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A construção da identidade do professor (aluno – docente)

CAPÍTULO 2 A CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE DOCENTE INCLUSIVA NO

2.2 A construção da identidade do professor (aluno – docente)

Em relação à identidade docente, Nóvoa (1992) adverte que a identidade (ser e sentir- se professor) não é um dado, não é uma propriedade, não é um produto, mas a identidade é um lugar de lutas e conflitos, é um espaço de construção de maneiras de ser e estar na profissão.

Segundo Gatti (1996, p. 86 apud BRZEZINSKI, 2002, p. 9), “a identidade do professor é fruto de interações sociais complexas nas sociedades contemporâneas e expressões

sociopsicológicas que interage nas aprendizagens, nas formas cognitivas, nas ações dos seres humanos. Ela define um modo de ser no mundo, num dado momento, numa dada cultura, numa história”.

O sujeito professor se constitui historicamente, despojando-se de uma identidade fixa, uma vez que esta não é um dado imutável, externo, a ser adquirido, mas, sim uma diferença produzida no e pelo indivíduo numa complexa rede de relações de força. Como afirma Cardoso, “nós professores estamos sempre nos modificando, nos atualizando. Somos um produto sempre inacabado, cuja fabricação se dá no centro de múltiplas relações localizadas no interior da história do tecido social [...]” (apud PAIVA, 2003, p. 13).

Complementando o pensamento anterior, Pimenta (2002) entende que o processo de construção da identidade tem um caráter eminentemente histórico, ou seja, o sujeito localizado no tempo e no espaço, por meio da sua ação constrói, cria o conhecimento e o seu fazer profissional, dentro das possibilidades de seu determinante espaço histórico-cultural.

Isto significa que, de acordo com as circunstâncias e exigências postas pela sociedade em uma determinada época, o fazer profissional tem, historicamente, maneiras diferentes de atuação. Nesse sentido, Nóvoa (1995) ressalta que a identidade não é um construto histórico desde a antiguidade, o que significa que ao longo do tempo veio recebendo influências da época e passando por mudanças. Essas mudanças, experiências e ensinamentos foram transmitidos pelas gerações adultas de professores para os mais jovens, possibilitando-lhes a inserção no processo de aprendizagem didático-pedagógico. Sendo o homem um ser relacional quando em contato com os seus semelhantes, ele comunica as transformações por ele imprimidas na natureza, entendidas como cultura produzida.

Diante do que vimos expondo, é possível concordar com Pimenta (2002) que a identidade do profissional da educação não é algo estático, fixo, não suscetível de mudanças. Pelo contrário, é um dado mutável, dinâmico, não é externo de tal forma que possa ser

adquirido e emerge de um contexto histórico como resposta às necessidades postas pelas sociedades, adquirindo estatuto de legalidade.

A construção da identidade ainda pressupõe por parte do profissional docente, segundo Pimenta (2002, p. 19),

- Verificar qual a “significação social da profissão” e fazer a sua constante revisão;

- Fazer uma revisão das tradições, reafirmando as práticas culturalmente adotadas e tidas como significativas no atendimento das necessidades da realidade;

- Confrontar teorias e práticas, e, também, a análise das práticas à luz das teorias existentes e a construção de novas teorias.

A autora destaca três passos a serem seguidos para a construção da identidade do professor: o primeiro consistiria na mobilização dos saberes da sua experiência acumulados como profissional, ou seja, os saberes produzidos pelo docente no seu cotidiano, num processo constante de reflexão crítica.

O segundo passo de Pimenta (2002) refere-se ao conhecimento ou ao domínio das áreas específicas. A tarefa do professor é, pois, a produção de conhecimentos e a criação de condições para que esta ocorra. Tudo isso exige uma conscientização quanto ao poder influenciador-direcionador e determinante do conhecimento – em relação à vida material e social dos indivíduos da sociedade independente do seu grau de desenvolvimento.

O terceiro passo na construção da identidade aponta para os saberes pedagógicos inerentes ao profissional docente. Saber ensinar pressupõe experiência, conhecimentos específicos e saberes pedagógicos didáticos. É nesse tripé que podemos apoiar a formação do profissional docente e atribuir-lhe uma identidade. Na análise da história da formação dos professores, esses saberes têm sido trabalhados de forma fragmentada, desarticulada, ou seja, conforme a época um saber se sobressai em relação ao outro, prioriza-se mais determinado saber em detrimento de outro.

O processo de reflexão ou a formação de um professor reflexivo também deve ser incentivado na formação profissional. Schön (1992) propõe uma formação profissional baseada numa epistemologia da prática, isto é, valoriza na formação uma prática “refletida”, tornando o professor capaz de responder às situações novas, nas situações de indefinição e incerteza. Segundo o autor, é através de um triplo movimento que o professor se constitui como profissional autônomo: da reflexão na ação, que seria um momento de surpresa do professor diante do aluno; da reflexão sobre a ação, em que o professor, diante de situações novas, cria e constrói novos caminhos; e, com olhar retrospectivo, é possível a reflexão sobre a reflexão sobre a reflexão na ação, o que significa “uma ação, uma observação e uma descrição, que exige o uso de palavras” (SCHÖN, 1992, p. 83).

Seguindo a mesma direção anterior, Zeichner (1993) afirma que o professor precisa desenvolver uma atitude reflexiva em relação ao seu ensino, sendo o professor um prático reflexivo. Para ele essa prática reflexiva pressupõe que a atenção do professor deve estar tanto virada para dentro, para a sua própria prática, como para fora, para as condições sociais nas quais se situa essa prática. Ressalta também que a segunda característica da prática reflexiva é a sua tendência democrática e emancipatória e a importância dada às decisões do professor quanto a questões que levam a situações de desigualdade e injustiça dentro da sala de aula. Reconhecendo o caráter político de tudo o que os professores fazem, a reflexão não pode ignorar questões como a natureza da escolaridade e do trabalho docente ou as relações entre raça e classe social por um lado e o acesso ao saber escolar e o sucesso escolar por outro.

Essa análise a respeito da construção da identidade do professor e do seu processo de formação como prático reflexivo nos conduz a pensar no professor-formador como um importante ator nesse processo, tendo em vista que não se constrói uma identidade ou uma formação sem que tenhamos o professor-formador como mediador desse processo. Nesse sentido, Zeichner (1993) afirma que com o conceito de ensino reflexivo, os formadores de

professores têm a obrigação de ajudar os futuros professores a interiorizarem, durante a sua formação inicial, a disposição e a capacidade de estudarem a maneira como ensinam e de melhorarem com o tempo.

Perante essa realidade, a tarefa do professor-formador consistiria em ajudar os futuros professores a adquirirem as atitudes, os saberes e as capacidades essenciais para o desenvolvimento de um trabalho eficiente junto a uma população estudantil variada, possibilitando-lhes o desenvolvimento de capacidade reflexiva, para que tenham meios de intervenção na realidade, com o intuito de transformá-la. No entanto, fazendo uma ligação com o nosso objeto de estudo, que é a construção de uma identidade docente inclusiva, partimos do pressuposto de que se queremos perceber a abordagem de um determinado programa de formação de professores não basta olhar para o seu conteúdo curricular, mas é preciso ver também os saberes mobilizados pelo professor-formador, ou seja, que conhecimentos esses professores têm mobilizado e como têm mobilizado.

Dessa forma, não podemos prosseguir nessa discussão sem fazermos uma análise mais aprofundada dos saberes do professor, tendo em vista que o trabalho docente ou a prática docente é uma atividade que mobiliza diversos saberes, pois, como afirma Tardif (2005), “um professor é, antes de tudo, alguém que sabe alguma coisa e cuja função consiste em transmitir esse saber a outros” (p. 31).

2.3 Os saberes do professor-formador: quais são, de onde vêm e como são construídos