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A legislação infraconstitucional e o Sistema Único de Saúde

3. O DIREITO À SAÚDE E AS DIFICULDADES DE SUA EFETIVAÇÃO

3.2. A legislação infraconstitucional e o Sistema Único de Saúde

O Sistema Único de Saúde (SUS), conforme relata Petersen (2011), teve origem com o advento da Constituição Federal de 1988, que previu a regulamentação deste Sistema por meio de legislação Específica, que sobreveio com a Lei 8.080/1990, que prevê em seus dispositivos a gestão descentralizada, o que atribui a cada ente federado as suas competências de forma discriminada, no que tange a efetivação do direito à saúde.

Esta legislação também especifica quais tratamentos podem ser dispensados, assim como, vincula o fornecimento de determinados tratamentos a doenças específicas pelo Estado. Portanto, o direito à saúde, além da previsão constitucional, está previsto em vários documentos legais infraconstitucionais, o que reforça o ideal de prestação do Estado em favor da comunidade.

Consoante o entendimento de Pertersen (2011), a norma positivada está cercada de limitações de modo que acaba por não prever a totalidade das situações vivenciadas no cotidiano social, o que por sua vez gera conflitos em relação à interpretação e aplicação da

legislação vigente no país. Tal conflito é constantemente levado ao poder judiciário, que vem se mostrando o meio capaz para dirimi-los.

O Sistema Único de Saúde – SUS – possui amplo amparo na Constituição Federal de 1988, que consoante o demonstrado no presente trabalho é considerada um grande marco no que tange à constituição de um Estado de direito. Contudo, para fins de ser concretizado são necessárias normas específicas e taxativas a fim de proceder a sua total regularização, a fim de garantir o bom funcionamento do Sistema.

Para tanto, foram criadas as Leis nº 8.080 de 1990 e nº 8.142 de 1990. A Lei nº 8.080 de 1990 dispõe acerca da esfera organizacional quanto às ações e condições do funcionamento da prestação do direito fundamental que é o direito à saúde. Ou seja, trata-se de um diploma legal cujo objetivo maior é a normatização de preceitos fundamentais ao regular funcionamento do sistema, a fim de realizar uma adequada promoção, recuperação e proteção da saúde das pessoas.

Nesta senda, Figueiredo (2007, p. 97) disserta mencionando que esta legislação

[...] prescreve normas sobre: (a) organização, direção e gestão do SUS; (b) competências e atribuições de cada uma das esferas federativas; (c) funcionamento e participação complementar dos serviços privados de assistência à saúde; (d) política de recursos humanos a ser adotada pelo SUS; (e) recursos financeiros, incluindo a respectiva gestão, planejamento e orçamento

A Lei nº 8.142 de 1990, por sua vez, prevê a gestão democrática sobre a saúde, que segundo, imponto a participação dos indivíduos componentes da sociedade na gestão do SUS, através das Conferências de Saúde – órgãos colegiados dotados de caráter consultivo que efetua o controle social do Sistema – e o Conselho de Saúde – compostos por representantes do governo, trabalhadores da área da saúde, usuários do sistema e prestadores de serviços. As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde são instâncias colegiadas que compõe cada uma das esferas governamentais, municipal, estadual e federal (FIGUEREDO, 2007).

Importa referir que, consoante disserta Figueiredo (2007, p. 101), o Conselho Nacional de Secretários da Saúde – CONASS – elaborou um documento avaliativo acerca dos principais progressos obtidos com a criação do SUS, elencando entre eles,

a descentralização de ações e serviços de saúde, em níveis estadual e municipal; a estruturação dos Conselhos de Saúde nas três esferas federativas, com isso viabilizando a interlocução com a sociedade, inclusive em termos de controle sobre o sistema; o fortalecimento da rede pública de saúde, com extensão na cobertura dos serviços; ênfase na atenção básica e familiar, com acesso preferencial ao sistema; e definição de fontes estáveis de financiamento público, sobremodo a partir dos patamares mínimos definidos pela Emenda Constitucional 29/2002

Esta Lei – nº 8.142 de 1990 –, preceitua em seu preambulo, que além da gestão democrática, dispõe acerca dos recursos financeiros para o custeio da prestação à saúde. Assim, no corpo desta Lei, estão previstas a origem dos recursos e a sua distribuição para os entes federados de acordo com a sua competência prestacional do direito à saúde, assim como para os demais órgãos públicos voltados à garantir a universalidade deste direito fundamental.

O Sistema Único de Saúde, além de estar previsto nas leis federais supra, está previsto em outros instrumentos normativos. Dentre estes instrumentos normativos, podem ser citadas as Normas Operacionais Básicas – NOBs –, cuja formalização, para fins de apresentar efeitos jurídicos, ocorre por meio de portarias ministeriais. Estas normas possuem conteúdo definido pelo Ministério da Saúde conjuntamente aos representantes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde – CONASS – e ao Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde – CONASEMS.

Tais Normas Operacionais Básicas visam instrumentalizar estratégias de ações SUS, a fim de melhorar o desempenho do sistema, delineando novas diretrizes ao passo que se apresentam novas necessidades pela sociedade. A partir de então, ao longo dos anos foram criadas várias normas jurídicas a fim de melhorar e até mesmo especificar determinadas medidas para o bom funcionamento do SUS. De acordo com dados do site do Conselho Nacional de Saúde (2016), entre elas podemos citar os decretos e portarias, as quais deixa-se de ater norma por norma e volta-se para os objetivos principais destes textos legislativos, dentre eles podemos mencionar que as Portarias e decretos que tratam de matérias vinculadas ao SUS, implementadas em nosso país possuem, de modo geral, o intento de promover normas e diretrizes operacionais; designar representantes e membros titulares de órgãos, instituições e entidades; dispor acerca dos direitos e deveres dos usuários do sistema; convocar conferências de saúde e; regulamentar o Sistema Cartão Nacional de Saúde.

O Conselho Nacional de Saúde, em seu site, traz as resoluções elaboradas com o afinco de aprovar regimentos e diretrizes “para criação, reformulação, estruturação e funcionamento dos Conselhos de Saúde”. Assim como, as resoluções visam regulamentar as Comissões Interssetoriais de Saúde e Assistência, voltadas ao atendimento das necessidades da população.

Outrossim, quanto às legislações ordinárias, pode-se observar a partir do site do Conselho Nacional de Saúde que estas leis criadas entre os anos de 1990 e 2012 alteram legislações mais abrangentes, acrescentando e/ou modificando os dispositivos nelas contidos a fim de ampliar a prestação à saúde, aumentar incentivos financeiros e promover a transparência das ações na área da saúde, com o intento de fiscalizar os atos governamentais nesta área. Em especial, estas leis, em sua vasta maioria surgiu para incrementar a Lei 8.080 de 1990, amplamente reconhecida socialmente por seu viés promocional do direito à saúde.

Portanto, a sua previsão na Constituição Federal de 1988, é suplementada por um arsenal de normas jurídicas infraconstitucionais que possuem o condão de viabilizar o funcionamento adequado do Sistema Único de Saúde. Este fenômeno pode ser observado a partir da perspectiva de cada uma das normas jurídicas elencadas possuem objetivos distintos para atingir uma finalidade em comum.

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