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A comenda enquanto estrutura económica

3.2. Dinâmicas sociais e económicas

3.2.1. A comenda enquanto estrutura económica

Analisar o território de Noudar e Barrancos na sua componente de fronteira obrigou-nos a duas abordagens. A primeira e “fundacional”, que já realizamos, a componente militar do território, mas que não pode ser desligada da segunda, a produção de rendimentos. Precisamente porque esta segunda foi o suporte da primeira. Não é por acaso que todo o território foi constituído em comenda. Isso o prova o único tombo, no qual o juiz do dito, depois de listar todas as casas de Noudar, as Defesas da Russiana Alta, Rocianilha, Coutada de Noudar, Defesa Nova, Defesa dos Balhesteros, a Coutada do Concelho, “outra coutada pequena

que chamam a defessa do comcelho”626 e o Campo de Gamos, “fomos ao lugar dos

baramquos e ovimos q pertemce todo a dita comemda”627

. Assim, esta é uma comenda constituída por todo o território do termo de Noudar.

Mas para a análise das questões económicas da comenda, torna-se importante perceber quais as suas fontes de rendimento e é essa a primeira reconstituição que teremos de fazer. Eram da comenda as rendas dos verdes e montados, as rendas das portagens, da saboaria, o telhar, as rendas pagas pelos lavradores da exploração agrícola e o dízimo das colmeias. Do comendador era a sisa, o dízimo de todos os gados que pastassem na comenda, o dízimo dos currais, a renda das pescarias da ribeira de Murtega e os restolhos628. Recebe ainda o comendador os foros de todos os moinhos, hortas, cercados e casas da comenda. São estes os rendimentos em 1607 e como se percebe todas as rendas produzidas são repartidas entre a comenda e o comendador.

Mas para melhor contextualizar esse rendimento, importa “espreitar” a

Estatistica agricola do Concelho de Barrancos, editada em 1893 e que apresenta

626

ANTT, MCO, Tombo das Comendas, Lv 373, fl 16.

627

ANTT, MCO, Tombo das Comendas, Lv 373, fl 13.

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uma discrição clara nessa matéria, elaborada, ao que se percebe, a partir do processo de extinção da comenda:

“Todo o termo da villa de Nodar, que forma o actual concelho de Barrancos, constituía uma commenda da ordem de Aviz, que nos últimos tempos do antigo regímen andava na casa do duque de Cadaval. Em 1807 passou esta comenda para a posse do estado, mas em 1808 foi de novo concedida ao duque de Cadaval, e em 1828 ratificada a posse ao mesmo duque por mercê régia de 4 de abril de 1827.

Extinctas as comendas em 1834 foi definitivamente tomada posse para o provedor do concelho em 25 de outubro d’aquele anno. De um inventario feito em 1807 e das avaliações officiaes feitas em 1836 vê-se que a comenda de Nodar e Barrancos era uma das mais ricas do reino.

O donatário tinha a propriedade de cinco grandes defezas e do denominado campo de Gamos, isto é quasi todo o actual concelho de Barrancos, dividido em coutada que os moradores podiam cultivar, pagando todavia o dízimo ao duque, e em baldio do povo. Além d’isto todas as casas, curraes e hortas de Barrancos eram foreiras ao duque; os foros variavam de 30 a 120 réis.

O campo de Gamos era dividido em duas partes denominadas limite de baixo e limite de cima, em ambas as quaes os pastos eram comuns entre os povos de Nodar e Barrancos e os do termo de Moura. Havia porém uma diferença: os de Moura pagavam ao duque as hervagens, ou 50 réis por cada cabeça de gado bovino e suíno, 10 réis de cada ovelha e cinco réis de cada cabra, e meio dizimo das afilhações que os gados fizessem no território do campo de Gamos, e outro meio dizimo da lã do gado ovino que ali afilhasse; os moradores da comenda não pagavam as hervagens mas em compensação pagavam dizimo inteiro das afilhações e lã. Os moradores podiam lavrar no campo de Gamos e nas cinco defezas da comenda, mas pagavam dizimo e terrado que consistia em um segundo dizimo do que colhessem nas cinco defezas e no limite de cima, somente o dizimo no limite de baixo. (…).

As cinco defezas mencionadas foram avaliadas em 1807 com todos os outros bens da commenda, com os seguintes valores:

Defeza da Russiana Alta ……… 8:000$000

Defeza da Russiana Baixa …… 6:000$000

Defeza da coutadinha …………. 2:000$000

Defeza das Mercês ………. 2:800$000

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Toda a comenda andava arrendada em 1807 por 3:600$000 réis livres de despezas.”629

Pelo valor do arrendamento podemos perceber a importância relativa da comenda. Se convertermos o valor de três contos e seiscentos mil réis em cruzados, temos que no ano de 1807 a comenda estava arrendada pelo valor de 9000 cruzados. A importância económica da comenda é-nos dada pela comparação com as elites da cidade de Évora. Da elite eborense de fidalgos e morgados que exercia a vereação do final do Antigo Regime, conhecemos o valor dos rendimentos

anuais de 31 dos 40 vereadores630. Daqueles, apenas um tem o rendimento anual

de 9000 cruzados, portanto similar ao da comenda. Apenas nove dos 31 têm um rendimento de valor superior. Assim a comenda de Noudar e Barrancos tem, no final do Antigo Regime, um rendimento anual superior ao da maioria dos fidalgos e morgados da cidade de Évora.

No contexto da totalidade das comendas de Avis, Noudar e Barrancos estava também entre as mais rendosas. Fernanda Olival, na comparação que faz entre comenda de Avis631, demonstra que a de Noudar é a mais rendosa no final do século XVI (2.000.000 réis em 1571). Em 1611 está entre as três mais rendosas (com 1.400.000 réis). Em 1624 é tão rendosa como a de Moura (1.200.000 réis) e ultrapassada apenas pelas de Coruche e de Fronteira. Contudo o seu rendimento médio destes três anos coloca-a acima de qualquer outra. No final do século XVIII, princípios do seguinte, de entre as 48 comendas da ordem de Avis apenas a de Estremoz tinha um débito no pagamento de décimas, superior a Noudar632.

Para o comendador ela também não representava um rendimento despiciendo. Em documento do século XIX, intitulado “Relação das Commendas das Tres Ordens Militares, que distrutavão os individuos abaixo declarados cúmplices da Usurpação”633

, de um conjunto de 184 comendas, Noudar ocupa a 11ª posição em termos de rendimentos. Do total de seis comendas do duque de

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Ministerio das Obras Publicas, Commercio e Industria, Boletim da direcção geral da agricultura…, p. 4. Este documento é aliás um documento muito interessante sobre a economia e a propriedade fundiária do concelho de Barrancos no século XIX.

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Teresa Fonseca, Absolutismo..., cit., pp. 185-186.

631

Fernanda Olival, Para uma análise sociológica das Ordens Militares no Portugal do Antigo Regime

(1581-1621), Vol.II, Lisboa, Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Letras da

Universidade de Lisboa, 1988, p. 448.

632

ANTT, Núcleos extraídos do Conselho da Fazenda, Ordem de Avis, Lv 14.

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Cadaval, Noudar ocupa a terceira posição e o seu rendimento corresponde a 20% do total dos rendimentos das comendas do duque.

Tabela 4 - Rendimentos das comendas da casa Cadaval

Comenda Rendimento Grândola 2490$000 Moraes 480$000 Eixo 3000$000 Noudar 1666$000 Vila Maior 200$000 Sardoal 550$000

Fonte: Relação das comendas …

Gráfico 8 - Totalidade do rendimento das comendas da casa Cadaval

Fonte: Relação das comendas …

De referir que a comenda tinha, no entanto, obrigações e que se prendiam com a manutenção da estrutura eclesiástica de jurisdição da ordem. Entravam neste âmbito as despesas com os párocos que eram da responsabilidade da comenda, que era todo o mantimento em Noudar e uma parte em Barrancos, como já vimos. Também o comendador tinha obrigações, relacionadas com a sisa de que pagava 12$000 por ano ao Almoxarifado de Beja e com os restolhos de que pagava 10 réis

Grândola 30% Moraes 6% Eixo 36% Noudar 20% Vila Maior 2% Sardoal 6%

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por cada fanega semeada634. No primeiro quartel do século XIX, e após a perda das

isenções fiscais das comendas iniciada em 1796635, o então rendeiro da comenda,

doutor Inácio Pedro Rosado Guião, pagava as seguintes obrigações: contribuição

da defesa, de que pagou no ano 1809, 265$386636; décima de que pagou no ano de

1822, 338$596637. A comenda pagava ainda por essa altura, pensão ao Real Colégio dos Militares de Coimbra638. Além disto tornava-se ainda uma importante fonte de rendimento da coroa para o encarte do comendador, como aconteceu em 1823, quando o rendeiro pagou a quarta parte do rendimento da comenda para encarte do comendador por a administração da casa estar em sequestro639.

Fica claro que, não obstante o rendimento dos aforamentos e alguma produção agrícola, a pecuária era a principal fonte de rendimento da comenda. Com efeito, os pagamentos à cabeça, afilhamentos e de lã, deixam ver uma economia fortemente assente na pecuária. Isto é também claro quando o conde de Linhares, à data comendador, pretende ser compensado pelos moradores do termo de Moura por má utilização do Campo de Gamos. As quantias exigidas por aquele titular, apesar de poderem estar inflacionadas, por estarmos perante um processo litigioso, não escondem o enorme poder económico que aquele espaço representa para a comenda. Estamos claramente perante uma economia de montado, enquanto sistema que associa as pastagens e os bosques de quercíneas, a azinheira e o sobreiro, com importância conhecida para a alimentação animal. Este sistema tem uma estreita relação com a exploração pecuária640 e necessitava também, de uma atividade agrícola para a sua manutenção. No país vizinho dá-se-lhe a designação “dehesa”, cujo termo também aparece no território em estudo. Um sistema, que neste caso, apresenta alta rendabilidade.

634

ANTT, MCO, Tombo das Comendas, Lv 373, fl 19-19v.

635 Nuno Gonçalo Monteiro; Fernando Dores Costa, “As comendas das ordens …”, cit., p. 601. 636

ADP, Provedoria da Comarca de Elvas, mç 21, ac 87, fl 28v.

637

ADP, Provedoria da Comarca de Elvas, mç 21, ac 87, fl 34.

638

ADP, Provedoria da Comarca de Elvas, mç 21, ac 87, fl 80.

639

ADP, Provedoria da Comarca de Elvas, mç 21, ac 87, fl 81.

640

154 3.2.2. A pecuária e a atividade agrícola

A atividade agropecuária é ancestral nestes territórios uma vez que já aqui se

praticaria na Idade do Bronze641. A estruturação do território no século XIV coincide com a operacionalização de transformações estruturais na economia portuguesa,

nomeadamente através do incremento da criação de gado642. A existência de gado

externo ao território do Alentejo, mas particularmente da margem esquerda do Guadiana, é referenciada sobejamente. Uma das modalidades de pastorícia prendia-se com uma utilização de pastos em que presidia a proximidade: “Um dos meios pelo qual os gados transumantes procuram alimento, sem que daí resultem pesados encargos, consiste no sistema de vizinhança – utilização mútua dos pastos e das águas de várias localidades.”643

Este sistema era aplicado em Moura que tinha vizinhança com Sevilha644, evidentemente, na utilização comum da Contenda de Moura. Também Noudar e Moura tinham um sistema de vizinhança no Campo de Gamos. Mas a presença de gado externo neste território não se devia só ao sistema de vizinhança. A existência, no século XV, do porto de Noudar645 e a indicação de derivações da canada leonesa para as proximidades do Guadiana646, deixam adivinhar uma importância também para os gados transumantes, vindos de territórios mais longínquos. Isso mesmo o demonstra a presença dos efetivos, chegando, o número de cabeças de gado castelhano na margem esquerda, a ser considerável. Nas cortes de Évora (1481-1482) os concelhos alentejanos queixam- se da presença de 50 ou 60 mil ovelhas de Castela647. A partir do século XV, os denominados pastores Sorianos, oriundos das montanhas de Leão e Castela, estão

641 Eduardo Romero, Miguel Rego, “El hábitat de la Edad del Bronce de Cerro de Forca (Barrancos,

Portugal)”, in Actas XV Jornadas del Património de la Comarca de la Sierra, Huelva, Diputación de Huelva, [D.L. 2001], p. 426.

642

Vitorino Magalhães Godinho, Portugal…, cit., p. 29.

643 Maria José Lagos Trindade, “Alguns problemas do pastoreio em Portugal, nos séculos XV e XVI”,

Do tempo e da história, IAC, Vol. 1, Lisboa, 1965, p. 123.

644 Maria José Lagos Trindade, “Alguns…”, cit., p. 123.

645 Humberto Baquero Moreno, “Relações marítimas e comerciais entre Portugal e a Baixa Andaluzia

nos séculos XIV e XV”, Revista de História – Centro de História da Universidade do Porto, Porto, vol. 12, 1993, p. 11.

646 Eduardo Galán Domingo; Marisa Ruiz-Gálvez Priego, “Rutas Ganaderas, transterminancia y

caminos antiguos: el caso del ocidente peninsular entre el calcólitico y la edad del hierro”, in Los

rebaños de Girión: pastores e trashumancia en ibéria antigua y medieval, Casa de Velásquez, 2001,

p. 268.

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presentes no Campo de Ourique648. Estes pastores chegavam ao seu destino, inicialmente através da Canada Real de Leão e posteriormente “derivavam para o Campo de Ourique, transpondo a fronteira portuguesa a sudoeste de Mérida”649

. Essa transposição da fronteira aconteceria algumas vezes na zona de Noudar, uma vez que a transumância castelhana é detetada na região pelo menos em meados do século XV quando Gomes da Silva, comendador e alcaide do castelo, atuava “facilitando incluso el pasto a ganados trashumantes castelhanos, a cambio del pago de derechos de pasto.”650

O território castelhano contiguo à fronteira portuguesa seria também recetor de rebanhos transumantes. A relação entre transumância e ordens militares é estreita tendo em conta que “as principais rotas transumantes tinham o seu términus em território pertencente a Ordens Militares.”651

Essa relação entre zonas de pastagens, transumância e a Ordem de Santiago652, poderia ser ainda mais estreita o que é confirmado, por exemplo, no Campo de Ourique. Então também do lado castelhano e aqui bem perto da fronteira, com centralidade em Jerez de los Caballeros, existindo vastos domínios da dita ordem, este seria território de transumância. Isto reforça a importância deste território para a passagem de gados. As fontes do território confirmam em parte a situação descrita quanto à importância pecuária da comenda. Desde logo, a existência dos contadores de gado, ainda que apenas para o século XV. Em 1484, D. João II dá carta a Diogo Vilelas como contador dos gados de Noudar653. Em 1491, o mesmo rei nomeia contador dos gados de Noudar, Gonçalo Saraiva depois de no mesmo ano haver dado carta aos moradores daquela vila sobre os pastos do gado654. Em 1496, é já D. Manuel que dá carta de contador dos gados a Diogo Vilhegas655.

Mas a vinda de gados para o território pode estar envolta nalgumas particularidades. Não obstante os estudos apontarem Noudar como uma entrada de gados castelhanos no Alentejo na época medieval, a verdade é que as fontes trabalhadas só nos mostram gado vindo das zonas serranas do centro/norte de Portugal. Em janeiro de 1700, morre, Francisco Fernandes, natural de Videmonte,

648

Francisco Nunes, O Livro da Câmara de Panóias. A estrutura agrária do Campo de Ourique nos

séculos XVII, XVIII e XIX, Edição de autor, 2002, p. 21.

649

Francisco Nunes, O Livro da Câmara…, cit., p. 21.

650 Maria Antonia Carmona Ruiz, “La explotacion…”, cit., p. 250. 651

Ana Fonseca, O Montado no Alentejo…,cit., p. 108.

652 Julieta Araújo, “Relações de fronteira…”, cit., p. 236. 653 Marta Páscoa, “Levantamento…”, cit., p.9.

654 Marta Páscoa, “Levantamento…”, cit., p.9. 655 Marta Páscoa, “Levantamento…”, cit., p.9.

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termo de Linhares, e então assistente com seu gado no Campo de Gamos, limite de Barrancos656. Num processo de habilitação do Santo Ofício, em 1774, um dos inquiridos, em Folgosinho, de seu nome “José Rodrigues capitão q por mtos annos foi com gados pª as p.tes do Alemtejo e a dª villa de Barrancos”657

. São estes os casos em que há referência à transumância de gados. Curiosamente os dois da zona da Serra da Estrela. A presença de serranos neste território deu-se, pelo menos, desde 1532, quando D. João III confirma o alvará para que os serranos e outros que pastem com seus gados em Noudar paguem em dinheiro e não em gado658. A relação com esta região também é percetível, na quantidade de naturais do antigo concelho de Linhares, que aparecem no termo de Noudar, nos séculos XVII e XVIII. Estará isto relacionado com antigos privilégios do tempo em que era comendador de Noudar o conde de Linhares?

Podemos concluir que durante o século XV o gado transumante que usa este território é castelhano, situação que se vai alterando para nos séculos XVI, XVII e XVIII ser já exclusivamente gado serrano a fazê-lo. Este câmbio coincide com a atribuição da posse da comenda à aristocracia, pelo que maior estabilidade e novos modelos de administração poderão estar relacionados com esta mudança.

Progressivamente e à medida que o povoamento se vai consolidando, a vinda de gados externos vai sendo substituída por rebanhos residentes. Exemplo deste processo pode ser o caso de Manuel Gomes Serranito, natural de Prados,

termo de Linhares, onde tinha bens. Está em Barrancos pelo menos desde 1749659.

Ao fazer testamento, a 24 de julho de 1777660, deixa a seus sobrinhos o seu efetivo pecuário composto por 80 ovelhas, 24 cabras e uma égua com crias661. Este natural do concelho de Linhares, que viria a morrer três dias depois, estava instalado em Barrancos há pelo menos 28 anos onde gozava de aparente prestígio social, uma vez que ao longo dessa permanência foi 29 vezes padrinho e testemunha de batismos e casamentos. Mas os serranos não aparecem apenas no papel de proprietários de gado. A sua perícia para o maneio dos animais faria deles pastores desejados. Em 1721 Gaspar Pires, residente em Figueiró da Serra, era assistente

656

ANTT, ADL, RP, Barrancos, Mistos, Lv 2, fl 4.

657

ANTT, TSO, habilitações, Jacinto, mç 07, doc 79, fl 11v.

658 Marta Páscoa, “Levantamento…”, cit., p. 9. 659

ANTT, ADL, RP, Barrancos, Mistos, Lv 4, fl 51v.

660

ADB, Cartório Notarial de Barrancos, Testamentos, Lv 1, fl 16.

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em Barrancos onde era maioral das ovelhas de Bento Rodrigues Gato662. Este último, natural de Safara, estava instalado em Barrancos. O facto de o seu maioral assistir em Barrancos e residir na Serra da Estrela significaria que lá se deslocava periodicamente? Se sim, poderemos então estar ainda perante uma prática de deslocação regular de rebanhos, mas neste caso originários do Alentejo, que rumariam no período estival a caminho da Serra? Esta é uma matéria que não cabe aqui aprofundar, mas sem dúvida de grande interesse.

O manifesto dos gados da alfândega de Moura663, de 1805, permite-nos conhecer melhor a dimensão dos efetivos pecuários. Nesse ano, nos meses de janeiro e fevereiro, foram matriculados os gados. Vinte e três moradores de Barrancos e três moradores de Noudar registam os seus gados. No total foram inventariados 5.593 cabeças de gado, 127 animais de trabalho e 16 equídeos.

Tabela 5 - Efetivo pecuário de Barrancos e Noudar em 1805.

Espécies Nº Espécies

Ovelhas 4086 Porcas de cria 111

Carneiros 335 Varrascos 8

Borregos 50 Porcos de alfeire 175

Carneiros de alfeire 100 Bácoros 103 Total de ovinos 4571 Total de suínos 397

Cabras 446 Vacas 74

Chibatos 17 Novilhos 33

Chibas 25 Bezerros 10

Chibos 20 Total de Bovinos

(exceto bois)

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