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1.3) A COMUNICAÇÃO POSSUI POSTULADO CIENTÍFICO

O PAPEL FORMADOR DO JORNALISMO CIENTÍFICO

1.3) A COMUNICAÇÃO POSSUI POSTULADO CIENTÍFICO

É necessário lembrar que os pressupostos científicos da Comunicação nascem em meados do século XIX, com o surgimento do interesse de pesquisadores pela nascente comunicação de massas, que despontava através do surgimento da periodicidade dos jornais impressos, telefonia, telégrafos, fotografia, quadrinhos e do cinema. Os historiadores da Comunicação Social (MATTELART, 1999, p. 13, 29 e 57) apontam pelo menos três escolas teóricas que contribuíram para fundamentar o lastro da comunicação, e do jornalismo, enquanto atividades científicas.

Evidente que a Comunicação Social possui outras vertentes e teorias, mas analisaremos estas três, pois foram pioneiras no desenvolvimento destes postulados científicos.

A primeira vertente intitulada Organismo Social introduz nas preocupações das reportagens e nos estudos da Comunicação dispositivos e disciplinas que organizam; que avaliam o comportamento das massas, suas tendências e hábitos em sociedade. Tal viés aplicado em estudos jurídicos e sociológicos também influenciariam as primeiras noções de comunicação que elegeram um receptor de informações padrão, capaz de assimilar as mensagens dos meios de comunicação de massa.

Seus principais expoentes foram Saint Simon (1760-1825) que defende a concepção da sociedade como um sistema orgânico, justaposição ou tecer de redes, mas também como sistema industrial gerado pelo alvorecer da revolução Industrial; Herbert Spencer (1820-1903), engenheiro ferroviário que promove uma reflexão sobre a comunicação como um sistema orgânico. Sua Fisiologia Social leva ao extremo a hipótese de continuidade entre a ordem biológica e a ordem social; Friedrick Ratzer (1844-1904) por sua vez, lança as bases dos estudos geográficos e políticos à luz da Comunicação, assim como as noções do

espaço e do território; e por fim, Adolphe Quételet (1796-1874) que fundou em 1835 esta nova ciência da mensuração social batizada de física social. Ele funda a estatística das massas, que analisa dispositivos de controle estatísticos dos fluxos judiciários e demográficos.

A segunda vertente é a chamada Escola de Chicago. Seu enfoque microsociológico na organização das comunidades urbanas harmoniza-se com a reflexão sobre o papel da ferramenta científica na resolução dos grandes desequilíbrios sociais7. Seu principal expoente foi Robert Ezra Park (1864-1944). Autor de uma tese de doutorado sobre a massa e o público em 1903, ele transforma sua prática de jornalista e concebe como forma superior de reportagem, as pesquisas sociológicas que irá realizar nos bairros da periferia de Chicago. Vê o fundamento psicológico da personalidade urbana na intensificação do estímulo nervoso e na locomoção.

Outros expoentes desta vertente foram Charles Horton (1864-1929) que estudou o impacto organizacional dos transportes. Ele usa pela primeira vez a expressão grupo primário para designar os grupos que se caracterizam por uma associação e cooperação íntimas entre si, e por fim, Harold Lasswel (1902-1970) criador das análises de controle e conteúdo, e análise das mídias e dos suportes. A audiência é usada como um alvo que obedece aos esquemas de estímulo e resposta. Segundo Lasswel, o processo de comunicação cumpre com três funções principais na sociedade: “vigilância do meio; relações que produzem respostas ao meio e transmissão da herança social” (MATTELART, 1999, p. 13, 29 e 57).

Por último não poderia deixar de ser citado a Teoria Matemática da Informação. A partir do final dos anos 40, esta teoria ocupa um papel central nas pesquisas sobre Comunicação Social. Com base nas máquinas de comunicar resultantes da guerra, a noção de informação adquire seu estatuto de símbolo calculável. Em 1948, o matemático e engenheiro elétrico americano Claude Shannon publica uma monografia intitulada Teoria

Matemática da Informação, no âmbito da empresa de comunicação AT&T (existente até hoje). Shannon propõe um sistema geral de comunicação. O problema da comunicação consiste, segundo ele, em reproduzir em um ponto dado, de maneira exata ou aproximada, uma mensagem selecionada em outro ponto. Através desta gênese histórica provamos que a comunicação possui postulado científico. Mas, existe uma compartimentalização das ciências da Comunicação chamada de Jornalismo, voltada à apresentação de informações destinadas às comunidades consumidoras de produtos midiáticos. Neste sentido caberia indagar então, o Jornalismo é uma técnica ou uma ciência?

Em entrevista a este autor (ver texto completo no Anexo A), o professor de comunicação da cátedra da Unesco, José Marques de Melofoi mais específico: afirmou que o jornalismo - uma compartimentalização da comunicação - não é mera técnica:

É sim uma forma de conhecimento, de acordo com o conceito de Robert Park. Trata-se de uma categoria comunicacional fundamental para a educação coletiva, na medida em que faz a mediação constante entre os indivíduos que constituem uma sociedade e os acontecimentos cotidianos (MELO, 2002).

Mas como trabalhar no jornalismo a diferença que existe entre a produção de conhecimento e a divulgação da informação? Segundo José Marques de Melo, o conhecimento representa o acervo cultural que os indivíduos e as sociedades acumulam durante sua trajetória histórica.

A informação é o nutriente desse acervo, acrescentando novos elementos ao patrimônio cognitivo ou reciclando os conteúdos já estocados na memória individual ou coletiva. O jornalismo impresso, da mesma forma que as outras modalidades de jornalismo, difundem as informações que alimentam o acervo cognitivo dos leitores ou das comunidades em que serão inseridos (MELO, 2002).

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A hegemonia dessa escola dura até a 2a Guerra Mundial. Nesta época surge a Mass Comunication Research, cujo esquema de análise funcional desloca a pesquisa para medidas quantitativas, mais aptas a responder a exigência proveniente dos administradores da mídia.

Mas de que maneira o texto jornalístico poderia sair da superficialidade e atingir um grau maior de formação científica do leitor? Segundo Melo (2002), a complexidade do texto jornalístico depende essencialmente do repertório do público leitor a que se destina. Será um texto superficial se dirigido a uma audiência heterogênea, caracterizada por leitores que detêm exígua bagagem cultural, mas poderá ser um texto mais denso se dirigido a um segmento letrado, intelectualizado. “A demanda por textos aprofundados, na forma e no conteúdo, depende fundamentalmente da melhoria do nível de escolaridade das comunidades a que se dirigem os jornais e revistas” (MELO, 2002).

Na opinião do pesquisador, publicar textos sofisticados para uma audiência dotada de “baixa estatura” intelectual significa bloquear o processo comunicativo, pois o código será ininteligível. Indagado sobre como os jornalistas deveriam se portar diante do intuito de melhor informar o leitor, José Marques de Melo lembrou que existem categorias distintas de jornalismo:

Se eles praticam o jornalismo informativo devem ser fiéis à natureza do gênero e corresponder à expectativa do leitor, oferecendo ampla e acurada descrição dos fatos, a partir de distintos ângulos noticiosos, garantindo-lhe liberdade de formular seu próprio ponto de vista. Se ele pratica o jornalismo opinativo, cabe ao jornalista o direito de emitir seu próprio ponto de vista, que estará sempre vinculado à assinatura que apõe à matéria difundida (MELO, 2002).

Na sua opinião, os leitores tendem a formar seus mecanismos de avaliação dos fatos, combinando informações fidedignas (notícias, reportagens, entrevistas) com opiniões dotadas de credibilidade (artigos, comentários, editoriais, resenhas, colunas etc).

Segundo Bougnoux (1999), as disciplinas da comunicação merecem o título de ciências, embora existam alguns critérios a serem analisados. Pois se nós entendermos por ciência uma unificação dos fenômenos pela formulação de leis, como exigia d’Alembert, as

Ciências da Informação e Comunicação (CIC) possuem um objeto que mantém uma relação pragmática entre sujeito e sujeito, prestando-se a uma elaboração difícil e rigorosa. Em contrapartida, as ciências sociais já constituídas propõem um cruzamento de suas problemáticas, ou uma ampliação de suas curiosidades, circulando entre as razões locais da semiologia, da psicologia social, da história ou da informática.

Para concluir o assunto, registramos o desenvolvimento histórico dos conceitos sobre conhecimento. Segundo Marilena Chauí (1994) existem duas correntes formais que tentaram definir a natureza do ato de conhecer. A primeira tem início com Platão, pois o filósofo acreditava no afastamento da experiência sensível - ou o conhecimento sensível - do conhecimento verdadeiro, que é puramente intelectual. Séculos depois, Descartes se aliaria a este ponto de vista, denominado posteriormente de Racionalismo.

Aristóteles discordava. Ele considerava que o conhecimento se realizava por graus contínuos, partindo da sensação até chegar as idéias. Séculos depois, Locke também seria partidário desta concepção que se denominou de Empirismo (CHAUÍ, 1994. p. 117).

Para o Racionalismo, a fonte do conhecimento verdadeiro é a razão operando por si mesma, sem o auxílio da experiência sensível. Para o Empirismo, a fonte de todo e qualquer conhecimento é a experiência sensível, responsável pelas idéias da razão. A partir destas reflexões na modernidade que se inaugura o que a filosofia chama de Teoria do Conhecimento.

Existem, contudo, outras classificações que podem ser feitas, se levarmos em consideração a História da Pedagogia. Segundo LUCKESI (1990, p. 30) e SEVERINO (1994, p. 54) cada escola, ou tendência da Educação, desenvolveu um conceito próprio do que poderíamos chamar de conhecimento. Listamos abaixo as definições mais conhecidas.

a) Tradicional – O conhecimento é o produto da incorporação de informações sobre o mundo. Essas informações, acumuladas ao longo dos tempos, compõem a herança cultural que deve ser transmitida aos indivíduos através da educação formal;

b) Escolanovista – O conhecimento é um instrumento social, devendo ser considerado em construção contínua. No processo de aquisição do conhecimento, a ação é primordial, o que significa que o conhecimento é essencialmente ativo;

c) Tecnicista – A experiência ou experimentação planejada é à base do conhecimento. O conhecimento é uma “descoberta” que é nova para quem a faz, porém, o que foi descoberto já se encontrava presente na realidade exterior.

d) Progressista – O conhecimento é uma atividade inseparável da prática social, resultando de trocas que se estabelecem entre o sujeito e o meio natural, social e cultural. O conhecimento não se baseia no acúmulo de informações, mas sim numa reelaboração mental que deve se traduzir em forma de ação, sobre o mundo social.

Para encerrar esta questão, devemos lembrar que na história da humanidade existiram inúmeras maneiras de classificar o conhecimento, a exemplo do conhecimento mitológico baseado em explicações simbólicas ou o conhecimento teológico, baseado em análises naturais ou supranaturais, levando em consideração revelações proféticas, práticas contemplativas, etc. Também podemos citar o conhecimento popular produzido através do senso comum e dos ícones e manifestações de sua cultura (folguedos, festas e tradições) e o conhecimento filosófico que é uma tentativa de explicar a realidade de maneira global, levando em consideração o desenvolvimento de análises epistemológicas (episteme, ciência, o que significa estudo do conhecimento científico do ponto de vista crítico, isto é, do seu valor; também chamada de Teoria do Conhecimento).

1.3.1) DIFERENÇA ENTRE OS CONCEITOS DE INFORMAÇÃO E