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2. A ATUAÇÃO DA BRIGADA MILITAR NAS INFRAÇÕES DE MENOR

2.1 A Brigada Militar: atribuições constitucionais

No Brasil, as polícias militares originaram-se das Forças Policiais criadas durante o Brasil Império, que foram extintas na revolução de 1964, quando os militares assumiram o governo. Naquele momento, o governo pretendia manter um controle rígido sobre as corporações policiais armadas que existiam no país e, em virtude disso, extinguiu as Guardas Civis e estendeu as normas fiscalizadoras do Exército sobre as Polícias Militares, inclusive, nomeando oficiais do Exército para comandá-las em todos os Estados. Com o passar do tempo, especialmente com o fim da ditadura, as polícias militares se modificaram, adaptando-se aos novos tempos, entretanto, algumas características foram mantidas, sendo a principal delas, a sua natureza militar. Pode-se dizer que sua estrutura hierárquica é semelhante à do Exército, sendo atualmente comandada por oficiais policiais militares de carreira. Manteve-se, inclusive no texto constitucional de 1988, a atribuição de forças auxiliares e reserva do Exército, o que significa que em caso de estado de emergência ou de sítio, ou em decorrência de uma guerra, as polícias militares poderão ser requisitadas pelo Exército para exercerem funções diversas da área de segurança pública. (ROSA, 2007).

As atribuições das polícias militares dos estados encontram-se na Constituição Federal de 1988, em seu art. 144, que estatui:

Art. 144 - A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. [...]

§ 5º - Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.

§ 6º - As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

§ 7º - A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.

Assim, formada está a rede de segurança pública, estruturada através dos diversos órgãos, cada um com atribuição específica.

Mas o que se entende por segurança pública? O texto constitucional refere que o serviço de segurança pública deve ser exercido “para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”, ou seja, assegurar a ordem pública e proteger o cidadão e seu patrimônio. O conceito de ordem pública é abrangente, eis que pressupõe uma situação de normalidade, de condição minimamente harmoniosa e contra quaisquer alterações o Estado pode se impor, buscando restabelecê-la, tais como greves ou paralisação de serviços públicos essenciais ou ainda catástrofes naturais. Já a segurança pública conceitua-se mais claramente em seu sentido negativo, ou seja, ao refletirmos o que seria uma situação de “insegurança pública”. Assim, necessário que o Estado mantenha seu poder de polícia, que, segundo Celso de Mello consiste “na atividade estatal de condicionar a liberdade e a propriedade, ajustando-as aos interesses coletivos” (MELLO, 1999, p. 559), sendo a atividade de polícia uma das formas de exercício do poder de polícia, exercido através de órgãos constituídos para garantir que as pessoas convivam com aceitáveis condições de harmonia. Eis a razão dos termos “segurança pública”, “ordem pública”, “poder de polícia” e “poder da polícia” estarem

intimamente ligados e do texto constitucional assegurar a segurança como uma dos direitos fundamentais, diluído nos incisos do art. 5º, entendendo-se segurança como direito individual contra o Estado e contra terceiros (art. 5º, II, X, XI) e coletivo ou difuso (art. 5º, XVI, XVII, XVII e XIX).

A Constituição de 1988 atribui a diversos órgãos a realização da segurança pública. À Polícia Federal compete apurar infrações penais contra a ordem pública ou social, contra bens, serviços e interesses da União, bem como delitos com repercussão interestadual e transfronteiriços, como contrabando e descaminho, tráfico internacional de drogas; a ela também compete exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras, além de, com exclusividade, exercer as funções de polícia judiciária da União.

A Polícia Rodoviária Federal, segundo sua denominação, destina-se ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais, assim como a Polícia Ferroviária Federal ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.

As polícias civis, órgãos estaduais, destinam-se à atuação repressiva, na persecução penal, exercendo a atividade de polícia judiciária dos Estados.

Já as polícias militares são órgãos estaduais, subordinados ao Poder Executivo estadual, ou mais especificamente ao Governador do Estado, que é a autoridade máxima das polícias estaduais, e autoridade competente para nomear os seus comandantes. Às polícias militares (PM) cabem as atividades de policiamento ostensivo e de preservação da ordem pública. Entende-se por policiamento ostensivo a atividade visível e facilmente identificável, que não é realizado de forma velada, mas ostensiva, com uniforme, veículos, instrumentos e equipamentos que ajudam na identificação do policial. Segundo Loureiro (2012)

[...] durante o exercício da função de policiamento ostensivo, imediatamente, a população reconhece os policiais militares como instrumentos de força física legítima, pois aparecem em viaturas, usam armamento leve e utilizam a técnica policial de combate à criminalidade.

Trata-se, portanto, de um serviço preventivo efetuado de forma contínua, se antepondo a qualquer evento, previsível ou não. A atividade de polícia militar é preventiva na medida em que acompanha e vigia as atividades normais da sociedade, inibindo condutas antissociais, intervindo em situações que se apresentem como anormais, independentemente de se constituírem ou não um ilícito penal. Mas ela também atua de forma repressiva, na razão de sua pronta resposta a fatos criminais em situação de flagrância, caracterizando a chamada repressão penal imediata.

Plácido e Silva (1973, p. 1101) diz que

[...] entende-se por ordem pública a situação e o estado de legalidade normal, em que as autoridades exercem suas precípuas atribuições e os cidadãos as respeitam e acatam , sem constrangim ento ou protesto. Não se confunde com a ordem jurídica, embora seja uma consequência desta e tenha sua existência formal justamente dela derivada. Já Lazzarini (1999), entende que “ordem pública é uma situação de fato oposta à desordem”; enquanto Moreira Neto (1987) afirma que é uma situação “que muda no tempo e no espaço em função de concepções políticas e jurídicas”.

Nesse interim, a preservação da ordem pública consiste em assegurar que as pessoas possam gozar de condições razoáveis de convivência e de harmonia, circunstâncias estas que não são imutáveis, mas adequam-se ao tempo e local. A função de garantir a ordem pública é atribuída, em suma, “às Policiais Militares, o que implica na manutenção da ordem no estado de normalidade, seu restabelecimento quando rompida e seu aperfeiçoamento quando necessário.” (BRIGADA MILITAR, 2009)6.

Segundo Lazzarini (1996, p. 61) a competência das polícias militares é tão ampla no sentido de “preservar a ordem pública” que

[...] engloba inclusive a competência específica dos demais órgãos policiais, no caso de falência operacional deles, a exemplo de suas greves e outras

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causas, que os tornem inoperantes ou ainda incapazes de dar conta de suas atribuições, pois, a Polícia Militar é a verdadeira força pública da sociedade. Bem por isso as Polícias Militares constituem os órgãos de preservação da ordem pública para todo o universo da atividade policial em tema de ordem pública e, especificamente, da segurança pública.

Por serem órgãos estaduais, há diferenças na atuação da polícia militar nos diversos estados do país, em razão de convênios locais, que estendem ou restringem ações, especialmente no que compete à fiscalização de trânsito, atividade de polícia ambiental e serviço de bombeiros e defesa civil.

No Rio Grande do Sul a polícia militar e os bombeiros militares são integrantes da mesma instituição, denominada Brigada Militar, e, seguindo previsão constitucional federal, a Constituição Estadual prevê suas atribuições nos art. 129 e seguintes, in verbis:

Art. 129: À Brigada Militar, dirigida pelo Comandante-Geral, oficial do quadro da Polícia Militar, do último posto da carreira, de livre escolha, nomeação e exoneração pelo Governador do Estado, incumbem a polícia ostensiva, a preservação da ordem pública, a guarda externa dos presídios e a polícia judiciária militar

Parágrafo único - São autoridades policiais militares o Comandante-Geral da Brigada Militar, os oficiais e as praças em comando de fração destacada Art. 130 - À Brigada Militar, através do Corpo de Bombeiros, que a integra, competem a prevenção e combate de incêndios, as buscas e salvamento, e a execução de atividades de defesa civil

§ 1º - A seleção, o preparo, o aperfeiçoamento, o treinamento e a especialização dos integrantes da Brigada Militar são de competência da Corporação

§ 2º - Incumbe à Corporação coordenar e executar projetos de estudos e pesquisas para o desenvolvimento da segurança pública, na área que lhe é afeta

Art. 132 - Os serviços de trânsito de competência do Estado serão realizados pela Brigada Militar (grifos nossos).

Observa-se, portanto, que a gama de atribuições da PM gaúcha é abrangente, no sentido de assegurar segurança pública à população, realizando patrulhamento ostensivo, o que, por conseguinte, incide em ação repressiva sempre que estiver configurada alguma situação que altere a condição normal de tranquilidade pública, trabalhando na guarda externa de casas prisionais, reprimindo qualquer tentativa de evasão de presos, prestando serviço de trânsito nas rodovias estaduais, e talvez, a menos conhecida pela população, a pesquisa, o estudo, a formulação de projetos e pesquisas afetas à segurança pública, dentro do que lhe incumbe, e sua execução; isto porque a execução dos serviços prestados não ocorre

aleatoriamente, e sim em decorrência de análises e estudos sobre as condições sociais, políticas, políticas públicas e contexto histórico que repercutam na criminalidade e na forma mais adequada de preveni-la e combatê-la.