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CAPÍTULO 1: PANORAMA HISTÓRICO DO BRASIL

1.5 Ideário da primeira metade do século XX no Brasil

1.5.2 Os reformadores Pioneiros da Escola Nova

O momento envolvia o compromisso entre diversas versões ideológicas presentes entre os Pioneiros da Educação. A versão ideológica dos educadores profissionais tinha sua atenção concentrada no fenômeno educativo, o exame da situação do mundo e dos pressupostos antropológico-filosóficos. Da mesma forma que a Igreja Católica, os Pioneiros também concordavam que o mundo estava em crise. Em crise por causa das transformações a partir do avanço científico-tecnológico. Uma transição mundial, envolvendo mudanças materiais, morais sob as influências da ciência, cuja experimentação transformou a vida material, social e moral.

Ordem e progresso, no início do século XX, superaram a aspiração democrática. Foram entendidos como etapas anteriores necessárias a uma discussão da democracia em termos mais confiáveis. As noções de progresso e democracia não caminharam necessariamente juntas. A ciência poderia trazer a chave, e através dela, seriam mais previsíveis e bem sustentadas as noções de racionalidade de procedimentos, de criação de sistemas nacionais nas áreas de política social- saúde, educação, cultura, patrimônio, relações de trabalho, previdência. Assim, a crença na intervenção do Estado e a fé nos progressos da ciência sedimentaram o projeto intelectual de parte significativa da geração do pós-1930 no Brasil. Num trecho da carta que remeteu a Monteiro Lobato, Anísio Teixeira, intelectual indiscutivelmente associado à democracia e à liberdade, enfatizou: "Estamos em cheio na atmosfera que devia dominar a Europa em 1848. À busca ainda de liberdades políticas e liberdades civis! Quando veremos que o problema da organização, e não o problema político, é o que realmente importa? Preparem-se os homens. Criem-se os técnicos.

Eles organizarão. Da organização virá a riqueza. E tudo mais, política sã, liberdades etc., etc., virá de acréscimo" (BOMENY, 2001, p. 20).

Para Cury (1978), as transformações advindas da idade Moderna, o maior conhecimento científico, o empirismo, racionalismo, positivismo alteraram a consciência do homem. Essas mudanças criaram novas perspectivas, em face dos avanços alcançados. Ou seja, maior acesso às conquistas materiais, porém, resultando no aumento do ceticismo, inquietação interior e desestrutura social. Desalicerçado, o homem comprometeu sua vida espiritual. Diante desse quadro, as mudanças foram necessárias, o autor faz citações do manifesto de 1932, no qual, constam passagens explicando esse processo. Conclui que, a educação, nesse contexto, também foi atingida, a responsabilidade pelas mudanças sociais não era dela, apenas refletiu o que ocorria com a sociedade. “Ela se ajusta às necessidades destas transformações, canalizando-as para os novos fins. Deve ela transformar-se no instrumento consciente do aperfeiçoamento social inteligente das novas gerações.” (CURY, 1978, p. 68)

O movimento renovador absorveu muito dos modelos externos. De fato, as inspirações se mesclaram na plataforma do movimento. Da França, os pioneiros retiveram a convicção de que era preciso criar um sistema nacional de educação sob a liderança e condução do Estado. Dos Estados Unidos, mantiveram o exemplo da extensão democrática com a propagação de uma escola pública, laica e gratuita. Mantiveram também a crença de que pela ciência se construiria educação de qualidade. A mescla desses dois modelos nas variantes apontadas – ênfase no sistema, no papel do Estado, na ciência e na reestruturação da sociedade pela educação – aproximou um leque amplo de intelectuais de orientações ideológicas muito distintas que estiveram às voltas com o empreendimento do pós-1930 (BOMENY, 2003, p. 45).

No tocante às mudanças, Cury (1978) destaca que a educação não é regida por valores absolutos, que as mudanças são refletidas nos ideais educacionais. O pensamento humano processou mudanças, o desenvolvimento das ciências transformou a economia e a sociedade, em consequência, a escola. A educação foi direcionada para a nova realidade do pensamento moderno, com base na realidade social, fundamentada na ciência e na filosofia. Para tanto, essa renovação necessitava de subsídios, um deles estava na formação dos professores para essa nova realidade, criando-se meios para que se atingissem os novos fins. Cury (1978) menciona que, no caso do Brasil, pelo fato de ser um país jovem, de território amplo, possuía baixa concentração coletiva, dificultando, assim, a comunição entre os núcleos sociais, as trocas econômicas e o intercâmbio moral. Esse quadro contribuiu com o individualismo dos grupos dirigentes, aumentando as distancias entre ricos e pobres, além de dificultar o surgimento das camadas médias. A instabilidade brasileira foi a somatória desses fatores,

“Mais grave que tudo, foi a ausência de um aparelho cultural capaz de determinar uma consciência mais nítida da realidade brasileira e habilitar as novas gerações a enfrentar os problemas e resolvê-los numa época em que a ciência faz parte de toda civilização e dos negócios públicos”. (CURY, 1978, p. 71)

Segundo Cury (1978), a salvação para os Pioneiros estava no humanismo científico- tecnológico, ou seja, o homem adaptado às mudanças promovidas pelas máquinas, pelas invenções. Desse quadro, para o autor, também fazia parte a antropologia, na qual prevalece a linguagem científica e sociológica.

Neste sentido o homem é mais descrito do que definido. E assim, o homem só existe

enquanto ser social. Indivíduo e sociedade não são termos contraditórios, mas

termos que se explicam um pelo outro. Nada há no homem-isolado que tenha nele seu princípio e seu termo. Por isso mesmo as faculdades humanas não existem em si mesmas, senão em função do meio social em que possam ser aplicadas e exercidas. Da mesma forma, os ideais morais não podem ser deduzidos fora das relações sociais, próprias de uma sociedade. (CURY, 1978, p. 76)

O papel da educação, para os Pioneiros, segundo Cury (1978), é integrador e promove a adaptação das gerações às novas situações existentes no âmbito social. Para o Brasil, os ideais renovadores assumirão o papel de um “músculo central da estrutura política e social da nação” (CURY, 1978, p. 81), tendo como local privilegiado a escola. Ou seja, o autor cita Fernando de Azevedo, quando destaca a escola, indo além da renovação escolar propriamente dita, dando à escola papel de destaque no tocante à tarefa social e nacional. Para tanto, o autor conclui que os pioneiros consideram uma das máximas, os princípios filosóficos que regem a educação; nesse contexto, o problema da educação não deve ser reduzido apenas à questão técnica, mas sim, como um problema filosófico. “Os princípios filosóficos investigam os valores mentais e morais mais amplos que podem e devem existir na vida social” (CURY, 1978, p. 82).

CAPÍTULO 2: OS MANIFESTOS DE 1932 E 1959