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2 A ABORDAGEM TEÓRICA

3.2 A composição dos dados

Para alcançar os objetivos elencados no esquema arbóreo identificado como “Árvore dos objetivos”, apresentado na Introdução deste trabalho, foi realizada pesquisa descritiva a partir de textos47 escritos do gênero “relato”, da tipologia do relatar, e do gênero “artigo de

opinião” da tipologia do argumentar, – o primeiro gênero encaixa-se no domínio interpessoal (MARCUSCHI, 2008) e o segundo gênero no domínio instrucional (MARCUSCHI, 2005) –, produzidos pelos alunos do 4º ciclo da EJA em atividades de sala de aula. Textos estes que tiveram sua produção solicitada sem especificar o verdadeiro intuito: a verificação de problemas quanto a estratégias de produção escrita em comparação a textos de gêneros da oralidade. Esse procedimento foi adotado com a intenção de evitar uma escrita “postiça”, não natural, uma vez que os alunos poderiam se sentir tolhidos de escrever, o que comprometeria

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A tipologia desses textos foi definida de acordo com as considerações de Scneuwly & Dolz (2004) e o gênero foi identificado de acordo com as considerações de Marcuschi (2005). A pesquisa precisou partir da produção textual, porque essa produção é o “ponto de partida (e ponto de chegada) de todo o processo de ensino/aprendizagem da língua. (...) é porque no texto que a língua se revela em sua totalidade (...)” (GERALDI, 2013, p. 135).

a observação e o estudo da presença dos traços da oralidade pertinentes nos seus textos escritos.

Na verdade a ocorrência acima, relacionada a problemas com a escolha de estratégias de textualização da escrita, já era perceptível na escrita dos alunos em várias atividades do dia a dia na sala de aula, por isso houve a necessidade de se buscar mais produções escritas desses alunos para que se compusesse o corpus da pesquisa e se pudesse engendrar um material didático na forma de um caderno pedagógico com a finalidade de confrontar o problema.

Para a produção dos textos do gênero “relato”, de base do narrar, após participarem de aula em que foram dadas orientações sobre as características básicas desse tipo de texto a partir de outros da mesma tipologia textual, a turma foi instruída a escrever conforme o seguinte comando, inspirado em uma prova de vestibular da UNICAMP do ano de 2002: Ser ou não ser, eis a questão.

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

Situações-limite são uma constante, tendo sido retomadas tanto pela literatura como pela sabedoria popular. Pensando nisso, escreva uma narrativa em primeira pessoa, na qual o narrador não seja o protagonista da ação. Considere os aspectos baixo, que constituirão um roteiro para sua narrativa, a qual pode corresponder a diferentes situações, como um drama familiar, uma questão de ordem psicológica, uma aventura etc.:

1. Uma situação problemática, de cuja solução depende algo muito importante;

2. Uma tentativa de solução do problema, pela escolha de um dos caminhos possíveis, todos arriscados: ultrapassar ou não ultrapassar uma fronteira;

3. Uma solução para o problema, mesmo que origine uma nova situação problemática. (retirado do site https://www.comvest.unicamp.br) Para a produção textual inicial do gênero “artigo de opinião”, os alunos foram expostos a um mote de textos igualmente da base do argumentar acerca de temática sobre o comportamento dos jovens na atualidade e possíveis resultados (bons e ruins) que estes podem obter a partir das escolhas que fazem. Em seguida, como já haviam sido orientados em aulas anteriores sobre as características básicas desse gênero de texto, foram solicitados a discorrer, conforme o estudado, respondendo à seguinte pergunta: “que consequências a

falta de compromisso e de responsabilidade dos jovens pode trazer a eles na idade adulta?”.

Os gêneros selecionados para a produção nesta primeira etapa da pesquisa tiveram sua escolha justificada por características de que ambos dispõem, como a de serem gêneros escritos formais que, por poderem expressar subjetividade, talvez causassem conflitos quanto ao uso de estratégias de produção textual, nessa modalidade, devido à aproximação com a textualização de gêneros orais. Em outras palavras, o gênero escrito “relato”, sendo um gênero de domínio interpessoal, arrisca-se a ser confundido com relatos orais informais, mais próximos da conversação espontânea. E o gênero escrito “artigo de opinião”, por permitir o posicionamento pessoal do escritor, também se arrisca a ter suas estratégias de textualização confundidas com as estratégias da oralidade informal.

Gêneros textuais, como os selecionados para a verificação das estratégias de textualização empregadas pelos alunos na escrita formal, tiveram sua relevância diante da possível necessidade de confrontação de gêneros orais e escritos, conforme se suspeitava a partir da observação, em atividades do dia a dia, da escrita dos alunos do quarto ciclo da EJA.

A produção textual de ambos os gêneros foi solicitada apenas como uma produção inicial para verificação da ocorrência ou não de traços orais na escrita desses alunos. Com isso, pretende-se justificar a falta de motivação para a escrita nesse primeiro momento, ou seja, os alunos não receberam um motivo real de uso da escrita (uma situação de comunicação ou a simulação de uma) quando foram orientados a produzir. Essa escrita não tinha finalidade para eles, como, por exemplo, escrever sobre determinado tema direcionando a escrita a um público específico, com finalidade específica.

Os gêneros textuais produzidos pela turma, para a composição do corpus da pesquisa, são considerados gêneros escritos em que deve predominar o uso formal da língua, uma vez que, se tiverem seus enquadres observados na distribuição de gêneros textuais de Marcuschi (2005), serão encontrados entre os gêneros mais próximos dos textos prototípicos da escrita. Isso possibilita concluir que eles devem primar pelo emprego de linguagem formal, mais monitorada, pois se trata de gêneros usados em situações de comunicação mais formais nas quais, portanto, deve-se evitar o emprego de estratégias de produção textual típicas da oralidade espontânea.