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A avaliação formativa e os processos de regulação

Capítulo II. Revisão da Literatura

2.4. A Avaliação no Contexto da Autonomia do Aluno

2.4.2. A avaliação formativa e os processos de regulação

A legislação vigente para o ensino básico institui a avaliação formativa como a principal modalidade de avaliação, o que implica que se privilegie uma regulação contínua das aprendizagens, no sentido de adequar a ação desenvolvida pelos professores às necessidades e dificuldades de cada aluno mas, também, para que cada aluno faça a sua autorregulação com o intuito de construir, gradualmente, um sistema pessoal que o leve a aprender e a melhorar progressivamente. Atender às características individuais dos alunos poderá tornar-se incongruente com a ideologia da igualdade de todos os alunos, pois ela está assente em desigualdades que cada indivíduo carrega em termos de socialização e que as pesquisas mais recentes na área da educação atestam. Estar atento às diferenças poderá constituir a melhor forma de facultar igualdade de oportunidades para ajustar o ensino às características individuais de cada aluno. Ignorar as diferenças e encarar todos da mesma forma pode transformar as desigualdades iniciais, face à cultura, em desigualdades de aprendizagem e, posteriormente, de êxito escolar, perpetuando-as. A escola, se não atender às diferenças e tratar os alunos de forma igual, acaba por proceder a uma “operação de triagem no decurso da qual os alunos fracos correm o risco de ser lesados. O elitismo meritocrático, sonho dos pais fundadores da escola, para todos, não faz senão perpetuar, noutras formas, o elitismo social que queriam erradicar” (Crahay, 2000, p. 419). Concordamos com o autor quando afirma que “cada qual com as suas capacidades” deveria ser substituído pelo “cada qual com as suas necessidades” uma vez que não há dois alunos iguais, ainda que gémeos verdadeiros. Cada ser humano, que se constitui como aprendente, reveste-se de características, interesses, aptidões sociais, culturais e linguísticas, diferentes níveis de desenvolvimento intelectual e afetivo, diferentes expectativas face à escola, diferentes ritmos de aprendizagem, diferentes contextos familiares e culturais que, inevitavelmente, os torna únicos e singulares. Por essa razão, Cardinet (1986, pp. 14-15) defende que “o ensino deve diferenciar-se consoante os alunos através de uma

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adaptação que se situa essencialmente ao nível dos métodos, dos progressos individuais, dos exemplos, etc.”.

Sendo diferentes não é possível que todos os alunos possam, com o mesmo ensino, adquirir ao mesmo tempo as mesmas aprendizagens. Assim, “para prevenir o fracasso escolar, para não agravar ainda mais as desigualdades iniciais, é preciso diferenciar o ensino, dedicar mais tempo e mais recursos para ajudar os menos favorecidos” (Perrenoud, 2001, p. 49), pelo que cada professor terá que tratar cada um dos seus alunos como sendo único e ajudá-lo a encontrar a melhor forma de, individual e autonomamente, desenvolver o seu próprio processo de aprendizagem.

O professor não deve ser indiferente à diferença e a avaliação deve, de acordo com Alves, (2002), ser formadora, isto é, se “integrada na aprendizagem e favorecedora do diálogo crítico entre os diversos atores, servirá o desenvolvimento da autonomia e da autoavaliação, indispensáveis, quer ao desenvolvimento das competências, quer ao auto e hetero reconhecimento desse mesmo desenvolvimento” (Alves, 2004, p.74), pelo que deverá ter um caráter interativo e retroativo, como forma de melhorar as aprendizagens e promover a autonomia dos alunos baseada na autoavaliação, pelo que os papéis respetivos do professor e dos alunos, ao nível da regulação das aprendizagens e da construção dos saberes, se devem posicionar de forma a promover a autonomia.

A cada situação de avaliação correspondem diferentes destinatários, assim como a cada destinatário interessam diferentes informações. O destinatário poderá ser a sociedade ou comunidade escolar, em que os dados são “comparativos”, permitindo situar cada um dos alunos em relação aos outros – avaliação normativa, ou os alunos, e os dados são “formativos”, tendo por objetivo o aperfeiçoamento individual e a melhoria das aprendizagens – avaliação criterial. Sendo que a aprendizagem por competências definida no Currículo Nacional do Ensino Básico e a preparação para a autonomia são os pilares que norteiam o currículo nacional, é natural que a avaliação se centre mais nos alunos e que privilegie uma regulação contínua das aprendizagens. O que é valorizado e avaliado na escola não só vai influenciar os resultados dos alunos, mas também a sua motivação, autoconceito, hábitos de estudo e estilos de aprendizagem e, tendo em conta que a avaliação é um elemento constitutivo da aprendizagem, temos que considerar que esta é realizada por parte do aluno. Assim, ele deve também regular as suas próprias aprendizagens, através da construção de um sistema de pilotagem a

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operacionalizar durante o processo da ação, pois sempre que o aluno realiza uma tarefa, deve realizar alguns momentos de balanço intermédio, para promover a correção dos seus erros e a remodelação das estratégias iniciais em função dos resultados obtidos. Nesta dinâmica, não é preciso integrar a autoavaliação dos alunos, pois ela já está nas estratégias individuais de cada um. Apesar das dificuldades que o processo acarreta, “uma tal dinâmica levará a uma apropriação dos utensílios de avaliação dos professores por parte dos alunos e o aluno já dominará, também, as operações de antecipação e de planificação, que constituem a pedra angular de todo o sistema de autoavaliação” (Alves, 2004, p.69).

Por essa razão, é importante que lhes sejam proporcionados vários momentos de autoavaliação, multiplicando os momentos em que os alunos poderão construir o saber num contexto em que lhe atribuam sentido fundamental, porque “pôr os alunos em atividade, fazê-los retroagir, chegar a um saber codificado, relançá-los em novas pistas, fazer com que apliquem os conhecimentos, são procedimentos fundamentais no desenvolvimento de estratégias de autorregulação” (idem, ibidem).

A avaliação formativa visa, em síntese, orientar o aluno quanto ao trabalho escolar, procurando “localizar as suas dificuldades para o ajudar a descobrir os processos que lhe permitirão progredir na sua aprendizagem” (Cardinet, 1986, p. 14) e centra, assim, no aluno o processo de aprendizagem uma vez que ele deverá descobrir os processos que o ajudarão a evoluir e, assim, regular a sua aprendizagem. Estamos perante um processo de autorregulação/avaliação.