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CAPÍTULO 1: PANORAMA HISTÓRICO DO BRASIL

1.4 A Educação

1.4.4 Reforma de Capanema

Além das mudanças empreendidas por alguns dos pioneiros do Manifesto de 32, as Leis Orgânicas, instituídas na Reforma de Capanema, no período de (1937-1945) que compreende o Estado Novo de Vargas, merecem destaque. Com a instauração do Estado Novo, o avanço proposto pelos Pioneiros da Educação Nova, como diria Romanelli (1978), passa a hibernar. O governo de Getúlio Vargas utiliza a máxima das ditaduras, ou seja, ditatorial e centralizador. Para Bomeny (2003), a atuação de Gustavo Capanema, tornou esse momento paradoxal: por um lado, a ditadura e seus efeitos; por outro, algumas mudanças que embora fossem elitistas, tiveram importância para a educação. Bomeny (2003) considera a atuação do ministério Capanema importante no contexto da história da educação, medidas há muito esperadas foram colocadas em prática na sua gestão, ficando para depois, após sua saída do Ministério, em 1946, “[...] as legislações sobre o ensino primário e o ensino normal, ou seja, as duas pontas do segmento da educação básica: alunos e professores” (BOMENY, 2003, p.52). Além disso, como diz Bomeny (2001), uma verdadeira constelação compunha a equipe que assessorava Capanema, um conjunto de intelectos notáveis pelas ideias e atuação na educação e cultura desse país.

Tratar a educação no Estado Novo é desafiante em vários sentidos. Reformas substanciais foram implementadas no ministério Gustavo Capanema, que teve sua vigência no período de 1934 a 1945, ou seja, desde antes do Estado Novo (1937) até o momento da redemocratização do país. Essa continuidade no Ministério da Educação é, por si só, uma particularidade que merece registro. O Brasil não foge à tradição latino-americana de instabilidade nas gestões ministeriais e desprestígio nas nomeações dos titulares da pasta educacional. Capanema não apenas se manteve ao longo de 11 anos à frente do Ministério da Educação e Saúde, o nome à época, como agregou em torno de si uma linhagem de homens ilustres nos campos da educação, da cultura e das artes, deixando-nos a responsabilidade de avaliar as políticas e projetos ali implementados, a despeito das estrelas de primeira grandeza que compunham a constelação do poder ministerial. Afinal, a formulação das políticas cultural e educacional para o Brasil contou com a atuação nem sempre simétrica, mas inequivocamente ativa, de intelectuais como Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Rodrigo Mello Franco, Alceu Amoroso Lima (mais tarde Tristão de Ataíde) e até Villa-Lobos, Jorge de Lima, Manoel Bandeira... Foi o ministério dos modernistas, dos Pioneiros da Escola Nova, de músicos e poetas. Mas foi também o ministério que perseguiu os comunistas, que fechou a Universidade do Distrito Federal (UDF), de vida ativa e curta, expressão dos setores liberais da intelectualidade do Rio de Janeiro (1935-39).

Foi, ainda, o ministério que apoiou a política nacionalizante de repressão às escolas dos núcleos estrangeiros existentes no Brasil (BOMENY, 1999, p. 129).

O Estado Novo via na educação a possibilidade de promover seus valores “[...] atribuídos à família, à religião, à pátria e ao trabalho – que já circulavam desde os anos 20 – para serem aceitos nacionalmente, por toda a sociedade, como bases de uma nação moderna” (HILSDORF, 2003, p. 99, grifo da autora). Além disso, Oliveira (1990) coloca em pauta a questão do nacionalismo, sendo o regime “novo” e “nacional”, pela primeira vez desde a Proclamação da República, o país adquire traços verdadeiramente nacionais, por ser um regime ditatorial, ocorre a recusa pelos padrões internacionais: “O moderno e o tradicional estão assim imbricados no princípio doutrinário que organiza o sistema político do país” (OLIVEIRA, 1990, p.194). Dessa forma, a cultura se torna essencial, e o Estado Novo “[...] constitui o modelo mais bem estruturado de relações entre a cultura e a política na história republicana” (OLIVEIRA, 1990, p.198). Essa constelação composta por intelectuais, cujas correntes ideológicas são distintas, propicia a socialização das ideias num ambiente totalmente adverso.

Apesar de toda a efervescência cultural, os Decretos-lei continuam presentes, reformas são implantadas pelo Ministro Gustavo Capanema utilizando-se dessa ferramenta. O movimento renovador, como disse Romanelli (1978), passa a hibernar, se esvazia, mantendo- se ativos e na luta, apenas alguns de seus representantes. Esses decretos não abarcavam todas as necessidades da educação, foram promulgados entre 1942 e 1946, com o nome de Leis Orgânicas.

a) Decreto- lei 4073, de 30 de janeiro de 1942: - Lei Orgânica do Ensino Industrial; b) Decreto- lei 4.048, de 22 de janeiro de 1942:

- Cria o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial; c) Decreto- lei 4.244, de 09 de abril de 1942:

- Lei Orgânica do Ensino Secundário;

d) Decreto- lei 6.141, de 28 de dezembro de 1943; Lei Orgânica do Ensino Comercial.

(ROMANELLI, 1978, p. 154)

Essas leis e as que se seguiram, à queda de Vargas, compuseram o ensino primário e médio no Brasil. Romanelli ressalta que acentuaram o que já existia, ou seja, a estratificação promovida pela elite. A oferta do ensino profissionalizante inflexível, a julgar pela impossibilidade de mudança de ramo por ocasião do ingresso no curso superior, ou mesmo no decorrer desses cursos, o aluno seria obrigado a recomeçar noutro ramo sem reaproveitamento de matérias. Além disso, a autora dá destaque ao ensino secundário, no qual, prevalece “[...] a

velha tradição do ensino secundário acadêmico, propedêutico e aristocrático” (ROMANELLI, 1978, p. 157). Bomeny (2003) também faz alusão à Reforma do Ensino Secundário de 1942, destacando que estava voltada para as elites, tendo orientação clássica humanista, enquanto, a formação profissional e técnica cabiam aos menos abastados. Para Aranha (2006), embora existisse a oferta do ensino voltado para a qualificação profissional, o número não abarcava a população de trabalhadores, os treinamentos desses funcionários acabavam nas mãos dos empregadores, uma vez que não existia escola para todos, além disso, em São Paulo “[...] entre 1951 e 1953 o número de trabalhadores cresceu 50%, enquanto o número de trabalhadores qualificados, em apenas 5%”. (ARANHA, 2006, p. 311)

Para Saviani (2010), no período de 1932-47, registrou-se um equilíbrio entre o ensino tradicional representado pelos católicos e o ensino renovador dos Pioneiros da Educação. Apesar dos desfechos por parte dos católicos contra os escolanovistas, ou das perseguições impedindo que fossem assumidos cargos na área de educação. Ainda assim, o autor considera que houve harmonia e equilíbrio envolvendo progresso e vanguarda no âmbito da educação.