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A AVALIAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO

Educação Superior e Avaliação

1.2 A AVALIAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO

A instituição do ensino superior se transformou numa organização administrada, que precisa cumprir metas e alcançar indicadores de desempenho capazes de responder às expectativas da sociedade. Em um cenário de restrições orçamentárias, isso fica ainda mais complexo, provocando tensões e trazendo inúmeros desafios para a educação superior.

Segundo Castro (1997), a falta de recursos financeiros; o processo de diversificação crescente, impulsionado pelo aumento da demanda social e pela diversificação da clientela; a iminência de desemprego dos graduados, como reflexo do lento aumento da demanda de recursos humanos qualificados e um mercado de trabalho incerto, no qual disciplinas e profissões flutuam ao sabor das inovações tecnológicas e da evolução da informática, trazem para o ensino superior o grande desafio de aumentar sua capacidade, para fazer frente aos imperativos mutantes da sociedade e às mudanças que se produzem na economia.

Para Dias Sobrinho (1999b), a avaliação que se instalava tinha por objetivo: a medição de critérios, a verificação do cumprimento de metas fixas e predeterminadas, através de instrumentos técnicos padronizados que possibilitassem a quantificação dos insumos e produtos, mas apesar de ter um caráter público e social, estava inserida num espaço de contradições, de disputas de valores, de concepções de universidade, de educação, de sociedade, de futuro e essencialmente possuía um significado ético-político.

Naquele momento, a avaliação era tida como protagonista para uma melhor Educação Nacional o que não significava ser o único instrumento que a possibilitasse; não devia se limitar a informações simples e rápidas, se ater exclusivamente aos seus produtos e resultados, mas devia ser reconhecida e valorizada por sua rica contextualização, suas especificidades e seus efeitos a médio e longo prazo, sendo necessária e indispensável,

não somente contrapondo quantidade x qualidade, mas visando orientar a política universitária para um saber sobre si mesma e para a análise do significado de seu trabalho na sociedade, bem como a prestação de contas aos cidadãos.

A avaliação possui questões de fundo político e técnico, mas que devem ser enfrentadas pela universidade. Para Dias Sobrinho (2002a), o conceito de qualidade educativa, fruto do processo de avaliação,

(...) além das dimensões técnicas e científicas, comporta inevitável e centralmente sentidos e princípios éticos e políticos. Em outras palavras, qualidade educativa não é só função de conhecimento, nem se restringe ao campo técnico, mas deve ser intensamente social e ético-política. Tem a ver com valores e, então, com o interesse público (...) ela há de afirmar os valores de primeira ordem, que dizem respeito aos horizontes universais e perenes da humanidade, dentre outros, liberdade, democracia, cidadania, justiça, igualdade, solidariedade, compreensão, cooperação, paz, fraternidade e outros do mesmo campo semântico. (DIAS SOBRINHO, 2002a:185)

Com todas as experiências já vivenciadas nos limites universitários, a avaliação está inserida em uma constante relação de tensão entre o Estado e as Universidades (Perim e Zanetti, 2001): O Estado se caracteriza, dependendo do momento, e aqui nos apropriamos das expressões de Neave (1988), como “Estado avaliador”, como “Estado interventor” ou como “Estado facilitador”. As universidades, por sua vez, lutam para manter sua sobrevivência, face à escassez de recursos destinados e à dificuldade em atender às exigências da sociedade, e agora também, às do Mercado e, segundo Leite (1996), se caracterizam, ora numa atitude “reativa”, ora “antecipativa”, ou até mesmo de “submissão” aos processos avaliativos implementados.

No Brasil, a resistência à avaliação nas IES, provocada por alguns traumas históricos, como a “lista dos improdutivos” da USP, parecia já superada, pois há convicção da sua necessidade e clareza do seu poder transformador; desde que considerando, antes de qualquer coisa, a diversidade, a complexidade,

e o respeito à identidade de cada instituição. Historicamente, se discute avaliação institucional nas universidades brasileiras, especialmente nas públicas, desde os anos 80, quando aumentaram as restrições orçamentárias e ocorreu a explosão de matrículas no ensino superior.

Para atender às necessidades dos setores econômico e social, o ensino superior expandiu-se, devido às exigências e às demandas das classes sociais, que buscavam níveis de escolarização mais elevados, com vistas à promoção e prestígio social. Essa expansão se deu pelo grande crescimento do setor privado, e não do setor público, como era o anseio da população, justificado pela escassez de recursos destinados pelo Governo Federal à educação superior.

Tentando enfrentar essa questão, a Associação Nacional dos Docentes (ANDES) apresentou ao MEC, em 1982, uma proposta diferenciada de Avaliação Institucional. Para atender a essa proposta, o MEC instituiu, em 1983, o Programa de Avaliação da Reforma Universitária (PARU), que abordava dois temas: a gestão das IES e o processo de produção e a disseminação do conhecimento, vigorando até 1986.

Nesse mesmo ano, o MEC criou o Grupo Executivo para a Reformulação do Ensino Superior (GERES), representado de forma heterogênea, propondo um sistema de avaliação que estabelecia um ranking entre as universidades, e “a comunidade acadêmica... em posição nitidamente reativa” elaborou outras propostas de avaliação ao MEC” (ANDES e CRUB) “e desencadeou um amplo debate nacional sobre a avaliação e o Projeto GERES”. (LEITE, 1997)

A partir desse processo de discussão, várias instituições, começaram a desenvolver iniciativas próprias de avaliação institucional (UNB, UNICAMP, UFRJ, USP, UFPR, entre outras), passo decisivo para a consolidação da ideia de avaliação nas IES.

Numa atitude “antecipativa” ao Estado, o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), em 1992, retomou as discussões sobre o tema com o objetivo de promover através do documento intitulado “O Papel do CRUB na Avaliação Institucional”, a autoavaliação das universidades, complementada por avaliação externa, por meio de processo voluntário. (CRUB, 2000:4)

Em julho do mesmo ano, o MEC instituiu a Comissão Nacional de Avaliação (CNA) incumbida de propor o Sistema Brasileiro de Avaliação. A proposta elaborada por uma comissão da ANDIFES em outubro de 1993, foi integralmente adotada pela CNA, pela SESu e pelo Comitê Assessor, ouvidas as Universidades, e passou a constituir o Documento Básico do Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras.

Em 1994, surge, então, o Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB), elaborado pela Comissão Nacional de Avaliação, instituída pelo MEC e representada por Reitores das Universidades Federais (ANDIFES), Associações das Universidades Públicas Estaduais e Municipais (ABRUEM), Particulares (ANUP) e Confessionais (ABESC), Fórum de Pró-Reitores de Graduação, Fórum de Pesquisa e Pós-Graduação, Fórum de Extensão e de Planejamento e Administração, e por um Comitê Assessor, com representantes indicados por diversas instituições, “estabelecendo as bases de um processo construtivo de avaliação”. (LEITE, 1997: 9-11)

1.3 MODELOS DE AVALIAÇÃO IMPLANTADOS NO BRASIL