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5 MÉTODO DE PESQUISA

5.1 DESIGN SCIENCE RESEARCH (DSR)

5.1.4 A condução da DSR

Uma característica fundamental da pesquisa que utiliza a DSR como método, é sua orientação voltada à solução de problemas específicos, não necessariamente buscando a solução ótima, mas sim, a solução satisfatória para a situação. A principal preocupação acerca dos

Descrição

Constructos

Também chamados de elementos conceituais, são o vocabulário de um domínio, os conceitos usados para desdcrever os problemas dentro do domínio e para especificar as respectivas soluções1. Definem os termos usados para descrever e pensar sobre as tarefas, pondendo ser

valiosos tanto para os profissionais quanto para os pesquisadores2. A própria linguagem e os

números são entendidos como um artefato3.

Modelos

Conjunto de proposições ou declarações que expressam as relações entre os constructos2.

Representações da realidade que apresentam tanto as variáveis de determinado sistema como suas relações. Podem também ser considerados uma descrição, uma representação de como as coisas são3. Na DSR, a principal preocupação acerca dos modelos está na sua utilidade e não

na aderência de sua representação de verdade. Eles precisam ter condições de capturar a estrutura geral da realidade, buscando assegurar sua utilidade3, 4.

Métodos

Um conjunto de passos necessários para desempenhar determinada tarefa. Podem ser representados graficamente ou encapsulados em heurísticas e algoritmos específicos2. Podem

estar ligados aos modelos e as etapas do método podem utilizar partes do modelo como uma entrada que o compõe. Favorecem a construção e a representação das necessidades de melhoria de um determinado sistema. São criações típicas em design science2,3,4.

Instanciações

É a execução do artefato em seu ambiente2. As instanciações são os artefatos que

operacionalizam outros artefatos (constructos, modelos e métodos), visando também demonstrar a viabilidade e a eficácia dos artefatos construídos3. Elas informam como

implementar ou utilizar determinado artefato e seus possíveis resultados no ambiente real, sendo um conjunto coerente de regras que orientam a utilização dos artefatos em um determinado ambiente real, que compreende desde as fronteiras da organização ou da indústria onde se encontra até os contornos da realidade econômica na qual a organização está inserida3,4.

Design propositions

Correspondem a um template genérico que pode ser utilizado para o desenvolvimento de soluções para uma determinada classe de problemas5. Pode ser descrita da seguinte forma: se

você quer atingir Y (objetivo ou problema a ser solucionado), em uma situação Z (ambiente externo, contexto), então você deverá utilizar X (artefato, considerando sua organização e suas contingências)5. T ip os d e ar te fato

modelos está na sua utilidade, e não na aderência de sua representação da verdade. Não obstante, embora um modelo possa ser impreciso sobre os detalhes da realidade, ele precisa ter condições de capturar a estrutura geral da realidade, buscando assegurar sua utilidade (DRESCH; LACERDA; ANTUNES JÚNIOR, 2015).

O enquadramento metodológico consiste em escolher e justificar um método de pesquisa que permita, principalmente: responder ao problema de pesquisa formulado; ser avaliado pela comunidade científica; e, evidenciar procedimentos que robusteçam os resultados da pesquisa. Estes passos lógicos devem ser vistos como procedimentos necessários para assegurar a imparcialidade, o rigor na condução do trabalho e a confiabilidade dos resultados (LACERDA et al., 2013).

A condução da DSR foi sintetizada na Figura 5-1, que apresenta uma breve descrição dos passos de seu processo e seus resultados. A condução da presente pesquisa segue esses passos.

Figura 5-1 Esquema de condução da DSR

Fontes: 1Romme (2003), Andrade et al. (2006); 2Manson (2006), Simon (1996), Hevner (2007), 3Manson (2006), Simon (1996), Venable (2006), March; Smith (1995), Vaishnavi; Kuechler (2009), 4Worren; Moore; Elliott (2002),

Lacerda et al. (2013), 5Peffers et al. (2008), Simon (1996), March; Smith (1995).

O processo da pesquisa construtiva possui duas atividades fundamentais: criar conhecimento que sirva para fins para a humanidade, e, avaliar o desempenho de sua aplicação (MARCH; SMITH, 1995). A noção de que esse processo de pesquisa não é linear e que envolve ciclos (loops) de aprendizados é apresentada na literatura (ROCHA et al., 2012).

Compreensão da problemática envolvida. Entendimento do

problema de uma perspectiva mais ampla1.

CONSCIENTIZAÇÃO PASSOS DO PROCESSO

Definição e formalização do problema a ser solucionado, suas fronteiras (ambiente externo) e as soluções satisfatórias necessárias.

Processo essencialmente criativo.

Vinculada às atividades de desenvolver artefato(s) para a

solução dos problemas2. SUGESTÃO

Conjunto de possíveis artefatos e a escolha de um, ou mais, para serem desenvolvidos.

Processo de constituição do artefato em si. Construção do

ambiente interno do artefato3.

DESENVOLVIMENTO O artefato em estado funcional.

Processo de verificação do artefato. No ambiente para o qual

foi projetado, em relação às soluções que se propôs alcançar4. AVALIAÇÃO

Explicitar o ambiente interno, externo e objetivos; explicitar como o artefato pode ser testado; descrever os mecanismos que medem os resultados.

Formalização geral do processo5.

CONCLUSÃO

Formalização geral do processo e sua comunicação às comunidades acadêmicas e de profissionais.

Quadro 5-2 Esquema de condução da DSR (passos do processo) CO NS CI E NT IZ AÇÃO Definição do problema:

Produtos (empreendimentos) residenciais estão sendo concebidos sem se levar em consideração as necessidades e requisitos dos usuários-finais, tendo o custo como principal parâmetro norteador das tomadas de decisão de projeto. A qualidade do produto final entregue ao usuário é afetada, e esses projetos são replicados, resultando em novos produtos com as mesmas deficiências.

Fronteira (ambiente externo) do problema:

Produtos (empreendimentos) residenciais, destinados a famílias com renda média de até 7 mil reais.

Solução satisfatória necessária:

Aplicar um método que aumente a entrega de valor em um produto residencial, a partir da percepção de seus usuários finais, com impacto mínimo no aumento de custo do produto.

SU G E S -

O Artefato escolhido para a solução do problema:

Método para realocação de custos

DE S E NVO L - VI M E NT

O Ambiente interno do artefato e constituição do artefato em si:

O método para a realocação dos custos se dá por meio da: 1. Captação de valor desejado pelo cliente; 2. Decomposição do produto em subprodutos e determinação de seus custos permissíveis; 3. Associação dos atributos de valor (cartões ilustrados) aos subprodutos; 4. Aplicação das ferramentas da MV: técnica de Mudge com os subprodutos do empreendimento, e método Compare dos subprodutos; 5. Realocação dos custos.

AVAL

IAÇÃO

Processo de verificação do artefato Como o artefato pode ser testado:

1. Captação de valor desejado pelo cliente – esse passo do método foi avaliado em dois momentos: durante tratamento estatístico dos dados coletados, pela pesquisadora com o auxílio de um profissional da área de estatística; e, após tratamento estatístico, pela pesquisadora com o auxílio de acadêmicos da área de

arquitetura e construção civil.

2. Decomposição do produto em subprodutos e determinação de seus custos permissíveis: avaliação com o auxílio do profissional colaborador, envolvido no processo de concepção do produto em estudo.

3. Associação dos atributos de valor aos subprodutos: desenvolvimento e avaliação desse passo do método realizado na etapa 1 da dinâmica, com o grupo focal 1. 4. Aplicação das ferramentas da MV - Técnica de Mudge com os subprodutos: desenvolvimento e avaliação desse passo do método realizados na etapa 2 da dinâmica, com o grupo focal 1; Método Compare dos subprodutos: avaliação na etapa 3 da dinâmica, com o grupo focal 2.

5. Realocação dos custos: desenvolvimento e avaliação desse passo do método na etapa 3 da dinâmica, com o grupo focal 2.

Mecanismos que medem os resultados:

1. Os cartões ilustrados são considerados adequados à aplicação no contexto escolhido; 2. Os subprodutos resultantes da decomposição representam as entregas propostas pela construtora / incorporadora aos clientes, e são nomeados com termos de fácil entendimento pelos diversos envolvidos nos passos posteriores; e, a alocação dos custos provenientes do orçamento permissível do empreendimento está de acordo com a lógica do PBS; 3. A dinâmica para se associar os atributos de valor aos subprodutos é a mais indicada, considerando os participantes envolvidos nesse passo do método;

4. O processo de realização da Técnica de Mudge (dinâmica e posterior ponderação dos pesos) é satisfatória para a obtenção da série de dados "necessidades relativas"; e, a construção do Gráfico Compare permite a correta identificação de possibilidades de realocação dos custos; e,

5. A realocação dos custos é possibilitada por meio do estudo dos projetos do empreendimento, do orçamento e da análise do gráfico Compare, sendo também necessários conhecimentos de custos de materiais e estratégias projetuais.

(continuação do Quadro 5-2)

CO

NCL

US

ÃO

Formalização geral do processo:

O método para a entrega de um produto com maior valor, segundo as perspectivas dos usuários finais, por meio da realocação dos custos, se dá por meio da: 1. captação de valor desejado pelo cliente, por meio da técnica de preferência declarada, com a utilização dos cartões ilustrados de valor; 2. decomposição do produto em subprodutos (baseada na lógica do PBS) e determinação de seus custos permissíveis; 3. associação dos atributos de valor (cartões ilustrados) aos subprodutos, por meio de uma dinâmica com profissionais e acadêmicos de arquitetura e de engenharia civil; 4. aplicação das ferramentas da MV: técnica de Mudge com os subprodutos do empreendimento, por meio de uma dinâmica com os mesmos participantes da etapa anterior; e, método Compare dos subprodutos, resultante dos outputs das etapas anteriores; 5. realocação dos custos, a fim de se aumentar o valor entregue do produto ao usuário final, com a colaboração dos profissionais da construtora/incorporadora responsável pelo empreendimento em estudo.

Comunicação à comunidade acadêmica:

No momento de defesa do mestrado, publicação da dissertação e possíveis publicações referentes à pesquisa no meio acadêmico.

Comunicação à comunidade de profissionais:

No momento de avaliação e validação do artefato, com a construtora e incorporadora responsável pelos empreendimentos em estudo. Os resultados da pesquisa serão apresentados para a empresa e aplicados por ela em um novo produto que está sendo desenvolvido, que tem as mesmas características do produto estudado.

Fonte: elaborado pela autora, a partir de Lacerda et al. (2013)

Os ganhos de compreensão obtidos destes ciclos podem ocorrer nas etapas de Desenvolvimento e de Avaliação e levam a uma revisão da conscientização do problema, criando um novo ciclo de construção do projeto (VAISHNAVI; KUECHLER, 2007). É inerentemente criativo e incremental: a etapa de Sugestão fornece o feedback essencial para a etapa de Desenvolvimento, em termos de qualidade do processo de desenvolvimento e da própria solução (HEVNER et al., 2004). Outro ciclo de aprendizado pode ser obtido na fase de Conclusão, voltando ao passo da Conscientização do problema e criando um novo ciclo de pesquisa (ROCHA et al., 2013).

O Quadro 5-2 apresenta os passos do processo desta pesquisa, em conformidade com o proposto na Figura 5-1 e com o conjunto de passos proposto pelo artefato apresentado pela Figura 6-1. Esses passos serão apresentados nos subcapítulos que seguem.

A avaliação do método se deu por meio de grupos focais (ou entrevistas em grupo), que são uma técnica de coleta de dados utilizada na pesquisa qualitativa e quantitativa. O papel do pesquisador na dinâmica com os grupos focais é de participante, ativo ou passivo, e ele é menos objetivo do que na pesquisa quantitativa. O pesquisador é um observador e precisa de habilidades fortes de comunicação, sendo capaz de compreender as nuances de significados e capturar as mensagens que não são verbalizadas, interpretando e discernindo padrões.

As configurações qualitativas mais utilizadas são a observação do participante e a entrevista. As entrevistas podem ser realizadas individualmente ou em grupo. A entrevista em grupo é essencialmente uma técnica de coleta de dados que depende do questionamento sistemático com vários indivíduos, realizada simultaneamente, em um ambiente formal ou informal (FONTANA; FREY, 2000). Os grupos qualitativos (DICK, 1999) são geralmente definidos como grupos de pessoas reunidas para participar de uma área de interesse (BODDY, 2005).

Um grupo focal é sempre dirigido por um moderador ou facilitador, com diferentes graus de controle. Em um grupo focal estruturado, o facilitador é mais diretivo, tendo uma agenda definida que é seguida pelo grupo. Dessa maneira, o pesquisador tem uma boa ideia de quais são os problemas e pode explorá-los.

A qualidade que define um grupo focal é sua natureza coletivista: ao se concentrar no grupo, uma variedade de diferentes perspectivas pode ser expressada. É possível obter acesso às experiências dos diferentes indivíduos, bem como o resultado da interação entre eles. Os dados são enriquecidos à medida que os membros do grupo compartilham e reformulam seus pontos de vista. A interação é feita de maneira horizontal (entre participantes) e de maneira vertical (entrevistador/entrevistado).

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