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2. O processo de construção de estratégias: uma diversidade de abordagens

2.5 A classificação de Whittington

De acordo com Whittington (1995), podem ser encontradas quatro abordagens genéricas para o processo de formação de estratégias: Clássica, Evolutiva, Processualista e Sistêmica. Este autor coloca que as quatro abordagens diferem basicamente em duas dimensões: os resultados da estratégia e o processo pelo qual é formada.

Estas diferenças podem ser ilustradas de acordo com a intersecção dos eixos da figura 2.5 (a seguir), onde o eixo horizontal representa o processo, que varia do deliberado ao emergente, e o eixo vertical, que representa o objetivo de maximização dos lucros, ou no outro extremo, pluralista (os objetivos das organizações são outros além de exclusivamente a maximização dos lucros).

Fonte: WHITTINGTON, 1995, pg. 03.

FIGURA 2.5: Perspectivas genéricas em estratégia

A abordagem clássica é composta pelas escolas prescritivas vistas anteriormente, na qual o processo de formulação das estratégias é essencialmente racional, um processo deliberado de cálculo e análise que, aplicado aos ambientes internos e externos da empresa, a levam a alcançar seu objetivo principal; a maximização do lucro.

A abordagem evolutiva apresenta diversas características semelhantes à escola ambiental, vista na seção anterior. Essa abordagem acredita que o ambiente é tipicamente imprevisível e implacável para que se possa antecipá-lo efetivamente. Esta abordagem faz um paralelo com a teoria da evolução das espécies e coloca que é o ambiente, isto é, o mercado, e não os gerentes, que irá determinar a sobrevivência das empresas.

Assim sendo, em contraposição à escola clássica, acredita que estratégias de longo prazo podem ser contra-produtivas e que as organizações maximizariam suas chances de sobrevivência se conseguissem ser eficientes e flexíveis para se adaptar às mudanças no ambiente. Preconiza que a sobrevivência em um ambiente competitivo só é possível através da diferenciação (WHITTINGTON, 1995), pois se baseia no

RESULTADOS Maximização de Lucros PROCESSOS Deliberados Emergentes Pluralista Clássica Evolucionista Sistêmica Processualista

pressuposto oriundo do principio biológico de que a coexistência é impossível se os organismos utilizam os mesmos recursos.

As abordagens clássica e evolucionista se diferenciam quanto à melhor forma de construção de estratégias. Enquanto a primeira pressupõe um processo analítico de um planejamento de longo prazo, para a segunda a estratégia emerge das dificuldades enfrentadas com o ambiente. No entanto, estas escolas têm em comum a compreensão de que o principal objetivo da estratégia é a maximização dos lucros.

Na terceira abordagem apontada por Whittington (1995), a processualista, a organização e o mercado são freqüentemente fenômenos confusos e complexos, dos quais as estratégias emergem em pequenos passos, que convergem para um padrão de decisões da organização. Esta abordagem tem como pressupostos a racionalidade limitada do homem e a rejeição ao modelo dos mercados competitivos perfeitos.

Estes pressupostos levam em consideração a complexidade interna das organizações. A visão da escola micro-política contribui para a formação desta abordagem, colocando que as organizações não são unidades que buscam como único objetivo a maximização dos lucros, pois os interesses individuais dos membros da organização e o jogo de poder existente irão influenciar a configuração da estratégia.

Os processualistas consideram que a combinação da negociação política e da racionalidade limitada vão formando as estratégias das organizações, ao lidarem com as decisões do dia-a-dia e as modificações que vão ocorrendo no ambiente. Segundo Cyert e March (1956), as organizações podem sobreviver com estes pequenos ajustes, porque ao contrário da visão dos evolucionistas mais radicais, o mercado é tolerante às ineficiências das organizações. Empresas detêm significativo poder de mercado para serem altamente lucrativas, mesmo sem um elevado padrão de eficiência.

Além da escola de poder, esta abordagem recebe grande influência da escola de aprendizagem, ao focar o processo de mudança incremental e a atenção voltada para a implementação.

A quarta abordagem apresentada por Whittington (1995), a sistêmica, parte do mesmo pressuposto que a processualista, no sentido de que o objetivo das estratégias tem um caráter mais pluralista, não ficando restrito à maximização do lucro. Para os sistêmicos, diversos fatores como, por exemplo, orgulho profissional, poder

gerencial ou patriotismo, irão influenciar o processo de formação de estratégias, sendo que estas não terão somente a maximização dos lucros como objetivo final. Esta abordagem, entretanto, difere das abordagens processualista e evolucionista ao acreditar na capacidade das organizações de planejar o futuro e de agir efetivamente no ambiente. Porém, se diferencia da abordagem clássica ao insistir que a racionalidade implícita na estratégia é peculiar a contextos sociológicos particulares.

O aspecto central da teoria sistêmica é a consideração de que os tomadores de decisões não são indivíduos racionais desvinculados, interagindo unicamente com transações econômicas, mas são pessoas que interagem densamente com o sistema social na qual estão inseridas.

A abordagem sistêmica, em consonância com a escola configuracional de Mintzberg (2000), coloca que cada estrategista deveria analisar as características peculiares do sistema social, de maneira a verificar a variedade de regras sociais e normas de condutas disponíveis. Conclui desafiando a perspectiva da universalidade de qualquer modelo de estratégia e assume que a estratégia deve ser adequada aos fatores contingenciais que envolvem a organização. Wittington (1995), sintetiza as diferenças existentes entre as abordagens no quadro 2.4:

QUADRO2.4 - Principais características das abordagens de Whittington

C lá s s ic a P r o c e ss u a l E v o lu c io n á r ia S is tê m i c a

E stra té g ia F o rm a l E sb o ç a d a E fic ie n te In tríse c a R a c io n alid a d e M a x im iza ç ã o d e lu c ro s V a g a S o b re viv ê n c ia L o c a l F o c o In te rn o (p la n o s) In te rn o (p o lític a , c o gn itiv a ) E x te rn o (m e rc a d o ) E x te rn o (so c ie d a d e )

P ro c e sso A n a lític o N e g o c ia tivo , a p re n d iza d o D a rw in ia n o S o c ia l In flu ê n c ia s c h a v e s E c o n o m ista s/ m ilita re s

P sic o lo gista s E c o n o m ista s/ b ió lo go s S o c io lo gista s A u to re s c h a v e s C h a n d le r, A n so ff, P o rte r C ye rt& M a rc h , M in tze m b e rg , P e ttig re w H a n n a n & F re m a n , W illia m so n G ra n o ve tte r, M a rris P e río d o c h a ve 1 9 6 0 1 9 7 0 1 9 8 0 1 9 9 0 Fonte: Whittington (1995)

Para Whittington (1995) estas abordagens representam as principais linhas de pensamento existentes sobre o processo de formação de estratégias. Cada concepção adotada implicará em diferentes formas de se conduzir o processo. Embora sua classificação apresente um menor detalhamento do que a realizada por Mintzberg et

al (2000), verifica-se uma relação entre as duas classificações. O quadro 2.5 (a seguir)

ilustra como as escolas de Mintzberg et al (2000) se relacionam com a classificação apresentada por Whittington (1995).

QUADRO 2.5 - As escolas de Mintzberg e a classificação de Whittington

Abordagem Escolas

Clássica Planejamento, Posicionamento e Design

Evolucionista Ambiental

Processualista Política e Aprendizagem

Sistêmica Configuracional

As outras escolas apresentadas por Mintzberg et al (2000) - cultural, empreendedora, cognitiva - não apresentam uma relação tão direta com as abordagens apresentadas por Whittington (1995).