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O direito à saúde na Constituição de 1988

3. O DIREITO À SAÚDE E AS DIFICULDADES DE SUA EFETIVAÇÃO

3.1. O direito à saúde na Constituição de 1988

Conforme preconiza Figueiredo (2007), um dos “méritos” da Constituição Federal de 1988 foi ter contemplado os direitos fundamentais em seu texto, positivando-os de tal modo a torná-los passíveis de serem cobrados na esfera judicial. Esta autora (FIGUEIREDO, 2007, p. 65) complementa:

que devem ser titulares de direitos econômicos, sociais e culturais somente aquelas pessoas que tenham necessidade de ajuda, jamais quem assim não se apresente. Igualdade como diferenciação e universalidade no ponto de chegada são os caracteres que contradistinguem os direitos sociais.

A Constituição Federal, consoante menciona Figueiredo (2007), prevê o direito à saúde em seu art. 6º e art. 196 e seguintes, de modo que está assegurada enquanto direito fundamental na seara material e formal. Além disto, a carta Magna também deixa claro que além de um direito, a prestação à saúde é um dever fundamental a ser atendido pelo Poder

Público, assim o direito à saúde é amplamente reconhecido em duas esferas distintas, a dimensão defensiva e a dimensão prestacional. A primeira delas está atrelada a um sentido negativo, de não afetar a saúde de ninguém, mas sim preservá-la; a segunda, por sua vez está ligada à atribuição do poder público de implementar ações com a finalidade de efetivar o alcance do direito à saúde à população.

Neste sentido, cumpre mencionar que a Constituição Federal de 1988 dispõe que a seguridade social deve estar de acordo com diversos princípios, assim como valer-se de mecanismos que possibilitem que todos tenham acesso às Políticas Públicas, conforme podemos observar:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:

I - universalidade da cobertura e do atendimento;

II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;

III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;

V - equidade (sic) na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento;

VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.

Conforme se denota do dispositivo de lei acima, a seguridade social envolve uma série de ações e garantias a serem efetivados pelo Estado a fim de resguardar a eficácia dos direitos nela assegurados, de modo que o texto constitucional elenca uma gama de princípios para regerem este segmento. Trata-se de uma medida importante, pois em havendo omissão legislativa quanto a alguma situação, esta reger-se-á de acordo com os princípios constitucionais pré-estabelecidos.

Ainda, a Constituição disponibilizou uma seção dedicada especificamente a cuidar do direito à saúde, de modo a estabelecer diretrizes para a efetivação de tal direito fundamental, a abertura desta seção se dá com o seguinte dispositivo:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Destarte, a Carta Magna incumbiu ao poder público a implementação do direito à saúde a ser alcançado à população através de políticas públicas e demais ações que se fizerem necessárias a fim de promover, proteger e quando necessário, recuperar a saúde, eis que se trata de uma questão de grande relevância pública. Além disto, o texto constitucional atribui ao Estado o dever de regulamentação, controle e fiscalização do direito à saúde.

Este amparo Constitucional resultou na previsão de um Sistema Único de Saúde, no dispositivo do artigo 198, largamente conhecido como SUS, através do qual a população deveria ter amplo acesso aos tratamentos relacionados com a saúde, ditando inclusive a participação da comunidade, a descentralização direcionada a cada esfera de governo, e o atendimento integral voltado em primeiro lugar para a medicina preventiva e após, voltando- se à assistência. A intenção inicial seria de que todos os cidadãos tivessem acesso ao tratamento igualitário e consequentemente ter supridas as suas necessidades vinculadas às saúde.

Assim, insta mencionar que o texto constitucional previu em seu art. 195 a forma de financiamento da seguridade social, estando abarcado o direito à saúde. O dispositivo expressa que a sociedade em geral terá de contribuir a partir do pagamento de impostos, devidamente regulamentado em lei. Também deverá ser prevista nos orçamentos das quatro esferas federativas, União, Estados Municípios e Distrito Federal, de modo a ser aplicado um percentual mínimo, e elenca em seus incisos a origem das receitas, que não será estudado a fundo no presente trabalho. Ademais, a Carta Magna prevê a livre iniciativa privada para complementar o Sistema Único de Saúde.

A Constituição Federal também abordou em seu texto as atribuições que competem ao Sistema Único de Saúde, elencando entre elas o dever de formulação de políticas e ações neste setor, fiscalizar e controlar procedimentos e substâncias farmacológicas, executar ações de vigilância sanitária, epidemiológica e de saneamento básico, fiscalização de produtos de consumo a fim de averiguar se não há riscos à saúde dos consumidores, entre outros, vejamos:

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:

I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos;

II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador;

III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;

IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;

V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)

VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano;

VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

Destarte, A Constituição Federal possui o intuito de fazer a Política social seja (TEIXEIRA 1986, p. 136) pautada “pelo dever do Estado na garantia do direito à saúde de forma universal, equânime, redistributiva e descentralizada”, observa-se portanto a intenção de unificação do direito à saúde para que pudesse ser estendido a toda a população. Conduto, o país enfrenta sérias dificuldades a fim de que o direito à saúde seja eficaz, conforme será estudado nos próximos subtítulos.

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