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Mapa 10 – Localização / Manaíra

1.2 Justificativa

1.4.3 Sistematização das informações

Esta etapa correspondeu à sistematização do conhecimento sobre a arquitetura moderna, através do confronto entre a leitura das referências bibliográficas estudadas e da organização das informações provenientes do material pesquisado no Arquivo Central da PMJP.

Além de oferecer obras de interesse para este trabalho, a pesquisa no arquivo possibilitou a descoberta de informações de diferentes naturezas, importantes para a compreensão de parte da história da produção arquitetônica da cidade de João Pessoa nos anos 1970. Por exemplo, na segunda metade da década de 1970, a Caixa Econômica Federal – CEF enviou cartas-convite para alguns poucos arquitetos solicitando a elaboração de estudo-preliminar para o Edifício-sede da Caixa Econômica Federal, Agência Cabo Branco, a ser construído na Via Expressa Miguel Couto, duas destas propostas estavam no arquivo da prefeitura. Foram encontradas ainda algumas fotografias (Imagem 06 / Imagem 07) anexadas aos processos que pediam a expulsão dos camelôs das calçadas em frente a estabelecimentos comerciais no centro da cidade1 e projetos de alguns edifícios multifamiliares e institucionais construídos na cidade naqueles anos.

1 Naqueles anos 1970, o comércio informal expandia suas atividades para áreas ainda consideradas nobres do centro da cidade, como o Viaduto Damásio Franca, defronte ao Paraíba Palace Hotel, e áreas próximas ao Parque Solon de Lucena (Lagoa).

No Capítulo II, apresentarei um breve panorama da produção arquitetônica moderna na cidade de João Pessoa nos anos 1970 com base neste material encontrado.

Imagem 06 / Imagem 07 – Camelôs instalados na calçada do Paraíba Palace Hotel Fonte: Arquivo Central da PMJP

A sistematização das informações do arquivo também permitiu identificar as localidades “preferidas” para a construção das casas modernas e a origem dos profissionais arquitetos que atuavam na cidade nos anos 1970.

A distribuição das residências objeto de estudo por bairros (Quadro 06) destaca um eixo de construção residencial para a classe média entre o Centro da cidade e o mar: uma parte das residências foi construída nos bairros da Torre, Bairro dos Estados, Mandacaru, Tambauzinho e Miramar e outra parte foi construída nas praias de Tambaú, Cabo Branco, Manaíra e Bessa. A exceção é o bairro Cristo Redentor situado ao sul, entre o centro da cidade e os conjuntos habitacionais José Américo e Ernesto Geisel.

Quadro 06 – Distribuição do número de residências encontradas no arquivo por bairros Elaboração: Ricardo F. Araújo

A preferência por estas localidades também estava relacionada à expansão da infra-estrutura urbana que se ampliava com a atuação do Projeto CURA, promovido pelo Governo do Estado da Paraíba no final dos anos 1970.

Comparada com as décadas anteriores, os anos 1970 assistiram a expansão do número de arquitetos que passavam a atuar na cidade, uma década que propiciou a chegada de profissionais de diferentes regiões brasileiras.

Uma extensa lista de profissionais foi levantada a partir do material coletado no arquivo, um total de 50 nomes (Quadro 07). Grande parte deles tinha registro no CREA de Pernambuco, mas também foram encontrados registros do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e um profissional com formação no exterior.

Comparado com o Quadro 08, apresentado por Pereira (2008, p. 36) podemos dizer que a segunda metade dos anos 1970 representou um notável crescimento do número de profissionais em exercício na cidade, uma renovação significativa no quadro de arquitetos atuantes.

(*) Formado na Holanda

Quadro 07 – Arquitetos atuantes na cidade nos anos 1970 Elaboração: Ricardo F. Araújo

Quadro 08 – Arquitetos atuantes na cidade entre 1930-1970 Fonte: Pereira (2008)

Da extensa lista dos profissionais encontramos arquitetos com larga experiência, como Carlos Alberto Carneiro da Cunha, Mário Glauco di Láscio, Pedro Abrahão Dieb e Tertuliano Dionísio, e jovens profissionais recém-formados em Pernambuco, nos anos 1970, e que na década seguinte, anos 1980, projetariam seus nomes no cenário da arquitetura local, como Amaro Muniz Castro, Expedito Arruda e Régis de Albuquerque Cavalcanti.

Os arquitetos Mário Glauco Di Láscio e Pedro Abrahão Dieb participaram da criação do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba (CAU-UFPB) em 1974. Juntaram-se a estes, alguns nomes presentes no Quadro 07, formando o corpo docente do curso da UFPB, os arquitetos Amaro Muniz Castro, Aristóteles Lobo Magalhães Cordeiro, Francisco de Assis Gonçalves da Silva, José Luciano Agra de Oliveira, Marcos Marinho da Costa, Maria Grasiela de Almeida Dantas, Nilo Martinez, Rômulo Sérgio de Carvalho e Ubiratan Vasconcelos Leitão da Cunha. Além destes, completaram o corpo docente, Hélio Costa Lima e João Lavieri.

O fluxo de arquitetos para a cidade, possivelmente, esteve ligada a uma expansão do mercado de trabalho proporcionado pelo chamado “milagre brasileiro”, à criação do Curso de Arquitetura da UFPB e à instalação de agências locais de órgãos federais na cidade nesse mesmo período.

Os arquitetos formados em Pernambuco predominaram até que as primeiras levas de profissionais formados na UFPB, no início dos anos 1980, passassem a

atuar no mercado local. Sobre a atuação dos arquitetos pernambucanos, por exemplo, vale destacar que, de acordo com o quadro apresentado por PEREIRA (2008), o arquiteto Acácio Gil Borsoi reduziu sua atuação na cidade no início da década. E, de fato, não foram encontrados no Arquivo Central da PMJP projetos de sua autoria após 1975. Também vale destacar, dentre o material encontrado, um conjunto de casas assinadas pelos arquitetos pernambucanos Antonio José do Amaral e Silva e Maria Berenice Fraga do Amaral, aqui domiciliados até meados da década de 1970.

Da arquitetura residencial objeto de estudo, nesta etapa, foi anotado: tipos e dimensões de lotes, áreas de construção, programas de necessidades e técnicas/materiais construtivos utilizados. Para estes últimos (técnicas e materiais) foram constatadas as especificações existentes nos projetos e, particularmente, aquelas especificações dos boletins de classificação anexados aos projetos residenciais. No entanto, estes boletins não eram suficientes para identificação do tipo de experiência moderna, nem a autoria do profissional arquiteto era condição suficiente para afirmar sobre uma qualidade da produção arquitetônica moderna local. Fazia-se necessário “apurar” a observação sobre os projetos arquitetônicos e reconhecer neles elementos que remetessem à experiência moderna.

A busca pelos elementos modernos ou a identificação de “impressões” que relacionassem as 217 casas com determinados tipos de experiências modernas foi uma atividade extenuante, mas estimulante.

A meu ver, a forma é o elemento mais facilmente identificável numa obra arquitetônica e uma das “qualidades” que pode ser avaliada antes de outras. Por isto, primeiramente, foi levado em consideração a configuração formal das 217 casas, observando, particularmente a unidade de linguagem ou a similaridade de elementos que interligavam as fachadas e a volumetria, ou seja, o resultado final da forma.

Nas fachadas das casas era possível identificar a “fenêtre en longuer” e as

grandes aberturas, o que faz acreditar sobre uma preocupação dos arquitetos em integrar o interior com o exterior. Eram perceptíveis ainda os diferentes tipos de cobertura, soluções que denunciavam uma possível preparação dos arquitetos para lidar com a condição climática do lugar e o tratamento material dado às fachadas, valorizando-se o uso da pintura branca, do concreto aparente e de materiais mais naturais, como a pedra, por exemplo.

Do ponto de vista volumétrico, em algumas casas predominavam uma configuração “monolítica” ou uma massa em que a horizontalidade era a expressão mais enfatizada (Imagem 08). Em outros casos o que chamava a atenção era o movimento resultante do tratamento dinâmico dado à cobertura (Imagem 09) ou a forma e escala do reservatório d’água superior (Imagem 10) ou ainda os pequenos volumes que se projetavam para o exterior, como sheds (Imagem 11) e caixas suspensas (Imagem 12). A observação do volume ajudou a perceber que os resultados formais das casas eram conseqüência das decisões contidas na espacialização e até mesmo nas decisões técnico-construtivas, aspectos que até então não haviam sido observados adequadamente.

Imagem 08 – Ênfase na horizontalidade

Residência Sr. Antonio da Silva Morais/ 1975/ Antonio José do Amaral e Silva Fonte: Arquivo Central da PMJP. Foto: Ricardo F. Araújo

Imagem 09 – Dinâmica da coberta

Residência Sr. Luís Régis Pessoa de Farias/ 1975/ Antonio José do Amaral e Silva Fonte: Arquivo Central da PMJP. Foto: Ricardo F. Araújo

Imagem 10 – Forma e escala do reservatório superior

Residência Ary Carneiro Vilhena / 1977 / Régis de Albuquerque Cavalcanti Fonte: Arquivo Central da PMJP. Foto: Ricardo F. Araújo

Imagem 11 – Elementos formais gerados pela iluminação indireta (sheds) Residência José Cassildo Pinto/ 1979 / Jonas Arruda Silva

Fonte: Arquivo Central da PMJP. Foto: Ricardo F. Araújo

Imagem 12 – Volumes que se projetam

Residência E. Gerson Construções LTDA. / 1976 / Carlos Alberto Carneiro da Cunha Fonte: Arquivo Central da PMJP. Foto: Ricardo F. Araújo

O que se constatou foi que observar unicamente o aspecto formal das 217 residências não era suficiente para tratar todos os tipos de experiências modernas presentes na arquitetura residencial de João Pessoa nos anos 1970. Era necessário aprofundar a observação ainda mais, para além dos elementos formais, buscando a experiência moderna do modo mais amplo possível. Foi então que passou a ser considerado os aspectos espaciais e técnico-construtivos para ampliar a compreensão sobre o universo das residências modernas estudadas.

Do ponto de vista espacial, algumas casas apresentavam esquemas de plantas claramente geométricos em que era perceptível a concepção do espaço livre a partir de uma “malha”, ou modulação espacial. Ou esquemas que valorizavam o centro do espaço residencial (um jardim coberto de pérgulas de concreto ou a grande sala de jantar-estar) e os ambientes dispostos à sua volta. Ou ainda um interior marcado por desníveis.

Das características associadas à estrutura de sustentação, por exemplo, a modulação estrutural, a estrutura autoportante, o uso do concreto armado, a expressão desse mesmo concreto, muitas vezes aparente, os pilotis e os elementos formais derivados da estrutura, como balanços, empenas, pérgulas e marquises, foram os elementos mais perceptíveis na arquitetura objeto de estudo. A propósito, a expressão do concreto aparente, por exemplo, foi um dos tratamentos mais

valorizados pela expressão gráfica dos arquitetos locais, seja no desenho das fachadas ou das perspectivas.

Foi se constatando que as 217 casas encontradas no arquivo (ver em Anexo 01) apresentavam algum tipo de experiência que se relacionava claramente com decisões da arquitetura moderna.

Como a observação inicial não foi suficiente para encontrar exemplares representativos da arquitetura objeto de estudo e diante da dificuldade de se trabalhar com todo este número, passou-se a “contar” os tipos de experiências modernas presentes em cada exemplar. Desta tarefa resultou a formação de dois grupos de casas: um que se caracterizava pela presença de pelo menos um tipo de experiência moderna (uso de técnicas construtivas associadas ao concreto armado, por exemplo) e outro grupo que se caracterizava pela presença de dois ou mais tipos de experiências modernas (modulação espacial, modulação da estrutura de sustentação, geometrização da forma, uso de técnicas construtivas associadas ao concreto armado, por exemplo). O primeiro grupo reuniu 101 casas e o segundo 116. A quantidade e a variedade de experiências modernas presentes nas casas do segundo grupo apontou objetos modernos por excelência, os quais favoreciam o avanço da pesquisa.

A tarefa de dividir as 217 casas em dois grupos possibilitou a descoberta dos exemplares mais representativos da arquitetura objeto de estudo, a dimensionar o número de projetos a serem organizados em fichas de análise (ver em Anexo 22), a determinar o número de casas a serem incorporadas pela pesquisa de campo e pelo levantamento fotográfico e a reduzir o esforço para a escolha dos exemplares a serem analisados posteriormente.

Considerando este procedimento, vale ainda salientar que o descarte das 101 residências do primeiro grupo não chegou a comprometer os objetivos da pesquisa, uma vez que os tipos de experiências formais, espaciais e técnico-construtivas observadas nelas mantiveram-se presentes nos 116 exemplares do segundo grupo. As casas do primeiro grupo não traziam experiências “representativas”, ou diferentes, elas se repetiam nas casas do segundo grupo.

Considerando que o projeto arquitetônico de cada uma das 116 casas dispunha de uma média de 04 pranchas de desenhos, 464 pranchas foram

2 Neles estão organizadas as fichas das 116 residências selecionadas – as residências encontradas, as não encontradas e os óbitos.

reproduzidas através de scanner e gravadas em CD para organização das 116 fichas de análise. Desta maneira foi possível preservar o material do arquivo e evitar o manuseio e desgaste das pranchas originais, bem como permitir o livre acesso aos projetos sem precisar recorrer à burocracia do Estado, ou seja, torná-las disponíveis. Além do mais, com a organização e a observação voltada agora para as fichas de análise a experiência moderna foi se revelando mais facilmente. Elas foram importantes para sistematizar os conteúdos modernos a partir da análise dos esquemas das plantas e dos cortes, do tratamento das fachadas, do sistema estrutural adotado e da imagem exterior das 116 casas selecionadas.

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