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A relação entre o conhecimento científico e o senso comum norteou as pesquisas e a discussão de Santos (2006) no que tange à ciência, virtude e à distinção que existe entre ciências naturais e as demais; e por fim, os caminhos possíveis através da quebra dos paradigmas dominantes para uma convivência entre o saber acadêmico e o saber da comunidade. Essa convivência se daria pela via da interdisciplinaridade como possibilidade na resolução de problemas complexos, os quais apenas uma ciência não conseguiria. Nesse ponto, as ciências modernas estariam mais próximas da realização desse feito. Esse é o cenário que norteará as

discussões presentes nesse capítulo acerca das ciências sociais e a ciência da informação no Brasil.

As ciências sociais se diferem das ciências naturais pelo menos em dois pontos: em relação ao seu objeto e à metodologia. O objeto das ciências sociais não é estático e não tem comportamentos que possam ser elencados de forma previsível, pois os comportamentos sociais se modificam com a mudança do homem. Quanto à metodologia, há predominância dos métodos qualitativos, os quais tentam apreender uma dada realidade que não pode ser quantificada. Se pensarmos nesses dois blocos separadamente, ciências naturais de um lado e ciências sociais de outro, elas separadamente não atendem a resolução de problemas complexos gerados por questões como: porque existe uma alta taxa de analfabetismo em determinada região? É um problema composto por mais de uma variável que não somente a qualidade da água tratada do local, mas o desenvolvimento econômico da região, o sistema de saúde e as informações que a população dispõe ou não para exercício da sua cidadania.

Dessa forma, torna-se necessário romper com a distinção entre ciências naturais e ciências sociais, e sintetizá-las através das próprias ciências sociais como elemento potencialmente catalisador. Para tanto, Santos (2006) afirma que é necessário que as ciências sociais recusem o positivismo lógico ou empírico, e também o idealismo que revalorizou as humanidades; e por fim não tratar o fato como a constituição de uma ciência unificada, mas um conjunto de galerias temáticas. Conclui-se que ao conseguir estabelecer essa síntese, a distinção entre os saberes tenderá ao desaparecimento e a prática será tanto o fazer quanto o dizer na ciência.

Porém, na prática diária dos campos científicos esse cenário não ocorre na academia. As ciências naturais e duras ainda são tratadas como as verdadeiras ciências, possuindo sociedades científicas antigas como a SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que através de seu prestígio e reconhecimento angariam maiores e melhores investimentos em ensino e pesquisa. Já as ciências sociais são consideradas menos importantes e em alguns casos não são vistas como ciência, podemos dizer que há um preconceito acadêmico e

científico. E isso ocorre pelo fato de muitos não compreenderem os métodos e técnicas dessa área de conhecimento e também a complexidade de seu objeto.

Isso se deve ao fato das ciências sociais não produzirem previsões definitivas, visto que o comportamento humano não é estático. Outro ponto importante para compreendermos a complexidade das ciências sociais reside na questão da não existência de um consenso paradigmático, e outro ponto diz respeito ao estatuto metodológico próprio.

Diante desse panorama reconhecemos que há um debate entre as ciências naturais, as ciências duras e as ciências sociais. Porém, as ciências sociais aplicadas não necessitam de estabelecer-se no centro das questões discutidas, pois o fazer científico delas não são moldados conforme as demais ciências. Nesse ponto é necessário que as ciências sociais aplicadas não se espelhem nas ciências duras tanto do ponto de vista metodológico quanto teórico na tentativa de demonstrar seu estatuto científico.

Nesse debate, Kuhn (2000) assinala a evolução da ciência de forma contínua e através de sucessivas rupturas; Santos (2006) trata a questão da evolução da ciência com a quebra do paradigma dominante e o aparecimento do paradigma emergente, e por fim, Demo (1997) retoma a questão do movimento evolutivo da ciência de forma politizada ao apontar para a desconstrução do conhecimento como forma de aprofundamento e interrupção de verdades absolutas.

As ciências sociais aplicadas ganham espaço devido às transformações socioeconômicas tanto nacionais como mundiais que demandam para compreensão de problemas complexos, ciências complexas, o que começa a ocorrer com a crise na ciência e a quebra de paradigmas como vemos a seguir.

Nesse caso, a CI construiu um discurso para evidenciar sua cientificidade e o fato representativo foi tomar como objeto de estudo a si mesma no período analisado (2002-2007). Dessa forma, realizou um movimento de compreensão mais ampla de sua atividade científica e de seu pertencimento ao lado de outras ciências. Porém, uma ciência que se volta apenas para si mesma e não equilibra o foco de atenção

de pesquisa em outras temáticas não impacta no conjunto de publicações que é foco da disseminação do conhecimento produzido nas pesquisas. Diante desse fato, a ciência corre o risco de não ser visível no cenário internacional por não empreender um esforço de análise do local em consonância com o que ocorre e o que impacta do nível internacional em suas práticas científicas.

Dito isso, o próximo tópico tem como foco o desenvolvimento científico brasileiro e a ciência da informação como campo de conhecimento, e as instituições ligadas ao campo, seja no aspecto de formação de recursos humanos – a Capes ou como agência de fomento à pesquisa – o CNPq - e o IBICT, que tem como missão a promoção da competência e o desenvolvimento dos recursos e infra-estruturas de informação em ciência e tecnologia como o objetivo de promover, socializar e integrar o conhecimento científico-tecnológico no Brasil.