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1.1.3 Textos Autênticos

1.2.2. A Motivação no Ensino e Aprendizagem de Línguas

1.2.2.3. A Categorização das Variáveis Motivacionais de Viana

Ao estudar a motivação para o estudo de língua estrangeira, Viana (1990) foi um dos pioneiros em enfatizar o aspecto dinâmico da mesma, descrevendo e analisando as influências, positivas e/ou negativas, que inúmeros fatores exercem sobre ela durante o processo de aprendizado e como essas influências refletem na atuação/participação do aluno em sala de aula.

Em seu trabalho, o autor apontou a existência de três manifestações da motivação. São elas:

motivação com relação ao aprendizado da língua: abrange as atitudes do indivíduo com relação à língua-alvo e seu aprendizado, analisada como integrativa ou instrumental; motivação com relação ao povo e ao país falante da língua-

alvo: abrange as opiniões e atitudes sobre o povo, a cultura, o país falante da língua;

59 motivação para a aula: abrange as atitudes do indivíduo quanto ao insumo e à metodologia utilizada em sala de aula. Vinculada a esta manifestação encontra-se ainda uma outra, chamada de motivação para realização das tarefas de casa, que depende do que é realizado em sala para acontecer, ou seja, é preciso que o aluno perceba as tarefas propostas como significativas e relevantes para o aprendizado para que tenha estímulo a realizá-las posteriormente.

Todas essas manifestações da motivação sofrem influências de outros fatores categorizados da seguinte maneira:

linguísticos: fatores relativos ao conteúdo apresentado em sala de aula e a como o aluno interage com ele;

metodológicos: fatores referentes aos procedimentos e recursos utilizados em sala de aula para apresentação e desenvolvimento do conteúdo;

físico-humanos: fatores concernentes ao estado ou disposição física do aluno;

físico-ambientais: fatores relacionados aos aspectos físicos da sala de aula;

sócio-ambientais: fatores acerca do relacionamento humano entre professor e aluno e entre alunos na sala de aula;

externos: fatores relacionados ao ambiente externo à sala de aula, como informações sobre o povo, país, cultura ou mesmo sobre a própria língua-alvo.

Ainda que esses fatores estejam assim categorizados, o autor deixa claro que eles são interdependentes e inter-relacionados e que se comportam de maneira distinta em cada aluno, ou seja, que suas influências podem ser positivas ou negativas dependendo de como os alunos lidam com tais variáveis.

Em relação à motivação com relação ao aprendizado da língua e à motivação com relação ao povo e ao país falante da língua-alvo, os seus fatores influenciadores mais expressivos são os externos, tais como: notícias via carta ou outros meios, contato com falante nativo, músicas e filmes; porém, o autor faz uma importante observação de que a motivação para a aula pode influenciar o comportamento da motivação com relação ao aprendizado da língua, isto é:

... se um aluno passar muito constantemente só por manifestações negativas em sua motivação para a aula, ele provavelmente poderá desistir de estudar a língua. Em termos práticos isso significa que se um aluno, durante o período de permanência na sala de aula não sentir que o material que está estudando é relevante, que a metodologia

60 adotada está positivamente contribuindo para seu processo de aprendizagem, ou então encontrar problemas motivacionais constantes em alguns dos outros fatores discutidos neste trabalho, ele poderá desenvolver uma atitude negativa com relação à língua e consequentemente uma motivação negativa estável para aprendê-la. (Viana, 1990, p.101)

No que diz respeito à motivação para a aula, o autor afirma que essa é a manifestação mais influenciável e passível de alterações, pois todos os fatores categorizados se manifestam nela de alguma forma. Além disso, ela foi apontada como a principal manifestação motivacional considerando que, para a maioria dos alunos, a sala de aula é o único local de contato com a língua estrangeira.

A fim de discutirmos a influência dos fatores categorizados na motivação para a aula, trataremos primeiramente dos linguísticos e metodológicos, os quais se encontram intrinsecamente relacionados na função de maiores influenciadores da mesma.

A partir da pesquisa de Viana (op.cit), entendemos que os fatores linguisticamente negativos para a motivação são compostos de algumas características, entre elas: a) o conteúdo apresentado de forma descontextualizada, apenas para estudo da gramática; b) apresentação de conteúdo acima do nível de compreensão e proficiência do aluno, gerando ansiedade; e c) conteúdo em excesso em uma única apresentação.

Tais procedimentos metodologicamente configuram uma abordagem gramatical que promove a repetição da mesma estrutura de aula e inviabiliza um panorama das possibilidades contextuais de realização da língua, bem como as oportunidades de produção/interação na mesma. Nesse caso, as listas de vocabulário também são constantes, ocasionando o referido excesso de insumo.

Quanto ao fator linguístico positivo, ele deve ser: interessante, contextualizado,

verossímil, relevante, vinculado à realidade, transmissor de informações culturais e apropriado ao nível de conhecimento/desempenho do aprendiz (Viana, 1990, p.107).

Em termos metodológicos, segundo o autor, esses conteúdos devem ser viabilizados por meio de atividades dinâmicas, diversificadas, que requeiram a participação do aluno, que trabalhem a compreensão e produção oral e priorizem a compreensão do significado em detrimento da forma. Músicas, textos e diálogos gravados em áudio, histórias em quadrinhos e discussões em grupo foram atividades que demonstraram elevado potencial motivacional durante a pesquisa de Viana (1990).

61 Já em relação aos fatores físico-humanos (que se referem à disposição física do aluno), aos fatores físico-ambientais (relativos ao espaço físico da sala de aula) e aos fatores sócio-ambientais (referentes ao clima social da sala configurado no relacionamento aluno-professor e aluno-aluno), o autor afirma que são itens básicos para a otimização dos dois fatores anteriormente discutidos – o linguístico e o metodológico.

Ainda segundo o autor, a condição ideal para desenvolvê-los seria com um aprendiz disposto fisicamente, livre de enfermidades, sono ou cansaço, em uma sala de tamanho adequado ao número de alunos, confortável, arejada e com bons equipamentos inseridos em um clima descontraído, agradável, de certa informalidade, de liberdade e de camaradagem entre todos os envolvidos.

Além disso, a motivação para a realização das tarefas de casa é considerada uma extensão da motivação para a aula, pois a sua realização também depende do que ocorre na sala de aula. As tarefas mais positivas são aquelas em que se explicita o seu objetivo e relevância para o aprendizado, não são muito extensas ou de elevado grau de dificuldade, foram planejadas e o aluno está ciente disso, são sempre retomadas na aula seguinte e apresentadas de forma regular.

Nos estudos de Viana (1990), encontramos também uma afirmação do autor que nos chama a atenção. Trata-se da existência de uma motivação anterior ao aprendizado que o aluno traz consigo e que, estando em sala de aula, essa motivação será diretamente influenciada em função de múltiplos fatores, externos ou internos. Sendo o material didático e sua aplicação um dos mais importantes.

Dessa maneira, para estabelecermos uma relação entre motivação e autenticidade, representada pelos materiais autênticos que privilegiam o gênero notícias de jornal, consideramos importante discorrer sobre a motivação inicial, a fim de entender como se dá a sua manifestação nos alunos.