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CAPÍTULO 1: PANORAMA HISTÓRICO DO BRASIL

1.4 A Educação

1.4.5 A Constituição de 1946 e o anteprojeto da LDB

Romanelli (1978) aponta que, por ocasião da Constituição de 1946, foi dada importância à educação, assim sendo, no tocante à educação foi estabelecido:

“Art. 166: A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola. Deve inspirar-se nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana.” “Art. 167: O ensino dos diferentes ramos será ministrado pelos poderes públicos e é livre à iniciativa particular, respeitadas as leis que o regulem.”

“Art. 168: A legislação do ensino adotará os seguintes princípios: I – o ensino primário é obrigatório e só será dado na língua nacional;

II – o ensino primário oficial é gratuito para todos; o ensino oficial ulterior ao primário sê-lo-á para quantos provarem falta ou insuficiência de recursos;

III – as empresas industriais, comerciais e agrícolas, em que trabalharem mais de cem pessoas, são obrigadas a manter ensino primário gratuito para seus servidores e os filhos destes;

IV – as empresas industriais e comerciais são obrigadas a ministrar, em cooperação, aprendizagem para seus trabalhadores menores, pela forma que a lei estabelecer, respeitados os direitos dos professores.” (ROMANELLI, 1978, p. 170)

A nova Constituição, segundo Romanelli (1978), estava mais próxima da Constituição de 1934 e, portanto, mais próxima dos ideais dos Pioneiros da Educação Nova. A autora acrescenta que, a Constituição de 1946, tinha seus preceitos na ideologia liberal-democrática,

porém, seus princípios diferiam do liberalismo dos séculos XVIII e XIX, tratando de assegurar, “[...] direitos e garantias individuais inalienáveis, estavam visivelmente impregnados do espírito democrático tão próprio das reivindicações sociais do século em que vivemos” (ROMANELLI, 1978, p. 171). Esse contexto propiciou o reinício das lutas ideológicas até então latentes. Entre tantos artigos, Saviani (2010) destaca o artigo 174, o qual determinava que fosse de competência do Estado, legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Atento às determinações desse artigo, o Ministro da Educação, Clemente Mariani, nomeou uma comissão de educadores, com o propósito de elaborar um projeto de reforma do ensino. Era o anteprojeto da LDB. Os trabalhos, segundo Saviani (2010), foram presididos por Lourenço Filho, além da colaboração de nomes expressivos da educação: Almeida Júnior, Carneiro Leão, Teixeira de Freitas, Celso Kelly, Lobo Bethlem, Alceu Amoroso Lima, Arthur Filho, Joaquim Faria Goes, Maria Junqueira Schmidt, Pedro Calmon, Cesário de Andrade, Mário Paulo de Brito, Pe. Leonel Franca, Levi Fernandes Carneiro, além das colaborações de Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira.

Romanelli (1978) apresenta as propostas do anteprojeto (LDB) Lei de Diretrizes e Bases, produzido pela comissão do Ministro Mariani:

Na Educação:

• Obrigatoriedade e gratuidade da escola pública em seus vários níveis;

• Condições para a vigência dos princípios de liberdade e solidariedade humana; (Princípios democráticos)

Na Administração:

• Constituição do Conselho Nacional de Educação;

• Criação de um sistema federal de educação, com administração e organização por conta dos estados;

• Exame na conclusão de cursos;

• Autonomia administrativa, didática e financeira das Universidades;

• Provimento de cargo de magistério feito por meio de concursos de provas e títulos;

• Fiscalização das escolas privadas;

• Criação do Colégio Universitário, destinado ao preparo dos candidatos aos cursos superiores.

Saviani (2010) analisa a repercussão causada pelo anteprojeto, quando da exposição dos motivos para a efetivação do mesmo pelo então Ministro da Educação Clemente Mariani.

Um dos pontos que suscitou controvérsias foi o teor político antigetulista, implícito na proposta. Ou seja, segundo Saviani (2010), existia uma aliança conservadora com perspectivas modernizadoras. No entanto, para o autor, o líder da Câmara Gustavo Capanema, considerava o anteprojeto uma manobra política, fato que demonstrava a ausência de intenções pedagógicas. Nesse ínterim, foram muitos os percalços até que se chegasse a um resultado. “[...] por suscitar questões que os políticos da época não souberam resolver, esse anteprojeto acabou morrendo, para ser, depois substituído, na ordem do dia das discussões, por outro substitutivo proposto pelo deputado Carlos Lacerda [...]” (ROMANELLI, 1978, p. 174). Essa substituição, para Romanelli (1978), envolvia um ponto polêmico e delicado, no tocante à liberdade de ensino.

Romanelli (1978) observa que, houve dois períodos em torno dessa reforma de ensino: o primeiro ia de 1948 a 1958, o segundo de 1958 a 1961, tempo esse referente à votação da lei. No primeiro momento, em 1948, após a recusa do deputado Capanema, o projeto foi arquivado. Em 1951, por solicitação da Câmara dos Deputados, o projeto é retomado e constatou-se que o mesmo fora extraviado. Na sequência, relata a autora, com a colaboração de diversas subcomissões, ocorreu a sua reformulação, no entanto, a ABE elaborou outro projeto. Após os debates promovidos pela Comissão de Educação e cultura, acrescenta, em 1955, um substitutivo apresentado pelo Deputado Carlos Lacerda, em 1956 o documento continha um total de 14 documentos. Romanelli (1978) aponta que, havia um impasse no tocante à centralização ou não da organização dos sistemas de ensino.

As primeiras divergências surgiram com a crítica dos escolanovistas à descentralização do ensino. Porém, o auge do acirramento dos ânimos ocorreu quando o deputado Carlos Lacerda, político de discurso inflamado e representante dos interesses conservadores, deslocou a discussão para o aspecto da ‘liberdade de ensino’. Em 1959, Lacerda apresentou um substitutivo defendendo a iniciativa privada, por considerar competência do Estado o suprimento de recursos técnicos e financeiros e a igualdade de condições das escolas oficiais e particulares. (ARANHA, 2006, p. 310)

Hilsdorf (2003) atenta para o fato de que essa questão da centralização versus descentralização, tinha o propósito de desviar a atenção de um problema crucial sob a ótica da educação: a democratização do ensino num contexto de 50 % de analfabetos no país. Além disso, Ghiraldelli Jr (2009) ressalta que, no campo educacional, o Governo Vargas não obteve sucesso, tendo em vista, “[...] o contraste entre a política social verbalizada pela oratória oficial – que acenava para com a instalação de um estado do bem-estar social e, portanto, com a distribuição da educação para os setores economicamente menos privilegiados – e o resultado de sua política social efetiva” (GHIRALDELLI JR, 2009, p. 102). O autor

acrescenta que Juscelino promoveu a educação para o trabalho, ou seja, em conformidade com seu plano de metas, o crescimento do país, a industrialização, assim sendo, até o primário teria como norte a educação voltada para a profissão. “O espírito do desenvolvimento inverteu o papel do ensino público, colocando a escola sob os desígnios diretos do mercado de trabalho” (GHIRALDELLI JR, 2009, p. 103). Dessa forma, mais uma vez deparamo-nos com a escola excludente, na qual, os mais abastados estudam assuntos voltados ao intelecto e as massas ficam com os cursos técnicos.

É justamente, nesse clima, que o segundo manifesto, “Mais uma vez convocados”, foi escrito. Embora a LDB aprovada em 1961 estivesse distante dos ideais propostos pelos Pioneiros.

Os resultados podem ser classificados em duas ordens: os relacionados com o produto final obtido com a promulgação da lei, os quais, a nosso ver, foram negativos para a evolução do sistema educacional brasileiro, e os relacionados com a própria luta, em si mesma, a que antecedeu a promulgação da lei. Esses resultados, sim, foram altamente positivos, pois revelaram, entre outros aspectos, da parte dos educadores da velha geração de 30, agora acompanhados pelos da nova geração, uma disposição firme para a continuação da luta iniciada duas décadas antes, mas interrompida durante o intervalo ditatorial. A consciência aprofundada e amadurecida dos problemas relativos à nossa realidade educacional agora mobilizavam um contingente muito mais significativo do que aquele com que tinham contado “os pioneiros”. Participavam também da luta estudantes, operários e intelectuais. (ROMANELLI, 1978, p. 172)