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4 A ARGUMENTAÇÃO NA ESCOLA

4.2 A Autoria no processo de argumentação

Dentre vários aspectos a serem avaliados em um texto, um dos mais significativos diz respeito a sua originalidade. Em relação a essa, pode-se pensar em sua originalidade a partir do binômio forma-conteúdo, ou seja, com um enfoque no como se diz (forma: diferente em relação à sintaxe ou aos gêneros); um enfoque no que se diz (conteúdo: abordagem de temas inovadores).

Porém, pode-se valorizar a originalidade através da combinação de forma e conteúdo, uma vez que o modo como os elementos ligados à forma auxiliam no arranjo das informações ou imagens para a construção de uma argumentação pode ser o mais eficiente de se determinar essa originalidade.

A busca dessa originalidade permeia o conceito de autoria, pois reconhece-se a presença de um sujeito por trás do contexto, constituindo-se, portanto, os indícios de autoria. Ao se fazer a avaliação crítica do texto, torna-se condição sine qua non, procurar por indícios de originalidade. Portanto, uma vez que o uso abusivo de uma determinada informação pode tornar o que já foi original, algo “clichê”, momento em que se torna difícil encontrar a marca de que escreveu, ou seja, a autoria.

Em textos escolares, a avaliação discursiva passa para o primeiro plano, assim, ao procurar por indícios de autoria na redação, visa-se encontrar a marca pessoal do sujeito por trás do discurso. Autor e texto estão de tal forma imbricados, que acabam sendo partes do mesmo tecido discursivo. Os indícios de autoria são encontrados quando indicam a reflexão

de um sujeito, que confronta as suas experiências com o tema em discussão. Podemos citar, por exemplo, a presença de uma pergunta, uma vez que constrói no texto um diálogo, tornando a argumentação mais original. Outro exemplo é a autoconsciência, quando por exemplo, sabe que está recorrendo a argumentos óbvios e deixa isso claro no texto.

Nas redações escolares, o ponto crucial quando se trata de autoria, é sem dúvida alguma, a consciência da escrita. Para se chegar à autoria, é necessária a combinação entre forma e conteúdo – um projeto de texto, passando pela escolha de ideias, de palavras e como tudo se organiza no texto, visando assim provocar uma reação no leitor. Vale ressaltar, no entanto, que só temos um autor se tivermos uma obra cuja autoria foi atribuída a ele. Assim, além de ter um conjunto de textos atribuídos a ele, faz-se necessário que este assuma a responsabilidade político/social sobre o que está escrevendo.

Segundo Ducrot (1997 apud COSTA, 2016, p.94):

[...] quando falamos, expressamos ao mesmo tempo conteúdos explícitos e conteúdos implícitos. Essas decisões estão no âmago da autoria. São consideradas conteúdos implícitos aquelas informações que não podem ou não devem ser ditas[...] i-tabus sociais; ii) necessidade do falante em não assumir a responsabilidade pelo que foi dito; iii) o direito de dizer um discurso não pertencer ao falante; iv) as circunstâncias não permitirem que se diga algo; e v) o fato de que o falante não quer dizer.

Pode-se dizer que a língua nos permite transmitir algo sem efetivamente dizê-lo. Um desses modos implícitos de expressão é a pressuposição. Austin (1990 apud COSTA, 2016, p.94), defende a ideia que a pressuposição seja uma condição de emprego do próprio enunciado, uma vez que este é formado de itens identificadores que auxiliam na função informativa, fazendo com que o destinatário evoque conhecimentos de mundo, ou conhecimentos que o falante pressupõe compartilhar com a sua audiência. Ainda sobre pressuposição, o autor coloca que a pressuposição, partiu da ideia que todo enunciado, por apresentar um significado, pode ser submetido às condições de verdade. O problema para Austin (1990 apud COSTA, 2016, p. 95) encontra-se no tratamento reducionista que se dá ao conteúdo, limitando-o à condição de verdadeiro ou falso.

Para Possenti (2002), autor é o sujeito capaz de expor as suas particularidades no discurso, extrapolando os aspectos formais e as regras que condicionam o texto. A autoria está onde o autor imprime a sua marca, ou seja, os “indícios de autoria”, estando presente no discurso, e não no texto ou na gramática.

A lógica e a retórica são duas teorias da argumentação. Assim, o argumento mais típico é o silogismo, que se compõe de duas premissas (em geral suas) e conclusão. As premissas demonstram a conclusão. Como exemplo temos: Todos os homens são mortais.

João é homem. (premissas) Logo, João é mortal. (conclusão). Sabemos que os três enunciados são verdadeiros, mas o que importa no uso de silogismos é a relação entre os enunciados. Outro exemplo sobre o uso de silogismo, é a utilização de uma premissa implícita: Se ele é humano, então pode errar. Premissa implícita: todos os homens podem errar. A esse tipo de silogismo, chamamos de entimema, muito utilizado na retórica.

Ainda sobre argumentos ligados à logica, temos os argumentos dedutivos ou silogismos (aqueles que vão do geral para o particular) e argumentos indutivos (aqueles que vão do particular para o geral). Um exemplo de argumento dedutivo seria: “Se todos os corpos caem, melhor segurar esta garrafa senão ela cai” ou um exemplo mais conhecido: “Todos os homens são mortais. Sócrates é um homem. Portanto, Sócrates é mortal…” A conclusão (“Sócrates é mortal”) é derivada das duas premissas (“Todos os homens são mortais” e “Sócrates é um homem”), aplicando a lei da lógica de predicados chamada instanciação universal. No entanto, em ambos ocorrem a inferência, pois que os termos dados (corpos, garrafa e caem- primeiro argumento) e mortal, homem e Sócrates – segundo argumento), possuem uma relação de extensão entre si que vai do maior termo, passando pelo médio (através do qual há mediação) e chegando, por fim, ao termo menor.

No raciocínio indutivo, as premissas fornecem um forte apoio à conclusão, mas a verdade da conclusão não é garantida, porque este tipo de raciocínio não usa leis universais (tais como as leis da lógica) para chegar à conclusão, como no exemplo: “Tenho visto muitos cisnes e eles eram todos brancos. Portanto, todos os cisnes são brancos”. Neste caso, o raciocínio é correto porque a premissa apoia a conclusão, mas a conclusão é falsa, uma vez que existem cisnes negros. O raciocínio indutivo começa com uma ou mais premissas e tenta generalizar a partir delas o que é verdade em alguns casos, o que é provável que seja verdade em geral.Veja outro exemplo: “O ferro conduz eletricidade; o ouro conduz eletricidade; o chumbo conduz eletricidade; Logo, todo metal conduz eletricidade.”

Esses dois tipos de argumentos tornam-se recorrentes de uma forma mais trabalhada, dentro dos textos dissertativo-argumentativos.

Figura 6 - Tipos de argumentos

Fonte: Elaborado pela autora Argumentos ligados à lógica

Indutivo (particular para o geral)

‣Observação/experimentação ‣Formulação de hipósteses explicativas

‣Teorias, leis, enunciados

Dedutivo(geral para o particular)

‣ Formulação de um problema ‣Formulação de uma hipótese

‣Verificação da hipótese ‣Obtenção de resultados

A dinâmica da produção de um texto, não para na escolha dos argumentos, deve envolver e convencer o leitor, lançar mão de elementos coesivos e apresentar clareza nas ideias tornando dessa forma, o texto mais persuasivo.