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A cidade e a Arquitectura enquanto campos de estudo da História

CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3. A cidade a arquitectura e o centro histórico:

3.2 A cidade e a Arquitectura enquanto campos de estudo da História

A estética urbanística, ou seja, a cidade concebida como obra de arte para ser apreciada não constituiu antes da época barroca um campo de grandes realizações e,

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salienta Goitia, as primeiras contribuições do renascimento neste sentido são insignificantes, se compararmos à arquitectura do mesmo período.

Todavia, a nível do campo puramente abstracto, a cidade barroca é a herdeira dos estudos teóricos do renascimento, daquelas cidades ideais, que, como exercício da abstracção, ocuparam os cérebros dos tratadistas e dos comentadores de Vitrúvio. Segundo um critério nitidamente Albertiniano o valor desses esquemas baseava-se na pura harmonia geométrica, independentemente da percepção visual. Foi precisamente este o achado ou testemunho do barroco: criar uma cidade como obra de arte de percepção visual imediata. Para o conseguir, a arte barroca contava com o instrumento adequado, um instrumento igualmente herdado do renascimento, mas só mais tarde valorizado no que se refere ao traçado e composição das cidades. Este instrumento, segundo Goitia, não era outro, senão a perspectiva.

Efectivamente os pintores renascentistas tinham renovado profundamente a representação do espaço, passando da imagem plana à tridimencional. Com a descoberta da perspectiva geométrica abriu-se um campo novo e imenso, e não houve pintor do Quattrocento que não se deleitasse a pintar em perspectiva grandes fundos arquitectónicos que impulsionaram as grandes criações dos arquitectos. Mas, realça Goitia, o que para a pintura e para a arquitectura já eram conquistas maduras, não tinha chegado ao campo do urbanismo. Só mais tarde, como vimos, no século XVIII, que a arte barroca da composição das cidades atingirá todo o seu apogeu. Este século assistirá à maturação da música e do urbanismo, manifestações finais da grande cultura europeia que é transplantada para as diversas zonas de influência dos diversos estados europeus.

De acordo com Goitia, a grande arquitectura do século XVIII se ultrapassa a si própria, e, na sua mais valiosa dimensão, transformar-se-á em arte urbana.

É neste contexto que Pierre Lavedan, citado pelo autor que temos vindo a referir, fixa em três os princípios fundamentais do urbanismo clássico43. Estes três princípios na lógica desse investigador são os seguintes:

a) a linha recta, que fixa a perspectiva

43 LAVEDAN, Pierre – Histoire de L‟Urbanisme. Renaissance et Temps Moderns. 2ª Ed. Paris., 1959 pp

b) a perspectiva monumental, que pressupõe a contemplação do mundo a um único ponto de vista, com um único olhar a abarcar todo o panorama. Isto pode ser entendido como uma manifestação do poder do príncipe e esta visão focal ou centralista coincide com a organização monárquica do estado, que é apanágio da época. Todas as residências reais da Europa do Sec XVIII correspondem a este tipo de organização perspectiva, que se vai implantar em certos casos nas regiões atlânticas ultramarinas. No ponto focal ou central de tais residências reais ou governativas se encontra o palácio da realeza ou do governador. Nesta óptica da perspectiva urbanística a cidade converte-se na expressão duma realidade política.

c) o programa ou, por outras palavras, a uniformidade que subordina o particular à lei do conjunto, se afigura como a única forma de manter o predomínio da perspectiva. A uniformidade faz com que nada perturbe a continuidade das linhas que correm em perspectiva, provocando uma forte impressão de estética

No entender de Fernando Chueca Goitia, esse três princípios enunciados podem reduzir-se a um só: a perspectiva, ou àquilo que a perspectiva trouxe consigo: a cidade concebida como vista. Neste particular, o Barroco vai até ao ponto de comparar o mundo como uma vista. Até aí, estava-se dentro do mundo, no meio das coisas, mas não se tinha a distância, nem a visão em profundidade para que estas coisas e organizassem como uma vista, como um panorama.

Nesta óptica, Barroco forma e ordena o mundo como panorama. É por esta simples razão que devia fatalmente descobrir o urbanismo como arte e encontrar um instrumento que facilitasse a possibilidade de criar o panorama onde ele até aí não existia. Daí o urbanismo se ensaiasse primeiro nos jardins ou praças, cujos traçados influíram tão decisivamente nos das cidades e conjuntos urbanos.

O centro histórico da cidade da Praia que é objecto deste estudo, em essência, evolui-se segundo uma estética urbana do século XIX assente na pura harmonia geométrica das suas ruas, que por volta de 1812, já estão relativamente estabilizadas a ponto de já revelarem um tipo de traçado urbano de tipo ortogonal ou hipodâmico

caracterizado pela combinação de intersecções ortogonais cuja denominação é inspirada na obra de Hipodamus de Mileto44. Esse esquema, que recorre ao instrumento da perspectiva é herdeira do Barroco, fora aplicado na época renascentista apenas na pintura e arquitectura e só no primeiro século da época contemporânea atinge o campo do urbanismo45.

Tal como nas cidades da Europa Ocidental, e as diversas regiões de influência do velho continente, à excepção da concepção francesa, o traçado urbanístico da cidade da Praia obedeceu, a nosso ver, a três princípios fundamentais: a linha recta evidenciada no traçado relativamente longo das ruas paralelas e nas vias transversais; a perspectiva monumental que nos é dada a perceber em face de uma observação a distância das diversas linhas paralelas que configuram os arruamentos e a uniformidade que diz respeito a um todo coerentemente programado, que à vista, causa uma impressão de beleza e harmonia.

A arquitectura, por seu turno, como actividade humana, existe desde que o homem passou a se abrigar das intempéries. As primeiras obras arquitectónicas estão associadas a ideia de abrigo, com construção predominante nas sociedades primitivas e aparece como principal elemento espacial de diversos povos.

Do ponto de vista da sua definição existem autores que a definem como sendo «arte de levantar c construções de toda as espécies; disposição de um edifício; método empregue para construir. Na acepção primitiva constitui uma das belas artes e forma, dentro delas, juntamente com a pintura, a escultura e as artes decorativas, o grupo denominado artes plásticas ou de e desenho»46. Envolve todo o ambiente habitado pelo homem. Aliás o arquitecto trabalha com a edificação do espaço. Manifesta-se de dois modos diferentes: actividade (arte, campo de trabalho do arquitecto) e o resultado físico (o conjunto construído de um arquitecto, de um povo e da humanidade como um todo). Aparece como uma actividade multidisciplinar incluindo na sua base a matemática, as artes, a tecnologia as ciências sociais (politica, historia, filosofia) entre outros.

44 RODRIGUES, Maria João Madeira (Coord.) – Vocabulário Técnico e Crítico de Arquitectura. Lisboa:

Quimera, 1996, p. 153

45 GOITIA, Fernando Chueca – Breve História do Urbanismo. Lisboa: Editorial Presença, 1989.p.135 46

A arquitectura expressa-se muitas vezes a cultura e o modo de vida de uma colectividade. Podemos clássica - lá quanto ao material empregue de arquitectura de madeira , de tijolo ,de ferro de pedra e de cimento armado; quanto ao seu carácter de arquitectura civil (pública ou particular), religiosa e militar.

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