outros. Dessa forma, a partir desse ponto, o termo “resultado líquido positivo” será utilizado para se referir ao “lucro” apurado pela Ecinf.

líquido positivo caiu de 93% para 72% de 1997 para 2003. Entre os empreendimentos de pequenos empregadores, a queda foi menor, de 91% para 87%.

Os indicadores financeiros dos empreendimentos de auto-ocupados evidenciam, realmente, que a retração das receitas e dos resultados líquidos positivos, entre 1997 e 2003, foi significativa. Entre os empreendimentos de conta própria, o valor real médio de suas receitas e de seus resultados líquidos positivos reduziu 23% e 15%, respectivamente, de 1997 para 2003. Em termos absolutos, esses valores caíram de R$1.507 e R$791 para R$1.164 e R$67189. Provavelmente em razão dessa acentuada queda nas receitas, os cortes nas despesas e nos investimentos foram também consideráveis. O valor real médio das despesas dos empreendimentos de conta própria caiu 22%, de 1997 para 2003, enquanto dos investimentos reduziu 37% (Gráfico 3.4).

Já entre os empreendimentos de pequenos empregadores, a evolução negativa dos indicadores financeiros foi menos intensa: o valor médio das receitas e dos resultados líquidos positivos caíram 13% e 4%, respectivamente, enquanto o valor médio das despesas e dos investimentos reduziram 11% e 15%. Comparando-se os resultados dos empreendimentos de pequenos empregadores com os de conta própria, verifica-se que nos dois anos em análise a receita média dos empreendimentos de pequenos empregadores foi aproximadamente cinco vezes maior que a dos empreendimentos de conta própria, enquanto o resultado líquido positivo foi aproximadamente três vezes maior.

Avaliando a receita total mensal dos empreendimentos de auto-ocupados, os dados da Ecinf revelam uma redução em 16% no período de 1997 a 2003, passando de R$20,9 bilhões, em 1997, para R$17,6 bilhões, em 2003, em termos reais. Em relação ao PIB do mês de outubro dos respectivos anos, a receita total dos empreendimentos de auto-ocupados diminuiu sua representatividade de 16% para 13%, apesar do número de auto-ocupados ter crescido no período.

Gráfico 3.4 – Variação real média dos principais indicadores financeiros dos empreendimentos de auto-ocupados, por tipo do empreendimento (Brasil: 2003/1997)

-23% -24% -11% -28% -23% -22% -15% -37% -13% -11% -4% -15% -40% -35% -30% -25% -20% -15% -10% -5% 0% Receitas Despesas Resultados líquidos positivos Investimentos e m R$ d e ou t/2003

Total de empreendimentos Empreendimentos de conta própria Empreendimentos de pequeno empregador Fonte: Ecinf 1997 e 2003/IBGE-SEBRAE. Elaboração própria.

Quando questionados sobre a principal dificuldade enfrentada no desenvolvimento de seus empreendimentos nos doze meses anteriores à pesquisa, as respostas dadas pelos auto- ocupados, tanto conta própria como pequenos empregadores, foram relativamente semelhantes nos dois anos em análise. Os quatro fatores mais citados foram: falta de clientes (34% do total de empreendimentos de auto-ocupados, em 1997, e 26%, em 2003), concorrência muito grande (19%, em 1997, e 21%, em 2003), falta de capital próprio (12%, em 1997, e 14%, em 2003) e baixo “lucro” (7%, em 1997, e 11%, em 2003), o que sugere a presença de fatores associados aos limites do mercado para absorver os produtos e serviços ofertados pelos auto-ocupados (Tabela 3.4).

Tabela 3.4 – Empreendimentos de auto-ocupados (em %), por tipo, segundo a principal dificuldade enfrentada para desenvolver o empreendimento nos doze meses anteriores à pesquisa (Brasil: 1997 - 2003)

1997 2003

Total Conta própria Pequeno

empregador Total Conta própria

Pequeno empregador

Não teve dificuldade 19% 19% 17% 16% 16% 16%

Falta de clientes 34% 34% 28% 26% 26% 19%

Concorrência muito grande 19% 18% 21% 21% 21% 21%

Falta de capital próprio 12% 12% 14% 14% 13% 16%

Baixo "lucro" 7% 7% 8% 11% 10% 12%

Outras dificuldades 7% 6% 8% 8% 7% 10%

Falta de crédito 1% 1% 2% 3% 3% 5%

Falta de instalações adequadas 2% 2% 1% 2% 2% 1%

Fonte: Ecinf 1997 e 2003/ IBGE-SEBRAE. Elaboração própria.

Principal dificuldade enfrentada nos 12 meses anteriores à pesquisa para desenvolver o empreendimento

Conforme apresenta a Tabela 3.4, somente 19% dos empreendimentos de auto- ocupados declararam não ter passado por dificuldades no ano de 1997 (19% dos empreendimentos de conta própria e 17% dos de pequenos empregadores), tendo esse percentual se reduzido para 16% em 2003 (tanto para empreendimentos de conta própria como de pequenos empregadores). É importante assinalar, ainda, que a falta de crédito foi apontada como obstáculo apenas em 1% do total de empreendimentos de auto-ocupados em 1997 e 3% em 2003. Na seção 3.4 deste capítulo, este assunto será analisado com mais detalhes.

No que diz respeito ao desempenho dos empreendimentos de auto-ocupados nos doze meses anteriores à pesquisa, os dados da Ecinf revelam que a maioria “permaneceu igual”, isto é, não alterou sensivelmente sua escala. Aproximadamente metade dos empreendimentos de auto- ocupados declarou que não alteraram sua escala nos anos de 1997 e 2003 (tanto empreendimentos de conta própria como de pequenos empregadores). Por outro lado, mais de 30% dos empreendimentos de auto-ocupados reduziram suas atividades, o número de pessoas ocupadas ou a escala de produção nos dois anos em análise. Nesse sentido, observa-se que mais de 80% do total de empreendimentos de auto-ocupados ou mantiveram ou reduziram sua escala nos dois anos em estudo. Essa questão é de fundamental importância, pois manifesta a baixa capacidade de reprodução dos empreendimentos de auto-ocupados, indicando claros limites ao crescimento destes90.

90 Esta questão será reiterada na seção seguinte, quando se verificará que a grande maioria dos auto-ocupados exercia sua atividade havia menos de um ano, oferecendo indícios de que a mortalidade desses empreendimentos é significativamente alta.

Ainda sobre o desempenho dos auto-ocupados nos doze meses anteriores à pesquisa, em 1997, apenas 5% diversificaram suas atividades, aumentaram o número de pessoas ocupadas ou da escala de produção (4% dos empreendimentos de conta própria e 10% dos de pequenos empregadores), tendo esse percentual se elevado para 7% em 2003 (5% dos empreendimentos de conta própria e 16% dos de pequenos empregadores). Essa elevação de dois pontos percentuais no número de empreendimentos de auto-ocupados que tiveram um desempenho favorável ocorreu principalmente em função do desempenho dos pequenos empregadores. Esse resultado aparentemente favorável, há que se ressaltar, foi acompanhado de uma redução absoluta do número de auto-ocupados empregadores no Brasil, conforme observado anteriormente.

Concluindo, as informações até o momento apresentadas sugerem que os empreendimentos de auto-ocupados no Brasil possuem, de forma geral, reduzido nível de formalização e baixa capacidade de reprodução, questões chaves quando se considera essa alternativa de emprego e renda frente ao aumento do desemprego contemporâneo e, principalmente, quando se pensa nesses empreendimentos como elementos dinamizadores do crescimento econômico. Além disso, a grande maioria dos empreendimentos de auto-ocupados atua à margem de qualquer regulamentação, contornando legislações trabalhistas, de segurança e saúde ao trabalhador, ambientais, sanitárias, urbanas, entre outras, o que certamente amplia os riscos sociais dessas atividades.

O estudo realizado nesta seção aponta também para uma significativa deterioração das condições de auto-ocupação entre o período de 1997 e 2003. Em praticamente todos os quesitos levantados, em especial os relativos aos resultados financeiros, os dados indicaram que a situação dos empreendimentos dos auto-ocupados, tanto de pequenos empregadores como de conta própria, piorou. Ainda que os empreendimentos de pequenos empregadores tenham apresentado resultados mais sólidos, observou-se significativa queda de seus desempenhos, acompanhando a mesma tendência experimentada pelos empreendimentos dos conta própria. Aliás, como os empreendimentos pertencentes aos pequenos empregadores de fato apresentaram maior grau de formalização e melhor desempenho econômico do que o verificado entre os conta própria, a redução do número de empreendimentos de pequenos empregadores relativamente aos

de conta própria, de 1997 para 2003, por si, já sugere um agravamento das condições dos auto-