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Mapa 10 – Localização / Manaíra

3.1 A Cidade de João Pessoa nos Anos 1970

Para ilustrar o panorama urbano e construtivo da cidade de João Pessoa nos anos 1970 foi tratada uma breve caracterização do seu processo de expansão, observando particularmente, a construção dos Conjuntos habitacionais e a realização de sua produção arquitetônica. Naqueles anos, alguns poucos escritórios existentes na cidade dividiam com escritórios de outras localidades, especialmente de Recife, uma parcela do mercado destinado aos arquitetos. Como foram observados no arquivo, os anos 1970 marcaram particularmente a construção de casas para uma população de alto poder aquisitivo em bairros essencialmente residenciais, localizados entre o Centro e as praias. Mas também podemos afirmar que entre o Centro e a orla marítima foi possível identificar residências destinadas a uma classe média que experimentava ascensão econômica, enquanto à população de menor poder aquisitivo eram destinadas as localidades mais próximas ao Centro da cidade ou as regiões periféricas da mesma.

No final dos anos 1960, a cidade de João Pessoa já se situava entre o sistema viário definido pelas BR 230 e BR 101, e sua malha urbana se desenvolvia nos seguintes eixos de crescimento: um que acompanhava a orla marítima, outro que seguia na direção Centro-praia, formado pela construção do Conjunto Castelo Branco e implantação do Campus I da Universidade Federal da Paraíba, e ainda na direção do Distrito Industrial (Mapa 01).

Na primeira metade dos anos 1970, com a política de expansão econômica do “milagre brasileiro”, a cidade experimentou um crescimento e modernização de algumas áreas. A construção de unidades habitacionais de alto padrão financiadas com recursos do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) propiciou um adensamento significativo das áreas situadas nos bairros nobres entre o Centro e o litoral, especialmente em Tambaú (GONÇALVES, 1999). A ocupação gradativa dos bairros litorâneos reforçava a idéia de que essa ocupação do solo passava a ser constante. As casas de veraneio, por exemplo, transformavam-se em residências permanentes e o comércio começava a surgir nestas regiões, consolidando aos poucos o eixo de expansão urbana originada nas praias de Tambaú e Cabo Branco, seguindo pelas

praias de Manaíra e Bessa. Neste momento, a população de baixa renda buscava as áreas mais próximas ao Centro da cidade.

Nessa época, apesar do processo crescente de valorização do solo, a população de baixa renda ainda dispunha da possibilidade de localizar-se nas áreas internas ao anel rodoviário, em grande parte, inclusive, nas franjas dos bairros nobres, beneficiando-se dos serviços ali implantados e da possibilidade de encontrar, próximos ao local de moradia, empregos domésticos e pequenos biscates (GONÇALVES, 1999).

Apesar de ser uma área ainda valorizada, o Centro e cercanias representavam, para a população de baixa renda, fácil acesso a rede de serviços e garantia de trabalhos temporários em casas de família ou em atividades informais dentro do setor comercial mais ativo da cidade.

Mapa 01 – Bairros que formam os eixos de expansão

Elaboração: Ricardo F. Araújo

Gonçalves (1999) ainda destaca, ao comparar os quadros 12 e 13 abaixo, que o número de unidades habitacionais destinadas à população de baixa renda no início dos anos 1970 diminuiu em relação à década de 1960 na cidade de João Pessoa, acompanhando uma tendência que se verificava em todo o território nacional. Neste

momento, a única ação da política estadual de habitação voltou-se para a expansão do Conjunto Castelo Branco, para a implantação do Conjunto João Agripino (entre o Centro e a Orla marítima) e do Conjunto Costa e Silva nas proximidades do Distrito Industrial (Mapa 02).

Quadro 12 – Conjuntos Habitacionais construídos na cidade de João Pessoa no final dos anos 1960 financiados pelo SFH

Fonte: Gonçalves (1999)

Quadro 13 – Conjuntos Habitacionais construídos na cidade de João Pessoa no início dos anos 1970 financiados pelo SFH

Fonte: Gonçalves (1999)

Mapa 02 – Conjuntos Habitacionais no início dos anos 1970 Elaboração: Ricardo F. Araújo

Na segunda metade da década de 1970, com a redução dos recursos federais disponíveis para financiar a construção de unidades habitacionais para a classe média e alta, a política habitacional do Estado passou a intensificar a construção de conjuntos populares, um crescimento superior aos anos anteriores. Entre 1975 e 1979 (ver Quadro 14), o Governo Ivan Bichara construiu mais do dobro das unidades habitacionais que a primeira metade da década de 1970. Os novos conjuntos construídos nessa época consolidaram ainda mais a expansão do eixo Centro-praia, redimensionando sua malha urbana com a ampliação do Conjunto Castelo Branco, e ainda com a implantação dos Conjuntos Ernani Sátiro, José Américo, Ernesto Geisel e José Vieira Diniz (Mapa 03).

Quadro 14 – Conjuntos Habitacionais construídos na cidade de João Pessoa em meados dos anos 1970 financiados pelo SFH

Mapa 03 – Conjuntos Habitacionais construídos entre 1975-1979

Elaboração: Ricardo F. Araújo

O crescimento da cidade nos anos 1970 também correspondeu a investimentos do poder público na modernização urbana. Entre elas estava criação do código de urbanismo (1976), a implantação de um anel viário em torno à área central, pavimentação asfáltica e redimensionamento de algumas ruas e avenidas, deslocamento da rodoviária da área central para as proximidades da estação ferroviária e a implantação do Projeto CURA, que visava dotar os bairros da orla marítima – Cabo Branco, Tambaú e Manaíra – e o bairro do Cristo Redentor de infra- estrutura e equipamentos urbanos essenciais para o fortalecimento da especulação imobiliária que tinha como alvo uma população de alto poder aquisitivo. Neste período, O Bairro dos Estados e Tambauzinho completavam os setores de maior interesse para esta classe (Mapa 04).

Ao final dos anos 1970, 11% dos domicílios estavam situados em conjuntos habitacionais de grande porte, localizados em áreas afastadas da região central. Os investimentos em infra-estrutura urbana ampliavam a capacidade de atendimento da rede elétrica, de 78,65% para 89,36% dos domicílios, da rede de água, de 56,32%

Mapa 04 – Bairros mais beneficiados pela expansão da infraestrutura

Elaboração: Ricardo F. Araújo

A valorização das áreas atendidas pelas melhorias de infra-estrutura determinou o processo de estratificação social da cidade. Um dos fenômenos associados a esse processo foi a transferência de parte da população de baixa renda para municípios circunvizinhos, como Bayeux e Santa Rita, que passavam à condição de “bairros pobres” da capital, forçando os grupos menos favorecidos a se distanciarem do núcleo urbano principal. Isto favoreceu o crescimento de favelas por toda a cidade, associado ainda à queda do poder aquisitivo da população e agravado por diferentes conjunturas de desemprego e miséria (GONÇALVES, 1999).

O número de favelas duplicou durante a década de 1970, de 16, no início daqueles anos, para 31, no final, e continuou proliferando pela década seguinte, principalmente nas faixas de domínio da BR-230, rodovia de ligação com o município vizinho de Cabedelo ou em outras áreas carentes de infra-estrutura como vales dos rios, mangues, morros e terrenos situados debaixo das linhas de transmissão de energia elétrica.

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