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Apesar das dificuldades enfrentadas, falta de apoio do governo, confrontos com povos vizinhos e contato constante com seringueiros, a partir do final dos anos de 90, o povo Parintintin conseguiu a regularização de seu território ancestral, ou parte dele. O controle definitivo começou a ganhar corpo em 1992, quando foram declaradas de posse permanente e imemorial dos Parintintin, sendo demarcada em 1995/96 e homologada em 03/11/1997 (Dec. s/n publicado no DOU em 04 de novembro de 1997), com situação fundiária registrada no Cartório de Registros de Imóveis – CRI, e na Secretaria de Patrimônio da União – SPU, em 1998.

A Terra Indígena Nove de Janeiro possui este nome, devido ao fato de que no dia 9 de Janeiro no igarapé de mesmo nome ocorreu o primeiro contato entre os indígenas e não indígenas. Sua área oficial é de 228.777 ha, cuja população é estimada em torno de 252 pessoas. Já a Aldeia Traíra (Figura 8), em sua configuração atual, está localizada a aproximadamente 5 km da Rodovia Transamazônica (BR-230) e a 35 km do meio urbano de Humaitá.

A denominação da aldeia se deve a sua localização nas proximidades do igarapé homônimo: “Antigamente aqui no igarapé tinha muita traíra, principalmente no braço do Mariano (igarapé menor), era muita traíra aqui pra cima da ponte também. É por isso que eles deram o nome do igarapé, Rio Traíra, e aí também homenagearam a Aldeia Traíra” (Andrirlei Parintintin, 2017).

Na década de 70, várias famílias que moravam às margens do Rio Ipixuna se deslocaram para as cercanias do Igarapé Traíra, ainda vivendo em conjunto com os não indígenas e demais colonos da região que trabalhavam na exploração da Sorva (Couma guianensis Aubl.). Dona Maria das Graças Parintintin (2015) atesta as várias migrações que ocorriam: “Eles moravam muito no Igarapé Água Azul, Igarapé Vista Alegre, no Cutibi, no

Nove de Janeiro e no Traíra. Tudo esses lugar eles usava é porque índio não morava assim certo, ficava só num local, passava dois ano, três ano, passava pra outro local”.

Figura 8 - Mapa de localização da área de estudo

Havia vários lugares, e grupos dispersos que os ocupavam, mas sempre de forma temporária, pois os indígenas viviam migrando, devido às constantes guerras com seus inimigos tribais e/ou pela necessidade de busca de alimento. Possuíam uma territorialidade fluída, ―[...] uma oscilação contínua entre o fixo e o móvel, entre o território ‗que dá segurança‘, símbolo de identidade, e o espaço que se abre para a liberdade, às vezes também para alienação‖ (BONNEMAISON, 2002, p. 107). Desta forma, entende-se que os Parintintin habitavam lugares, mas não constituíam territórios fixos e enraizamento aos mesmos.

As migrações colaboraram muito para a formação da Aldeia Traíra, contudo, teve sua constituição, fundamentalmente, a partir de duas famílias nucleares. Nas redondezas do que hoje é sua sede, se encontrava apenas a família do senhor Manoel Lopes. Com o passar do tempo vieram outras famílias da Aldeia Canavial, cuja justificativa pela vinda se deu por diminuir a distância em relação ao centro urbano e o acesso aos recursos de que ele dispõe, como tratamento médico.

Esse processo migratório em busca de um novo território tem origem em suas territorialidades, na necessidade que emana do grupo em encontrar uma base material e simbólica para perpetuar sua cultura. De acordo com Bonnemaison (2002, p. 97) ―Não existe etnia ou grupo cultural que, de uma maneira ou de outra, não tenha se investido física ou culturalmente num território‖.

A territorialidade Parintintin destaca-se, assim, como uma capacidade intrínseca em criar territórios. É o que move a ação de se territorializar um determinado local, ou seja, ocupá-lo e engendrar uma semiografia na superfície terrestre própria a sua cultura, definindo as formas de atuação dos grupos perante seu território. Essa territorialidade vai se constituindo em uma concepção particular de ocupação de um espaço de vida, cuja capacidade de interpretação dos ambientes pelos povos indígenas, permite a consolidação de um território.

Estas informações são corroboradas pela fala de seu Carlos Parintintin (2015): “Só tem

duas família, duas família viraram esse tanto que tem agora”, e Natalício Parintintin: ―A

Aldeia Traíra começou aqui foi de 1989, quando eu cheguei aqui, onde tinha essas duas famílias que era a do velho Manoel Lopes e do finado meu tio Manuelzinho”.

A família do senhor Manoel Lopes sempre viveu nas cercanias do que hoje é conhecida como a Aldeia Traíra, sendo que no passado habitavam uma localidade denominada de Avarenga. Já em 1980, a família do senhor Manoel Lopes chega ao local da atual Aldeia Traíra.

A segunda família a chegar à Aldeia Traíra foi a do senhor Manuelzinho, que em 1970/1971 se encontrava na localidade denominada de Varadorzinho, onde moravam indígenas e não indígenas. Este local era também um caminho que, posteriormente, se tornou um meio de acesso ao que hoje se denomina aldeia Pupunha, pois ainda não havia a Rodovia Transamazônica (BR-230).

Uma descrição da origem da Aldeia Traíra foi encontrada em um documento elaborado pelo professor indígena Natalício Parintintin, há alguns anos atrás, e que se localizava na escola municipal local (Figura 9).

Traíra não era uma aldeia, mas um local destinado à pesca, caça e armazenamento da produção de látex, extraído da Seringueira (Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg.) e da Sorva (Couma guianensis Aubl.), havendo dois centros de trabalho ao lado do Igarapé Traíra. Segundo o professor Natalício Parintintin, “... quando eles aprontava uns blocos de solva, eles carregava nas costa até igarapé traíra a onde estava a canoa para transporte até o rio Maici Mirim, a onde estava a aldeia Yhogi: que significa 9 de janeiro”.

Figura 9 - Fragmento de documento retratando a história de origem da Aldeia Traíra .

Fonte: Natalício Parintintin. Acervo de Juliano Strachulski (Aldeia Traíra, 19/10/2015).

Até esta aldeia, era possível ter acesso por barco pelos comerciantes que vinham para comprar a produção dos indígenas e não indígenas que ali viviam, bem como realizar trocas mercantis. Nesta época, só havia dois casais Parintintin que era o cacique Aruka com seus filhos João Bosco Cândido e seu outro filho, Manoel Lopes, com a sua família, que convivia com os não indígenas.

Como salientado no tópico anterior, muitos indígenas Parintintin que viviam na floresta, em aldeias, foram para as áreas urbanas mais próximas de onde se localizavam. Durante a década de 70, após a construção da Rodovia Transamazônica, alguns grupos começam a retornar para a região da Aldeia Traíra. Esses trabalhavam com o não indígena na exploração de látex da Sorveira, tendo contato com aqueles que moravam no Igarapé Traíra a

partir deste trabalho, pois a exploração do látex era realizada em vários locais. Aos poucos, começaram a vir famílias de outros lugares, como da Aldeia Canavial, do Rio Ipixuna.

Somente a partir da década de 90, há um retorno mais significativo dos Parintintin, que se encontravam desaldeados na periferia de cidades como Manaus, Porto Velho (Distrito de Calama), Humaitá, Lábrea, dentre outras, convidadas por Manoel Lopes, tuxava local, e outros indígenas, para morar nesta aldeia. Segundo José Claudio Parintintin (2015) “Foi ele (seu pai) que criou a aldeia aqui, ele que trouxe o pessoal lá do Urupiara e que também chamou as pessoa pra vim da cidade pra cá. Ele é que manda em tudo nóis aqui”. Em uma conversa ao final de tarde, seu Carlos Parintintin (2015) fala sobre o surgimento da Aldeia Traíra (Figura 10),

“Aqui surgiu Traíra por causa dos sorveiro que trabalhavam antigamente. Tinha índio trabalhando com sorveiro. Depois que saíram os sorveiro surgiu o lugar”. Esse aqui foi nóis que levantou, foi em 1992, eu cheguei em 1980. Não tinha nada não aqui ó, sem comunicação, nada, nada, nada. Só era mesmo a família do meu pai e do Manoel Lopes. Duas família serviu esse tanto. O seu Cândido morava no Nove de Janeiro, porque ele andava mais com os branco. Agora que ele tá por ali

(próximo a aldeia). Foi em 2001 que ele veio pra cá” (Carlos Parintintin, 2015); Natalício Parintintin (2015) complementa: Tinha umas vinte pessoas aqui. Aqui não

era uma aldeia, era uma ponta de caçada, de pescaria, era uma coisa pequena. A aldeia mesmo era aonde tem o cemitério, lá do outro lado que era a aldeia né. Mas não morava mais ninguém, morava mais pra aqui né. Já era a parte que as pessoa já tinham ido embora, abandonaram e começamos aqui daí. Aí quando eu cheguei aqui, nós fizemos uma reunião pra ver aonde que ia ser a aldeia e o velho Manoel Lopes falou que podia ser aqui, mais fácil né, aí fomo trazendo pra cá a educação, saúde, plantio, fazendo as nossas atividades”.

A territorialidade Parintintin funda-se no binômio: natureza e cultura. A partir de seu trabalho na extração de látex, nas pescarias e na caça, os Parintintin foram criando linguagens corporais, laços simbólicos com a região da Aldeia Traíra, um cenário de inspiração de crenças, práticas (materiais e simbólicas) e saberes. Essa territorialidade proporcionou laços de reciprocidade entre cultura e natureza local, permitindo, além do mais, a constituição de um grupo culturalmente homogêneo e um território igualmente coeso. A territorialidade está ―[...] intimamente ligada ao modo como as pessoas utilizam a terra, como elas próprias se organizam no espaço e como elas dão significado ao lugar‖ (HAESBAERT, 2004, p. 3).

Até o ano de 1990, a infraestrutura era pouco desenvolvida, destacando-se os problemas de acesso ao meio urbano para a comercialização da produção agroextrativista: “... a própria cultura estava quase esquecida” (Natalício Parintintin). A FUNAI não desenvolvia atividades com o povo Parintintin. Quantpo ao acesso ao meio urbano de Humaitá, o ex-

cacique Domingos Parintintin diz que se locomoviam de canoa, remando contra a correnteza do Igarapé Traíra até sair na Transamazônica e nela tentavam pegar uma carona.

Figura 10 - Uma conversa entre o pesquisador e o indígena Carlos Parintintin sobre a origem da Aldeia Traíra

Fonte: Foto de Lucinei Parintintin. Acervo de Juliano Strachulski (Aldeia Traíra, 1/04/2017.)

Em 1994,a Funai instala o Posto Indígena Parintintin, com a lotação do chefe de posto na aldeia Pupunha. Em 1995 o povo indígena, em Assembleia Geral, delibera a mudança da lotação do chefe de posto para a Aldeia Traíra, que começou a se estruturar melhor, oferecendo condições para a formação de agentes indígenas de saúde e de professores indígenas, com o apoio da OPAN (Operação Amazônia Nativa) (KANINDÉ, no prelo).

Com o apoio de ONGS (OPAN, CIMI, dentre outras instituições) da FUNAI e outras parcerias a Aldeia Traíra começou a se desenvolver organizadamente, inclusive com a presença de cursos de formação de lideranças indígenas, ofertados pela OPAN e, posteriormente, KANINDÉ, possibilitando o surgimento de lideranças com grande capacidade de atuação, frente a interesses de ordem política, ambiental, cultural e econômica.

Com a estruturação da Aldeia Traíra, indígens das aldeias Canavial e Pupunha e demais indígnas que viviam em áreas urbanas começaram a migrar para ali. A partir de 1996, é que há uma maior infuência e centralidade da Aldeia Traíra em relação às demais. Contudo, ainda ocorrem problemas no tocante ao escoamento e comercilização de excedentes de produção, como castanha e farinha d‘água.

Os casos mais recentes de migração ocorreram no início no ano de 2017, vindo uma família de Porto velho (irmã mais nova do falecido tuxava) e outra que residia em uma aldeia do povo Jiahui. Há um retorno daqueles que não conseguiram viver fora de seu território, experimentaram a cultura do outro, tudo o que ela oferece, entretanto não se esqueceram da sua cultura. Não obstante também pode ocorrer, em menor intensidade, a migração entre aldeias, como o caso de um filho do cacique Severino que foi morar com sua esposa na Aldeia Canavial, Terra Indígena Ipixuna, no ano de 2015.

Retornar ao seu território significa fazer parte de um grupo, de uma história em comum, a história (cultural, política, ambiental, etc.) da relação de um povo com seu espaço de vida, sentindo-se seguros e pertencendo a algo (um povo e um território). A terra (território), anuncia, chama, e aqueles que atendem ao chamado pretendem, ―[...] nesse ‗retorno à natureza‘, renovar sua sensibilidade, revigorar sua energia, para melhor compreender sua condição terrestre‖ (DARDEL, 2011, p. 83). São retomadas as relações que os grupos foram estabelecendo com seus territórios ao longo do tempo, são revividas, presentificadas e fortalecidas, recriando seus laços territoriais.

Hoje, na Aldeia Traíra,há em torno de 135 pessoas, contando com cerca de 80 alunos de 1ª a 5ª série e 6ª a 9ª do Ensino Fundamental e 1ª a 3ª série do Ensino Médio. Há professores Parintintin capacitados, sendo formados no projeto Pirayawara, atualmente ofertado pela SEDUC, e agente de saúde indígena. A aldeia possui uma estrutura que congrega uma escola municipal e outra estadual, posto de saúde, poço artesiano, centro cultural, internet, telefone público, comunicação via rádio, transporte (embarcações e uma caminhonete), aparelhos eletrônicos, motores de ambarcações, dentre outros objetos e benfeitorias.

Além dos elementos materiais, a realidade local também pode ser caracterizada pelas atividades que ocorrem ao longo do ano. Desta feita, a Figura 11 sintetiza, de forma circular, como se expressa o tempo no território Parintintin, ou seja, a relação dos ritmos indígenas (festas e rituais) com os ciclos biofísicos (caça, pesca, agricultura, estações do ano, etc.) e suas fases. As pessoas localizam-se ―[...] no próprio centro de um espaço que se desloca de

maneira circular; isto é, terminam se situando no centro de um cenário giratório‖ (TOLEDO; BARRERA-BASSOLS, 2009, p. 42).

Figura 11 - Calendário de atividades anuais: o cenário giratório do povo Parintintin da Aldeia Traíra

Fonte: Povo Parintintin. Org.: Juliano Strachulski.

Ao centro da figura se encontra uma espiral, que representa as experiências e conhecimentos acumulados de forma individual e coletiva, transmitidos e memorizados ao longo do tempo. Ela simboliza a capacidade dos indivíduos e grupos em recordar elementos do passado e utilizá-los no presente para interpretar e agir sobre uma determinada situação. Contudo, não são somente acúmulos e repetições, mas espirais ascendentes (memória coletiva compartilhada com outros indivíduos), que mostram como a produção de conhecimento é um

processo dinâmico e contínuo, nunca fechado em si, de modo que ―Isso outorga à experiência local o caráter diacrônico e sincrético‖ (TOLEDO; BARRERA-BASSOLS, 2009, p. 43).

Na figura acima, constam as atividades mais importantes material e simbolicamente desenvolvidas pelo povo Parintintin, ao longo do ano. De dentro para fora do círculo, pode-se destacar as festas, tanto de santos, que ocorrem três vezes ao ano, como o ritual Yrerupykyhu, que é realizado no mês de agosto, mas depende de questões espirituais para se concretizar, pois, quando há mortes não é realizado, em especial quando se trata do falecimento das lideranças mais velhas. Yrerupykyhu é um ritual que pode conter a realização de outras práticas culturais ritualísticas, como o casamento e a menarca.

Além das festividades há a vigilância que, aliada aos rituais, atua na proteção territorial. Normalmente ocorre no mês de setembro, mas como depende de recursos da FUNAI para sua realização, pode ocorrer em outubro ou novembro. Ela se dá pelos deslocamentos que os indígenas empreendem acerca de seu território com vistas a identificar atividades irregulares.

Ao que se refere a extração de Sorva e Copaíba, elas podem ser realizadas o ano inteiro, não havendo época específica, pois, comumente utilizam a seiva extraída para consumo próprio.

Pesca e caça, são outras atividades de suma importância para o povo Parintintin, também podem ser realizadas o ano todo. Por outro lado, ressalta-se que para sua execução depende-se de questões cosmológicas, como as fases da lua, as épocas de reprodução dos animais, dentre outros fatores.

As coletas acabam completando a dieta alimentar local, destacando-se a de Açaí e a de Castanha. Ao que se refere a coleta de Castanha, esse período se estende de janeiro até meados de março, momento em que começam as aulas nas escolas locais, tendo em vista que os jovens que acompanham seus pais na coleta retornam para o início do período letivo. Além de alimento, pode ser comercializada no meio urbano de Humaitá. A coleta da Açaí, por sua vez, ocorre desde meados de março, até final de abril, podendo ser realizada de forma individual ou coletivamente (entre membros da família ou entre pessoas de famílias distintas), normalmente nas adjacências da Aldeia Traíra. Outras coletas se referem a frutos de espécies como Uxí-liso, Bacaba, Cupuaçu, Tucumã, etc.

Por último, uma das atividades mais importantes é a prática agrícola, que além de prover muitas proteínas, para sua dieta alimentar a base da mandioca e macaxeira, dentre outros cultivos, possibilita a geração de renda a partir da produção de farinha d'água. É a atividade que os Parintintin mais se dedicam ao longo do ano, envolvendo toda a família.

Em quase todo o período do ano há algum trabalho agrícola sendo realizado, seja na roçada, derrubada, limpeza (capina), plantio ou colheita. O plantio vai de meados de agosto até final de outubro, já a colheita se dá de seis oito meses após o plantio.

Uma prática que não aparece de forma explícita no calendário de atividades anuais, mas que pode ocorrer cotidianamente, é a retirada de espécies vegetais ou parte delas, seja para a confecção de artefatos, construções ou utilizadas para o tratamento da saúde. Pode ser realizada ao longo do ano, respeitando-se as fases da lua e os seres da floresta (cosmologia e cosmogonia).

A elaboração de um calendário de atividades anuais, a compreensão do histórico do povo Parintintin e da relação sociedade-natureza local acaba se tornando possível graças a uma aproximação com os indígenas, a partir de uma convivência diária. Assim sendo, a participação nas mais variadas atividades cotidianas e naquelas consideradas singulares, quando permitido pelos indígenas, vai proporcionar um contato mais íntimo ao vivido territorial, oportunizando inteligibilidades mais verossímeis acerca da relação sociedade- natureza territorialmente instituída.

CAPÍTULO 3 - CONVIVENDO COM O POVO PARINTINTIN: A EXPERIÊNCIA E OS SUJEITOS DA PESQUISA

Neste capítulo, descrevemos a experiência de pesquisa com o povo Parintintin da Aldeia Traíra, reportando como ocorreu a vivência ao longo de mais de cinco meses, além de apresentarmos os personagens centrais da pesquisa e suas territorialidades. O texto compõe-se de quatro tópicos, a saber: o contato e as primeiras impressões; a vida na aldeia; as excursões na floresta; e, os personagens centrais e a expressão de suas territorialidades.

Evidencia-se que o contato diário com o povo Parintintin possibilitou relativizar as diferenças culturais e estabelecer laços de confiança, bem como a superação de desconfianças, a partir de observações e participação em atividades diárias, como excursões na floresta, trabalho agrícola, rituais, festas e demais situações.

Em termos culturais, destaca-se que os Parintintin possuem algumas distinções em relação à vida na aldeia e na floresta e que cada pessoa, em especial aquelas centrais para a pesquisa, possuem distintas territorialidades, tantas quantas são as dimensões da realidade vivida. Na aldeia é aonde convivem com práticas extraculturais. Na floresta, apesar de trazerem consigo elementos da vida em aldeia, da cultura não indígena, parecem desenvolver com maior liberdade suas práticas tradicionais, sentindo menos a influência dos elementos da cultura envolvente.