• Nenhum resultado encontrado

1.2) DIFUSÃO CIENTÍFICA: A DIFERENÇA ENTRE JORNALISMO CIENTÍFICO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

O PAPEL FORMADOR DO JORNALISMO CIENTÍFICO

1.2) DIFUSÃO CIENTÍFICA: A DIFERENÇA ENTRE JORNALISMO CIENTÍFICO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Existe um antagonismo histórico entre os conceitos de Divulgação Científica e Jornalismo Científico. O primeiro termo geralmente é designado aos grupos de cientistas e pesquisadores acadêmicos que trabalham com a propagação de informações científicas, mas que não são formados em Comunicação Social. Já a expressão Jornalismo Científico geralmente é designada aos profissionais da informação (repórteres, editores) que trabalham em veículos especializados. Segundo Wilson Bueno - primeiro jornalista brasileiro a obter título de Doutor em Jornalismo Científico em 1983 - as duas terminologias estão subordinadas a um conceito mais amplo, por ele intitulado de Difusão Científica. “O termo é um gênero que inclui a divulgação, disseminação e o jornalismo científico propriamente dito” (ZAMBONI, 2001, p. 46).

O conceito de Difusão Científica inclui maior amplitude e abarca os periódicos especializados, os banco de dados, os sistemas de informação acoplados aos institutos e centros de pesquisa, os serviços de alerta das bibliotecas, as reuniões científicas, as seções especializadas das publicações de caráter geral, as páginas de ciência e tecnologia dos jornais e revistas e os programas científicos de rádio e TV, além do cinema. Segundo Zamboni (2001, p. 46), o conceito do professor Bueno é dividido em: Difusão para Especialistas e Difusão para o Público em Geral, concluindo-se que a linguagem do noticiário muda, de acordo com o público específico.

Quando a difusão é voltada aos especialistas, ocorre uma disseminação científica. Quando é voltada ao público, se classifica como divulgação científica.

A disseminação científica comporta ainda dois níveis: disseminação

intrapares (circulação de informações científicas e tecnológicas entre

especialistas de uma área ou de áreas conexas) e disseminação extrapares (para especialistas que se situam fora da área-objeto). No primeiro tipo de disseminação, Bueno identifica as seguintes características: a) público especializado; b) conteúdo específico e c) código fechado, estando ela representada nas revistas especializadas ou nas reuniões científicas orientadas pelo limitado universo de interessados. Como exemplo da

Disseminação Extrapares, Bueno cita revistas especializadas ou cursos de

especialização endereçados a categorias profissionais distintas. (ZAMBONI, 2001, p. 46-7).

Pode se concluir então que, segundo Wilson Bueno, a Divulgação Científica e o Jornalismo Científico não são campos antagônicos, mas complementares, porque ambos estão voltados para o público em geral, segundo a sua classificação. Iremos trabalhar com este conceito nesta dissertação, por acreditarmos que ele seja mais abrangente.

Não podemos esquecer de citar que existem elementos imprescindíveis para a formação do emissor e do receptor em ciências, a exemplo dos livros didáticos, as aulas de ciência, os cursos de extensão para não-especialistas, as histórias em quadrinhos, os suplementos infantis, os folhetos de extensão rural e de campanhas educativas, além do trabalho das grandes editoras, documentários e programas especiais de rádio e televisão. O Jornalismo Científico é um gênero específico, e possui uma linguagem própria de decodificação das notícias, constituindo uma categoria à parte. “O Jornalismo Científico diz respeito à divulgação da ciência e tecnologia pelos meios de comunicação de massa, segundo os critérios e o sistema de produção jornalísticos” (ZAMBONI, 2001, p. 46-7). Podemos concluir, por outro lado, que nem tudo o que é publicado nos veículos de comunicação especializados é ciência propriamente dita.

É possível encontrar, nos meios de comunicação de massa, onde se manifesta a atividade jornalística, textos, artigos ou materiais sobre temas de ciência e tecnologia que podem não ser considerados Jornalismo Cientifico, exatamente porque não são, em princípio, jornalismo. Estranho? Nem tanto:

publicidade e não, jornalismo. Repetindo a lição: nem tudo que fala sobre ciência e, está escrito em jornais ou revistas é Jornalismo Científico. Outro exemplo: uma coleção de fascículos sobre história da ciência e da tecnologia, encartada num jornal ou revista, não se constitui em exemplo de Jornalismo Científico. Ela está localizada no campo da editoração, que é outra coisa (ZAMBONI, 2001, p. 46-7).

Zamboni (2001) lembra que Divulgação Científica e Jornalismo Científico não são a mesma coisa, embora estejam muito próximos. Ambos se destinam ao chamado público leigo, com a intenção de democratizar as informações (pesquisas, inovações, conceitos de ciência e tecnologia), mas a primeira não é jornalismo. É o caso, tanto dos fascículos como de uma série de palestras que traduzem em linguagem adequada a ciência e a tecnologia para o cidadão comum. Assim como os fascículos, as palestras não se enquadram dentre os gêneros do Jornalismo. Segundo a pesquisadora, o Jornalismo Científico é um caso particular de Divulgação Científica: é uma forma de divulgação endereçada ao público leigo, mas que obedece ao padrão de produção jornalística.

O Jornalismo Científico, que deve ser em primeiro lugar Jornalismo, depende estritamente de alguns parâmetros que tipificam o jornalismo, como a periodicidade, a atualidade e a difusão coletiva. O Jornalismo, enquanto atividade profissional, modalidade de discurso e forma de produção tem características próprias, gêneros próprios e assim por diante. Já tivemos suplementos de ciência nos jornais que eram produzidos por cientistas e pesquisadores, nem um pouco comprometidos com o Jornalismo. Simplesmente, eram reproduzidos nos jornais e revistas textos ou ensaios inéditos ou já apresentados em congressos científicos, quase sempre inacessíveis ao leitor comum (ZAMBONI, 2001, p. 46-7).

BUENO (2004)6 diz ainda que o JC não abrange só as chamadas ciências duras - física, química, biologia - mas também inclui as ciências humanas (Educação, Sociologia, etc.) e que, em virtude da especialização destas áreas, tem assumido denominações particulares, como o Jornalismo

6

Ambiental, o Jornalismo Agrobusiness, o Jornalismo em Saúde, o Jornalismo Econômico, o Jornalismo em Informática etc. Na prática, no entanto, todas estas manifestações específicas remetem ao Jornalismo Científico, entendido aqui como o termo genérico, mais abrangente, submetido às atividades e vicissitudes da produção gráfica e editorial.