• Nenhum resultado encontrado

3 LARGO: OS ROMANCES E O ROMANCEIRO DE ALCAÇUS “L’Antiquitité on la dit, est chose nouvelle, a

3.6. O ROMANCEIRO DE ALCAÇUS

É no Romanceiro de Alcaçus que estão transcritos os textos e solfas dos romances ibéricos, as melodias cantadas em voz solo, geralmente feminina (GURGEL, 1992, p. 11). Foram os romances cantados pelas rendeiras retirados do Romanceiro de Alcaçus, que foram utilizados na composição de algumas partes dos cantos da Missa de Alcaçus. Segundo o compositor Danilo Guanais, os romances tiveram importância histórica e estilística para a composição.

O Romanceiro é a coleção dos romances que foram legados pelos colonizadores portugueses, acrescidos de outros romances criados no Brasil. Os romances existiram com outras denominações em diferentes países europeus, mas foi em Portugal e na Espanha que ganharam maior projeção (GURGEL, 2006). O estudo do romanceiro no Brasil compreende em duas grandes vertentes: o Romanceiro Ibérico, vindo de Portugal e da Espanha, e o Romanceiro Brasileiro. Segundo Deífilo Gurgel (2006), os romances ibéricos têm três classificações no Brasil: os palacianos, que contam histórias amorosas da nobreza peninsular ibérica, intrigas palacianas terminadas em tragédias; os religiosos ou sacros, os que falam de milagres e passagem da vida dos santos ou de Jesus Cristo; e os plebeus, aqueles que cantam amores e aventuras do povo nas classes inferiores. Os romances brasileiros de igual modo são classificados em três tipos: os Romances de Gado, que contam a fase da pecuária nos séculos XVIII e XIX; os Romances do Cangaço, que descrevem as aventuras e morte de famosos bandoleiros; e os Romances Burlescos, descreve de forma hilariante ou trágica as aventuras e situações da gente da plebe, apresentado no circo e nos teatros ambulantes. De acordo com sua classificação temática, os romances ibéricos mais conhecidos no Brasil são: dos

Palacianos: “Juliana e D. Jorge”, “O Cego e Aninha”, “O Conde Alberto”, “D. Branca”,

“Delgadinha”, “A Bela Infanta”, “Bernal Francês”, “D. Varão”, “D. Duardos”, “Claralinda”83.

Dos Religiosos ou Sacros: “Romance de Sto. Antônio”, “Romance de Sta. Tereza”. Dos

Plebeus: “Bela Pastora”, “A Menina da Fonte”, “Antonino e o Pavão do Mestre”84. Com sua

classificação temática, têm-se os romances brasileiros mais conhecidos são: dos Romances de

Gado: “Boi Surubim”, “O Rabicho da Geralda”. “Boi Espácio”, “Boi Pintadinho”; dos

Romances do Cangaço: “Zé do Vale”, “Cabeleira”, “Rio Preto”; e dos Romances Burlescos:

“Marido Infeliz”, “Madalena”, “Manoel do Fundão”, “A Tapuia”. (GURGEL, 2006, p. 68). Ilustração 31 – “Romance do Sangue e da Água”, com características dos Romances do Cangaço

Fonte: Guilherme de Faria (2008, 2013).

A ilustração acima refere-se a capa do cordel “Romances do Sangue e da Água”, do cordelista Guilherme de Faria pernambucano, com xilogravura em estilo armorial, no qual reúne traços medievais remetendo à cultura popular do Nordeste. O Rio Grande do Norte como os demais estados nordestinos, é rico em romances ibéricos e brasileiros, mas apenas a partir de 1985 que se iniciou uma pesquisa realizada pelo folclorista Deífilo Gurgel e financiada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN, sobre esse gênero musical. A pesquisa sobre os romances citados acima faz parte do Romanceiro Potiguar com 360 versões coletadas no estado em diferentes lugares e povoados, como a descoberta do romance ibérico “Paulina e D. João” em 1985, que aparece em diversas regiões do estado. O Romanceiro de Alcaçus é um trabalho baseado no Romanceiro Popular Nordestino, que faz parte de um universo de poemas e canções incluindo desde a poesia improvisada dos cantadores itinerantes até a Literatura de Cordel.

Segundo Câmara Cascudo (1978), os romances ibéricos estão em diferentes formas musicais e são de grande variedade, destacando-se o rondó, o virelai e a balada. No rondó há uma alternância de versos com estribilho; no virelai o estribilho interrompe o desenrolar das

83 Dos romances palacianos estão no Romanceiro de Alcaçus: “Juliana e D. Jorge”, “O Conde Alberto”, “D.

Branca”, “Delgadinha” e “D. Varão”.

estrofes; e na balada o estribilho aparece a cada três estrofes. Nos romances ibéricos de

Alcaçus encontram-se os seguintes tipos: rondó e balada. O romance “A Delgadinha” está

escrita na forma de rondó, e “Antonino”, na forma de balada85. Há também as formas de romances em estrofes seguidas como “Juliana e D. Jorge”, que é o romance mais cantado e divulgado no Rio Grande do Norte, segundo Gurgel (1992). Nele há versões dramatizadas em

Natal, Touros e outras cidades. O romance “Delgadinha” é pouco divulgado no Estado; e

“Antonino” é também um dos romances mais divulgados no estado do Rio Grande do Norte.

Relembra Gurgel (1996, p. 30) “Ouvi-o, menino ainda, na região do Seridó; minha mãe era de Carnaúbas, no Oeste, cantava-o sempre; finalmente, em minha pesquisa, encontrei-o em todo o litoral do leste do Estado”. E sobre o romance “Paulina e D. João”, continua:

Até que prove em contrário, este romance foi coletado pela primeira vez no Brasil, no estado do Rio do Norte. Nossas versões foram recolhidas em Alcaçus (Nísia Floresta), das em Rio do Fogo (Maxaranguape) e nas cidades de Pedro Velho, Ceara-Mirim e Jardim de Angicos. (GURGEL, 1996, p. 30).

O romance “Dona Branca” é bem divulgado, no qual foram colhidas seis versões; “O

Conde de Aragão” é um dos romances mais espalhados no Estado; e “Santa Iria” é um

romance pouco divulgado, a única versão foi cantada pela rendeira D. Maria Aleixo em Alcaçus, em 1985. Além dos romances medievais ibéricos, encontram-se também os romances brasileiros e os romances da lida diária. Os romances brasileiros têm características marcantes dos personagens cantados no Romanceiro do Cangaço e Flor de Romances Trágicos de Câmara Cascudo (1982). Nos romances da lida pecuária encontra-se a poesia

cantada de Fabião das Queimadas, com o “Poeta dos Vaqueiros”, “Boi da Mão de Pau” e a “A

Besta de Joana Gomes”. Mário de Andrade (1950) em visita ao Rio Grande do Norte

identifica no estado sua importante contribuição para o Romanceiro Popular e na sua pesquisa e documentação projeta a cultura popular do Rio Grande do Norte como uma das mais importantes do Brasil. (ANDRADE, 1959 apud GURGEL, 1992).

85