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1. Capítulo – A comunicação e a avaliação da atividade científica

1.4 Avaliação do Ensino em Portugal

De acordo com dados da Direção de Serviços de Informação, Estatística em Ciência e Tecnologia (DSIECT), Portugal registou no período 2000-2010 uma taxa de crescimento de 159% do número de publicações científicas por milhão de habitantes, o segundo maior aumento da Europa - a seguir ao Luxemburgo8, com 305%. Se considerarmos o período de 2005-2010, o crescimento português é de 61% e baixa para o 6º lugar, mas ultrapassado apenas por quatro dos países recém-integrados na UE16.Este

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desenvolvimento é, obviamente, muito positivo, e uma consequência do esforço de financiamento (sobretudo público) e de modernização do sistema científico nacional.

Segundo Zackiewicz (2003), devido ao aumento de escala, do custo crescente da atividade científica e tecnológica e do reconhecimento cada vez mais difundido da importância das inovações para o desenvolvimento das sociedades, os governos intensificaram as suas políticas específicas para o setor e, em maior ou menor grau, adotaram uma postura de accountability. A lógica é que se a maior parte do dinheiro que financia C&T é público, então as instituições beneficiadas devem ao poder público justificativas do seu uso. De acordo com seu próprio ethos, o Estado tende então a aplicar critérios de avaliação advindos da racionalidade administrativa e económica e, mais recentemente, de uma crescente preocupação com impactos sociais e ambientais. A avaliação tradicional do Estado tem como objetivo medir a eficiência de investimentos e a efetividade de resultados.

Em Portugal, a avaliação do ensino superior encontra-se sob a tutela de diversos organismos. Em primeiro lugar destacamos a Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES)9, instituída pelo Estado através do Decreto-Lei n.º 369/2007, de 5 de novembro. Tem como objetivos: concretizar os critérios de avaliação, de modo a obter a tradução dos seus resultados em apreciações qualitativas; definir as consequências da avaliação efetuada para o funcionamento das instituições e dos seus ciclos de estudos; desenvolver a avaliação da qualidade de desempenho das instituições de ensino superior e dos seus ciclos de estudos; promover a acreditação de ciclos de estudos e instituições, tendo em vista a garantia de cumprimento dos requisitos legais do seu reconhecimento; promover a divulgação fundamentada à sociedade sobre a qualidade do desempenho das instituições de ensino superior e promover a internacionalização do processo de avaliação.

Este organismo disponibiliza estudos e documentos de trabalho elaborados no âmbito das suas competências e atribuições, entre os quais um completo relatório com os

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indicadores de desempenho para apoiar os processos de avaliação e acreditação de cursos do ensino superior português, datado de abril de 2010. Em segundo lugar temos o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP)10, criado em 1979, conforme estipulado pelo Decreto-Lei nº 107/1979, de 2 de maio. O CRUP é uma entidade de coordenação do ensino superior em Portugal que integra, como membros efetivos, o conjunto das universidades públicas e a Universidade Católica Portuguesa. Esta organização tem como funções colaborar na formulação de propostas nas políticas nacionais de educação, ciência e cultura e pronunciar-se sobre os projetos legislativos que digam respeito ao ensino universitário público. O CRUP é membro efetivo da Associação Europeia de Universidades, na qual se encontram representados 47 países, o que lhe permite participar na construção de políticas de investigação da UE.

O CRUP divulgou recentemente os resultados de um estudo da responsabilidade da rede Universitas 21 (Universitas21, 2014). Este estudo desenvolveu um ranking de sistemas de ensino superior, com a finalidade de comprovar a mais-valia da criação de contextos fortes para que as instituições de ensino superior possam colaborar no desenvolvimento económico e cultural dos respetivos países. Este estudo teve em conta 48 países, selecionados com base na lista de países melhor classificados nos rankings de resultados de investigação do National Science Foundation. Entre outras conclusões a que este estudo permitiu chegar pode aferir-se que existe uma proporcionalidade direta entre recursos disponibilizados e resultados obtidos, sendo que os países com mais resultados são, por norma, os que recebem também mais recursos. No ranking geral, Portugal ocupa o 23.º lugar, cabendo os lugares cimeiros aos sistemas de ensino superior de maior qualidade, que pertencem aos Estados Unidos, à Suécia, ao Canadá, à Finlândia e à Dinamarca.

Existe também o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP)11, criado em 1979 e que é o órgão de representação conjunta dos estabelecimentos públicos de ensino superior politécnico.

10 Conselho de Reitores das Universidades Portuguesaswww.crup.pt/ 11http://www.ccisp.pt/index.php/pt/

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A FCT, já atrás mencionada, é a instituição que coordena e regula por excelência o sistema científico e tecnológico português e respetiva política científica. Esta instituição é tutelada pelo MEC. A FCT foi criada em 1997 e sucedeu à JNICT. A sua missão é promover o conhecimento científico e tecnológico em Portugal, com o objetivo de atingir os mais elevados padrões internacionais de criação do conhecimento, estimulando a sua difusão.

No âmbito da avaliação das candidaturas e financiamentos de I&D propostos à FCT, esta assume duas responsabilidades fundamentais: por um lado, repartir os fundos públicos que se encontram sob a sua responsabilidade de forma justa, equilibrada e transparente; por outro, aperfeiçoar os métodos de reconhecimento e promoção da investigação com potencial, relevância e mérito científicos. Neste sentido, avaliação e financiamento são indissociáveis.

Para garantir uma avaliação dentro dos moldes referidos, a FCT recorre à avaliação por pares (peer review), constituída por avaliadores e painéis nacionais e internacionais. Para além de informação relativa aos financiamentos atribuídos, a FCT disponibiliza igualmente informação sobre os processos de avaliação, em concreto dados quantitativos publicados regularmente.

Paralelamente à FCT existem em Portugal outros organismos governamentais que apoiam as atividades de I&D, entre os quais podemos destacar: a DGEEC já atrás referida; a Agência de Inovação12; a Ciência Viva — Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica13 e a extinta Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN)14 sobre a qual falaremos detalhadamente mais adiante no presente trabalho.