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A Concentração e a Contiguidade

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1. CAPÍTULO 1: CONCEITOS E ELEMENTOS FORMADORES DO MEIO

1.3. O ORDENAMENTO TERRITORIAL

1.3.3. A Concentração e a Contiguidade

O período colonial da ocupação do território brasileiro foi marcado pela oposição de duas fases bem características na política urbanizadora. Num primeiro momento, o objetivo dos aglomerados urbanos era defender a soberania portuguesa

e cumprir minimamente as funções politicoadministrativas, constituindo-se uma fase de dispersão. Nessa fase, a população estava dispersa pelas áreas de produção agrícola e ³RV SURSULHWiULRV UXUDLV SRVVXtDP FDVDV QDV YLODV H FLGDGHV, mas habitavam regularmente nos engenhos e só frequentavam os núcleos urbanos em RFDVL}HVHVSHFLDLV´ 5(,6),/+2S91).

Posteriormente, com o incremento de atividades comerciais e industriais, a economia do país transformou os núcleos urbanos e deu início a uma fase de concentração. Nesses núcleos a vida social e cultural começava a se alterar, como resultado do desenvolvimento da política de urbanização, disponibilizando para a população novos serviços e equipamentos e centralizando todas as funções urbanas, o que se estendeu por toda a colônia, especialmente o litoral.

Quanto mais próximos estiverem os homens, o desperdício de energia é menor. Portanto, a questão da mobilidade urbana também é fundamental e influencia a identidade de uma população, desde as suas raízes culturais, pois, nos SULPyUGLRV GD RFXSDomR GR WHUULWyULR EUDVLOHLUR FRPR DILUPD /HPRV ³DV JUDQGHV distâncias e a precariedade dos caminhos transformou a hospitalidade numa REULJDomRVRFLDOQXPDTXHVWmRGHVREUHYLYrQFLD´ S 

É da natureza humana também se unir para se auxiliar, adaptando-se aos múltiplos cenários, mas nem só de sentimentalismos o homem sobrevive. Assim, a cidade deve ser palco das mais diversas possibilidades de cooperação entre a comunidade, muito embora os motivos econômicos ainda prevaleçam aos sociais para determinar a concentração de uma determinada população numa área qualquer.

Hoje, também o pânico e a violência estão dispersos pela cidade. É bom lembrar que o homem tem um instinto de se agrupar para se defender, estabelecendo uma relação de interdependência com os demais membros de sua própria espécie e o ambiente em que vivem. Portanto, seja num carro, numa casa, num bairro ou numa cidade, o homem deseja se proteger contra as manifestações climáticas e contra a violência urbana.

Nesse contexto, Le Corbusier tratou da dicotomia entre a cidade compacta e a cidade espraiada, já na década de 1940, com a conclusão do seguinte pensamento:

em oposição a essa grande dispersão de pânico, cumpre lembrar uma lei natural: os homens gostam de agrupar-se para se ajudar mutuamente, se

defender e economizar esforços. Quando se dispersam, como atualmente, nos loteamentos, é que a cidade está doente, hostil e não cumpre mais seus deveres (1984, p. 12).

Portanto, a concentração humana leva em conta esses fatores de mobilidade, cooperação e proteção ao intentar o domínio e a ocupação de um território. No trânsito ou nos edifícios, dentro ou fora dos muros, as atividades humanas devem ser condicionantes durante a fase de pesquisa e elaboração dos projetos urbanos para estabelecer políticas públicas condizentes com o ordenamento do espaço.

A segunda metade do século XX foi marcada pelo espraiamento das cidades brasileiras e o aumento dos vazios urbanos em suas áreas periféricas. Isso contribuiu para a segregação social da população que ocupava essas áreas porque, incrustadas nos limites da cidade, estavam desprovidas de benfeitorias. A ausência de políticas públicas específicas justificava-se pelo alto custo de implantação dessas obras, bem como dificultava os projetos habitacionais populares nessas áreas distantes dos centros mais urbanizados.

Em função desse espraiamento que invade o espaço rural, as cidades enfrentam grandes problemas de ordem física, social e econômica, pois, menos concentração nas cidades denotam maiores investimentos em infraestrutura e equipamentos comunitários. Embora os interesses coletivos objetivem a compactação da área urbana, os anseios especulativos individuais demonstram que ³R OXFUR QmR HVWi HP PDQWHU DR [o] espaço rural tal como está, mas em torná-lo mercadoria que se realizará com muito mais eficácia se for incorporada ao espaço urbano´ 02YSÉS, 2008, p. 125-126).

Priorizar a compactação das cidades por meio do aproveitamento máximo da ocupação dos vazios urbanos é um mecanismo de adensamento das áreas que já receberam infraestrutura e equipamentos comunitários, importantes benfeitorias de uso coletivo. Em determinadas áreas centrais da cidade, o zoneamento e as legislações específicas de incentivo à verticalização são alguns dos principais instrumentos nesse processo que objetiva o planejamento urbano de uma cidade.

Um país, como o Brasil, que concentra mais de 80% de sua população nas áreas urbanas dos municípios e apresenta dezenas de regiões metropolitanas, incluindo nelas megacidades como São Paulo e Rio de Janeiro, demonstra a clara vocação de um país urbanizado. Contudo, a concentração intraurbana dos

municípios ainda é caracterizada pela descontinuidade espacial e as aglomerações humanas resultam em bolsões espraiados no território.

Pode ser considerado descontínuo um território que se liga a outro território por meio de acessos ou áreas, constituindo-se uma rede de núcleos interligados. Tartaruga DILUPD TXH ³RV WHUULWyULRV SRGHP VHU FRQWtQXRV RX GHVFRQWtQXRV 2V

territórios contínuos são aqueles que possuem contiguidade espacial, os mais

usuais, enquanto, os territórios descontínuos, os que não possuem uma contiguidDGHHVSDFLDOWRWDO´ 2005, p. 6 ± grifos do autor).

Em territórios não obrigatoriamente contínuos e contíguos, onde é possível a ação à distância provocando transformações muitas vezes imprevisíveis, é imprescindível distinguir o tipo de problema que é possível resolver em termos de continuidade espacial (como algumas questões ecológicas e de saneamento) e aqueles que só podem ser resolvidos em termos de descontinuidade espacial ou de territórios-rede, na combinação com outras escalas, como a questão fundamental das desigualdades e da exclusão social (HAESBAERT, 2006, p. 123).

Andar a reboque do interesse empreendedor de construtores e empresários significa requalificar determinadas áreas somente após a implantação de obras de impacto ou grande irregularidade, o que determina a reavaliação dos parâmetros urbanísticos num interesse efetivo de solucionar problemas e não antecipar-se a eles. Assim, uma concepção de cidade concentrada e contínua demanda custos menores e fluxos mais otimizados.

Portanto, a análise desses conceitos na ocupação de vazios urbanos e no uso sustentável de áreas rurais limítrofes é essencial para a construção de espaços mais condizentes às atividades humanas. A produção de territórios contíguos e a consequente definição de uma cidade mais compacta se constituem a forma ideal de urbanização, embora não seja a mais almejada pelo interesse capitalista.

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