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3.4 A coesão a partir do ISD e da ATD

3.4.2 Mecanismos de textualização

3.4.2.1 A coesão nominal

São muitos os estudos que tratam da coesão de um texto, aqui trataremos especificamente da coesão nominal, no entanto, tanto na linguística textual, quanto no interacionismo socio-discursivo encontramos base teórica para ancorar nossos estudos.

Bronckart (2006) defende que a coesão está ligada a uma base semântica (unidade de significação nova) quando propõe a noção de cadeias isotópicas espraiadas no texto, e não necessariamente entre constituintes linguísticos, mas é necessário ressaltarmos que tais constituintes são importantes para a construção da textualidade.

Em uma perspectiva da LT ou do sociointeracionismo, as teorias que tratam do texto postulam sobre a importância da textualidade e dos seus elementos, a exemplo do que coloca Adam:

O fato de não se poder decompor o texto em frases, aplicando-lhe os mesmos procedimentos usados para a frase, o sintagma, o signo e o morfema, impõe uma mudança de quadro teórico. A frase enunciada tem propriedade de poder entrar em relação de coesão e de progressão com outras frases. Essa tensão interna define a textualidade. Os n-tuplos de frases não são dispostos linearmente, mas constituem objeto de agrupamentos de vários tipos. É necessário, então, teorizar linguisticamente fatores de agrupamento de orações em subunidades textuais. A questão do alcance é uma das teorizações desses fenômenos semânticos, enunciativos e macrossintáticos. (ADAM, 2011, p. 57)

Para Halliday e Hasan (1976), a coesão ocorre quando a interpretação de algum elemento no discurso é dependente de outro, ou seja, quando um elemento para ser decodificado precisa da ocorrência de outro. Entendem os autores coesão como “uma série de relações de significação do que é geral para todas as classes de textos, que distingue o ‘texto’ do ‘não texto’ e inter-relaciona entre si os sentidos do texto.”

“Índices linguísticos” vão sendo fornecidos pelo produtor do discurso, o que possibilita ao leitor ou ouvinte ir descobrindo/construindo as relações de coesão e coerência

desse discurso. O produtor do discurso fornece os índices que julga necessários para a transmissão do que quer dizer, e apóia-se para isso em hipóteses em relação a quanto o interlocutor poderia deduzir de seu discurso. Essas hipóteses baseiam-se em uma suposição sobre o saber comum entre os dois, o que não implica necessariamente que o que se criou ou recriou sobre o discurso estejam em sintonia, podendo ainda haver ruídos nessa comunicação.

Afirmam Halliday e Hasan (1976), ainda que “para que um texto seja coerente é preciso que haja uma determinada propriedade linguística em ação: a coesão”. Os autores postulam ainda coesão e registro como dois fenômenos distintos, embora inter-relacionados e responsáveis, juntos, pela transmissão do significado do discurso. A coesão, portanto, está relacionada com a organização textual, ou seja, trata-se de como as frases se organizam em sequências, expressando proposições.

Entretanto a coesão, para os autores, “não é uma questão do que um texto significa, mas de como o texto está edificado, semanticamente” A textura ou coerência seria criada por esses itens linguísticos e pela relação de coesão que existe entre eles. As noções de coesão e registro(coerência), de Halliday e Hasan, não consideram como o texto está edificado semanticamente e o que o texto significa, incluindo componentes sociais, expressivos, comunicativos etc.

Todavia, Beaugrande e Dresller (1983) postulam a coesão como o modo em que componentes da superfície textual se conectam mutuamente em uma sequência, fazendo o texto existir como um todo coerente, que se relaciona também com outros textos.

Importa destacar também que a coesão, para Halliday e Hasan, é uma relação semântica entre um elemento no texto e um outro que é imprescindível para a interpretação do primeiro. Entretanto, a textura, ou seja, a qualidade de um texto ser um texto envolve, segundo os mesmos autores, mais do que só a existência de relações semânticas, denominadas de relações coesivas, envolve também um nível de coerência que o texto precisa apresentar, estando assim coesão e coerência relacionadas.

Ou seja, um texto, para Halliday e Hasan (1976), “é um extrato do discurso que é coerente em dois aspectos: é coerente em relação ao contexto de situação, portanto

consistente em registro, e é coerente em relação a ele mesmo e, portanto, coeso”. A textura

resulta, então, da combinação de configurações semânticas de dois tipos, de registro e de coesão.

Enquanto Halliday e Hasan estabelecem coesão e coerência como dois níveis distintos e os define de uma maneira estanque, Charolles (1997) diz não ser possível separá- las em dois níveis, pois se interconectam. Charolles inclusive não faz uso do termo coesão,

faz, outrossim, uma distinção entre coerência microestrutural e macroestrutural, o que se enquadraria relativamente nos conceitos de coesão e coerência, respectivamente. Além disso, para o autor, coerência e linearidade textual estão relacionadas, ou seja, “não se pode questionar a coerência de um texto sem se levar em conta a ordem em que aparecem os elementos que o constituem.” E essas sequências de elementos estão incluídas no texto, uma unidade superior e última.

Para Charolles “nenhum texto é coerente ou incoerente; tudo depende do receptor e de sua habilidade para interpretar as indicações presentes no discurso, (...) de um modo que corresponda à sua ideia daquilo que faz com que uma série de ações se transforme num todo integrado”. Logo, Charolles concorda que o professor, ao ler um texto de um aluno, tem acesso ao mundo de acordo com o qual o texto foi emitido, o que lhe permite, “de um lado, aceitar o discurso como coerente (nesse mundo) e, de outro lado, recuperá-lo num sistema de coerência considerado perfeito que é, ao mesmo tempo, o seu, o do aluno e o de todos os eventuais receptores.

Enquanto Halliday, define dois níveis (coesão e registro) de maneira relativamente estanque; Charolles, que também considera dois níveis (microcoerência e macrocoerência), não acha possível que se estabeleça uma divisão entre coesão e coerência, pois os considera interdependentes. E diz ainda que não é o conhecimento da língua que nos faz concluir isto e, sim, nosso conhecimento anterior, nossa capacidade de raciocinar.

Charolles afirma ainda que

“no estado atual da pesquisa (...) parece que não é possível tecnicamente operar uma divisão rigorosa entre as regras de porte textual e as regras de porte discursivo. As gramáticas do texto rompem as fronteiras geralmente admitidas, entre o imanente e o situacional, donde, do nosso ponto de vista, a inutilidade de uma distinção coesão/coerência que alguns propõem baseando-se justamente na divisão precisa entre esses dois territórios”

Widdowson (1981) também faz considerações sobre coesão, definindo como “o modo pelo qual as frases ou partes de frases se combinam para assegurar um desenvolvimento proposicional.” E amplia esse conceito quando considera que as frases utilizadas em um discurso com fins de comunicação normalmente não exprimem, por si próprias, proposições independentes e, sim, adquirem valor em sua ligação com as outras proposições expressas pelas outras frases. Ao apreendermos essa ligação e ao sermos capazes de associar uma frase ou uma parte de uma frase a um valor apropriado, “então reconhecemos que uma sequência de frases, ou parte de frases, constitui um discurso coeso.” Diz o autor então que um discurso possui coesão “na medida em que permite um desenvolvimento proposicional eficaz”, e que

as frases possuem uma forma apropriada “na medida em que permitem esse desenvolvimento”, ou seja, “Quando exprimem proposições que se integram ao desenvolvimento proposicional do discurso”.

Os conceitos de coesão e coerência de Widdowson, associam a coesão ao desenvolvimento proposicional e a coerência ao desenvolvimento ilocucional. Widdowson chega ao conceito de coerência pela constatação de que, ao produzirmos uma frase durante a comunicação, não só exprimimos uma proposição, mas também realizamos um ato ilocucional. Havendo coesão é possível inferir os atos ilocucionais a partir das ligações proposicionais indicadas explicitamente: havendo coerência, deduzimos as ligações proposicionais implícitas a partir de uma interpretação dos atos ilocucionais.

Consideramos que os conceitos construídos pelos autores citados sejam importantes para a construção do nosso referencial teórico, uma vez que corroboram em alguns termos e são ampliados pelos conceitos do ISD. Utilizamos, nas nossas análises, a dimensão do ISD, que trata dos mecanismos de coesão nominal como parte de um folhado textual e das regras de organização geral dos textos, em que os mecanismos de coesão nominal introduzem argumentos e organizam sua retomada na sequência do texto.

Com os trabalhos atuais na área da linguística textual houve um desenvolvimento das teorias sobre coesão nominal, principalmente com os estudos sobre referenciação. Para Mondada e Dubois (2003) a referenciação é vista como um processo cognitivo e discursivo, imputado a um indivíduo socialmente situado.