• Nenhum resultado encontrado

A Constituição de 1988 e a ampliação dos direitos no Brasil

2. OS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

2.3. A Constituição de 1988 e a ampliação dos direitos no Brasil

Conforme já relatado no presente trabalho, foi longa a trajetória enfrentada até a previsão legal dos direitos fundamentais com tamanha amplitude como foram abordados no texto Constitucional de 1988. Destarte este arcabouço legislativo a que a Constituição deu origem foi fundamental para a positivação de direitos inerentes à dignidade da pessoa humana.

Com a chegada do fim do período ditatorial, de pronto foram organizadas as eleições da Assembleia Nacional Constituinte, conforme teoriza Carvalho (2010, p. 200),

A Constituinte trabalhou mais de um ano na redação da Constituição, fazendo amplas consultas a especialistas e setores organizados e representativos da sociedade. Finalmente foi promulgada a Constituição em 1988, um longo e minucioso documento em que a garantia dos direitos do cidadão era a preocupação central.

Com a promulgação da carta Magna, chegou-se ao ápice dos direitos políticos, tendo implantado a escolha dos representantes políticos através de eleições, através do voto direto pela nação. Ademais, derrubou todos os obstáculos para se chegar à universalidade do direito de voto, eis que o converteu em facultativo aos analfabetos, e para os jovens com idade entre dezesseis e dezoito anos e obrigatório aos indivíduos com dezoito anos ou mais (CARVALHO 2010).

Quanto aos direitos sociais, Carvalho (2010) cita que o texto constitucional pré- estabeleceu a existência de um salário mínimo, assim como previu que o valor da aposentadoria de trabalhadores urbanos e rurais teria que obedecer a este valor mínimo a fim de garantir a vida digna dos componentes da sociedade, por óbvio, sem prejuízo de o valor arbitrado ser maior. As aposentadorias e pensões foram previstas à serem alcançadas à todos os deficientes físicos que reste comprovada a incapacidade para o trabalho e a todos os maiores de 65 anos, independente de terem contribuído para a previdência, os demais devem comprovar um tempo mínimo de serviço para receber o município. Outro grande avanço foi a previsão da licença paternidade.

Os direitos Civis, por sua vez, Carvalho (2010) discorre informando que a Carta Constitucional trouxe à tona aqueles que já haviam entrado em vigor no país e suprimidos no período ditatorial, como por exemplo, os direitos às liberdades de expressão, de imprensa e de organização. Para além disto, também criou novos direitos como o habeas data, mandado de injunção e estabeleceu a proteção do consumidor em legislação específica e instituiu os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, visando tornar a justiça mais acessível a todos.

Cabe citar no presente trabalho o preâmbulo da Carta Constitucional, já que amplamente reconhecida pela positivação dos direitos fundamentais, já antecipava que em seu interior estria explícita a previsão quanto a proteção destes direitos individuais, vejamos:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o

exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem- estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

Destarte, a Constituição federal não se limitou em prever os direitos a serem assegurados pelo Estado em prol da sociedade, mas sim, tratou de incumbi-lo a adotar uma conduta ativa na concretização dos direitos fundamentais. Neste interim, segundo Figueiredo, o art. 5º, §1º da Constituição Federal prevê a aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais, obrigando o poder público a adotar as medidas cabíveis para a efetivação destes direitos, a fim de que seja alcançada maior eficácia possível.

Ingo Wolfgang Sarlet (2012, p. 91) sustenta que a aplicação os direitos fundamentais encontra guarida na dignidade da pessoa humana, ou seja, é sobre o pressuposto da busca por uma vida digna que autoriza a busca pela sua efetivação. De fato,

o valor de concordância prática ao sistema de direitos fundamentais, que por sua vez, repousa a dignidade da pessoa humana, isto é na concepção que faz da pessoa fundamento e fim da sociedade e do Estado, razão pela qual se chegou a afirmar que o princípio da dignidade da pessoa humana atua como o “alfa e ômega” do sistema de liberdades constitucionais e, portanto, dos direitos fundamentais.

No que tange a aplicação prática dos direitos fundamentais sob o princípio da dignidade da pessoa humana, pode-se dizer que cada um deles elenca uma forma de proteção da dignidade humana, sendo que o seu não cumprimento enseja a violação deste princípio constitucional. Este vínculo entre os direitos fundamentais e a ideia de dignidade da pessoa humana pode ser observado em vários graus de intensidade, podendo encontrar um liame direto ou indireto e também se dar de várias formas, tamanha a subjetividade deste princípio constitucional.

Esta ligação existente entre os direitos fundamentais e a dignidade da pessoa humana é tão estreito que cada vez mais aumentam as decisões judiciais que valoram a dignidade humana enquanto um critério hermenêutico a fim de dirimir controvérsias. Alexandre Pasqualini (apud SARLET, 2012, P. 100), faz uma importante consideração acerca de ambos institutos constitucionais, dissertando que

atuam, no centro do discurso jurídico constitucional, como um DNA, como um código genético, em cuja unifixidade mínima, convivem, de forma indissociável, os momentos sistemático e heurístico de qualquer ordem jurídica verdadeiramente democrática

Em síntese, Sarlet (2012), possui o entendimento de que o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana ordena o reconhecimento e defesa de todos os direitos fundamentais em cada uma de suas gerações. Ademais, o indivíduo necessita que o poder público estabeleça algumas garantias de sua identidade pessoal – como, por exemplo, autonomia, integridade física e psíquica, respeito à privacidade, honra, intimidade, imagem, dentre outros direitos fundamentais que são inerentes à dignidade do ser humano – e complementa redigindo que “a relação primária entre dignidade e direitos, pelo menos de acordo com o que sustenta parte da doutrina, consiste no fato de que as pessoas são titulares de direitos humanos em função de sua inerente dignidade” (SARLET, 2012, p. 102).

Os direitos sociais pode-se dizer que objetivam a proteção da igualdade entre os indivíduos, garantindo mínimo existencial, a fim de que as pessoas possam garantir a sua subsistência a fim de alcançar uma vida com dignidade. Ou seja, visam alcançar aos seres componentes da sociedade uma vida boa – mais arraigada a ideia de qualidade de vida. Peces- Barba (apud LUCAS, 2016), corrobora nesse sentido explicitando que os direitos fundamentais, são universais, sob o fundamento de que

a universalidade da moralidade básica da dignidade humana que constitui o fundamento (uma exigência moral e racional) dos direitos humanos como sendo devidos a todos os indivíduos, independentemente da posição territorial ou temporal em que se encontrem

No entanto, o cenário explanado acima está longe de ser a realidade vivenciada em nosso país, tendo em vista os inúmeros obstáculos para a efetivação deste direito. Diante desta inefetividade por parte do poder executivo, os indivíduos estão chamando o poder judiciário a intervir. Neste sentido, corrobora o entendimento de Rosenfeld (apud SARLET, 2012, p. 113) “onde homens e mulheres estiverem condenados a viver na pobreza, os direitos humanos estão sendo violados”.

Assim, a busca por assegurar a dignidade da pessoa humana está intrinsecamente vinculada à proteção e guarida dos direitos fundamentais. Ernst Benda (apud SARLET, 2012,

p. 123) contribui com este entendimento explicitando que “os direitos e garantias fundamentais constituem garantias específicas da dignidade da pessoa humana” e que esta última por sua vez não possui força para ser alegada de forma isolada, pois a dignidade da pessoa humana não é autônoma, mas sim, vinculada à preservação dos direitos fundamentais.

Documentos relacionados