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3.4 Cidade e Ciência: concepções de ensinar – aprender ciências

3.4.3 A cidade como espaço de educação científica na concepção dos

Todos os alunos fizeram referência às potencialidades apresentadas pela utilização das cidades e de seus espaços nas práticas de ensino de ciências, fato esperado devido à própria temática da disciplina. Entretanto, tal utilização passa por duas perspectivas, sendo a primeira delas associada à utilização de tais espaços de forma pontual e, na maioria dos casos, apenas ilustrativa, encontrada nos relatórios doa alunos A; B; D; H; N; Q; R. Já a segunda perspectiva reconhece a cidade como possibilidade de contextualização e de fomento à participação dos alunos, permitindo o compartilhamento e a troca de conhecimentos e saberes entre diversos atores sociais. Identificados com tal perspectiva estão os alunos: C; G; I; J; K; M; L; O; P; S; T; U; V.

Como exemplos da primeira perspectiva, que chamamos de Pontual, apresentamos os apontamentos dos alunos D e N:

ALUNO D: “[...] quando pensamos em educação a imagem que nos vem a cabeça é em uma escola, com uma lousa a frente e um monte de cadeiras enfileiradas, contudo o que mais aprendi é que as cidades possuem inúmeros lugares informais que podem utilizados para ensinar ciência, como praças, fazendas, parques. E com isso, o conteúdo ensinado na escola pode ser visto nesses lugares”.

ALUNO N: “Achei a proposta de utilizar a cidade para o ensino bem inovadora, mas acredito que seja difícil desenvolver todo o conteúdo de ciências e biologia utilizando esses espaços [referindo-se aos espaços educativos mapeados], mas em algumas frentes eles podem ser utilizados para reforçar o que foi discutido na sala de aula”.

Em referência à segunda perspectiva identificada, que chamamos de

Contexto e Participação, apontamos como exemplos os textos dos alunos K e

J, dando uma maior ênfase às possibilidades de contextualização do ensino:

ALUNO K: “Sem dúvida a cidade a tem uma grande utilidade para ensinar ciências. Nela o aluno convive, observa e percebe problemas potenciais e consegue, por meio do pensamento crítico, interpretar esses problemas a partir dos conhecimentos científicos”.

ALUNO J: Esse tipo de ensino [referindo-se a utilização dos espaços da cidade] permite utilizar as questões próximas aos alunos e a sua comunidade, de forma a relacionar isso com os conceitos. Encaro isso como mais proveitoso, tanto para quem aprende quanto para nós, na posição de educadores na área de ciências biológicas.

Já nos textos dos alunos C; M e T, por exemplo, a ênfase da utilização dos espaços da cidade no ensino se relaciona ao seu estímulo à participação:

ALUNO C: “[...] atividades fora da sala de aula e do ambiente escolar, podem propiciar um diagnóstico da própria cidade e da realidade dos alunos, o que, consequentemente pode levar a uma conscientização para que eles sejam responsáveis em mudar a situação dos locais onde vivem, onde gostam de estar e de trocar informações com as demais pessoas que fazem parte de seus meios sociais”.

ALUNO M: “A ideia de trazer a cidade e a sociedade para dentro do âmbito escolar, é muito válida, tirar os alunos de dentro da sala de aula e propor a eles olhar ao seu redor e encontrar coisas que nem observam durante o dia, faz a população local participar desta educação. Assim, os alunos junto ao professor, podem levar a uma maior conscientização e mobilização, em todos os assuntos: Cuidado com o meio ambiente, respeito a diversidade e a sociedade, os direitos individuais e sociais, enfim tudo o que se quiser aprender pode ser feito de maneira simples”.

ALUNO T:[...] essa proposta retira os professores de sua passividade, simplesmente repassando para os alunos os conteúdos. Ela nos lembra do dever de ensinar nossos alunos a pensar, a questionar e a aprender a ler a realidade a nossa volta e, assim, construir suas opiniões e atuar na melhoria dessa realidade”.

Para o aluno O, a utilização dos espaços da cidade deve se dar no sentido de aproximar a escola da comunidade:

ALUNO O: [...] as novas gerações de alunos aprendem apenas conceitos teóricos que nunca terão valor se não forem aproveitados e introduzidos em seus cotidianos, eles nunca serão ativos em questões políticas da cidade e não terão interesse em mudar a realidade em que vivem.

Assim como em relação à perspectiva CTS de ensino de ciências, discutida anteriormente, a utilização da cidade e dos seus espaços como estratégia de ensino foi questionada em relação à sua presença nas práticas educativas, tanto do ensino básico quanto nos próprios cursos de formação de professores. Para o aluno V, por exemplo:

ALUNO V: [...] pela experiência que tive esse ano no PIBID, na escola onde eu acompanho as aulas poucas vezes vi os alunos saírem de dentro da sala de aula e utilizarem o que a cidade oferece para sair daquele método tradicional de ensino, em que o aluno é uma tábula rasa, que apenas obedece ao professor e ponto final.

Já os alunos S e T reforçam a necessidade de inclusão dessa perspectiva educativa na universidade:

ALUNO S: [...] os alunos ingressantes na Universidade trazem consigo a bagagem da educação tradicional. Essa é uma crítica ao perfil dos ingressantes das Universidades de São Carlos nos últimos anos que, em sua maioria, consideram o período de estudo como transitório e acabam por não se envolver com a cidade, a população e suas necessidades, mas também é uma crítica às Universidades que não abordam essas questões nas suas disciplinas obrigatórias.

ALUNO T: [...] há uma grande necessidade de potencializar a formação dos profissionais que atuarão nas escolas utilizando essa abordagem [referindo-se a utilização das cidades e seus espaços educativos], ou seja, todo currículo do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas deveria conter essa prática de educação não formal nas disciplinas relacionadas à prática de ensino.

A seguir apresentamos uma figura síntese, indicando os alunos que em relação à utilização das cidades e seus espaços educativos no ensino de ciências tiveram seus textos enquadrados na Perspectiva Pontual ou na

Figura 22: Figura síntese dos resultados apresentados destacando os alunos em relação à Perspectiva Pontual e à Perspectiva de Contexto e Participação, relacionadas à utilização da cidade como possibilidade educativa.

Os resultados apresentados ao longo dos tópicos 3.3 e 3.4 relacionam-se ao segundo objetivo específico de nossa pesquisa: avaliar em que medida as referências às abordagens do Enfoque CTS e das Cidades Educadoras se dão em relação às suas práticas de ensino, identificando as concepções de ensinar-aprender ciências, bem como os sentidos de utilização da cidade como possibilidade educativa.

3.5 Cidade, ensino de ciências e formação de professores: análise das