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CAPÍTULO III – REGULAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO PARA AS

4.2. A comunidade Coqueiral: um espaço de organização social em

O Coqueiral é um loteamento localizado na zona norte de Aracaju-SE, próximo ao conhecido Morro do Urubu, onde está o Parque da Cidade, entre os bairros Portos Dantas e Japãozinho, dentro de uma área de preservação ambiental de mata Atlântica, com manguezais em processo de destruição provocada pela ocupação popular de forma desordenada e, por não possuir infra- estrutura básica é considerado um assentamento precário. O nome atribuído a este loteamento se deve aos inúmeros coqueirais alí existentes, isso há mais de 15 (quinze) anos atrás.

. No Cadastro Único da Assistência Social – CADUNICO, realizado pela Secretaria Minicipal de Assistência Social e Cidadania – SEMASC (2007), existem 1.750 famílias residentes, dentre essas 605 famílias, número correspondente a aproximadamente 35%, são contempladas com benefícos oriundos da política nacional de assistência social (Bolsa Família, PETI, Criança Cidadã e PAIF). A renda da maioria das famílias varia entre R$ 60,00 e R$ 120,00 evidenciando a situação de dificuldade da população local, onde a falta de recursos financeiros mínimos para uma sobrevivência digna exige da municipalidade mais intervenção pública, no sentido de reduzir as desigualdades.

Apesar da subsistência básica precária, a maioria das residências são próprias (64%) ou invadidas (21%) e o restante do percentual se divide entre os cedidos, alugados e arrendamento, a rede pública de abastecimento de água e de iluminação pública são deficientes. Muitos problemas assolam a referida comunidade, tal qual a falta de saneamento básico que contribui para situações insustentáveis, com ruas alagadas em épocas de chuva, fazendo residentes e transeuntes conviverem com o mau cheiro e a sujeira acumulada nos esgôtos a céu aberto, a falta de iluminação em algumas ruas provoca medo na população, muito carente do serviço de segurança pública; e também a inexistência de locais destinados ao lazer. Esses dados sobre a situação da comunidade, contido no Plano de Trabalho, do segundo relatório 2007 da SEMASC, demonstra a situação de precariedade em todos as áreas da referida localidade.

Os trabalhos sociais existentes na localidade, segundo o relatório 2007 SEMASC, são desenvolvidos de diversas formas: a Unidade de Saúde da Família Eunice Barbosa de Oliveira presta serviços básicos de saúde com uma equipe de 02 médicos clínico-geral, 01 médico pediatra, 01 médico genicologista, 02

odontólogos, 02 enfermeiros, 09 agentes de saúde, 02 auxiliares de enfermagem, 06 funcionários administrativos, 01 assistente social e 02 equipes do Programa de Saúde da Família; que promove palestras educativas sobre saúde e cidadania, visando contribuir para redução do alto indice de alcoolismo e depressão decorrentes do desemprego; o Centro Social Santa Terezinha, mantido pela Igreja Católica presta serviço de educação pré-escolar; o Centro de Referência da Assistência Social – CRAS, órgão ligado à Secretaria Municipal de Assistência e Cidadania, é responsável pela execução de serviços de proteção social básica e especial, organização e coordenação da rede local de serviços sócio-assistenciais da política de assistência, com profissionais (assistente social, psicólogo, educador social, etc) de áreas diversificadas que atuam no fortalecimento do vínculo familiar, através de programas como PETI, PROJOVEM-Adolescente, Grupos de Convivência, Inclusão Produtiva, além dos programas de transferência de renda promovidos pelo governo federal. Convém salientar que o número de profissionais existentes nessas unidades pode variar para mais ou menos.

Na área da educação existem duas escolas: o Colégio Estadual Senador José Alves do Nascimento com os ensinos fundamental e médio, com mais de mil alunos matriculados nos três turnos entre jovens e adultos; a Escola Municipal Etelvina Amália de Siqueira tem capacidade para atender mais de 300 (trezentas) crianças na faixa etária de 04 a 06 anos; a Creche Municipal Berenice Campos, que atende crianças de meses até 05 (cinco) anos de idade, possui serviço de berçario e pré-escola.

Quanto à situação de renda da população local não é das melhores, pois é formada por maioria de desempregados e de trabalhadores informais autônomos (catadores de lixo, carroceiros, diaristas, comércio ambulante, etc), pequenos comerciantes e outros dependentes de programas de transferência de renda.

As famílias contam com uma composição familiar média de 04 a 05 filhos e há baixo nível de escolaridade, pois mais de 70% não concluiram o ensino fundamental (1ª a 9ª série) e os demais sequer são alfabetizados, demonstrando o grau de dificuldade para ascensão social e profissional.

Esta comunidade foi beneficiada com recursos federais na ordem de R$ 30.000.000,00 trinta milhões do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC para realização de obras de saneamento e construção de casas populares,

conforme constatação na comunidade e em matéria veiculada em 16.06.09 no site da prefeitura.

No Coqueiral, serão aplicados até o ano que vem cerca de R$ 30 milhões em terraplanagem, recapeamento da avenida Euclides Figueiredo, drenagem, pavimentação, saneamento, abastecimento de água e construção de 600 casas populares. A Prefeitura de Aracaju já concluiu o recapeamento da avenida Euclides Figueiredo e de parte da terraplanagem da área. O Governo do Estado, por sua vez, também já começou a etapa de construção das moradias.

O objetivo da Prefeitura é investir os recursos do PAC em áreas tradicionalmente esquecidas pelo poder público", destacou Paulo Costa. Para se ter uma idéia da grandiosidade do empreendimento, serão pavimentados 15,5 km de ruas, num total de 116 vias, e recapeados 6,1 km da avenida Euclides Figueiredo; colocados 5.200 metros de tubos para drenagem e mais 15 mil metros de tubulação de esgoto. Das 600 famílias contempladas com residências, cerca de 220 são oriundas de áreas de risco (www.aracaju.se.gov.br acesso em 27 de setembro de 2009)

FIG. 5 - Construção de 600 casas no Coqueiral Foto: www.aracaju.se.gov.br. Acesso em 27.09.09

É fato que a região foi beneficiada com os recursos federais do PAC (FIG. 5), contudo muitos questionam o uso dos R$ 30.000.000,00 a exemplo de alguns entrevistados que apresentaram desconfiança quanto ao efetivo uso do referido valor nas obras, contradizendo a matéria acima descrita, divulgada na imprensa, através da internet.

Mas, apesar do site oficial da prefeitura divulgar a celeridade dos trabalhos em relação às obras do PAC no Coqueiral e a fluente atividade social da

prefeitura, encontram-se na imprensa também informações diversas que denunciam a situação de precariedade da comunidade e da pouca celeridade das referidas obras, as quais puderam ser constatadas quando da efetivação desta pesquisa, nas diversas idas ao bairro, pois apesar do grande valor divulgado para as obras, não presenciei grande atividade de obras no local.

Em Sergipe foi criada uma comissão formada por deputados estaduais, tendo como integrantes deputados do PSC e do DEM, partidos que não estão na base aliada do governo. A matéria publicada em 31/08/09 pelo site oficial da Assembléia Legislativa de Sergipe, transcreve parte da fala do deputado estadual Augusto Bezerra (DEM) na tribuna sobre as obras do PAC.

Segundo os deputados da oposição, consta no relatório de ações do PAC que o governo federal já liberou mais de R$ 31,6 milhões para a realização de serviços no bairro. Durante a exibição do vídeo-reportagem, Augusto Bezerra relatou para todos o que ele entende por descaso do poder público municipal e estadual, com ruas esburacadas e cheias de lama, sem saneamento básico e sem condições do tráfego de veículos, e com um acúmulo grande de lixo.

“O cenário que nós presenciamos foi desolador! Talvez seja por isso que a ministra Dilma Rousseff (PT) – pré-candidata à presidência da República, não chega nem a 10% das intenções de voto em Sergipe. A Comissão agora vai convidar o presidente da Deso porque a Prefeitura de Aracaju culpa da Companhia pelo atraso no início das obras no Santa Maria e Coqueiral. A Deso, por sinal, culpa as empreiteiras, que alegam não poder fazer o serviço porque não receberam a ordem de serviço. As imagens exibidas aqui são fortes e alguém tem que assumir a responsabilidade pela falta de saneamento básico no Coqueiral e no Santa Maria”, comentou o democrata (www.agenciaalese.se.gov.br acesso em 27 de setembro de 2009).

As denúncias, como as acima transcritas, feitas na tribuna da assembléia legislativa de Sergipe, conveniente aos opositores da base aliado do governo, não têm chegado à comunidade, restringindo-se a bate- bocas e discussões entre os membros da casa. E esta prática isolada, sem a interferência da comunidade que está sofrendo diretamente com as

irregularidades apontadas, não é suficientemente forte para pressionar as autoridades públicas, promotoras das obras denunciadas. Infelizmente, a distância entre os deputados que em sua maioria aparecem nas comunidades somente próximo ao período eleitoral, não agem na busca de manter um elo de relacionamento com seus representados.

A nenhuma ou quase nenhuma presença dos representantes do povo na comunidade Coqueiral não influi para estagná-la. Desde 1998, conforme informações colhidas nas entrevistas, o Coqueiral tem passado por um processo de mudança para tornar mais digna a situação dos moradores. O poder público e os líderes comunitários envolvidos nas lutas têm interferido para isso, mesmo com os antagonismos e interesses diversificados existentes dentro da própria comunidade. Segundo um dos entrevistados, a situação era muito mais precária do que hoje, mas poderia ser bem melhor se as lideranças se unissem.

Na época, o objetivo da entidade foi primeiramente para brigar pelas questões daqui do Coqueiral, não tinha água, não tinha luz, não tinha nada. [...] E aí como existiam outras lideranças aqui do Coqueiral, em vez dessas lideranças se somar pra poder brigarmos juntos, simplesmente elas se rachavam,brigavam entre si, e o Coqueiral ficou esquecido do poder público [...] porque quem vinha pra cá sempre contrariava as outras lideranças: vinha uma assistente social aqui, pra fazer um cadastro da comunidade, e o que é que acontecia...? Eles brigavam porque não era para a assistente social não fazer o cadastro porque veio através de outra associação, queria que viesse através da dele. (A.F.S, membro da Associação Comunitária Loteamento Coqueiral entrevistado em 19.09.09)

As lutas de poder para obtenção de conquistas por interesses individuais ou coletivos não só existem dentro dos parlamentos, ou entre os partidos, mas também estão presentes no seio da sociedade civil, entre os grupos organizados ou entre os próprios cidadãos, que muitas vezes se utilizam de instrumentos prejudiciais à sociedade apontando os erros e fatos negativos de outros, mesmo que isso possa prejudicar o interesse coletivo. É óbvio que numa democracia é importante se ter a garantia da liberdade de expressão, contudo, ela não pode

ferir direito alheio, tampouco se sobrepor ao interesse da coletividade, como acontece no Coqueiral de acordo com relatos colhidos nas entrevistas.

As mudanças vêm acontecendo no Coqueiral e a participação do poder público e da sociedade civil nesse processo comprova que ambos são imprescindíveis ao progresso e ao avanço social onde todos tenham o mínimo necessário a uma existência digna. E isso, passa necessariamente pelo conhecimento dos direitos que têm os cidadãos, inclusive em relação às contratações públicas, conforme adiante se aponta.

4.3. Uma Experiência de Participação em Contratações Públicas no

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