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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.3 A avaliação diagnóstica numa perspectiva multidimensional

O mais recente relatório mundial sobre a deficiência (World Reporton Disability) documento de expressão internacional, publicado pela OMS em 2011, identifica a deficiência intelectual como “complexa, dinâmica, multidimensional e questionada” e reconhece que “o ambiente de uma pessoa tem um enorme impacto sobre a experiência e a extensão da deficiência” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2011, p. 4), ainda afirma que, “embora sem a intenção de discriminar, indiretamente o sistema exclui as pessoas com deficiência ao não levar em conta suas necessidades” (p. 6). Para Dias (2013), a compreensão da deficiência intelectual na perspectiva multidimensional tem implicações diretas na implementação de políticas educacionais públicas, uma vez que até pouco tempo a deficiência era entendida como uma condição de saúde imutável, que não tinha relação direta com os aspectos ambientais, ou seja, a condição da pessoa com deficiência não era vista como uma construção social.

Para Alonso e Bermejo (2003) a concepção multidimensional pretende ampliar um enfoque já existente, evitando assim, que apenas um teste psicométrico seja o único parâmetro para assinalar o nível de capacidade da pessoa e sugere que esse critério seja relacionado às necessidades individuais das pessoas e o nível de apoio necessário. Nessa perspectiva, no processo de avaliação, não se pode perder de vista as condições multifatoriais da deficiência intelectual para que se possa oferecer respostas educativas adequadas e garantir o pleno desenvolvimento escolar desses sujeitos.

Orienta-se que a avaliação seja criteriosa, principalmente no que concerne às necessidades de apoio dos estudantes, para permitir o delineamento dos serviços, as estratégias e os suportes necessários para cada criança ou jovem usufruir das situações de ensino da melhor forma possível. Dias (2013), ainda ressalta que essa avaliação vai muito além do diagnóstico clínico, pois requer uma avaliação de caráter descritivo e comportamental das dificuldades funcionais que devem ser foco da equipe que trabalha com cada um dos sujeitos.

O Sistema 2010 da AADID (2010) é compreendido com base no modelo conceitual multidimensional que explica a deficiência intelectual segundo dimensões específicas, como relata Mota (2014):

Habilidades intelectuais (que podem ser avaliadas por meio de testes

psicométricos de inteligência); comportamento adaptativo (que é constituído por habilidades conceituais, por habilidades sociais e por habilidades práticas que podem ser avaliadas com a utilização de instrumentos objetivos de mensuração); saúde (que busca elementos relacionados tanto aos fatores etiológicos da deficiência, como à saúde física e mental do investigado por meio de diversos exames físicos, imagéticos, laboratoriais e de dados históricos pessoais e familiares);

participação (que avalia as interações sociais e os papéis vivenciados

pela pessoa, bem como sua participação na comunidade em que vive por meio de observação e de depoimentos); e contextos ( que considera e avalia as condições em que a pessoa vive, relacionando-as com qualidade de vida por intermédio da observância de prática e de valores culturais; as oportunidades de educação, de trabalho e de lazer, bem como as condições contextuais de desenvolvimento da pessoa e as condições ambientais relacionadas ao bem estar, à saúde, à segurança pessoal, ao conforto material, ao estímulo ao desenvolvimento e às condições de estabilidade) (MOTA, 2014, p. 31).

Dessa maneira, a partir do ponto de vista do indivíduo, tem-se uma descrição mais apropriada da evolução e compreensão do conceito de deficiência intelectual, levando em conta as respostas individuais para o desenvolvimento pessoal, para as mudanças ambientais, as atividades educacionais e as intervenções terapêuticas e educacionais, ou seja, serviços e apoios que possam aumentar as oportunidades do indivíduo levar uma vida pessoal satisfatória.

Smith (2008) ainda afirma que essa abordagem centra-se na possibilidade que o ambiente social tem de oferecer os serviços e apoios que aumentarão as oportunidades do indivíduo, assim definindo os apoios de acordo com sua intensidade, como mostra Quadro 1 a seguir:

INTENSIDADES DOS APOIOS:

Quadro 1- Intensidade dos apoios. Fonte: AADID, 2002.

Como se pode observar registra-se na atualidade uma expressiva mudança de foco superando a perspectiva da deficiência somente no aspecto individual para a necessidade de se considerar os aspectos sociais e contextuais como orientadores para a oferta do sistema de apoio; ou seja, o funcionamento individual passa a ser considerado como resultante da interação dos apoios com as dimensões conceituais implicadas. Para Fontes et al (2007), independente das características inatas do indivíduo, a deficiência pode ser mais ou menos acentuada conforme os apoios ou suportes recebidos em seu ambiente. Em outras palavras, no modelo multidimensional, a compreensão da deficiência Intelectual tem por base o desenvolvimento da pessoa, as relações que estabelece e os apoios que recebe nas cinco dimensões descritas e não mais apenas considerando critérios quantitativos pautados no coeficiente de inteligência.

Para Verdugo(1994), a avaliação detalhada do indivíduo e dos apoios de que ele necessita permitirá analisar separadamente todas as áreas em que podem existir necessidades e, então, providenciar uma intervenção pautada nos apoios, uma vez reconhecida sua interdependência. A abordagem permite que se tenha o conhecimento necessário para o atendimento do sujeito e para o planejamento dos serviços que levem em consideração todas as demandas por ele apresentadas.

Em sua pesquisa, Mota (2014) esclarece que os apoios são recursos ou estratégias que estimulam o desenvolvimento, a educação e o bem-estar da pessoa, melhorando de modo geral o funcionamento individual. Nesse sentido, as necessidades de apoio são construções psicológicas que se referem à intensidade de apoios necessários para que os indivíduos possam participar das atividades comuns a qualquer pessoa e do cotidiano em geral.

Sendo assim, destaca-se a importância de uma avaliação diagnóstica multiprofissional que considere a capacidade da pessoa e não só suas dificuldades, para a identificação dos apoios necessários para atender suas necessidades específicas, uma vez que a avaliação diagnóstica é o ponto de partida do atendimento a ser ofertado.

1.4 O estudante com deficiência intelectual na Rede Pública de Ensino do