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Segundo REIS (2005a:39), “a sensibilidade das políticas públicas ao território é, evidentemente, variável”. Para este autor, existem portanto diversas condições de aplicabilidade, e também distintas condições de eficiência na aplicabilidade das políticas públicas, que decorrem diretamente da escala territorial a que estão a ser definidas e aplicadas, e do contexto e nível de autonomia político-administrativa em que decorrem os processos de decisão que lhes estão inerentes. Da mesma forma que, uma mesma política pública pode ter resultados e consequências de aplicação muito distintos de território para território, como consequência das características económicas, sociais, e culturais, de cada contexto territorial.

Em conformidade com REIS (2005a), enquanto existem interpretações que vêm este assunto como uma mera consequência dos debates ideológicos sobre o papel do Estado e as

57 Para BARCA (2006) melhorar as práticas de avaliação, como um dispositivo comum para aumentar a

credibilidade da política e para desenhar e modificar objetivos e instrumentos, tem-se tornado parte de uma estratégia geral de construção de capacidades. Para este autor, quanto mais as avaliações e os dados são utilizados para deixarem claro mensagens públicas para a conceção de políticas, e quanto mais for requisitado aos políticos que respondam com informação que somente a avaliação pode fornecer, mais estes irão entender a avaliação como relevante. De acordo com BARCA (2006), a construção de capacidade de avaliação é apenas efetiva se os decisores tomarem consciência da potencial contribuição da avaliação nas suas ações.

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. suas crises58, para outras, existe uma real relação entre a natureza de certas políticas e o território. Esta questão terá consequências em dois planos: o da eficácia e da eficiência com que essas políticas se aplicam e produzem efeitos, e o da natureza absolutamente diferenciada dos efeitos que produzem, consoante sejam ou não territorializadas59.

REIS (2005b:4), chama “territorializações aos processos socioeconómicos localizados, assentes em dinâmicas e em atores cuja ação é possibilitada por interações de proximidade, às quais estão associados os respetivos desenvolvimentos, mesmo quando se passam a integrar em contextos mais vastos.” Como exemplos de territorializações, REIS (2005) salienta: i) as cidades e os sistemas urbanos; ii) os distritos industriais; iii) os sistemas nacionais e regionais de inovação; e iv) as regiões.

Segundo REIS (2005b:4), “territorializações não são formas de fechamento autárcico de processos endógenos; são valorizações em diversos contextos espaciais de recursos, capacidades e ações ligados ao território. O espaço60 integra as suas decisões de localização.”

Noutra perspetiva do mesmo tema, BARCA, McCANN e RODRÍGUEZ-POSE (2012), apresentam um debate entre as políticas públicas place-based (base-local) e as políticas públicas spatially-blind or place-neutral policies (políticas espacialmente cegas ou local-neutras). Neste prisma, se por um lado, as políticas place-neutral, e como tal, sem sensibilidade ao território, podem representar uma opção para promover o crescimento económico e facilitar a recuperação das áreas mais atrasadas, por outro lado, mesmo a melhor estratégia de desenvolvimento place-neutral pode ser prejudicada por ambientes institucionais pobres e, portanto, as opções de place-based são necessárias.

Para BARCA, McCANN e RODRÍGUEZ-POSE (2012:149), “o que emerge desse debate é a necessidade de fazer políticas de desenvolvimento mais capazes de responderem aos desafios de hoje e, portanto, mais eficazes e eficientes do que as das intervenções passadas”. Seguindo de perto os mesmos autores, pelo argumento place-based, essas políticas de desenvolvimento só poderão ser alcançadas tentando fazer com que o crescimento e a intervenção sejam mais local-aware (local-consciente), tendo em consideração, a enorme

58 Segundo REIS (2005a), dessa forma, o rescaling das políticas é essencialmente resultante do envio para níveis

infra estaduais (regionais ou metropolitanos), por exemplo, de funções que o Estado já não é capaz de exercer bem.

59 Para maiores desenvolvimentos e discussão sobre as questões de fundo aqui em presença cf.: REIS, (2005a). 60 Expresso, por exemplo, pela proximidade de fatores, atores e condições.

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. variedade de fatores em diversas localizações geográficas que podem afetar os retornos potenciais de uma intervenção.

Segundo BARCA, McCANN e RODRÍGUEZ-POSE (2012:149), “só fazendo políticas que sejam de place-based e de people-based (baseadas e focadas nas pessoas) se originará um forte argumento para que a intervenção do desenvolvimento regional seja feita”.

Estas questões terão, como não poderia deixar de ser, implicações na avaliação das próprias políticas.

Por essa razão, segundo REIS (2005) é importante que a avaliação de políticas públicas possa também avaliar a sensibilidade da política ao território. Para REIS (2005a:40), pode assumir-se uma tipologia das políticas sensíveis ao território, em dois níveis:

i) os níveis máximos de sensibilidade, que “atribuem-se a três tipos de políticas: as políticas de qualificação urbana, de inclusão social e de desenvolvimento endógeno, as políticas de qualificação da força de trabalho e de inovação empresarial, especialmente as que têm a ver com as pequenas e médias empresas, com os clusters e com a criação de infraestruturas de ciência e tecnologia para a produção, e as políticas de acesso a serviços sociais básicos”.

ii) os níveis mínimos de sensibilidade, que “atribuem-se às políticas de infraestruturação em capital fixo social: quer as grandes infraestruturas que apenas “pontuam” o território, quer as que o capacitam através de grandes redes (infraestruturas viárias, energéticas, ou mesmo de fornecimento de grandes serviços ambientais)”.

Assim sendo, esta abordagem possibilita, atribuir níveis máximos ou mínimos sabendo se a política é mais sensível ou insensível ao território.

Desta forma, torna-se também importante apurar, se algumas das intervenções relativamente insensíveis ao território, poderão ou não ser territorializáveis.

Essa resposta poderá, ser ponderada à luz da escala em que essas intervenções se realizam, e à necessária aderência que têm ao território físico.

No entanto, segundo REIS (2005:40), tratam-se de causas distintas. “Uma resulta da escala de execução e da natureza das atribuições e competências dos diferentes níveis do Estado. Outra advém de uma lógica de resultado, isto é, da eficácia que se obtém com essas políticas, a qual depende do contexto em que se aplicam e executam”.

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. Desta forma, salienta-se especialmente o modo como a territorialização das políticas é assegurada. Uma atenção redobrada à sensibilidade das ações ao território pode contribuir para a resolução de alguns dos dilemas e paradoxos com que as políticas públicas se podem confrontar61.

No entanto, ainda segundo REIS (2005), raramente se admite que esses problemas exigem um método de articulação com as estruturas materiais, o que supõe uma atenção redobrada, ao território.

Ainda segundo REIS (2005:41), “a pertinência do território tem de ser discutida em todos os planos, como questão transversal que é. E tem, também, de ser discutida independentemente do que se passa em termos de gestão. Antes da forma político- administrativa da gestão está a conceção das políticas e os resultados que com elas se querem obter”.