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2.3 O desenvolvimento científico brasileiro

2.3.1. A ciência da informação como campo de conhecimento

Segundo a Capes (2009), a ciência da informação é classificada como ciências sociais aplicadas, dividindo o grupo com as seguintes disciplinas: administração (administração, ciências contábeis e turismo); arquitetura e urbanismo (arquitetura e urbanismo); comunicação (ciências sociais aplicadas I); demografia (planejamento urbano e regional / demografia); desenho industrial (arquitetura e urbanismo); direito (direito); economia (economia); museologia (ciências sociais aplicadas I); planejamento urbano e regional (planejamento urbano e regional / demografia); serviço social (serviço social); turismo (administração, ciências contábeis e turismo). Figurando no subgrupo temos ciências sociais aplicadas I, ao lado da comunicação e museologia.

Dessa forma, a ciência da informação é avaliada pela Capes ao lado dos demais campos e os critérios de avaliação são universais, o que não avalia de forma correta os campos de conhecimento, visto que cada um deles possui especificidades que não há como serem comparadas e colocadas sob o mesmo critério de avaliação para financiamentos de pesquisa, bolsas de produtividade e outros recursos tanto materiais quanto de recursos humanos para pesquisa.

A ciência da informação é considerada uma ciência social aplicada ao trazer para si contribuições das ciências humanas e sociais através de métodos e práticas, compondo assim uma ciência emergente (ARAÚJO, 2003).

Ao longo de sua história foram ocorrendo incorporações de outras áreas de conhecimento; nesse momento destacamos a inserção de elementos das ciências sociais com suas técnicas, teorias, métodos. Qual traço será percebido e/ou adotado? Gonzalez de Gómez (2000) afirma que a CI recebe das ciências sociais o principal traço articulador das diversidades que possui dentro do campo, correspondendo assim ao que se denomina de dupla hermenêutica nos estudos metodológicos. Isso se deve ao fato de que a CI deve dar conta do que as diversas disciplinas e atores sociais constroem e significam, e também como reconhecem a informação. A informação como um objeto construído no significado de segunda ordem, ou seja, a partir das práticas e ações empreendidas por esses sujeitos, constituindo o domínio fenomênico da CI.

A inserção da CI no campo das ciências sociais pode ser verificada a partir dos seus primeiros estudos,

(...) os primeiros estudos em ciência da informação já como ciência social estudam a realidade social de uma perspectiva estatística, quantitativa. A utilização de sociogramas para mapeamento dos fluxos de informação, a aplicação de questionários a grandes amostras de usuários e a busca de invariantes cognitivos para a construção de sistemas de informação são alguns exemplos dessa abordagem (ARAÚJO, 2003, p. 24).

A partir dessa inserção, presenciaremos nas pesquisas realizadas, o uso de vários instrumentos oriundos originalmente das ciências sociais (grupos focais, questionários, entrevistas, observação participante, entre outros). Na atualidade, verifica-se a necessidade de abordagem de instrumentos e metodologias transdisciplinares, como proposto por Domingues (2005). Isso desde a busca pelo método até a utilização de ferramentas metodológicas, lembrando que o autor não estabelece uma ferramenta específica, mas nos desafia à combinação coerente de teoria e método para melhor desempenho em campos científicos que estejam trabalhando além das fronteiras da interdisciplinaridade, buscando então a transdisciplinaridade.

Essa visão nos reporta ao enfoque contemporâneo proposto por Saracevic (1996), e podemos concluir que

A CI é um campo dedicado às questões científicas e à prática

profissional voltadas para os problemas da efetiva comunicação do conhecimento e de seus registros entre os seres humanos, no contexto social, institucional ou individual do uso e das necessidades de informação. No tratamento destas questões são consideradas de

particular interesse as vantagens das modernas tecnologias informacionais (SARACEVIC, 1996, p. 47, negrito nosso).

O início da Ciência da Informação no Brasil está comumente ligado ao surgimento dos cursos de pós-graduação da área, mas também deve ser citada a implantação dos sistemas de informação no Brasil no período que vai dos anos 50 aos anos 80. Sua história também está vinculada à criação do IBBD – Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação, atualmente IBICT – Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia. O referido Instituto foi fundado em 1956, considerado à época como uma atitude de vanguarda, visto que a Rússia criou o VINIT, órgão similar ao IBBD, dois anos antes. Em 1976, o IBICT apresentava as seguintes propostas:

 Promover a criação e o desenvolvimento dos serviços especializados de

bibliografia e documentação.

 Estimular o intercâmbio entre bibliotecas e centros de documentação no

âmbito nacional e internacional.

 Incentivar e coordenar o melhor aproveitamento dos recursos bibliográficos e

documentários do país, tendo em vista, em particular, sua utilização pela comunidade científica e tecnológica.

A transformação do IBBD em IBICT, a partir de 1976, partiu do propósito de preencher uma lacuna do Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico quanto à necessidade de fornecimento de informações em Ciência e Tecnologia. A ênfase era desenvolver uma rede de informação no país, envolvendo entidades atuantes em C&T, adotando-se para tanto um modelo de sistema de informação descentralizado para o país (IBICT, 2009).

Com o surgimento de novas tecnologias, avanços nos sistemas de recuperação, representação da informação e novas áreas de atuação da CI, o IBICT enfrenta novos desafios no encontro de respostas às sempre renovadas demandas, como

cidadãos que as buscam. Nesse aspecto de facilitar o acesso às informações brasileiras e internacionais, e o auxílio das novas tecnologias, foram assumindo o papel de aglutinador e integrador das iniciativas tanto de informação científica quanto tecnológica no país.

Para efetivar as propostas de criação do IBICT, serviços e produtos foram criados com a finalidade de promover o intercâmbio e acesso às informações produzidas por pesquisadores em CI tanto brasileiros como estrangeiros. Exemplos de produtos e serviços disponibilizados atualmente são: Revista Ciência da Informação, Revista Inclusão Social, Bases de Dados Brasileiras na Internet, Catálogo Coletivo Nacional

– CCN, entre outros.19

O IBICT disponibiliza outros produtos e serviços, mas como não é o foco desse trabalho, os já referidos acima nos dão uma dimensão da atuação do Instituto e de sua importância no cenário nacional e internacional da CI.

Após a descrição da ciência da informação como campo de conhecimento, e o seu histórico no Brasil tendo como elemento importante o IBICT, a seguir, o foco se recai sobre a área como objeto de estudo.