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1. Capítulo – A comunicação e a avaliação da atividade científica

1.6 Bibliometria

1.6.1 A ciência da ciência – conceito e nota histórica

A palavra bibliometria é composta por duas raízes de origem greco-latina, “biblio” e “metria”, sendo que a primeira designa «livro» e a segunda significa “ciência de medir” (Hertzel, 2003, p. 295).

Desde o início dos estudos bibliométricos que proliferam as visões em torno do conceito de bibliometria, o que comprova a existência de uma tentativa continuada de fixar a definição mais correta e satisfatória, bem como o interesse dos estudiosos por esta questão, sua delimitação e âmbito.

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Segundo Pritchard (1969), a bibliometria é um campo da Ciência da Informação que aplica métodos estatísticos para analisar e quantificar os processos de comunicação escrita de uma determinada disciplina. Iniciada no século XIX e sistematizada a partir do século XX, o seu intuito é estudar e avaliar as atividades de produção científica.

Também a OCDE se referiu à bibliometria como uma ferramenta adequada para medir eficazmente o estado da ciência e da tecnologia nos seus países membros. Assim, e como já referido, em 1963, a OCDE criou a primeira versão do designado Manual de

Frascati, que resultou de um encontro científico na cidade italiana com o mesmo nome

e que teve como finalidade uniformizar estatísticas e criar indicadores credíveis para avaliar as atividades de I&D. Este manual é atualizado periodicamente e vai na sua 6.ª edição, datada de 2002.

Para Cadamuro (2011), a análise bibliométrica

é feita através de indicadores que podem ser entendidos como parâmetros utilizados no processo de avaliação de qualquer produção científica relevante, permitindo mapear as potencialidades de determinados grupos e instituições e dessa forma o estabelecer novas políticas nacionais de ensino e pesquisa. O princípio da bibliometria é analisar a atividade científica ou técnica pelo estudo quantitativo das publicações (p. 21).

Já Araújo (2007) refere que a bibliometria é uma técnica quantitativa e estatística de medição dos índices de produção e disseminação do conhecimento científico tal como procede a demografia ao recensear a população que surge no início do século XX como sinal da necessidade do estudo e da avaliação das atividades de produção e comunicação científica.

Consistindo na aplicação de técnicas estatísticas e matemáticas para descrever aspetos da literatura e de outros meios de comunicação (análise quantitativa da informação), a bibliometria foi, como vimos, originalmente conhecida como “bibliografia estatística” (termo cunhado por Hulme em 1923), sendo o termo “bibliometria” criado por Otlet em 1934 no seu Traité de Documentation (Pizzani, 2008, p. 41).

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Inicialmente voltada para a medida de livros (quantidade de edições e exemplares, quantidade de palavras contidas nos livros, espaço ocupado pelos livros nas bibliotecas, estatísticas relativas à indústria do livro), aos poucos foi se voltando para o estudo de outros formatos de produção bibliográfica, como artigos de periódicos e outros tipos de documentos, para depois se ocupar, também da produtividade de autores e do estudo de citações.

A introdução de técnicas matemáticas e estatísticas teve um impulso significativo no desenvolvimento da disciplina com um consequente aumento do número de trabalhos publicados, contribuindo, em conjunto com o desenvolvimento de tecnologias de cálculo e processamento de dados, para consolidar a prática até hoje. Neste sentido, é possível dizer que a estatística se converteu numa ferramenta fundamental para a obtenção e interpretação dos indicadores bibliométricos (Sanz-Casado, 2000).

De acordo com Spinak (1998), a bibliometria estuda a organização dos setores científicos e tecnológicos a partir de fontes bibliográficas e patentes para identificar autores, suas relações e tendências. Trata das várias formas de medir a literatura dos documentos e outros meios de comunicação e é importante, pois permite identificar tendências e crescimento, utilizadores e autores, verificar a cobertura das revistas, medir a disseminação da informação e também formular políticas.

Desenvolve-se inicialmente a partir da elaboração de leis empíricas sobre o comportamento da literatura, sendo que, entre os principais marcos de seu desenvolvimento, estão o método de medição da produtividade de cientistas de Lotka, em 1926, a lei de dispersão do conhecimento científico de Bradford, de 1934, e o modelo de distribuição e frequência de palavras num texto de Zipf, em 1949.

A ciência bibliométrica consolida-se como campo de estudo em 1979 com o aparecimento da revista Scientometrics15 cujo âmbito é: “The topics covered are results

of research concerned with the quantitative features and characteristics of science.

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Emphasis is placed on investigations in which the development and mechanism of science are studied by means of (statistical) mathematical methods” (Springer, 2014).

Não existe um consenso entre os especialistas quanto à definição do termo bibliometria. Para Sanz-Casado (2000), a disparidade de definições para o termo bibliometria, longe de traduzir um momento de conturbação epistemológica desta disciplina, significa antes que ela está a alcançar um elevado nível de maturidade:

La aplicación de nuevas técnicas, la aparición de documentos en nuevos suportes y de planteamiento de distintos objetivos antes las nuevas necesidades científicas e sociales está ocasionando que los investigadores encuentran distintos nichos para sus líneas de investigación, intentando que todos ellos estén recogidos de la forma más completa en la definición (p. 65).

De todas as análises e definições encontradas, a proposta por Sanz-Casado (2000, pp. 79-80) é, quanto a nós, a que mais se adequa à concretização dos objetivos desta investigação.

De acordo com o autor, pelo facto de a bibliometria cada vez mais se assumir como uma ciência multidisciplinar, conhece permanentemente novas aplicações, entre as quais se destacam as seguintes:

1) Avaliação da atividade científica nas diferentes disciplinas do conhecimento humano, em múltiplas vertentes: desenvolvimento científico de uma disciplina, reconhecimento dos seus pontos fortes e pontos fracos, com a finalidade de nela incorporar alterações que melhorem os seus resultados futuros; temas de investigação que a estruturam; autores que se debruçam sobre ela; e relações que mantém com outras disciplinas científicas;

2) Avaliação das instituições e grupos científicos, com o objetivo de estudar a evolução da investigação neles praticados. Esta análise possibilita a identificação de instituições e grupos científicos de excelência ou em potência, o que facilita uma adequada distribuição dos recursos no sistema científico;

3) Avaliação da transferência de tecnologia que se produz num país, setor ou empresa, a fim de identificar quais deles são os mais e os menos competitivos. Para além

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disso, este tipo de avaliação permite igualmente avaliar a transferência que se produz entre ciência e tecnologia;

4) Recuperação da informação seja através da Lei de Zipf, já referenciada, seja através do desenvolvimento dos denominados “mapas cognitivos”, que adiante abordaremos, que facilitam em larga escala a recuperação de informação pertinente ao utilizador.