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SUSTENTÁVEL

CAPÍTULO 3 CONTRIBUIÇÃO DO PLANEAMENTO TERRITORIAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

3.5 A Avaliação de Impacte Ambiental um instrumento de apoio à tomada de decisão

Uma outra contribuição, que muito embora não tenha surgido directamente da actividade de planeamento, tem contribuído para melhorar a integração do ambiente na actividade de planeamento é a Avaliação de Impacte Ambiental (AIA). Este instrumento visa a avaliação prévia de potenciais impactes ambientais de determinadas acções de desenvolvimento antes da respectiva aprovação ou licenciamento.

A Avaliação de Impacte Ambiental é um instrumento de política de ambiente cuja intervenção é fundamentalmente de natureza preventiva. Surgiu inicialmente nos Estados Unidos na década de 70, e foi posteriormente adoptado por uma grande diversidade de países e regiões. O seu aparecimento resultou de críticas imputadas aos processos de tomada de decisão associados a grandes projectos de desenvolvimento e respectivos impactes ambientais. A AIA, numa perspectiva de aplicação a projectos de desenvolvimento, pode ser caracterizada pelos seguintes objectivos:

a) Assegurar a consideração dos impactes ambientais de determinados projectos públicos e privados sobre o ambiente antes da sua aprovação. A este objectivo está associada a preparação de um Estudo de Impacte Ambiental (EIA) onde se caracteriza a qualidade do ambiente do local onde se prevê implementar o projecto, se caracterizam os potenciais impactes, se avaliam comparativamente as eventuais alternativas à concepção do projecto e, propõem medidas cautelares que minimizem os impactes inevitáveis.

b) Promover a abertura dos processos de tomada de decisão relativamente àqueles projectos, à opinião do público e das instituições interessadas. A este objectivo está associada a realização de um procedimento administrativo conducente à revisão técnica do EIA, aos processos de consulta pública e institucional, à informação do decisor das conclusões do estudo e do procedimento e à monitorização das previsões e conclusões dos mesmos.

c) Incentivar a integração de preocupações ambientais no processo de planeamento de projectos de desenvolvimento tornando-os de raiz mais “verdes” no sentido de gerarem menos impactes ambientais. Este objectivo está relacionado com a ponderação de alternativas de natureza diversa desde as fases iniciais de concepção e desenho dos projectos de desenvolvimento, nomeadamente, de localização, de opções tecnológicas, de matéria prima utilizada, de integração de critérios e indicadores na sua estrutura financeira, etc.

O desenho da AIA e a respectiva institucionalização nas diversas jurisdições que o adoptaram foi muito anterior ao debate sobre desenvolvimento sustentável, sendo no entanto um instrumento que visava melhorar a articulação entre ambiente e desenvolvimento. As suas potencialidade para prevenir a degradação ambiental têm sido no entanto alvo de crescentes críticas. Rees (1989), Koslowsky (1990) e Meredith (1992), caracterizam e criticam a contribuição da AIA salientando o seu papel reactivo associado ao facto de as principais decisões, determinantes dos principais impactes ambientais associados a grandes projectos de desenvolvimento (localização, dimensão ou tipo) serem tomadas antes da AIA. Criticam ainda o domínio dos critérios económicos e de curto prazo face aos aspectos estratégicos de integridade ecológica

processual e não como um meio de minimizar os efeitos ambientais negativos e optimizar os benefícios de estratégias de desenvolvimento.

Para contornar estas limitações é referida na literatura da especialidade uma significativa diversidade de soluções. Um grupo de contribuições incide sobre a melhoria da sua eficácia e eficiência, quer através da restruturação dos procedimentos, adaptando-os à diversidade cultural e social locais (ver Meredith, 1992), quer através de um maior envolvimento do público na recolha, interpretação de informação e avaliação de alternativas. Outras referem a melhoria da qualidade técnica dos Estudos de Impacte Ambiental e das medidas de monitorização e auditorias. Incluem-se também neste grupo todos os que defendem o alargamento da aplicação da avaliação de impacte ambiental a outras acções de desenvolvimento tais como planos, políticas e programas tal como está previsto na proposta de uma segunda directiva comunitária sobre AIA (ver Partidário, 1992). Finalmente encontram-se as contribuições que sugerem a integração nos sistemas de AIA existentes de critérios de sustentabilidade baseados em princípios de 'capital natural crítico' (características naturais chave que devem ser preservadas) (ver por exemplo Pelt et al (1990), e Harou et al (1994)).

Outro grupo de contribuições referem que as medidas acima ventiladas não são suficientes e defendem uma abordagem integrada dos processos de tomada de decisão, articulando a AIA com outras abordagens preventivas, tais como a gestão de recursos ou o planeamento ambiental (ver Rees, 1988). Incluem-se neste grupo os recentes desenvolvimentos do sistema de "avaliação ambiental estratégica" holandês o qual, de acordo com Therivel (1993) constitui um exemplo único de integração da sustentabilidade nos diversos níveis de intervenção. Esta perspectiva é também defendida por Gardner (1989) ao afirmar que apesar da contribuição da AIA ser limitada ela tem um papel essencial em mostrar as consequências ambientais das acções e em institucionalizar o debate público e os processos de negociação, especialmente se for reforçada com uma política de valorização dos bens ambientais. O seu alargamento a outras escalas e níveis de decisão poderá aumentar os benefícios, mas a sua natureza reactiva só pode ser ultrapassada se for aplicada em conjunto com outras abordagens.

A contribuição da AIA para o planeamento advém não apenas do facto de ajudar a integrar critérios ambientais no processo de licenciamento mas também do incentivo que constitui para se integrar aspectos ambientais de raiz no desenho de acções de desenvolvimento. A obrigatoriedade de aplicar a AIA apenas a acções de desenvolvimento de grandes dimensões (acrescido ao facto de estas acções serem geralmente aprovadas nos níveis administrativos centrais) tem diminuído a sua influência inovadora sobre as práticas estabelecidas de planeamento ao nível local, pelo menos no que se refere ao licenciamento. O mesmo não deverá acontecer às actuais tentativas de generalizar a avaliação de impacte ambiental a planos de uso do solo. Neste caso a avaliação ambiental irá certamente incentivar uma maior integração de critérios ambientais no processo de planeamento local.

3.6 Zonas ambientalmente sensíveis e controlo do desenvolvimento - o