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A CARÊNCIA DE PROFISSIONAIS MÉDICOS

O Planejamento em Saúde no Brasil –

A CARÊNCIA DE PROFISSIONAIS MÉDICOS

NO BRASIL Colônia e no Brasil Império era enorme,

em outros estados brasileiros eram mesmo inexistentes o que fez com que proliferassem pelo país os Boticários (farmacêuticos).

Aos boticários cabia a manipulação das fórmulas prescritas pelos médicos, mas a verdade é que eles próprios tomavam a iniciativa de indicá-los, fato comum até hoje, principalmente nas regiões interioranas brasileiras, de difícil acesso e poucos recursos.

Não dispondo de um aprendizado acadêmico, o processo de habilitação na função de boticário consistia tão somente em acompanhar um serviço de uma botica já estabelecida durante certo período de tempo, ao fim do qual prestavam exame perante fisicatura e se aprovado, o candidato recebia a “carta de habilitação”, e estava apto a instalar sua própria botica.

Para quem tem curiosidade, fisicatura era a denominação dada a instituição reguladora das profissões da área de saúde em Portugal e no Brasil, no

período compreendido desde a época da Colônia ate 1828 quando o imperador Dom João VI extingue o cargo de fisico-mor do império.

Com a Proclamação da República, em 1889, estabeleceu-se uma nova forma de organização do aparelho estatal que assegurava apenas as condições formais da representação burguesa clássica, com o tradicional controle político pelos grandes proprietários (o coronelismo). E naturalmente, a falta de um

MODELO SANITÁRIO para o país continuava,

deixando as cidades brasileiras a mercê das epidemias. No início desse século XX, a cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, apresentava um quadro sanitário caótico caracterizado pela presença de diversas doenças graves que acometiam à população, como a varíola, a malária, a febre amarela, e posteriormente a peste, o que acabou gerando sérias consequências tanto para SAÚDE COLETIVA quanto para outros setores, considerados muito mais importantes que o próprio povo, como o do comércio exterior, visto que os navios estrangeiros não mais queriam atracar no porto do Rio de Janeiro em função da situação sanitária existente na cidade.

Pressionado pelos coronéis e banqueiros da época, Rodrigues Alves, então presidente do Brasil, nomeou em 1903 o cientista médico Oswaldo Cruz, como Diretor do DEPARTAMENTO FEDERAL DE

SAÚDE PÚBLICA, pois este se propunha através de

pesquisas na área bacteriologia e sanitária, a erradicar a epidemia de febre-amarela e varíola que assolava a cidade do Rio de Janeiro – capital da república brasileira.

Foi criado um verdadeiro EXÉRCITO DE “MATA

MOSQUITOS” (estranhamente, nos dias atuais

mosquitos” espalhados pelo país no combate a dengue) e Oswaldo Cruz conseguiu também convencer Rodrigues Alves a decretar obrigatória a VACINAÇÃO para todo o território nacional, em toda a população, como forma de combate a varíola.

A história nos fala sobre a “revolta da vacina”, a revolta do “quebra lampião” e de que a população odiava Oswaldo Cruz, que foi considerado um inimigo do povo pelos jornais da época, nas caricaturas e marchinhas de carnaval e nos discursos inflamados de nossos eminentes juristas, políticos e diplomatas, como por exemplo, Rui Barbosa que discursou na Câmara e no Senado contra a arbitrariedade da vacinação obrigatória.

A falta de esclarecimentos e vamos ser sinceros, as arbitrariedades cometidas pelos “GUARDA

SANITÁRIOS” causaram revolta na população.

Segundo Guerra (1940), “a cidade do Rio de Janeiro era uma das mais sujas do mundo” e o modelo adotado por Oswaldo Cruz foi considerado como um MODELO

DE INTERVENÇÃO e ficou conhecido como

campanhista, tendo sido concebido dentro de uma visão militar em que os fins justificam os meios, e no qual o uso da força e da autoridade eram considerados os instrumentos preferenciais de ação.

A situação ficou tão crítica que o próprio presidente Rodrigues Alves resolveu chamar Oswaldo Cruz ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro (Lembram? A capital do Brasil.) pedindo-lhe para, apesar de acreditar no acerto da ESTRATÉGIA do sanitarista, não continuar queimando os colchões e as roupas dos doentes.

É claro que, apesar dos problemas enfrentados na época, o MODELO CAMPANHISTA obteve importantes vitórias no controle das doenças

epidêmicas, conseguindo, inclusive, erradicar a febre amarela da cidade do Rio de Janeiro, o que fortaleceu o modelo proposto e o tornou hegemônico como proposta de intervenção na área da saúde coletiva durante décadas.

Neste período Oswaldo Cruz procurou organizar a diretoria geral de saúde pública, criando uma seção demográfica, um laboratório bacteriológico, um serviço de engenharia sanitária e de profilaxia da febre- amarela, a inspetoria de isolamento e desinfecção, e o Instituto Soroterápico Federal, posteriormente transformado no Instituto Oswaldo Cruz.

Nas reformas promovidas por Oswaldo Cruz foram incorporados como elementos das ações de saúde o registro demográfico, a introdução do laboratório como auxiliar do diagnóstico e a fabricação organizada de produtos profiláticos para uso em massa – vacinas principalmente.

Em 1920, Carlos Chagas, sucessor de Oswaldo Cruz, reestruturou o Departamento Nacional de Saúde, então ligado ao Ministério da Justiça e introduziu a

PROPAGANDA e a EDUCAÇÃO SANITÁRIA na

técnica rotineira de ação, inovando o modelo campanhista de Oswaldo Cruz que era puramente fiscal e policial.

Bom, até aqui já deu para perceber que a palavra PLANEJAMENTO não fazia parte do contexto. Na verdade, “apagava-se os incêndios conforme eles iam surgindo” e foram muitos a partir da década de 20, no século passado.

Criaram-se órgãos especializados na luta contra a tuberculose, a lepra e as doenças venéreas. A assistência hospitalar, infantil e a higiene industrial se

destacaram como problemas individualizados. Expandiram-se as atividades de saneamento para outros estados, além do Rio de Janeiro.

Éramos ainda uma sociedade dominada por uma economia agro-exportadora, assentada na monocultura cafeeira e, o máximo que se exigia do sistema de saúde era, sobretudo, uma POLÍTICA DE SANEAMENTO destinado aos espaços de circulação das mercadorias exportáveis e a erradicação ou controle das doenças que poderiam prejudicar a exportação.

Portanto, gradativamente, com o controle das epidemias nas grandes cidades brasileiras o modelo campanhista deslocou a sua ação para o campo e para o combate das denominadas ENDEMIAS RURAIS, dado ser a agricultura a atividade hegemônica da economia da época.

Este modelo de atuação foi amplamente utilizado pela Superintendência de Campanhas de Saúde Pública – SUCAM, no combate a diversas endemias (Chagas, Esquistossomose, e outras), sendo esta posteriormente incorporada à Fundação Nacional de Saúde. O que ninguém fala é que alguns guardas da extinta SUCAM, que defendiam a população contra a malária, hoje são idosos que lutam para recuperar a própria saúde, pois se tornaram vítimas de intoxicação pelo DDT, o inseticida usado no Brasil por mais de 50 anos para matar o mosquito transmissor da malária.

Com a acumulação capitalista advinda do comércio exterior, no início do século XX, tornou possível o início do processo de industrialização no país, que se deu principalmente no eixo Rio - São Paulo.

Tal processo foi acompanhado de uma urbanização crescente, e da utilização de imigrantes

europeus como mão-de-obra nas indústrias, visto que, italianos, portugueses e espanhóis já possuíam grande experiência neste setor, que era muito desenvolvido na Europa, com mais de 100 anos de desenvolvimento à frente do Brasil.

No início, estes operários não tinham quaisquer garantias trabalhistas no Brasil, tais como férias, jornada de trabalho definida, pensão ou aposentadoria, vivendo de certa forma de maneira marginal a sociedade mas assim como possuíam o conhecimento técnico de que tanto precisávamos, os imigrantes, especialmente os italianos, traziam consigo a história do movimento operário na Europa e dos direitos trabalhistas, que já tinham sido conquistados pelos trabalhadores europeus, e desta forma procuraram mobilizar e organizar a classe operária no Brasil também, na luta pela conquistas dos seus direitos.

O movimento operário organizou e realizou duas greves gerais no país, uma em 1917 e outra em 1919, começando gradativamente a conquistar alguns direitos sociais e em 1923, como uma consagrada vitória destes movimentos foi aprovada pelo Congresso Nacional a “LEI ELOI CHAVES”, marco inicial da PREVIDÊNCIA

SOCIAL no Brasil.

Através desta lei foram instituídas as CAIXAS

DE APOSENTADORIA E PENSÃO – as CAP.

Veja, ainda não estamos falando de PLANEJAMENTO PARA SAÚDE e muito menos em saúde como um direito de todos, mas já começamos a mostrar que surgia alguma preocupação em alguns seguimentos econômicos com o BEM ESTAR daqueles que garantiam sua produção e acumulação de riqueza – os trabalhadores.

A Lei Eloi Chaves foi criada, mas apenas aplicada ao operariado urbano, condição imposta pelas oligarquias rurais para a sua aprovação no Congresso Nacional. Resumo da ópera: aos trabalhadores rurais NADA!

Outra particularidade refere-se ao fato de que as caixas deveriam ser organizadas por empresas e não por categorias profissionais MAS dependia do poder de mobilização e organização dos trabalhadores de determinada empresa para reivindicar a sua criação junto aos seu patronato.

A primeira CAP criada foi a dos ferroviários, o que pode ser explicado pela importância que este setor desempenhava na economia do país naquela época e pela capacidade de mobilização que a categoria dos ferroviários conseguiu desenvolver.

Você deve estar se perguntando: e a assistência médica, e a saúde do trabalhador onde fica em relação a este SISTEMA DAS CAIXAS?

Os fundos das CAP, estabelecidas pela Lei Eloy Chaves, além das aposentadorias e pensões proviam os serviços funerários e médicos em caso de doença do trabalhador ou pessoa de sua família, que habite sob o mesmo teto e sob a mesma economia. Em casos de doença os medicamentos eram obtidos por preço especial determinado pelo Conselho de Administração de cada CAP e esta deveria arcar com a assistência aos acidentados no trabalho.

A criação das CAP pode ser entendida, assim, no contexto das reivindicações operárias no início do século, como resposta do empresariado e do estado à crescente importância da questão social.

Em 1930, o sistema já abrangia 47 caixas mas lembrem-se: só atendiam as necessidades dos trabalhadores das áreas urbanas.

Mas o mundo estava mudando. Entre 1922 a 1930, sucederam-se crises econômicas e políticas em que se conjugaram fatores de ordem interna e externa, e que tiveram como efeito a diminuição do poder das oligarquias agrárias. A crise de 1929, por exemplo, imobilizou temporariamente o setor agrário-exportador no Brasil, fazendo com que a riqueza mudasse de mãos e com isto redefinindo a organização do Estado. Esta mudança de poder financeiro e por conseqüência de poder econômico e político acaba por imprimir novos caminhos a vida nacional.

Em 1930 acontece no Brasil uma revolução, comandada por Getúlio Vargas que rompe com a política do café com leite, entre São Paulo e Minas Gerais, que sucessivamente elegiam o Presidente da República. Getúlio foi vitorioso em seu movimento e a partir de então começaram mudanças profundas na estrutura do estado.

É claro que estamos falando em objetivos voltados para a promoção da expansão do sistema econômico, afinal somos e sempre fomos um sociedade capitalista, portanto como foco central de qualquer mudança está e estará sempre o econômico e político primeiro.

Bom, sai a “República Velha” estabelecendo-se, paralelamente, uma nova legislação que ordenasse a efetivação das mudanças pretendidas. Foram criados vários ministérios, inclusive o MINISTÉRIO DA

EDUCAÇÃO E SAÚDE PÚBLICA - MESP e juntas de

EPA! Começamos a falar pela primeira vez de saúde de forma institucionalizada em relação ao Estado!

Efetivamente isto quis dizer o que?

Inicialmente, a criação do Ministério não trouxe nenhuma alteração para a saúde pública, significando apenas a

incorporação do existente

Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), criado em 1920.

Posteriormente, foi sofrendo

modificações provisórias por meio de uma legislação fragmentada e que atendia somente às necessidades conjunturais. No final do ano de 1930, já haviam sido delineadas algumas das diretrizes que orientariam a reforma

administrativa implementada por

Vargas: fortalecer a organização administrativa federal e introduzir

medidas de racionalização

administrativa. Porém, segundo alguns analistas da reforma administrativa, nesse período acabaram por não passar de meros atos formais.

(WAHRLICH, 1983, apud HOCHMAN, 2005, p. 130) Pragmaticamente registramos a substituição das CAP pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões – IAP que eram autarquias, de nível nacional, centralizadas no governo federal. Diferentemente das CAP a filiação nos IAP se dava por categorias profissionais.

Ao longo dos anos seguintes surgiriam os seguintes institutos: IAPM - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos; IAPC - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários e IAPB - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários; IAPI - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários; IAPETEC - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas; IPASE - Instituto de Pensões e Assistência aos Servidores do Estado; CAPFESP - Caixa de

Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários e de Empresa do Serviço Público e IAPFESP - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários e Empregados em Serviços Públicos.

Getúlio governou como de 1930 a 1934, como chefe do "Governo Provisório".

PROVISÓRIO por 4 (quatro) anos! O pessoal da época devia entender e aceitar os motivos. Mas isto é HISTÓRIA, prossigamos.

Em 1934 foi promulgada uma nova constituição, nossa terceira carta na realidade e que representava o acordo entre a grande propriedade agrária e a burguesia industrial historicamente frágil. O Estado e o setor industrial através dela instituíram uma política social de massas que na sua redação se configura no capítulo sobre a ordem econômica e social E a Assembléia Nacional Constituinte aproveitou o ensejo e elegeu Getúlio a Presidente da República, “of course”!

E a saúde?

“Vai muito bem, obrigado.” Afinal temos os IAP. Só para os trabalhadores urbanos. Será que na área rural ainda existiam boticários?

Em setembro de 1937, quando se aguardavam as eleições presidenciais marcadas para janeiro de 1938 o governo Getulista denunciou a existência de um suposto plano comunista para tomar o poder no Brasil.

Para quem prestou atenção as aulas de História do ensino médio, pelo menos, vivíamos o período do fascismo e do nazismo, cuja essência se fundamentava no totalitarismo, onde o Estado, e em última instância o chefe de Estado deveria controlar tudo e todos,

apelando para a homogeneização da sociedade e usado como forma de controle social o medo a um grau extremo, onde todos passam a vigiar a todos e todos se sentem vigiados e intimidados por todos.

Getúlio percebeu o temor relativo aos tempos instáveis de guerra, que vinham da Europa, mesmo aqui no Brasil. Percebeu o MEDO.

Portanto, em 1937 é promulgada uma nova constituição, a nossa quarta carta, que reforça o centralismo e a autoridade presidencial, para não sermos tão contundentes e através de um golpe de estado instituiu o Estado Novo que foi apresentado com o objetivo de "Reajustar o organismo político às necessidades econômicas do país" (VARGAS, 1941)

Mas sabemos que você vai insistir: e a saúde? A partir de 1937 o MESP começa a implementar reformas propostas por Capanema (1900-1985), Ministro da Educação e Saúde Pública do governo Getulista, desde 1934.

Reformulando e consolidando a estrutura administrativa e adequando-a aos princípios básicos que haviam sido definidos para a política social do Estado Novo, o ministério passou a se denominar MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAÚDE – MES e que aos poucos vai redefinindo, ou ainda melhor, definindo pela primeira vez os rumos para a política de saúde pública. Pode-se dizer que alguém acende uma vela para iluminar um prenúncio de planejamento. Se vocês fizerem as contas isso aconteceu a apenas 63 (sessenta e três) anos atrás. Se um funcionário do MES começou a trabalhar no ministério com 18 (dezoito) anos, ele hoje tem 81 (oitenta e um) anos e grande possibilidade de estar muito bem de saúde e contanto esta história para seus netos.

A segunda grande reforma do MES aconteceu em 1941 com a criação dos Serviços Nacionais, que verticalizaram as campanhas de combate a doenças e ações específicas, como a Peste; a Tuberculose; a Febre Amarela; o Câncer, a Lepra, a Malária, as Doenças Mentais, a Educação Sanitária, a Fiscalização da Medicina e a Saúde dos Portos, assim como a criação do Serviço Federal de Bio-Estatística e Serviço Federal de Águas e Esgotos.

A principal orientação e missão dos serviços nacionais criados em 1941 era

debelar surtos epidêmicos e

estabelecer métodos de controle e prevenção, em um trabalho conjunto com as Delegacias Federais de Saúde e com os governos estaduais. Dessa forma, o governo federal, por meio da equipe técnica que atuava nos estados

(médicos sanitaristas, guardas

sanitários, enfermeiras, engenheiros), buscava aumentar sua presença nos recantos mais remotos do país, conjugando centralização política com alguma forma de descentralização administrativa.

(HOCHMAN, 2005, p.135) Como exemplo podemos apresentar um “serviço” que existe até hoje, como uma instituição de grande porte e de medicina de ponta: o INSTITUTO NACIOAL DE CÂNCER – INCA, que em 1941, por necessidade do governo federal em desenvolver uma política nacional de controle do câncer, transformou-se no Serviço Nacional de Câncer – SNC. O SNC, hoje INCA, foi criado por Getúlio, em 1937, como Centro de Cancerologia no Serviço de Assistência Hospitalar do Distrito Federal, no Rio de Janeiro e hoje, 2010, sua missão é exatamente como Hochman (2005) descreve a missão dos serviços criados em 1941: “Ações nacionais integradas para prevenção e controle do Câncer.”(INCA, 2010)

De qualquer forma as principais ações da saúde pública no Brasil da décade de 1940 ainda tinha como foco o combate à malária, à tuberculose, à lepra e a febre amarela. A grande característica, e que aqui merece destaque é que as ações de saúde eram coordenadas por um núcleo central que residia no Ministério e implementadas de modo hierárquico nos estados e nos municípios, brincadeiras à parte mas concretizava-se a idealidade de Oswaldo Cruz: com intervenções políticas nos Estados, autoritarismo e com crescentes limites constitucionais às autonomias estaduais,estavam removidos os obstáculos para o MOVIMENTO SANITARISTA da década de 1920.

De qualquer forma esta intervenção já vinha acontecendo desde a reforma de 1937, quando o território brasileiro foi dividido em 8 (oito) regiões, cada uma com uma Delegacia Federal de Saúde

Não dá para não citar Hochman (2005), o artigo dele é muito bom em referência ao período Getulista e ao MES: as delegacias

que tinham como função supervisionar

as atividades necessárias à

colaboração da União com os serviços locais de saúde pública e assistência

médico-social e com instituições

privadas, além da inspeção dos serviços federais de saúde. [...] Cada delegacia federal de saúde funcionaria como um braço do Ministério em uma determinada região e estabelecia uma relação íntima com os serviços sanitários estaduais, inclusive com a nomeação dos seus chefes. [...] Além das Delegacias Federais de Saúde, a

reforma de 1937 instituiu as

Conferências Nacionais de Saúde

(CNS), que deveriam reunir

periodicamente delegações de todos os estados em um fórum nacional e de caráter oficial para discutir os temas de saúde pública. [...] A criação das Conferências [...] seguia os princípios gerais que as orientaram, calçados na

preocupação em estabelecer parâmetros mais precisos nas relações e atribuições da União com os estados e municípios. Utilizando-se recursos financeiros e prestação de assistência técnica, os problemas dos estados deveriam ser tratados conjunta e sistematicamente, sem privilégios. [...]Do ponto de vista da reforma, as

CNS constituíam um espaço

privilegiado para a articulação entre o

governo federal e os estados,

viabilizando a sistematização de

normas técnicas e administrativas da área da saúde. Permitiriam que se

ajustassem os mecanismos

burocráticos e administrativos que dariam suporte à definição das prioridades, a uma supervisão que aspirava ser criteriosa e a uma pretensão de controlar o setor. Dessa forma, o perfil delineado para o funcionamento das Conferências era o de um espaço para administradores e técnicos de saúde. Como diziam respeito a atividades exclusivamente

de caráter público, as CNS

aglutinariam representantes dos

órgãos públicos de saúde na esfera federal e estadual, para discussão e

deliberação das questões

administrativas relativas à saúde pública.

(HOCHMAN, 2005, p.132-133) Se na década de 30 acenderam uma vela para iluminar um prenúncio de planejamento, na década de 40 foi acesa uma lamparina.

O nacionalismo estandardizado por Getúlio faz com que a reorganização dos serviços nacionais do Ministério da Educação e Saúde comece a se expandir