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Arte, Historia e a essência do tipo de disciplina que é a da

CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2. Arte, Historia e a essência do tipo de disciplina que é a da

A arte desenvolve-se segundo a história de uma sociedade que constituiu reflexo. É tão antiga quanto o homem e como tal, as primeiras formas artísticas surgem na pré – história pois resultam de uma atitude espontânea como foram muitos comportamentos do homem pré-histórico e teve o papel que desempenhou ao longo da vida do homem.

A história e a arte posicionam-se como duas ciências complementares pois o antigo se actualiza muitas vezes no moderno, figurando-se como exemplo mais vivo deste paradigma a expressão da arte clássica noutras correntes estéticas não sendo imitada ou copiada, ou pelo menos admirada pelos artistas, serve como inesgotável de inspiração. Na idade média a arquitectura romântica e gótica mantêm a grandiosidade e a opulência da arquitectura romana e buscam alguns recursos técnicos e arquitectónicos nas estruturas construtivas da arte grega tais como o arco e a coluna. Na idade moderna o renascimento, na sua matriz global, é sempre um retorno ao mundo clássico em todas as esferas, sendo provavelmente, a arte a maior fonte de inspiração.

Na idade contemporânea a Arquitectura Neoclassicismo como o próprio nome indica de forte influência do classicismo o Romantismo Arquitectónico, em essência

uma corrente eclética que também integra na mescla de estilos soluções arquitectónicas clássicas, são identificadas como Escolas de possível enquadramento das edificações estudadas no âmbito deste trabalho. Estas correntes integram o chamado Estilo Colonial identificada, frequentemente, como estando reflectido nas construções que de um modo geral se difundiam para fora da Europa, após afirmação nesse continente. Este pressuposto inscreve-se na lógica de Réné Rémond, que considera estarmos perante a europeização do mundo30, processo que seguramente terá proporcionado o transplante de estilos artísticos e formas construtivas já consolidadas na Europa.

É assim que o Brasil e as ilhas atlânticas, no contexto do mundo português, foram campos das mais variadas e ricas realizações da urbanística portuguesas de além– mar31. Daí, parece ter fundamento a constatação segundo a qual, as construções erigidas no Centro Histórico da Praia e nos principais núcleos urbanos de Cabo Verde, exceptuando-se a antiga Ribeira Grande, poderem estar inscritos no fenómeno da expansão duma arte colonial, inscrita na época contemporânea.

Por um lado, o Neoclassicismo assume-se como movimento artístico que surgiu em meados do século XVIII como reacção ao Barroco32 e aos excessos do Rococó33. Propugna um regresso ao cânone estético da antiguidade greco-romana34. A composição acentua as linhas horizontais e uma decoração com certa sobriedade, tendo grande predominância, no nosso caso nas construções oficiais e religiosas bem como nas habitações particulares com carácter de residência senhorial, tal como é a linha de muitas obras arquitectónicas difundias mais no norte de Portugal entre 1742 e 183635 que igualmente chegou em Cabo Verde e vai manifestar-se em várias construções, nomeadamente aquelas que foram edificadas no centro histórico em estudo.

30 RÉMOND, Réné. Introdução à História do nosso tempo. Lisboa: Gradiva, 1992, pp.22-276 31 VÁRIOS. História da Arte Portuguesa. Lisboa:1995. p. 284.

32

Termo inventado pelos historiadores de arte do século XIX para designar o estilo que prevaleceu, na arte Europeia Ocidental, entre 1580 e inícios do séc. XVIII, tendo em conta que este estilo artístico foi essencialmente caprichoso e floriado.

33 Uma versão do Barroco mais leve e divertida, associado ao reinado de Luís V, em França, e tipificado

pelas assimetrias, utilização de floriados e motivos naturalistas inspirados em conchas, pedras e plantas. O Rococó é talvez melhor identificado nas artes decorativas do que na arquitectura ou na pintura. A designação só começou a ter um uso generalizado a partir de 1830, tendo permanecido durante algum tempo, num sentido pejorativo.

34 Grande Dicionário Enciclopédico Verbo. Lisboa/S. Paulo. 1997. p. 19 35

Sobrepondo ao neoclassicismo, o romantismo também se expressa nalgumas obras estudadas como teremos a oportunidade de demonstrar na segunda parte deste trabalho. Esta corrente, que se assume como revivalista, continua a ser a antítese da pompa barroca, mas distingue-se de outros classicismos anteriores, pelo facto de ser ainda mais natural, o que é expresso nas paredes completamente lisas e na expressão de outros estilos, sendo comum o neogótico presente na utilização de soluções construtivas do tipo arco quebrado, para exprimir maior projecção em altura, ao lado do arco redondo de inspiração clássica. Com base no espírito revivalista, os arquitectos românticos mantiveram, a tipologia de construções inspiradas em cânones clássicos, onde sobressaem toda a harmonia geométrica dos interiores e das suas fachadas. É exemplo desta constatação para as construções residenciais a arquitectura palladiana36, reflectida nas casas senhoriais europeias que terão sido, mais nuns espaços que noutros, transplantadas para as zonas de influência do velho continente.

Através da arte podemos conhecer fenómenos e factos artísticos que deixam transparecer com factos estéticos com interesses históricos que assumem a função de factos históricos autênticos. A arte e a história podem fazer parte de um sistema cultural. Para o estudar e explicar a arte como reflexo e um produto da história, bem como, um aspecto criativo e activo das épocas, nasceu a história da arte. Pois a realidade histórica de uma determinada época pode ser analisando a partir dos objectos com valor artístico que proporcionam conclusões válidas ou não sobre um facto histórico.

Procurando revelar um pouco mais a natureza da disciplina que é a História da Arte o seu objecto de estudo e método ou métodos que utiliza para se construir a obra de Ana Lídia Pinto que vê na História da Arte a disciplina que estuda as produções artísticas, isto é as obras de arte produzidas pelos homens ao longo dos tempos. Estuda-as com um duplo objectivo: conhecê-las e explicá-las, salientando a sua relevância na vida e na condição humana37. De acordo com a autora, o trabalho do investigador da Arte inclui sempre duas tarefas distintas complementares: Por um lado, requer investigação e pesquisa de dados e factos, para que possa ler de forma exaustiva

36 Palladio (1508-1580) cujo nome dá à arquitectura palladiana foi o grande arquitecto italiano que,

apoiando-se em ensinamentos de Vitrúvio fez resistir à actualidade as tipologias das casas clássicas onde destaca-se uma organização, regulada por leis matemáticas harmónicas, tendo projectado fachadas em função da planimetria e volumentria internas das respectivas casas.

37 PINTO, Ana Lídia e outros, História da Arte Ocidental e Portuguesa – Das origens ao final do século

e rigorosa todos os elementos informativos, contidos nas obras de arte: materiais, técnicas, formam, conteúdos, significados e funções, autor e suas subjectividades, contexto sócio-cultural, época histórica. Sustenta que este levantamento de informações, indispensável a uma boa leitura e recriação estética das obras de arte, exige uma objectividade científica e rigor metodológico, o que implica o recurso à utilização de fontes documentais autênticas e de métodos analítico-explicativos e críticos próprios. Nestes últimos apontam Jane Mahler e outros38 para os métodos de leitura da obra de arte que englobam a descrição iconográfica e análise simbólico ou expressiva39 e formal como grande inter-relação entre o simbólico e o formal dado que muitas vezes um elemento formal da obra encerra em si mesma o carácter expressivo da obra pelo que se torna difícil distinguir a fronteira entre esta duas dimensões de leitura da obra de arte. Este problema pode ser porém atenuado ao percepcionarmos também na obra uma maior compartimentação das dimensões de análise simbólica, recorrendo tal como recomenda Chalumeau, à aplicação dos métodos fenomenológico, psicológico, sociológico, estrutural entre outros40.

De acordo com Ana Lídia Pinto, para grande parte do trabalho de investigação, o historiador da Arte recorre e apoia-se em conhecimentos e métodos de outras disciplinas científicas que, tendo igualmente por objecto e campo de estudos o Homem e as suas actividades, complementam-se, encontrando-se nessa situação a Arqueologia, a Antropologia, a História, a Sociologia, a Filosofia entre outras. De igual modo, cabe- lhe, sublinha a autora a interpretação criativa e critica das obras de arte, procurando relacioná-las ao contexto individual, sócio-cultural e histórico em que foram produzidas e, com isso, explicar a sua função e o seu sentido ou sentidos na existência e na essência do Homem, ponto em que se aproxima e contribui para a afirmação da percepção da Arte. Este constitui, realmente, a tarefa mais rica e profunda do historiador e também aquela que melhor contribui para a mais completa fruição estética das obras de arte. Assim, como ciência humanística, a História da Arte possui o método próprio, acima escrito, em parte aproveitado das ciências afins e complementares, noutros aspectos adaptados à especificidade dos conteúdos que trata.

38 MAHLER, Jane e outros – História Mundial da Arte. Lisboa, Bertand, 1992: p.8-10. 39

O carácter expressivo em arquitectura é a evidenciação do destino ou função, dum edifício, através do seu aspecto. Veremos pois como se exprime a espiritualidade nesta igreja e como a sua estética, harmonia das formas, sobriedade e outros aspectos formais concorrem para transmitir o misticismo que deve conter.

40 CHALUMEAU, Jean-Luc – As teorias da arte, Filosofia, Crítica e História da Arte de Platão aos

3. A cidade a arquitectura e o centro histórico: conceitualização

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