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A chegada dos romances ibéricos em terras potiguares

3 LARGO: OS ROMANCES E O ROMANCEIRO DE ALCAÇUS “L’Antiquitité on la dit, est chose nouvelle, a

3.3. A INFLUÊNCIA MOURA NO NORDESTE

3.3.2. A chegada dos romances ibéricos em terras potiguares

A poesia lírica chega ao Brasil como romances, cujas raízes estão na Idade Média (476-1453 d. C.), particularmente nos séculos das Cruzadas (1096-1270). Essa foi a fase da Cavalaria em que a bravura dos cavaleiros cristãos deu origem às canções de gesta que traduziam, em verso e canto, as aventuras dos Cruzados. Eram longos poemas com centenas de estrofes, transmitidos oralmente, antes do advento da imprensa e perpetuados fielmente na memória popular.

Por volta de 1500, autores europeus tomaram para si a tarefa de sintetizar as canções de gesta medievais, fragmentando-as em pequenos poemas que receberam a denominação de romances. O romanceiro é a coletânea desses romances que nos foram legados pelos

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No vocabulário popular conserva-se o vestígio temático. Ganelon deu Galadão ou Galalau, ente desmensuradamente alto e magro, desajeitado no andar e nos gestos, porém de bravura insólita e brutal. Essa figura não existe mais em Portugal ou Itália, mas permanece no Brasil.

colonizadores portugueses, acrescidos de outros romances criados no Brasil. Os romances existiram com outras denominações em diferentes países europeus, mas foi em Portugal e na Espanha que ganharam maior projeção, e no Brasil ao chegarem, foram espalhados principalmente por toda a costa do Nordeste. (GURGEL, 2006, p. 67).

Dada a situação geográfica, o Rio Grande do Norte foi um dos pontos mais visitados do litoral brasileiro e muitos europeus vieram e voltaram, mas alguns ficaram em terras brasileiras. Em constantes disputas com os índios, os homens de Aires da Cunha, então capitão-mor da Capitania, regressando do Maranhão, entraram no Rio Grande do Norte

chegando a Ceará-Mirim65. No Rio Grande do Norte, os romances ibéricos chegaram com os

colonizadores europeus que nessas terras habitaram trazendo seu desejo de conquista como também suas características culturais, inclusive na música. Segundo Tavares de Lyra (2008), além dos portugueses, os espanhóis e franceses também traficavam o pau-brasil alargando seu conhecimento das terras e das gentes, e com o comércio, estabeleceram estações de permuta.

Quer como Capitania Hereditária, quer como patrimônio da Coroa, o Rio Grande do

Norte continuou abandonado, até que, muito mais tarde, a expulsão dos franceses – para

segurança da Paraíba e do domínio português ao norte – veio a tornar urgente e inadiável a

sua conquista; mas, até que isso ocorresse, o que se conseguiu foi apenas explorar o litoral e as costas, que, em 1587, eram já mais ou menos conhecidas. Explorados o litoral e as costas, era preciso que os portugueses firmassem de vez o seu domínio, ocupando a capitania. O Rio Grande do Norte era o que os colonizadores procuravam de preferência pela sua proximidade dos estabelecimentos e portos paraibanos e pela cordialidade de relações com os potiguares.

Essa cordialidade de relações dava-se em quase todas as tribos pela facilidade de encontrar contrabando sem precisar de usar de violência com os nativos. Os franceses que mantinham a boa relação não tinham a intensão de colonizar a terra, por isso não guerreavam com os índios, pelo contrário, buscavam agradá-los para terem sempre ao seu lado. (LYRA, 2008, p. 13).

Os colonizadores, portugueses e espanhóis seguiram para o litoral sul, casaram com índias, contaminaram com a doença de bexiga, mataram muitos índios e incendiaram aldeias

inteiras66. O Rio Grande do Norte não passava de um vasto campo de devastações e de ruínas.

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Ceará-Mirim é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Norte, localizado na Grande Natal, na microrregião de Macaíba, na mesorregião do Leste Potiguar e no Polo Costa das Dunas. Localizado a 28km da capital do estado, Natal.

66 Jerônimo de Albuquerque, o primeiro donatário da Capitania de Pernambuco, viajou para a Paraíba e Rio

Grande do Norte, era inclinado aos amores fáceis teve muitos filhos com mulheres de diferentes origens, dessa maneira tiveram bons relacionamentos com os indígenas, garantindo o sucesso de seus esforços na

A obra da colonização, tão promissoramente iniciada antes da invasão holandesa que ia ser continuada depois dela em condições mais favoráveis, veio a ser aniquilada com uma batalha sangrenta.

Havia, portanto, um dos artigos que proibia ao capitão-mor de conceder acesso para o interior, ele D. Vasco de Mascarenhas, contrariando, concedeu a João Fernandes Vieira adentrar para o interior a dez léguas a começar da barra de Ceará-Mirim correndo pela costa

até Touros67. Vão penetrando para o interior e buscando facilidades na criação, no

desenvolvimento pastoril e a necessidade de conter o gentio, aumentando a população dos sertões.

Dois fatos culminantes caracterizam a história da Capitania do Rio Grande do Norte através os diversos governos: o início do povoamento dos sertões e a revolta dos índios. Essas ideias traduziram o pensar e o sentir gerais: matar ou escravizar os indígenas era a preocupação da grande maioria, que, aos processos empregados pelos missionários para firmar o seu poder e prolongar a sua influência através de novas gerações pela esperança e pela fé, proferia a opressão a ferro e fogo para tirar sem demora os lucros que ambicionava da exploração da terra.68

O século XVIII foi o do povoamento completo da capitania. Em seu início, esta se formava um só município e uma só freguesia; e, 1800, já contavam os municípios de Natal, São José de Mipibu, Arês, Vila Flor, Extremoz, Vila Nova da Princesa e Vila do Regente. A população estava disseminada por toda parte, atingindo as serras e os pontos mais remotos, condensando-se nos vales férteis do litoral e nas ribeiras dos rios sertanejos. (LYRA, 2008, p. 197).

Quanto ao extermínio do gentio, o índio, esse fato aconteceu em contato com os povos civilizados, em virtudes de guerras, epidemias de varíola e crises climáticas periódicas. Esse foi um desaparecimento quase completo, de modo que no cruzamento das três raças que entraram na nossa formação histórica, a raça primitiva passou a fornecer menor contingente, sobretudo na zona agrícola, onde foram assimilados um maior número de negros e mulatos.

No início do povoamento havia grande pobreza, as casas eram de taipa e a dos mais pobres eram cobertas de capim ou folhas de palmeiras. Se não fosse nos povoados, vivia-se

colonização. Foi ele quem fundou uma povoação nas proximidades do Forte dos Reis Magos no dia 25 de dezembro de 1599, da qual chamou de Natal. (LYRA, 2008, p.42).

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Touros é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Norte, na mesorregião do Leste Potiguar e no Polo Costa das Dunas. Tem o apelido de “esquina do Brasil” ou “esquina do continente”, já que se situa em uma região onde o litoral brasileiro faz uma curva.

68 O que se passou antes era a insubmissão dos índios e a inferioridade dos colonos, que se compunham, em

regra, de soldados idos de outras partes, mal pagos, broncos e viciados, de criminosos que eram perdoados com a condição de irem residir ali, de aventureiros e desclassificados de toda ordem. Com o restabelecimento da paz, com o extermínio dos índios, imigrantes vindos do reino ou das ilhas em busca de ambiciosas riquezas, começaram a entrar na formação da nova sociedade, elevando a sua cultura e seu nível moral. (LYRA, 2008, p. 130-132, 138, 159).

em total isolamento nos sertões, o contato do fazendeiro era com os vaqueiros e agregados; nos engenhos, com os lavradores, moradores e escravos, depois foi que os fazendeiros foram viver nas cidades e vilas por ocasiões religiosas. Estas, sem excluir às vezes o caráter

profano, revestiam-se sempre do esplendor que as condições da terra permitiam. Foram,

portanto, nessas condições de conquistas e escravidão, que dentre muitas heranças culturais foram deixados os romances medievais ibéricos, na voz de colonizadores portugueses e de seus descendentes, que embora estivessem na Capitania do Rio Grande do Norte para exterminar o gentil e conquistar, nessa terra também deixou raízes.