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CAPÍTULO 3 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.4 A constituição da amostra

Os dados utilizados nesta pesquisa foram obtidos da fala de dezesseis informantes da comunidade de Barra Longa que atualmente residem em Belo Horizonte. A seleção dos entrevistados se deu em função de quatro grupos de fatores extralingüísticos: gênero, grau de contato com a cidade de origem, convívio diário com pessoas de Barra Longa e tempo de residência em Belo Horizonte. Temos, assim, um total de dezesseis informantes: oito homens e oito mulheres; em cada um desses subgrupos quatro trabalham ou moram com pessoas de Barra Longa e quatro não trabalham ou não moram com pessoas de Barra Longa, dos quais, dois mantêm contato freqüente e dois não mantêm e, ainda nesse subgrupo, um tem menos tempo de residência em Belo Horizonte e o outro tem mais.

No que se refere ao perfil do informante ideal a ser entrevistado, foram entrevistados jovens de 18 a 30 anos nascidos em Barra Longa, filhos de pais nascidos na região. A inclusão de informantes de apenas uma faixa etária se justifica pelo fato de que não é objetivo desta pesquisa verificar se o fenômeno analisado constitui um quadro de mudança em progresso. Outra justificativa é o fato de Mendes (2000) – ainda que orientada por uma perspectiva teórica diferente da adotada aqui – ter demonstrado como se comportam os falantes idosos da mesma comunidade de fala diante desse fenômeno variável. Em sua pesquisa, Mendes verifica também que os habitantes de Barra Longa de outras faixas etárias

mantêm o mesmo padrão observado na fala dos idosos em relação ao uso do artigo diante de antropônimos.

No que concerne ao nível de escolaridade, ressaltamos que, inicialmente, pensamos em controlar essa variável, no entanto, tivemos grande dificuldade em encontrar informantes com níveis de escolaridades diferentes entre si, pois grande parte dos jovens que saem da cidade possuem o segundo grau completo ou incompleto e já estão, em sua maioria, com intenção de ingressar em uma faculdade. Nesse sentido, ainda que tenha sido controlado em Amaral (2003) e Alves (2007), o fator escolaridade não foi controlado neste estudo. Cumpre lembrar, entretanto, que foram selecionados jovens de níveis de escolaridade bem próximos.

Além disso, a exclusão desse fator se justifica ainda por dois outros motivos: em primeiro lugar, porque o fenômeno estudado não ilustra variante de prestígio, nem variante estigmatizada socialmente, o que explicaria a ação da escola em favor de uma das mesmas; e em segundo, porque, embora os estudos anteriormente citados tenham dado atenção a esse fator, os resultados de ambos evidenciaram que o fator nível de escolaridade não é relevante para a análise deste fenômeno, conforme ilustra o trecho extraído da pesquisa de Amaral (2003) transcrito a seguir:

(...) seria possível supor que em ambos os municípios [Minas Novas e Campanha] os falantes teriam a tendência de usar a estrutura predominante (seja a ausência ou a presença) independentemente da escolaridade que possuem, ou seja, a escolarização não exerceria um papel de privilegiar uma determinada variante. (Amaral, 2003: 112)

As informações relativas à descrição da amostra, que explicitam como os informantes foram agrupados seleção dos informantes, podem ser vistas no quadro 6, a seguir:

Gênero Pertinência a redes ligadas a Barra Longa Grau de contato com a cidade de Barra Longa Tempo de residência em Belo Horizonte 01 Masculino Trabalha /mora com pessoas

de Barra Longa

Contato freqüente De 2 a 5 anos 02 Feminino Trabalha /mora com pessoas

de Barra Longa

Contato freqüente De 2 a 5 anos 03 Masculino Trabalha /mora com pessoas

de Barra Longa

Contato não freqüente

De 2 a 5 anos 04 Feminino Trabalha /mora com pessoas

de Barra Longa

Contato não freqüente

De 2 a 5 anos 05 Masculino Trabalha /mora com pessoas

de Barra Longa

Contato freqüente De 6 a 10 anos 06 Feminino Trabalha /mora com pessoas

de Barra Longa

Contato freqüente De 6 a 10 anos 07 Masculino Trabalha /mora com pessoas

de Barra Longa

Contato não freqüente

De 6 a 10 anos 08 Feminino Trabalha /mora com pessoas

de Barra Longa

Contato não freqüente

De 6 a 10 anos 09 Masculino Não trabalha /não mora com

pessoas de Barra Longa

Contato freqüente De 2 a 5 anos 10 Feminino Não trabalha /não mora com

pessoas de Barra Longa

Contato freqüente De 2 a 5 anos 11 Masculino Não trabalha /não mora com

pessoas de Barra Longa

Contato não freqüente

De 2 a 5 anos 12 Feminino Não trabalha /não mora com

pessoas de Barra Longa

Contato não freqüente

De 2 a 5 anos 13 Masculino Não trabalha /não mora com

pessoas de Barra Longa

Contato freqüente De 6 a 10 anos 14 Feminino Não trabalha /não mora com

pessoas de Barra Longa

Contato freqüente De 6 a 10 anos 15 Masculino Não trabalha /não mora com

pessoas de Barra Longa

Contato não freqüente

De 6 a 10 anos 16 Feminino Não trabalha /não mora com

pessoas de Barra Longa

Contato não freqüente

De 6 a 10 anos Quadro 6: Informantes que residem em Belo Horizonte

3.4.1 Avaliação da amostra

Como já foi exposto, neste estudo, pretendemos analisar o comportamento lingüístico dos jovens de Barra Longa que residem em Belo Horizonte em relação à variação ausência/presença de artigo diante de antropônimos. Partindo do pressuposto de que, apesar de preservar o padrão lingüístico da comunidade de origem, o contato com Belo Horizonte produz alterações na fala desses jovens quanto ao uso do artigo, surgiu a necessidade de se controlar também dados extraídos da fala dos jovens que não saíram da cidade; pois embora acreditássemos, com base em Mendes (2000) e em observações não sistemáticas, que a ausência do artigo fosse a estrutura predominante na fala dos jovens de Barra Longa, não havia até então dados que comprovassem tais expectativas.

Desse modo, com o intuito de verificar as possíveis alterações na fala do grupo sob análise, tomando como referência o padrão lingüístico exibido pelo grupo que permanece na comunidade analisada, um grupo de controle foi constituído a partir de dados de fala de quatro jovens da mesma faixa etária – dois homens e duas mulheres – que continuam em Barra Longa.

Em síntese, nesta pesquisa trabalhamos com dois corpora, constituídos a partir de dados de fala de vinte informantes: (i) o grupo de controle, constituído de quatro informantes que permanecem em Barra Longa e (ii) o grupo de Belo Horizonte, constituído de dezesseis informantes que residem em Belo Horizonte. Para os dois corpora foram considerados os mesmos grupos de fatores internos. Quanto aos grupos de fatores externos, para o segundo corpus foram considerados, além dos fatores gênero e grau de intimidade, convívio diário com pessoas de Barra Longa, grau de contato com a cidade de Barra Longa e tempo de residência em Belo Horizonte.