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Conceitos e paradigmas relevantes da arte

CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1. Conceitos e paradigmas relevantes da arte

Do latim ars admitido como equivalente ao grego teknê, significa o conjunto de processos que serve para produzir determinado resultado. Arte, neste sentido, opõe-se a ciência quando esta é concebida como conhecimento puro e independente das aplicações decorrentes desse conhecimento. Supõe uma ligação profunda com a vida, quer individual, quer social conferindo-lhe valorações. No início da aplicação do termo, ars reduz-se apenas ao conjunto de processos e, neste sentido, usam-se as expressões artes mecânicas e artes de engenharia, formas envelhecidas de valoração22. As produções artísticas numa acepção mais contemporânea são, assumidas como componentes da cultura extremamente amplas e variadas, nas quais encontramos expressões de ideias e emoções, dimensões do desejo e do imaginário (individual e colectivo), representações da realidade natural e social, concepções do mundo e da vida.

No âmbito deste trabalho situamo-nos mais nas belas artes, isto é, aquelas em que a finalidade principal é a produção do Belo plasmando a forma e o espaço. As artes, particularmente, a arquitectura e urbanismo, mas também, a escultura, a pintura e a gravura têm em comum a dominante finalidade estética, conferindo valores estéticos e artísticos ao mundo material. No valor artístico inclui-se, naturalmente a mediação de

22 RODRIGUES, Maria João Rodrigues – Vocabulário técnico e crítico da arquitectura. Coimbra:

pressupostos estéticos e ontológicos. A função do artista cumpre-se quando a representação. As ideias são transmutadas na apresentação de uma visão interior do mundo. Do ponto de vista da ciência da arte de expressão empregue na filosofia alemã contemporânea opõe-se ao termo estética e tem características redutoras, contradizendo- se no entanto a esta concepção, nos tempos de hoje, a perspectiva fenomenológica, que enquadra a Arte na complexidade do total do universo do belo.

A arte na sua expressão de arquitectura e urbanismo organiza-se com base num sistema técnico-construtivo e têm como referência fundamental o espaço vivido, incorporando, simultaneamente, as dimensões funcionais e simbólica. Embora não haja como escapar ao facto de ser importante, o modo como um edifício serve a sua função, os melhores edifícios são elogiados e admirados pelo menos na mesma medida pela sua aparência. Por outras palavras, as pessoas não se preocupam só com o modo como se satisfazem as suas funções, mas também com a aparência da composição edificada na sua dimensão estética.23

O termo arte mostra-se, todavia, extremamente problemática, na medida em que não existem critérios absolutos que permitem estabelecer uma distinção nítida entre o que é autenticamente arte e aquilo que não o é, o que nos remete para o problema da definição da arte.

Incidindo-nos nalguns paradigmas que servem de base para a análise do problema da definição da arte realçamos que, o problema de saber como definir um conceito, tem sido uma das tarefas de muitos pensadores. O mesmo acontece na concepção da arte, onde o problema de definir arte tem tido um lugar privilegiado. Entre as abstracções procurando explicar este conceito, iniciamos pelo paradigma da arte como imitação, uma das mais antigas tentativas de percepção da categoria mental em apreço, durante muito tempo aceite pelos artistas como inquestionável. Essa teoria tinha como fundamento a ideia da imitação da natureza. Platão tinha uma opinião desfavorável à arte, ao considerar que as obras de arte imitavam a natureza por via das obras como imagens imperfeitas dos seus originais. Aqui entre nos todas as obras dessa espécie se me afiguram ser a destruição da inteligência dos ouvintes24. Para, esse

23 GRAHAM, Gordon. Filosofia das Artes. Lisboa. Edições 70. 1997. Pag. 210. 24

filósofo da Grécia antiga qualquer imitação era digna de censura, pois afastava-nos da verdade, além de que quando, no seu entender, os próprios objectos naturais eram por sua vez cópias de outros seres mais perfeitos. Para Platão, o belo não é uma dádiva ao nível da vida. Pois, procurou o modelo da arte no belo universal, perfeito e eterno. Neste ponto de vista, a arte é tido como um conhecimento feito através da participação das ideias no mundo supra-sensivel. Nesta perspectiva a origem de toda a beleza existe numa primeira beleza que torna bela todas as coisas que designamos belas. Portanto, a essência da arte está no paradigma do belo universal, absoluto e eterno que ilumina o mundo estético como o sol ilumina o mundo sensível. No entender de Platão, o belo é uma descoberta e não uma imitação, na medida em que as imitações nos fazem ver as coisas de forma emocional, o seu resultado não pode ser, senão, algo de intocáável e pouco racional. Assim sendo, ao apelar a comportamentos imitativos e emocionais, a arte afasta-nos do bom senso e da verdade.

Um segundo paradigma que define a arte como expressão que começou a pôr em causa a noção de arte como imitação no final do século XVIII e muitos artistas começaram a utilizar a arte como forma de expressão das suas experiências individuais. Procuravam através das suas obras exprimir os seus sentimentos e subjectividade. A arte tornou-se um veículo para exprimir emoções. Assim, o interesse das manifestações artísticas passa a residir no interior e não no exterior do sujeito. Nietzsche escreve: o nosso conhecimento exterior da arte é, no fundo, absolutamente ilusório, porque ao possuirmos tal conhecimento, não nos sentimos unidos e identificados, com esse princípio essencial de criador único e espectador único. Desta comédia da arte, reserva para si o prazer eterno. Só no acto da produção artística, e na medida em que se identifica com o artista primordial do mundo e que o génio poderá saber algo da essência eterna da arte; o génio será então objecto e sujeito ao mesmo tempo, será simultaneamente poeta, actor e espectador”25

. No sentido Neitzschiano, a eterna essência da arte é a do génio que voltando os olhos a si mesmo contempla-se, tornando ao mesmo tempo actor, poeta e espectador trágico. Para esse pensador nós somos a significação da obra de arte. A arte é para nos, tal como somos para a arte, isto é, a arte é vida. E nisto consiste a liberdade de criação artística.

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Em fim o último paradigma aqui trazida à discussão o da arte como forma significante é baseado numa teoria supostamente mais elaborada e mais recente, num contexto em que um critico da arte, o inglês, Clive Bell, apresenta na sua obra Arte, publicado em 1914, e expõe a tese assente na teoria formalista da forma significante. Para Bell, não se deve começar por procurar aquilo que define uma obra de arte na própria obra, mas sim no sujeito que a aprecia. Isso não significa que não haja uma característica comum a todas as obras de arte, mas que podemos identificá-las apenas por intermédio de um tipo de emoção peculiar, a que ele chama emoção estética26, que as obras e só elas, provocam em nós. De acordo com a teoria de Clive Bell, uma obra é arte se e só quando provoca nas pessoas emoções estéticas.

Bell assume que as obras de arte exprimem emoções, se não estaria a defender o mesmo que a teoria da expressão. Assim, no seu entender, provocam emoções nas pessoas. Se o paradigma da imitação estava centrado nos objectos representados e o da expressão no artista criador, a teoria da arte como forma significante atinge parte do sujeito sensível que aprecia obras de arte. É importante frisar parte do sujeito e não centrado nele, caso contrario não seria coerente considerar esta tese como forma significante, segundo a qual, a obra artística não pode ser identificada com o estado de espírito do seu autor nem com nenhum dos estados de espírito que evoca nas pessoas que a percebem: é patente que cada estado subjectivo da consciência tem algo individual e de momentâneo que faz indescritível e incomunicável no seu todo, enquanto que a obra artística se destina a servir de intermediário entre o autor e a colectividade. Fica, porem, essa „coisa‟ que é obra de arte, num mundo sensorial e que é acessível a percepção de toda a gente sem distinção.27

Se tal como considera um dos mais proeminentes filósofos da arte, o Americano, Morris Weitz toda a evolução do pensamento no sentido de se encontrar uma definição ao conceito de arte exposta, continua insatisfatória, revelando insuficiências, simplesmente abandonou Weitz a ideia de que a arte pode ser definida, mostrando que qualquer tentativa de defini-la arte está condenada ao fracasso. Pelo que defende o autor

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Emoção Estética é entendido como o tipo de sensação que só a as obras de arte conseguem provocar em nós. Clive Bell utiliza este conceito para referir as emoções provocadas por aquela propriedade que apenas existe nas obras de arte e a que chamam “ forma significante.”

27 MUKARǑVSKÝ, Jean. Escritos Sobre estética e Semiótica da Arte. Editorial Estampa. Lisboa. 1988.

um conceito aberto, reajustável e corrigível sempre que apareça uma situação ou um caso novo. A partir daí, na lógica de Weitz, podemos alargar o uso do conceito para o incluir a nova possibilidade de conceptualização. É neste sentido que Weitz defende que tanto o conceito da arte como os seus sub conceitos (arquitectura, Pintura, escultura, etc.) são abertos, pois estão sempre a surgir novas formas de arte que escapam a aplicação das categorias estabelecidas. É neste sentido que Umberte Eco vai defender ideia de que a obra de arte, embora na sua significação inicial deva ter um só sentido como indicador do significado particular do seu autor, não deixa de ser aberta, pois podemo-nos interpreta-la de mil maneiras sem que a sua irreproduzível significação seja alterada.28

Pela natureza das abstracções descritas impõe-se aqui salientar as afinidades e contradições entre arte e estética, partindo-se do princípio que tradicionalmente a estética era o ramo da filosofia que tratava da beleza ou do belo, especialmente, na arte do gosto e critérios de valores para julgar a obra de arte. Recentemente constituiu-se em ciência autónoma com o seu método próprio, significando ciência do conhecimento sensível - tudo aquilo que pode ser percebido pelos sentidos. Sendo assim, a estética não pode ser confundida com a arte, nem com filosofia da arte, nem tão pouco com a história da arte. Enquanto que a história da arte tem como campo de estudo a arte em si a estética alarga a sua análise à natureza e talvez a um contexto mais vasto da percepção e da consciência sensorial.29

A obra de arte é um produto da criação artística concebida para ser entendido esteticamente. É concebida pelo homem para comunicar e a percepção e o juízo estético são as formas de conhecimento e apreciação. Um juízo estético é sempre, naturalmente, um juízo de valor, por isso, gostar ou não gostar de uma obra de arte é sempre um juízo em termos individuais, logo um juízo estético. É necessário fazer a leitura e questionar a cerca das informações que uma obra de arte nos possa oferecer. A leitura é feita através de uma recriação estética de um objecto. O objecto apresenta-se-nos na sua materialidade e é preciso reconstitui-lo mentalmente, dando-lhe a sua verdadeira dimensão estética. Assim sendo dois aspectos parecem ser relativamente na percepção do produto que é a obra de arte. Um primeiro, em que o artista inscreve-se num quadro

28 ECO, in: CALABRESE, Omar. A linguagem Da Arte. Editorial Presença. Lisboa. 1986.pag.28 29

complexo da relação com a sociedade, com o mundo e com a história; um segundo, o do plano da função estética implicando o espectador a relacionar-se com o processo complexo de observar ler a obra de arte e encontrar a sua significação. Ao realizar a sua arte, o artista faz uma apresentação do mundo e o espectador liga-se a obra por via estética não utilitária ou pragmática exclusivamente, mesmo quando se trata de um objecto artístico que também tem a sua dimensão funcional, e não pode ser excluído a capacidade de a obra de arte acumular, de forma intrínseca, estes aspectos com a expressão estética. Estão neste caso a arquitectura que é a forma de arte em estudo, para além da descoberta das qualidades e da mensagem intencional, o espectador, pode projectar novas significações e sentidos que enriquecem o próprio acto fruição e do conhecimento. Podemos, pelo exposto, considerar que a obra de arte é concebida para ser fruída esteticamente.

2. Arte Historia e a essência do tipo de disciplina que é a da História da Arte

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