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TERRITORIALIDADES

A partir da vivência com os Parintintin da aldeia Traíra foi possível identificar os atores centrais (Quadro 1) que compõem, harmonizam e modelam a realidade local, em seus diversos âmbitos, de acordo com suas territorialidades. Cada qual com uma característica e uma função específica dentro da cultura local. Há aqueles que são contadores de histórias, outros são os sabedores de mitos, há as lideranças políticas (internas e externas), aqueles que detêm os conhecimentos tradicionais (pesca, caça, medicinais), dentre outros atores.

Quadro 1 - Os personagens centrais da ―trama‖

Nome Foto Sobre a foto Referência Descrição

Ca rl os P a ri nt in ti n

Foto captada durante a realização do ritual

Yrerupykyhu.

O contador de histórias

Forte liderança interna e um grande contador de histórias da relação dos

Parintintin com o não indígena e outros povos indígenas da região.

L ui s P a ri nt in ti

n Foto captada durante a vinda do ex-presidente da FUNAI João Pedro Gonçalves da Costa.

O vice- cacique

É o vice-cacique, mas pouco atuante, pois mora a quase2 km da sede da aldeia. Ros e li P a ri nt in ti

n Foto captada durante a vinda do ex-presidente da FUNAI João Pedro Gonçalves da Costa.

Aquela que fala na língua

Uma das pessoas que mais busca ensinar seus filhos e netos falando com eles em Tupi Kawahib.

S e ve ri no P a ri nt in ti

n Foto captada durante

realização de caminhada pela floresta e área de roça do indígena.

O cacique

É o cacique e liderança política máxima da comunidade, porém sendo relativamente questionado em alguns momentos. D om ing os P a ri nt in ti

n Foto captada durante a vinda do ex-presidente da FUNAI João Pedro Gonçalves da Costa.

O ex-cacique

Já foi cacique, hoje atua como uma forte liderança interna, em alguns momentos apresentando relativa oposição ao cacique atual.

Ra im undo P a ri nt in ti

n Foto captada durante a vinda do ex-presidente da FUNAI João Pedro Gonçalves da Costa.

A liderança de ―frente‖

Atua na defesa dos interesses externos do povo Parintintin,

trabalhando na FUNAI e como coordenador da OPIPAM. M a ri a d a s G ra ça s P a ri nt in ti

n Foto captada durante realização de entrevista na varanda da casa da indígena.

Aquela que dá os nomes

A guardiã da cultura Parintintin, aquela que nomeia as crianças na língua Tupi Kawahib.

Joã o B os c o Câ ndi do P a ri nt in ti

n Foto captada durante a realização do ritual

Yrerupykyhu.

O conhecedor de mitos

O mais velho da comunidade e também aquele que mais conhece a mitologia do Povo Parintintin.

Jos é Cl á ud io P a ri nt in ti

n Foto captada durante a realização de entrevista no terreiro da casa do indígena.

O indígena ―índio‖

Conhece como ninguém a floresta, seus recursos e a melhor forma de se relacionar com ela.

N a ta lí c io P a ri nt in ti

n Foto captada durante a realização da festa em homenagem a Nossa Senhora Aparecida. Aquele que Trouxe a educação

Responsável por trazer a educação do não indígena (ensino formal regido pelo governo),e organizador dos eventos que ocorrem na comunidade.

Fonte: Povo Parintintin. Org.: Juliano Strachulski.

As territorialidades estão repletas de estratégias que os indivíduos empreendem para lançar suas intenções sobre um determinado objeto ou situação. A estratégia pode ser ou não utilizada, dependendo das vantagens que se oferecem ou não ao agente, tendo em vista que ―Por fazê-la uma estratégia, coloca-se a territorialidade inteiramente dentro do contexto de motivações e objetivos‖ (SACK, 2011, p. 79). Pode ser colocada em prática com várias finalidades e significados, de acordo as pretensões dos sujeitos, do momento sociocultural e da própria situação que se está vivendo.

Os diversos atores locais possuem conotações diferentes de territorialidade, como as lideranças que a representam de forma mais política do que simbólica, pois buscam manter seu povo no seu território e lutam por melhores condições de vida. Por outro lado, há aquelas simbólicas, relativas a práticas culturais, como conhecer mitos, rituais e demais elementos que constituem a cultura local. Além de outras inerentes aos conhecimentos tradicionais mais práticos, como caça, pesca, agricultura, e espécies vegetais.

Dentre os personagens centrais, sem dúvida, Seu Carlos Parintintin é o mais carismático, um bom anfitrião, sempre preocupado em receber bem aqueles que vêm à Aldeia Traíra. É uma forte liderança, irmão do cacique atual e do vice, inclusive já foi vice-cacique e, hoje em dia, mantém uma forte atuação interna, sempre buscando informações acerca da situação política atual relativa aos povos indígenas e questões específicas de seu povo, fazendo parte da ―velha guarda‖.

É um grande contador de histórias, tanto pessoais quanto coletivas, ou seja, do seu povo com outros povos. Gosta de falar muito no tempo da ―sorva‖, quando extraíam o látex da Couma guianensis Aubl. Fala das dificuldades enfrentadas naquele tempo, das agruras e percalços da extração do látex, com patrões severos que os exploravam, além de outros trabalhos como na retirada de madeira. Busca retratar um relativo companheirismo com os não indígenas que passavam pelas mesmas dificuldades.

Por outro lado, também conta histórias antigas de como viviam e se comportavam os Parintintin no passado, retratando as atitudes deles perante os não indígenas e outros indígenas, além de inferir quanto à formação atual das aldeias Parintintin, em especial da Aldeia Traíra. Fala das guerras com o povo Pirahã em um passado distante, onde haviam muitas mortes, emboscadas e ataques surpresas. Em um passado próximo, retrata situações de ameaças a ele e seus parentes pelo povo Tenharin.

Desempenha uma territorialidade pouco expandida mesmo dentro da aldeia, mas sempre participando de eventos culturais (festas e rituais) e questões políticas (reuniões).

Ganha mais expressividade e poder de persuasão sobre outros atores locais quando fala do passado, conhecendo muito da história Parintintin.

Sua influência se torna expressiva quando se trata de seus genros, controlando em parte suas ações. Um exemplo disso é uma situação que ocorreu na realização da vigilância, quando seu genro João Ricardo de Lima disse: “Eu vi um porcão lá no castanhal, mas o Carlos falou pra eu não matar e eu não matei”. Isso mostra o controle e acesso sobre as caças e sua autoridade em permitir ou não que, em determinado momento, sejam caçados ou não os animais silvestres e que se vá em um determinado local para este fim.

Construída socialmente, a territorialidade assume uma vontade de fazer algo, seja direta ou indiretamente, envolvendo diversas razões e significados (SACK, 2011). Seu Carlos, narrando suas histórias, mostra uma territorialidade embasada em uma inter-relação com os não indígenas, falando bem destes, na maioria das vezes, e com indígenas Pirahã e Tenharin, falando deles negativamente ou com ressalvas. Essa territorialidade se mostra carregada de intencionalidade, de mostrar para os mais jovens que os demais povos indígenas da região, apesar de compartilharem vivências em comum, possuem características culturais e políticas que podem acarretar em conflitos com os Parintintin.

Luis Parintintin é o vice-cacique e irmão do atual cacique, mas uma liderança pouco atuante, pois mora a quase 2 km da sede da aldeia, ficando um pouco afastado das discussões centrais. Também já foi professor indígena, um dos primeiros da Aldeia Traíra, lecionando a língua Tupi Kawahib, sendo um dos poucos da aldeia que fala e escreve nesta língua. Ele e sua mulher são um dos poucos casais que tentam falar neste idioma com os seus filhos, inclusive falando em meio aos não indígenas em recintos na cidade de Humaitá, como supermercados e lojas de vários segmentos.

Roseli Parintintin, mulher de seu Luís busca fortalecer a língua Tupi Kawahib Parintinitn a partir de seu lar, tentando ensinar os filhos, situação observada em vários momentos. Ela e seu Luís conversam com uma grande frequência na língua materna, mais que a grande maioria da comunidade. Apesar de não escrever na língua local, Roseli é uma grande conhecedora desta e de sua cultura, sabendo inclusive alguns mitos que retratam a cultura Parintintin. Além do mais, trabalha com artesanato confeccionando cocares, saias, colares e outros objetos.

Luís e Roseli Parintintin possuem uma territorialidade afeita a situações internas, porém com uma participação menos intensa nas atividades político-culturais que os demais, pois vivem na ―Traíra 2‖, ou seja, um outro núcleo de ocupação, onde Luís é considerado o patriarca.

Como pais e avós, buscam controlar o acesso dos filhos e netos a certos espaços e informações ou os direcionando àqueles espaços e informações que devem acessar e priorizar, como a aldeia e seus arredores, além dos saberes que transmitem como falar em Tupi Kawahib e outros costumes do povo Parintintin inerentes, a alimentação e aos rituais.

Severino Parintintin, o cacique da Aldeia Traíra, eleito democraticamente em uma assembleia e não por hereditariedade, é a liderança política máxima da comunidade, porém sendo relativamente questionado em alguns momentos, pois não era filho do antigo tuxava, mas seu genro. Sua atuação é tanto interna (mais intensa) quanto externa – negociações com a FUNAI, ONGs, SESAI, dentre outros órgãos do governo e setores da sociedade. Também é um conhecedor de espécies medicinais e formas de preparo de remédios, além de ser agente de saneamento da comunidade.

Como cacique, ele pode influenciar os outros, como, por exemplo, determinar aonde se pode ou não fazer área de roça, realizar a caça, escolher aqueles que podem participar da busca por alimentos para o ritual Yrerupykyhu ou ainda eleger indivíduos para acompanhá-lo em uma reunião no meio urbano. Portanto, a ―[...] territorialidade envolve a tentativa por parte de um indivíduo ou grupo de influenciar ou afetar as ações dos outros, incluindo não humanos‖ (SACK, 2011, p. 76), tendo em vista que certos indivíduos impõem sua territorialidade a outros.

Domingos Parintintin é o ex-cacique, que deixou sua posição, segundo ele, por ter cansado de ter sido cacique, desde os 16 anos de idade, permanecendo por 27 anos, o último concebido por hereditariedade. Por outro lado, sua mãe Maria das Graças Parintintin (2017) revela outro motivo: “Ele ia continuar, mas nóis não aceitemo, porque o pai dele ficava doente. Aí pode acontecer alguma coisa, aí passa pros outros”. Acredita-se que quando há um membro da família doente por vários anos não se pode ter um cacique dessa mesma família, pois podem ocorrer situações negativas (ex: doenças) tanto para a família, como para toda a comunidade.

Hoje atua como uma forte liderança interna, possuindo relativa oposição ao cacique atual. Sempre possui voz ativa em todas as reuniões, desde questões relativas à saúde indígena, educação, bem como reuniões com ONGs para a captação de recursos e desenvolvimento de projetos para o povo Parintintin, pois é membro da OPIPAM (Organização do Povo Indígena Parintintin do Amazonas).

Como ex-cacique é uma forte liderança interna e costuma ter uma grande representatividade nas reuniões e decisões que a comunidade precisa tomar. Sua influência se estende também para fora da aldeia, participando de eventos externos, pois já foi coordenador

da OPIPAM, atualmente possuindo uma participação secundária nesta organização. Neste caso, a territorialidade age a partir de interações espaciais que influenciam outras interações de mesmo grau, mas não, necessariamente, requerem ações territoriais para corroborar aos seus fins (SACK, 2011).

Seu Domingos representa influência sobre parte da comunidade, em especial, seus parentes diretos como mãe, filhos, primos e irmãos no tocante a questões políticas, como reuniões com outros atores e reuniões internas, a partir de seu histórico como cacique, mas não, necessariamente, por sua condição atual.

Por sua vez, Raimundo Parintintin é uma das lideranças de ―frente‖, ou seja, que possui atuação mais intensa externamente à comunidade, defendendo seus direitos e interesses. Forte liderança política, trabalha na FUNAI, além de ser coordenador da OPIPAM. Mora no meio urbano e, frequentemente, retorna à aldeia, conseguindo conciliar a vida no meio urbano com a vivência na aldeia. Apesar de ter sido educado praticamente no meio urbano, possui fortes raízes na Aldeia Traíra, participando intensamente nos seus eventos políticos e culturais.

Como funcionário da FUNAI e coordenador da OPIPAM, representa uma grande liderança política, sendo muito respeitado, ou seja, sua territorialidade é muito expressiva e se torna uma grande influência sobre as demais quando se trata de discutir algo relevante para o povo Parintintin, mas externo à aldeia, como um projeto a ser captado pela OPIPAM.

Exemplo disso, é um projeto que os Parintintin atualmente desenvolvem com a ONG IEB (Instituto Internacional de Educação do Brasil) e que teve participação preponderante de Raimundo para sua aceitação pelo povo Parintintin. Dentre os atores centrais aqui eleitos, é aquele que possui uma melhor capacidade de diálogo com atores externos e também uma grande habilidade de arguição, quando da participação em eventos internos de cunho político- cultural. Como representante Parintintin na FUNAI, também é o responsável por organizar a vigilância na Terra indígena Nove de Janeiro, em especial, ao que se refere à Aldeia Traíra,e determinar os seus rumos.

Maria das Graças Parintintin pode ser considerada a guardiã da cultura Parintintin, pois além de ser aquela que nomeia as crianças na língua Tupi Kawahib, conhece mitos, narrando os feitos mitológicos desse povo. Dona Maria pratica costumes antepassados do povo Parintintin como o benzimento com urucum, conhece plantas medicinais e remédios do ―mato‖, confecciona artesanato e fala na língua Tupi Kawahib, tentando transmitir a seus netos e demais jovens tais saberes. Aprendeu muito com seus avós, sogro e, também, com seu marido, o falecido Tuxava, Manoel Lopes Parintintin.

Dona Maria possui uma territorialidade simbólica, possuindo controle sobre os conhecimentos tradicionais sobre mitos, sobre a língua Tupi Kawahib, sendo aquela que nomeia os recém-nascidos nesta língua. Além do mais, grande entendedora dos rituais como o Yrerupykyhu e demais práticas culturais locais, sabe como fazer a pintura corporal e aonde encontrar plantas que possam ser utilizadas para curar enfermidades.

A ―[...] territorialidade é como uma forma de interação espacial que influencia outras interações espaciais e requer ações não territoriais para ajudar‖ (SACK, 2011, p. 7). Dona Maria pode influenciar outras territorialidades, a partir de sua força espiritual e política também, por ter sido mulher do falecido tuxava e, portanto, possuir grande prestígio. Por outro lado, mais comumente simboliza influência sobre questões culturais, como realização de atividades festivas, a condução do ritual Yrerupykyhu e demais assuntos referentes a elementos tradicionais da cultura Parintintin.

No tocante ao ritual Yrerupykyhu, influencia as práticas comportamentais das meninas durante sua realização, apontando como tem que se portar, lhes advertindo que não devem recusar dançar com ninguém, indígena ou não indígena; se for indígena, porém, tem que dançar com homem de outra metade exogâmica. Dona Maria e as tias das meninas é que escolhem os rapazes com quem elas devem dançar.

Sempre busca ensinar conhecimentos novos para seus netos, e cobra seus filhos por ensinamentos passados, indicando lugares onde certas espécies vegetais são encontradas e a forma de preparar antigas armadilhas. A pedido dos professores indígenas, também realiza e nomeia desenhos para utilizarem em suas aulas, sendo que seu neto Joel, além de Natalício e Luís, é quem escreve em Tupi Kawahib os nomes dos elementos tradicionais por ela retratados.

João Bosco Cândido Parintintin, irmão do falecido tuxava, é o mais velho da comunidade e apesar de as pessoas da aldeia dizerem que seu Cândido sempre conviveu com o não indígena, ele possui muitos conhecimentos tradicionais, sendo aquele que mais conhece a mitologia local, além de histórias acerca do contato do povo Parintintin, aprendendo com seu pai e avós.

Ele vive a cerca de 2km da sede da Aldeia Traíra. É uma liderança importante pela idade e experiência de vida, mas pouco atua e participa das decisões que são tomadas pela comunidade, é aquele que se pode dizer ―da velha guarda‖, ou seja, o indígena preocupado em viver a vida ao seu modo, fato esse que sua casa não possui energia elétrica até hoje, devido à distância da sede da aldeia.

Seu Cândido, dentre os atores que elegemos como centrais, talvez seja a pessoa com uma territorialidade menos influente sobre a comunidade, devido à distância da sede da aldeia e de sempre ter vivido com a sua família de forma isolada das demais. Seu Cândido vem pouco à sede da aldeia, participando com menor intensidade que os demais em festas e reuniões. Com uma territorialidade pouco expressiva politicamente, resulta na falta de energia pra sua residência e pouca representatividade em relação ao cacique atual para conseguir viagens à cidade e outras situações.

Apesar de ter convivido muitos anos com os não indígenas, possui muitos conhecimentos sobre a mitologia Parintintin, tendo influenciado seus filhos com estes saberes, em especial, Irineu Parintintin, seu filho mais velho. Se dona Maria seria a guardiã da cultura Parintintin em termos gerais, seu Cândido é o guardião dos mitos, além de ser um grande conhecedor da língua-mãe.

José Cláudio Parintintin, irmão do ex-cacique e filho do falecido tuxava, o indígena ―índio‖, é aquele que mais conhece a floresta, seus elementos e a melhor forma de se relacionar com ela. É um grande caçador e pescador, inclusive utilizando mais que os demais o arco e flecha, em especial para a pesca, além da espingarda, para a caça. Sente a presença de animais de caça e os ouve a uma grande distância.

Um grande conhecedor de espécies vegetais, seu Cláudio distingue mais de duzentas etnoespécies, utilizando-as de acordo com sua finalidade (alimento, construção, medicinal, etc.). Possui uma grande sensibilidade (espiritualidade) acerca da floresta, compreendendo-a como o lócus de seus parentes. Adquiriu seus conhecimentos, tanto dos seus pais como também por conta própria, pela curiosidade e capacidade de compreender a floresta não só como recurso, mas também como espaço de vida e de integração com o cosmos.

Seu Cláudio não possui uma territorialidade que promova influências em termos de conseguir o controle de algo ou alguma situação, por exemplo, em se tratando de questões políticas. Simboliza uma territorialidade pouco persuasiva, a não ser quando se refere ao controle do acesso a certos lugares em relação a seus filhos. Normalmente, representa uma influência maior no sentido de transmitir seus conhecimentos para os jovens, sendo que, no passado, foi professor na escola municipal local, ensinando atividades práticas.

Portanto, nem sempre territorialidade se refere à tentativa de controle de algo, podendo ser entendida também como ―[...] a expressão de um comportamento vivido [...] é uma oscilação contínua entre o fixo e o móvel‖ (BONNEMAISON, 2002, p. 107), entre a aldeia e a floresta, no caso dos indígenas Parintintin e, em especial, de seu Cláudio.

Natalício Parintintin pode ser considerado aquele que trouxe a educação formal do não indígena, para a Aldeia Traíra. Foi levado de Urupira, hoje Aldeia Canavial, na Terra Indígena Ipixuna (T.I.I), pela FUNAI, na década de 80, para desenvolver seus estudos em Porto Velho, onde se formou na Educação Básica (Ensino Médio). No início da década de 90, foi trazido para a Aldeia Traíra para iniciar a educação formal, com o auxílio da FUNAI. Além de educador, é gestor escolar e também responsável por organizar os eventos que ocorrem na aldeia, como festas e reuniões importantes com representantes de ONGs e do Estado.

Trazendo a educação dos não indígenas, Natalício impõe sua territorialidade marcada pelo convívio com estes e sua cultura. Por outro lado, também é um grande conhecedor da cultura Parintintin. Suas expressões territoriais estão marcadas por um embate entre a sua cultura e a cultura não indígena.

A realização dos eventos locais normalmente está de acordo com as suas perspectivas, impondo sua territorialidade no sentido de influenciar as demais lideranças acerca de como devem ocorrer os eventos, principalmente festivos, como as festas de santos e os rituais, pois a territorialidade, enquanto base das relações socioespaciais dos grupos humanos, aponta para a intencionalidade destas relações, portanto, predispostas a influenciar outrem (SACK, 2011).