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4 AS CIDADES DE ANTÔNIO PRADO NAS LEITURAS DE NEUSA WELTER

4.2 A CIDADE DOS CAPITÉIS, CAPELAS, CAMPANÁRIOS E

“Nas tardes ensolaradas, a população vivente visita os mortos e decifra os próprios nomes nas lajes de pedra: da mesma forma que a cidade dos vivos, esta comunica uma história de sofrimentos, irritações, ilusões, sentimentos; só que aqui tudo se tornou necessário, livre do acaso, arquivado, posto em ordem”. Italo Calvino

Os capitéis, capelas, campanários e cruzes são temas que integram a obra de Neusa Welter Bocchese desde o início de sua produção. Esses elementos da arquitetura religiosa remetem à fé dos imigrantes italianos que buscaram na devoção aos santos a força para vencer as adversidades em terras estrangeiras. O sacerdote João Panazzolo (2008), ao situar a religiosidade dos imigrantes italianos em Antônio Prado, afirma que a história registra como uma das primeiras iniciativas dos núcleos dos imigrantes a organização da capela e a escolha do padroeiro. Entre os elementos religiosos, suas origens, suas características e suas funções, os materiais bibliográficos nos apontam que as capelas eram também lugares de encontros sociais que, “assim como a casa representou a afirmação individual do imigrante como proprietário, a religião manifestou sua afirmação coletiva como grupo social” (POZENATO, 1989, p. 161).

João Panazzolo recorda que, chegando e situando-se em meio à selva, os imigrantes, para manter a esperança em dias melhores, firmaram-se na fé e que, se os barracões tornaram- se suas casas provisórias enquanto construíam suas moradias, sentiam-se mais em casa em seus pequenos e improvisados capitéis construídos no meio do mato, “onde se reuniam para as orações, em italiano ou em latim, a récita do rosário de Nossa Senhora e das ladainhas, os cantos e outras práticas de devoção vivas em seus corações” (PANAZZOLO, 2008, p. 573).

Pozenato (1989) observa que os capitéis – os ermidas ou pequenos oratórios, que foram construídos no Brasil – segundo ele, outro costume italiano trazido para cá, tanto em pedra, madeira ou alvenaria, como também, tanto os devocionais ou comunitários, geralmente veneravam Santo Antônio de Lisboa (para os italianos, de Pádua).

O arquiteto Paulo Bertussi observa que a aculturação mudou os hábitos do colono, sua casa, sua capela e que não mais se fizeram capitéis. A respeito das características e materiais

utilizados na construção deste elemento religioso, geralmente, construído à beira das estradas do interior dos municípios, assim descreve:

Os capitéis expressam as mais diversas formas e métodos construtivos, de tamanhos que variam desde nichos até pequenas capelas com espaços internos para cultos. Foram construídos em madeira, tijolo ou pedra nas diversas técnicas, cobertos de tabuinhas, zinco ou telha francesa. São expressões bucólicas de rara beleza na paisagem colonial (BERTUSSI, 2004, p. 410).

Kênia Pozenato, também pesquisadora de temas ligados à arte religiosa na RCI, busca a origem do termo, dizendo que o nome capitel vem do italiano capitello, e diferencia-se da capela, a pequena igreja, geralmente subordinada a uma paróquia [como vemos na representação da Capela Santo Antônio, da Linha Guerra, de Bocchese (fig. 47)]. Ao descrever os capitéis, a autora os distingue das capelas, já que:

Os capitéis são pequenos, construídos para abrigar a imagem de um santo, quase sempre em agradecimento a uma graça recebida, ou em cumprimento de uma promessa. Variam os tamanhos, mas os maiores podem abrigar apenas uma, ou duas pessoas para orar. Os menores são verdadeiros nichos à beira de estradas e, em seu interior, mal cabe a imagem do santo homenageado. São para uso praticamente individual, ao passo que as capelas são para uso comunitário e lá são realizados os ofícios religiosos, que podem ser assistidos por toda a comunidade (POZENATO, 2004, p. 142).

A significativa presença dos capitéis em Antônio Prado é material de estudo do historiador Fernando Roveda. Matéria veiculada no Jornal Pioneiro sobre a pesquisa de Roveda destaca que “[...] a cidade serrana é praticamente a capital dos capitéis – são 43 deles numa área de 348 quilômetros quadrados [...]” (VIEIRA, In: Pioneiro, 2016).103 Na publicação, a jornalista Siliane Vieira também descreve os capitéis como pequenos oratórios, geralmente construídos na beira das estradas do interior como forma de devoção a algum santo, por graças alcançadas ou promessas feitas. Ao falar do trabalho de Roveda, Vieira assinala, na matéria, que o autor percorre o interior de Antônio Prado desde 1995, buscando desvendar a memória viva dos capitéis e que o referido projeto tem o objetivo de não deixar morrer a tradição que foi para a cidade junto com os italianos, há 140 anos. Trazendo as palavras do idealizador do projeto, que diz: “esse é um projeto que tem ligação direta com a história da imigração. A religiosidade, junto com a terra e o trabalho, forma o tripé de sustentação dos imigrantes aqui”.104 A jornalista complementa que Roveda:

Transformou a paixão pelos capitéis em livro, Caminhos da fé (editado pela segunda vez em 2010), e documentário, Se milagres desejais (rodado em 2007 com direção

103 Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-tendencias/almanaque/noticia/2016/01/projeto-

incentiva-criancas-a-montarem-maquetes-dos-capiteis-de-antonio-prado-4942269.html>. Acesso em 15 fev. 2016.

de André Costantin e suporte do Edital de Apoio à Produção de Documentários Etnográficos sobre o Patrimônio Cultural Imaterial) (VIEIRA, In: Pioneiro, 2016).105

Cumpre-nos destacar que, antes disso, conforme podemos verificar a seguir, Neusa Welter Bocchese já vinha trabalhando o tema em sua obra. Ao afirmar não se interessar pelos modelos recentes por terem sido construídos mais tarde e não expressarem as características do início da colonização italiana, a artista argumenta sobre a seleção dos capitéis que representou:

Procurei pintar os capitéis mais antigos, os que foram feitos no final do século XIX, início do século XX pelos colonizadores italianos. Esses retêm a história e mantêm suas características originais. Então dos capitéis existentes em Antônio Prado eu escolhi os mais antigos e pintei 15 deles. Os mais novos achei-os sem atrativos. Lá no início da década de noventa, quando eu fiz os primeiros capitéis e os coloquei na exposição que aconteceu no Pavilhão da Gruta de Antônio Prado, durante a Mostra del Paese, e o Reitor da Universidade, que já morreu, o Ruy Pauletti, se colocou a minha disposição para o que eu precisasse da UCS. Ele ficou encantado. O Jornal Pioneiro106 fez uma página inteira sobre os capitéis e o Círculo Italiano de Antônio

Prado comprou os 12 que estavam expostos. Eu não completei todos os outros existentes no interior do município porque eu busquei representar os mais antigos, os que mantinham as características do passado (BOCCHESE, Informação verbal, 20 fev. 2016).

De acordo com a declaração da artista, explicitando os critérios de suas escolhas ao representar os capitéis, selecionamos, a seguir, imagens de alguns deles, os quais nos possibilitaram fazer as seguintes leituras:

Na representação do Capitel Santo Antônio, construído em 1909 (fig. 36), a artista conserva as características do início (fig. 37), e não a aparência do oratório após a restauração, com a nova pintura (fig. 38).

Na mesma série, também foi possível percebermos que nas pinturas de outros dois capitéis Bocchese conserva as características do passado, com as cruzes representadas nas obras (fig. 34 e 43). De certo modo, a artista os restaurou em suas representações, devolvendo-lhes as cruzes que nos registros fotográficos encontram-se no chão e disputam o espaço com o mato que começa a invadir o terreno (fig. 35 e 44).

Se na representação do Capitel Santo Antônio (fig. 36) Bocchese volta ao passado para manter as características do original, que foi construído pelos imigrantes italianos, rejeitando sua imagem atual, nas representações dos últimos (fig. 34 e 43) é ela quem os restaura e os conserva, fazendo as cruzes existirem. Nas duas situações a artista mantém a tradição do

105 Idem.

106 A artista refere-se à publicação divulgada no Jornal Pioneiro, em 9 maio de 1994, conforme material

passado, preservando as suas características, primeiramente, optando pelas cores originais, em tons de ocre e marrom e, posteriormente, colocando as cruzes em seus lugares de origem.

Figura 34 – Série Capitéis: Capitel São Luiz Gonzaga

Fonte: Foto Bernardi.

Figura 35 – Capitel São Luiz Gonzaga, 1880-1884. Linha 10 de Julho, RS

Figura 36 – Série Capitéis: Capitel Santo Antônio

Fonte: Foto Bernardi.

Figuras 37 e 38 – Capitel Santo Antônio, 1909 – Linha 2 De Julho. Acervo da artista. Caxias do Sul, RS

Figura 39 – Série Capitéis: Capitel Santo Antônio

Fonte: Foto Bernardi.

Figura 40 – Capitel Santo Antônio, 1919 – Linha Silva Tavares. Acervo da artista. Caxias do Sul, RS

Fonte: Recorte de jornal não identificado.

Figura 41 – Série Capitéis: Capitel Santo Antônio

Fonte: Foto Bernardi.

Figura 42 – Capitel Santo Antônio, 1950. Linha Gomercindo Saraiva

Figura 43 – Série Capitéis: Capitel Santa Bárbara

Fonte: Foto Bernardi.

Figura 44 – Capitel Santa Bárbara, 1960. Linha Silva Tavares

Figura 45 – Série Capitéis: Capitel Santa Bárbara

Fonte: Foto Bernardi.

Figura 46 – Capitel Santa Bárbara, 1961. Linha Gomercindo

Na obra de Bocchese, os capitéis resultaram de pesquisa realizada pela artista após andar pelas comunidades de Antônio Prado. Nelas, Bocchese lembra que localizou as pequenas edificações religiosas conservadas à beira das estradas, abrigando imagens de santas ou de santos, e escolheu os capitéis que mais expressavam o sentimento de fé dos colonizadores italianos. A artista também destaca que, do total dos capitéis representados por ela, os 12 capitéis adquiridos pelo Círculo estão no acervo da sede.107

A retomada social da vida dos italianos na América do Sul ocorreu por meio do trabalho e da religiosidade. Se os capitéis foram erguidos, geralmente por iniciativa particular, em agradecimento por uma graça alcançada, a construção de pequenas capelas, nas linhas ou travessões não significou apenas o lugar consagrado à fé, mas também o espaço do encontro que unia os habitantes das comunidades, popularizando-se rapidamente. O padre João Panazollo afirma que a criação do Curato de Antônio Prado e a presença do padre para a assistência religiosa dos imigrantes provocaram um grande crescimento religioso, apoiando e oficializando a criação e organização religiosa dos imigrantes de forma original, que são as capelas. O religioso lembra as origens de tais edificações:

Na Itália, as igrejas eram paróquias. Diante da impossibilidade de cada comunidade com sua igreja ser uma paróquia, os imigrantes criaram a originalidade das capelas: uma igreja em cada comunidade ou núcleo de famílias. Estas capelas tornaram-se centros propulsores e integradores da vida religiosa, social, educativa, recreativa e humanitária. Junto à capela criaram-se, imediatamente, cemitérios, escolas, centros de vida social e recreativa. Tanto ontem, como hoje, o povo, crianças, jovens, adultos, homens e mulheres reúnem-se para a oração, as celebrações de missas, de cultos e as festas conhecidas como “La Sagra”. A catequese, os velórios, a educação, o lazer, e muitas outras finalidades desenvolviam-se nas Comunidades-Igreja, as capelas (PANAZZOLO, 2008, p. 577, grifo original).

Sobre a formação das capelas, Pozenato (1989) observa que em cada linha surgia uma ou mais capelas, em terreno doado por algum colono, que eram construídas pela própria comunidade e que, na ausência de padres, alguém da mesma comunidade dirigia os ofícios religiosos.

Com a capela construída, as comunidades se organizavam, criando comissões construtoras para erguer a igreja. No romance A cocanha (2000), o diálogo entre o Engenheiro Chefe, “doutor” Barata Góes e o poeta e escriturário da Fazenda, José Bernardino, funcionário da Comissão de Terras, que se transfere de Porto Alegre para a Colônia Caxias,

107 A artista se refere ao Círculo Cultural Ítalo-Brasileiro de Antônio Prado (CIBRAP), que, segundo o

presidente, Fernando Roveda, foi constituído como associação e fundado em 1992, tendo como um dos principais objetivos representar a comunidade de descendentes de italianos de Antônio Prado e região perante autoridades, entidades públicas e privadas pertencentes à Itália. Também de acordo com Roveda, a sede do CIBRAP está instalada em uma das salas do Centro Cultural Projeto Memória/Nordeste Alimentos (Informação verbal, 12 dez. 2014).

dá indícios de como se dava a passagem da capela para a igreja, nem sempre uma tarefa fácil. Ao relatar a situação econômica dos imigrantes que chegavam à Colônia e as dificuldades enfrentadas pelos cortes nos benefícios, argumentando que o que mais fazia era enviar ofícios, solicitando providências ao Palácio do Governo, Góes diz a José Bernardino que os imigrantes eram paupérrimos e que, se somado o número de colonos com suas famílias, deveria ter umas dez mil pessoas na Colônia Caxias. Prevendo que a corrente de imigração não havia parado e que iria seguir por muitos anos, Barata Góes comenta que esses colonos deveriam receber ferramentas, sementes e um pequeno subsídio que os mantivessem por dezoito meses, tempo que teriam para roçar, plantar e colher seus produtos, mas que, no entanto, estavam recebendo apenas por alguns dias. Contudo, diz esperar que não houvesse a morte de nenhum dos imigrantes, pois causaria uma má impressão tanto nos que já tinham vindo quanto nos que pretendiam vir, sem contar que não gostaria de carregar isso nas costas. Lamentando tantas agruras, critica os governos que estavam sempre longe, que nada viam e não sentiam, e também, ironiza que com a vinda de José Bernardino, ao menos, poderia contar com ofícios bem redigidos, talvez mais convincentes. Diante deste cenário, Góes também declara que o fato dos colonos serem muito religiosos, era menos mal, pois suportavam as adversidades com uma paciência impressionante. Mas não podendo contar com a contribuição deles, pois, segundo ele, eram tão miseráveis que mal conseguiam colocar alguma comida na boca, Goés relata a Bernardino:

Tenho procurado ajudar nisso também. Obtive autorização para erguer uma nova igreja matriz, de pedra e tijolo. O que havia antes era um barraco, uma capela de oito metros, construída com restos de madeira. Foram erguidos os muros e parou tudo, por falta de verba, como sempre. Quando se retornarem as obras, vai ter de ser tudo demolido para começar de novo. E eu só precisaria de trinta contos (POZENATO, 2000, p. 179).

Construída a capela e depois a igreja, descrita no romance como uma árdua batalha, agregavam-se a ela outros elementos da arquitetura religiosa: o campanário, o cemitério e o capitel. O último, como se verificou, presente em 15 representações, entre as mais de 400 produções visuais que compõem a obra de Neusa Welter Bocchese.

Paulo Bertussi, ao abordar a organização social da colônia, inicia pela capela, destacando a singela beleza da simplicidade das construções primitivas, desprovidas de qualquer ornamento e lamentando as reformas executadas no decorrer do tempo. Ao considerar tanto as reformas como as ornamentações, muitas vezes, completamente desnecessárias, argumenta que essas “têm servido para desfigurar e retirar das capelas testemunhos temporais importantes de sua edificação” (BERTUSSI, 2004, p. 409). Além

disso, também menciona os significados das transformações dos materiais empregados nessas edificações, o que demonstra que o progresso e a ascensão social atribuídos aos imigrantes italianos, na região, com a substituição da moradia de madeira por uma casa de alvenaria, de certo modo, ocorreu com a substituição das capelas. O arquiteto observa que:

As primeiras foram construídas em madeira. Dessas restam poucos exemplares. O mesmo espírito de fervorosidade e competição que levou à proliferação foi também responsável pela substituição daquelas por novas, de alvenaria, numa tentativa de demonstração de progresso e agradecimento a Deus (BERTUSSI, 2004, p. 409).

Entre as capelas listadas por João Panazzolo (2008), consta a Capela na Linha Guerra, em Antônio Prado, construída em 1894, segundo ele, inicialmente identificada de Santo Antônio.

Quase um século depois de sua construção, Neusa Welter Bocchese representa a capela, mantendo como título o nome de origem da edificação, como também as características mais próximas do início da construção, inclusive conservando o telhado de barro (fig. 47), diferente da imagem fotográfica, mais recente (fig. 48). Pozenato (1989) caracteriza a edificação religiosa como uma construção de inspiração clássica, que corresponde ao período do apogeu (fig. 48).108

Figura 47 – Capela Santo Antônio, Linha Guerra

Fonte: Foto Bernardi.

108 De acordo com o autor, o apogeu é identificado como um dos quatro períodos da arquitetura da imigração

italiana marcado por edificações de maior porte, com materiais obtidos artesanalmente ou em pequenas indústrias, segundo dois critérios: expressão austera (dominante) e linguagem decorativa. Ao distinguir cada período, Júlio Posenato (1989) observa que cada um deles corresponde às condições econômicas da sociedade naquele momento, inicialmente as construções provisórias, e depois as edificações que caracterizaram os outros três períodos: primitivo, apogeu e tardio.

Figura 48 – Capela Santo Antônio – Linha Guerra109

Fonte: Prefeitura Municipal de Antônio Prado – Divulgação.

Ao falar das capelas, Paulo Bertussi destaca a ligação delas com o cemitério, pois, próximo a elas, ou mesmo antes delas, era delimitado o seu lugar, também reservado às cruzes, dizendo que:

No seu interior, eram sepultados os católicos. Externamente, os suicidas, os não batizados, os maçons e os hereges. As sepulturas eram marcadas por uma cruz de madeira. Mais tarde, surgiram diferentes formas de estelas: em cruz de ferro trabalhada com placa de folha, bronze ou cobre para as inscrições; em pedra de arenito com as inscrições na própria pedra; em pedra basalto e depois concreto. Os jazigos de alvenaria são recentes, providos na cabeceira de estelas de forma piramidal encimada por cruz ou retábulos com nicho para santos (BERTUSSI, 2004, p. 409-410).

Tomando a fala de Bertussi, antes, no entanto, de focarmos nas representações de Bocchese da Série Cruzes de cemitério, nos detemos ao desenho em lápis de cor sobre papel, feito pela artista, sob o Campanário da Gruta Natural Nossa Senhora de Lourdes (fig. 49). Esse elemento simbólico da cultura italiana representado pela artista, antes das cruzes, integra a mesma cidade aqui analisada.

O sino, que na obra de José Clemente Pozenato (2000) é elemento presente antes mesmo da partida dos camponeses da aldeia de Roncà para o Porto de Gênova, também é mencionado por Paulo Bertussi (2004), que, ao discorrer sobre as características das edificações religiosas que expressam a tradição cultural dos imigrantes italianos, descreve o campanário. Se o romance narra que “na praça repleta, por cima da banda que toca sem perder o fôlego, os sinos chamam para a missa solene, como em dia de quermesse” (POZENATO, 2000, p. 11-12), o arquiteto confirma que o campanário com sinos de bronze é componente

109 Disponível em: <http://wp.clicrbs.com.br/memoria/2015/10/30/encontro-dos-descendentes-de-giovanni-pasa-

indispensável na paisagem das capelas, pela sua importância, anunciando a hora da missa, o meio-dia, a hora da Ave-Maria, os falecimentos e as cerimônias fúnebres, por isso, construído em local elevado para que o som pudesse ser ouvido de longe. Assim como descreve as transformações arquitetônicas das capelas, o autor também o faz em relação aos campanários, esclarecendo:

Os primitivos eram fixados em uma estrutura simples: dois postes de madeira cravados no solo, unidos por algumas travessas, cobertos por duas águas, protegiam os sinos das intempéries. Depois, uma estrutura que iniciava em tronco de pirâmide e coberta por telhado galbado de quatro águas, em ferro galvanizado. Essa estrutura, mais tarde, foi revestida em madeira, deixando-se as aberturas para as sineiras em arco pleno protegidas com uma espécie de veneziana (BERTUSSI, 2004, p. 409).

O campanário, conhecido como torre de sino, que, portanto, fazia parte das estruturas das igrejas e das capelas das colônias, muitas vezes, precedendo suas construções, curiosamente, no caso do campanário da Gruta Natural Nossa Senhora de Lourdes de Antônio Prado, localizada próxima ao centro da cidade, a edificação não tem nenhuma ligação com alguma igreja. O campanário lá construído faz apenas parte da função cúltica da gruta. Por encontrar-se afastado da igreja, o campanário chama a atenção de especialistas e historiadores. Em artigo dedicado à análise da igreja, capelas, capitéis e cemitérios de origem ítalo-brasileira na Colônia de Antônio Prado, os autores observam que este fato se destaca:

Pela não existência de um campanário, tanto nas colônias novas, como nas velhas que não fizesse parte da estrutura de uma igreja. O fato importante observado nas