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1.4 O APORTE GEOGRÁFICO NA COMPREENSÃO DOS

1.4.1 A concepção geográfica do território vivido

O conceito de território atualmente é mais notadamente referenciado à ciência geográfica, contudo, não se restringe somente a esta, sendo compartilhado por outras ciências,

como: a antropologia, biologia, história, sociologia, dentre outras e, também, por outras formas de cognição, como o conhecimento tradicional, que é territorialmente arraigado.

Ao longo do tempo o conceito de território vem ganhando novas perspectivas, para além de uma visão positivista, de conotação política e somente relacionado ao poder (RAFFESTIN, 1993). Os territórios passam a ser compreendidos também a partir do imaginário, ou seja, o não material, englobando as experiências de vida, valores, (geo)símbolos, etc., contudo, sem negligenciar seu aspecto material. Privilegia-se o singular e não o particular ou o universal e, ao invés da explicação, tem na compreensão a base de inteligibilidade do mundo real (CLAVAL, 2002c).

Os elementos que, destacados pela Nova Geografia Cultural, passam a compor a análise cultural do espaço são também elementos a serem compreendidos pelo conceito de território, em que a particularidade cultural está em permear a íntima relação dos grupos humanos com o meio. Dentro destas análises, o que se evidencia é um sentimento de pertencimento e afetividade em relação a terra, cuja expressão se materializa no território.

Para aqueles grupos, incluindo povos indígenas, que possuem uma íntima ligação com seus territórios, destaca-se que esta ―[...] é fundada sobre a apropriação e a exploração da terra, território, considerada como uma realidade carregada de afetividade e pertencimento‖ (STRACHULSKI, 2014, p. 51). A Terra é origem e presença, dá suporte e permeia a vida dos grupos humanos que possuem com esta uma relação essencial, que fundamenta seus princípios de vida, projeta suas crenças, práticas e saberes.

A análise do território acaba incidindo na revalorização dos lugares, das singularidades, representações de elementos particulares, cujos territórios são considerados singulares, isto é, apresentam características diferentes uns dos outros e o que mais se destaca nos estudos territoriais é justamente a singularidade, a diferenciação de certos territórios em relação a outros.

O território pode ser considerado como um conceito polissêmico, possuindo várias abordagens, tantas quantas são as formas de interpretar a relação dos grupos humanos com o seu espaço de atuação, destacando-se as três vertentes principais de abordagem: política, econômica e cultural. Pode-se compreender a ambiguidade do território, como material, imaterial, real, representativo, múltiplo, heterogêneo, subjetivo, intersubjetivo e complexo.

Pouco explorada, a vertente cultural será o foco deste texto – haja vista que estudos com tal enfoque envolvendo a relação dos grupos com a natureza são mais bem coerentes com as realidades estudadas –, pois, ao contrário das demais não as nega. Neste sentido, um estudo envolvendo povo indígena, cultura, vivências, saberes tradicionais, relação com o território,

territorialidades, em resumo, a relação entre cultura e natureza, sem dúvida, ganha em complexidade, mas também possibilita uma maior aproximação à realidade vivida, podendo dialogar com esta no contexto em que é concebida, ou seja, diminuindo os estranhamentos e equívocos na análise.

Os estudos territoriais, portanto, acabam agregando a perspectiva da relação entre sociedade e natureza, permitindo inteligibilidades acerca de como os grupos se territorializam em determinados ambientes, e como, em termos geográficos, estabelecem seus vínculos materiais e simbólicos com a natureza local, a partir das suas territorialidades, dos conhecimentos tradicionais e da criação e fortalecimento das identidades territoriais.

Vale ressaltar que na relação entre grupos humanos e território, de alguma forma, por menos intensa que seja, envolve uma valoração simbólica de um determinado ambiente pelo grupo humano que o alude. A análise da dimensão simbólica permite compreender a relação dos grupos com a sua terra (território), os valores que atribuem a ela, significados e de que forma expressam esta relação. O território seria ―[...] um tipo de relação afetiva e cultural com uma terra, antes de ser um reflexo de apropriação ou de exclusão [...]‖ (BONNEMAISON, 2002, p. 101).

Os povos indígenas se familiarizam com seus territórios assim que os veeme a eles se debruçam, eles se mesclam ao amálgama territorial, compartilhando sua vida com o território e nele se enraizando, pois o ser humano estabelece uma ligação físico-espiritual imediata com a terra, desde que nasce.

Esta relação, em muitos momentos, se dá por uma espécie de conluio, onde os grupos e os indivíduos combinam seus espaços de vida, de modo que nem mesmo a morte pode romper com esta ligação. Exemplo disso é o caso do espírito do antigo tuxava Manoel Lopes Parintintin que permanece na ladeia Traíra, sendo simbolicamente representado por uma espécie vegetal que nasceu em seu túmulo e por este em si, diferentemente dos demais Parintintin ele foi enterrado dentro da aldeia.

O território deve ser visto e pensado em uma perspectiva que não leve em consideração somente uma questão de controle político, mas também uma apropriação que incorpore a dimensão simbólica, identitária e, em se tratando de povos indígenas que mantêm uma íntima ligação com o território, afetiva. Porém, apesar de se privilegiar a perspectiva simbólica, afetiva, não se podem deixar de lado os aspectos materiais de um território, como os geossímbolos, entendendo-se que as duas perspectivas se complementam: há uma dimensão vivida do território que as une, ou seja, as subjetividades, as intersubjetividades e as relações dos indivíduos com o espaço.

O território é um símbolo, podendo representar a defesa da cultura, dos interesses políticos, da identidade, dos recursos naturais, etc. Como exemplos da importância do território para o povo Parintintin, estão a possibilidade de desenvolverem suas práticas territoriais e buscarem parceiros para melhor realizar a gestão de seu território, como a vigilância, o ritual Yrerupykyhu, caça, pesca, busca de medicamentos, coleta de frutos, além de parcerias com órgãos governamentais e ONGs.

É apropriado materialmente por um grupo a partir de seus saberes, práticas e simbolismos, mediante suas crenças e imaginário, em que se instituem os sentimentos e os valores. Quando os indígenas Parintintin saem para caçar, pescar, coletar remédios ou outra atividade, eles estão construindo sua realidade, ao mesmo tempo, que a imaginam e sentem o ambiente em que se encontram, portanto, há uma ligação física e espiritual deles para com a natureza à sua volta. Consolida-se uma realidade que é tanto fruto de suas práticas materiais como de sua imaginação. Ambos os processos de construção da realidade culminam em um pertencimento material e simbólico ao território.

Para geógrafos como Bonnemaison e Cambrèzy (1996), o território deve ser considerado primeiramente como um valor, transcendendo a visão de posse material, considerando-se que a força do laço territorial mostra que o espaço da vida não é composto somente por valores materiais, mas também elementos cosmológicos, simbólicos, afetivos e conhecimentos. Por estes motivos, o território cultural é concebido antes do território político e também antecede do espaço econômico. O contexto desta compreensão está relacionado às experiências dos autores com as sociedades agrícolas e povos aborígenes (caçadores e coletores) nas quais o território é constituído por relações afetivas, significando um forte enraizamento entre eles.

Para os povos indígenas, o território se apresenta como um meio de expressar e reafirmar a identidade do grupo se apropriando simbolicamente deste, pois, segundo Bonnemaison e Cambrezy (1996, p. 14) ―[...] pertencemos a um território, não o possuímos, guardamo-lo, habitamo-lo, impregnamo-nos dele. Além disso, os viventes não são os únicos a ocupar o território, a presença dos mortos marca-o mais do que nunca com o signo do sagrado‖. No caso Parintintin, é muito significativa a presença do espírito do antigo Tuxava5

, Manoel Lopes, que foi enterrado dentro da aldeia, diferente dos demais mortos que foram

5

Tuxaua, tuchaua, tuxava ou em tupi “tuwi‟xawa” é um termo que pode ser utilizado como sinônimo de

cacique. Em tempos pretéritos o chefe (político) máximo dos Parintintin era denominado de tuxava. Atualmente, somente os mais velhos é que utilizam esta denominação para se referir à liderança máxima local, sendo que o restante das pessoas utiliza o termo cacique. O significado de tuxava parece dar a ideiade um grande guerreiro e para os Parintintin da aldeia Traíra, Manoel Lopes é a maior liderança local, aquele que os reuniu, possuindo uma conotação de imortalidade, como se ele ainda estivesse presente entre eles, e de fato o está: espiritualmente.

enterrados em outro local, representando a importância da permanência dos Parintintin em seu território.

A dimensão simbólica referente ao conceito de território possui um princípio espiritual considerado elemento essencial da compreensão indígena acerca de suas vivências espaciais e sua concepção de mundo. Desta forma, corrobora-se ao pensamento de Bonnemaison e Cambrezy (1996) de que perder o território pode acarretar no desaparecimento de um povo.

Espaço material que comporta as ações dos grupos e movimento que rege suas crenças representações e concepções de mundo, o território assume uma condição sinequa non para a existência do ser. ―Não somente ponto de apoio espacial e suporte material, mas condição de toda ‗posição‘ de existência, de toda ação de assentar e de se estabelecer (de poser et de reposer)‖ (DARDEL, 2011, p. 40).

Um território é a garantia de reprodução de seu modo de vida (língua, conhecimentos, crenças, práticas, etc.), possibilitando que sejam reconhecidos como grupos humanos, socioambiental (conhecimentos que lhes possibilitam viver em equilíbrio com a natureza) e etnicamente (características culturais) diferenciados, fortalecendo-os identitariamente.

Em se tratando de povos indígenas, não se deve entender o território somente como posse, condição à sobrevivência, ou elemento exterior à sociedade que o habita. Nesta perspectiva, o território não diz respeito apenas à função ou ao ter, mas ao ser e seu modo de vida, devendo ser interpretado de modo integrador, levando em conta perspectivas socioculturais, políticas, ecológicas, cosmológicas, cosmogônicas, dentre outras (BONNEMAISON; CAMBRÈZY, 1996).

Essa concepção é apropriada pelos povos indígenas, cujos valores e condutas estão assentes em uma racionalidade produtiva e forma de vida que se funda em vínculos com seus locais. Estes derivam das experiências arraigadas ao território e, ao mesmo tempo, por elas são responsáveis. Para esta tese, uma compreensão geográfica coerente com a perspectiva indígena é o entendimento de Bonnemaison (2002, p. 99) sobre de território, asseverando que,

[...] antes de ser uma fronteira, é um conjunto de lugares hierárquicos, conectados por uma rede de itinerários [...] No interior deste espaço-território os grupos e as etnias vivem uma ligação entre o enraizamento e as viagens [...] A territorialidade se situa na junção destas duas atitudes: ela engloba, ao mesmo tempo, o que é fixação e o que é mobilidade ou, falando de outra forma, os itinerários e os lugares.

O autor destaca que a territorialidade é mais bem compreendida a partir das relações socioculturais que os grupos desenvolvem com o amálgama que são os territórios e seus trajetos, pois por elas é que são condicionados, resultando da interação dos grupos com seus

espaços de atuação. No caso dos Parintintin, as territorialidades variam de acordo com a necessidade de recursos naturais (pesca, caça, agricultura, etc.), relações políticas (com outro povo indígena, a FUNAI e outros agentes) e práticas culturais (crenças e saberes).

De acordo à Bonnemaison e Cambrèzy (1996) a territorialidade atua como a dimensão simbólica do território, podendo ser vista também como a qualidade de ser território. Já em uma perspectiva que engloba tanto o cultural quanto o político pode ser concebida enquanto uma ―[...] tentativa, por indivíduo ou grupo, de afetar, influenciar, ou controlar, fenômenos e relações, ao delimitar e assegurar seu controle sobre certa área geográfica‖ (SACK, 2011, p. 76). Territorialidade seria o vínculo estabelecido entre os grupos humanos e seus territórios, acarretando em estratégias em que pese distintos níveis de acesso àquilo que se pretende (pessoas, relações, recursos, etc.).

A territorialidade seria, portanto, algo exercido a partir das relações cotidianas das pessoas entre si e com o território. Seria o meio pelo qual se interconectam um determinado povo e seu meio de atuação. Quando ocorrem mudanças nas territorialidades se torna possível compreender as relações entre espaço, tempo e sociedade. Assim,

A territorialidade é o acontecer de todas as atividades cotidianas, seja no espaço do trabalho, do lazer, das crenças, da família, da coletividade etc., resultado e determinante do processo de produção de cada território, de cada lugar; é múltipla, e por isso, os territórios também o são, revelando a complexidade social [...] (SAQUET, 2007, p. 129, grifo nosso).

Destaca-se uma dimensão subjetiva da territorialidade, compreendendo-a como o desenvolvimento das ações cotidianas que realizamos, a partir da subjetividade e intersubjetividade. É o resultado das experiências particulares e do seu contato com a de outros indivíduos, constituindo o território vivido de cada indivíduo ou grupo humano em um determinado espaço de atuação.

A territorialidade se desenvolve a partir do sentimento de pertencimento criado por ações coletivas de apropriação do espaço, estabelecendo-se vínculos entre as pessoas, a partir de características culturais em comum, e destas com um determinado território. Convém reafirmar que a territorialidade não se estabelece apenas por relações com o território, mas também com elementos abstratos da vida humana, como linguagem, crenças, tecnologia, códigos, sistemas de sinais e com o outro (RAFFESTIN, 1987).

A instituição das territorialidades se dá por meio das relações socioculturais, incluindo as práticas produtivas e sociais, cujos significados acabam constituindo e efetivando-as no âmago dos territórios. Na visão de Raffestin (1993), a função das territorialidades, após

instituídas, seria de refletir a multiplicidade das vivências no território pelos indivíduos e grupos, que fazem parte tanto do processo quanto do produto territorial, portanto, produto e produtores do amálgama territorial. Desta forma, pode-se afirmar que a territorialidade é sinônimo de vivência, constituindo a essência dos territórios.

A territorialidade é uma relação cultural estabelecida pelas vivências dos grupos humanos com seus espaços de ação, seus territórios, sendo eles hierarquizados, fluídos ou delimitados. Sua ênfase recai sobre as questões de cunho simbólico-cultural, além dos sentimentos: afetividade, pertencimento, enraizamento e vivências. Ela faz parte das relações sociais, está no cerne de perspectivas de vivência, sendo constituída mediante as intersubjetividades. A territorialidade envolve, mais que um simples andar por um território, ela representa ações, vontades de diversos graus envolvendo razões e significados acerca de suas ações territoriais (SACK, 2011).

Para Raffestin (1987) a territorialidade é dinâmica, feita de continuidades (territorialização) e descontinuidades (desterritorialização). Expressa a forma como os grupos se portam no território, desenvolvendo-se a partir de uma relação interna e externa com o mesmo, entre fixação e mobilidade.

Quando se diz que a territorialidade oscila entre a mobilidade e a fixação se está fazendo menção às relações que se desenvolvem tanto internamente - os grupos com seus espaços de atuação -, como externamente - relação dos grupos e seu território com agentes externos. No tocante aos Parintintin, seria dizer que, em alguns momentos, abrem-se as portas de seus territórios para a entrada de parceiros, como ONGs e órgãos governamentais e por outros se fecham para esses mesmos atores. Isto depende das suas estratégias territoriais permitirem a interação de outros atores em seus espaços, ocasionando também na limitação ou expansão de suas territorialidades, podendo abrir-se ao exterior e o trazer para dentro.

As territorialidades são relações socioculturais, significadas e ressignificadas, estabelecidas pelos grupos com seus territórios, sendo, ao mesmo tempo, símbolos de suas vivências, pois os atraem para seu interior e os incita a galgar novas situações. Seria viver aquilo que já se conhece e buscar novos elementos que contemplem um todo de suas vivências. A territorialidade consistiria em uma relação diária dos povos com seus espaços de vida, se refere ao olhar que os indivíduos e grupos lançam sobre determinado objeto e/ou situação, portanto, manifestando-se material ou imaterialmente, tendo o território como mediador na construção de suas identidades e na organização social.

As territorialidades, assim, possibilitam a criação de uma identidade com o território, sendo que estes dois termos possuem uma dimensão espacial. Neste sentido, compreende-se

que a identidade está intimamente atrelada a elementos como o lócus de atuação de um povo, o tempo, a cultura, práticas, conhecimentos e cosmologia. O sentimento de identidade, de pertencimento a uma determinada comunidade, possibilita às pessoas sentirem-se seguras, ancoradas em uma base espacial. Assim, um território torna-se singular em relação aos demais, bem como a cultura local adquire uma característica particular.

O território aparece como um elemento essencial à vida, à cultura e à constituição de uma identidade, possibilitando aos indivíduos que o habitam condições fáceis de intercomunicação, diálogo e importantes referências simbólicas. Ele se transforma em uma categoria essencial, a estrutura espacial vivida, bem como sustenta toda uma carga sentimental. Já a identidade, seria uma construção social atrelada a uma base territorial, tentando responder a necessidade das pessoas de se identificarem. Ela seria caracterizada por elementos como artefatos, , tradições, práticas socioculturais e concepções de natureza dos indivíduos e grupos, estabelecendo uma relação de apropriação do território que é tanto simbólica quanto material (HAESBART, 1999; CLAVAL, 1999b).

De acordo com Claval (1999b), a identidade pode ser pensada como expressão do que os grupos pensam acerca de si mesmos e dos outros, buscando atribuir sentido a sua presença no mundo, apoiada sobre pertencimentos territoriais, como o resultado de suas vivências, organização social e de seus valores. É, também, no encontro com o outro que se faz evidente uma identidade, descobrindo as diferenças e vislumbrando o singular naquilo que é natural para aquele que é de dentro, portanto, caracterizada pela inter-relação com o outro. A identidade em contato com identidades diferentes ―[...] leva a uma reafirmação apoiada nas formas simbólicas de identificação‖ (CLAVAL, 1999b, p. 20).

As identidades não podem ser vistas como algo irredutível, cristalizado, pois são forjadas a partir das relações sociais, sendo construções sujeitas à alteração por componentes temporais, espaciais e intersubjetivos, sendo algo dinâmico. Pode se apresentar de forma diferente em vários contextos, como no caso dos povos indígenas, que vêm em um processo constante de construção e reafirmação de identidades, perante a sociedade envolvente.

A constituição das identidades possui o seu devir relacionado aos seus territórios, que são o seu sustentáculo e, segundo Claval (1999b) quando as construções identitárias individuais e/ou coletivas são fortes e não ameaçadas de dissolução, apesar de sofrerem transformações, buscam se reafirmar perante o contexto sociocultural vigente. Nesse caso, a dimensão (geo)simbólica de determinadas referências espaciais ofereceria suporte à afirmação das identidades, como locais sagrados (cemitérios, floresta intocada, igarapés), de importância

econômica, política ou outra. Em se tratando de povos indígenas, com território ―assegurado‖, fariam menção a um tempo antigo, a uma terra de origem pré-colombiana comum.

A identidade é o sentimento de ser e pertencer a um determinado grupo e lugar, que possui determinadas particularidades, sendo historicamente constituída, ou seja, as vivências vão moldando a identidade dos grupos. Sua construção ocorre da mesma forma que o território vai se transformando e as práticas socioculturais se adaptando à natureza e ao movimento do tempo. Possui um caráter relacional e corresponde a arranjos (i)materiais comuns entre os componentes do grupo, cuja base material de sua existência é o território.

Possuir uma identidade, pertencer a um grupo, traz uma sensação de segurança, de se sentir acolhido, ter o conforto de estar no meio daquilo que se conhece e se reconhecer naquilo que é familiar. É compartilhar vivências, crenças e conhecimentos, que fundados em uma base material comum - o território - permite que se identifiquem como iguais.

Nestes termos, o povo Parintintin possui sua sustentação na T.I.N.J, que fornece a base material e simbólica, segundo a qual os indígenas se apoiam para se caracterizar a si mesmos e a sua cultura, incluindo aqui as histórias e mitologias, os conhecimentos tradicionais em geral e as vivências.

Compreende-se, por outro lado, que as identidades são forjadas pelo tempo e acontecimentos cotidianos ou extraordinários, como exemplo, as lideranças de frente, os indígenas que trabalham em órgãos governamentais e moram no meio urbano, que estão sujeitos a transformações para se adaptar à situação em que se encontram. Também se destaca que todos os indígenas, incluindo aqueles que moram na aldeia, estão sujeitos a câmbios identitários, devido ao contato quase que diário com os regionais e os apelos midiáticos.