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A instituição como cenário da pesquisa: aspectos didático-pedagógicos

CAPÍTULO 4 A CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO E O PERFIL DOS SUJEITOS

4.2 A instituição como cenário da pesquisa: aspectos didático-pedagógicos

Justificamos a opção pela Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (FACHO) por ser considerada uma instituição que se destaca pela preocupação com a formação de professores para trabalhar com as pessoas com deficiência, além de ser também uma das poucas instituições que promove a “inclusão” de pessoas surdas na sala de aula regular em seu curso de Pedagogia.

O histórico da faculdade nos revela alguns dados interessantes em relação ao interesse pelas pessoas com deficiência. No ano de 1993, foi inaugurada a clínica de audiocomunicação e em Março de 1996, foi fundada a “Escola para Deficientes Auditivos”, que funciona atualmente como prestação de serviços às comunidades carentes e também como campo de estágio para os alunos do curso de Pedagogia.

Fundada em 1973, a FACHO congrega atualmente uma comunidade acadêmica de 1.217 alunos, 41 funcionários e 61 professores. Atualmente oferece os cursos de Letras, Pedagogia e Psicologia, conforme quadro apresentado abaixo:

Tabela n.02 – Descrição dos cursos DESCRIÇÃO DOS

ÍTENS

LETRAS PEDAGOGIA PSICOLOGIA

Habilitação Licenciatura Plena em Língua Portuguesa e inglesa e suas respectivas literaturas.

Magistério e Administração Escolar; Magistério e Educação Especial e Magistério das Disciplinas pedagógicas.

Formação de Psicólogo e Licenciatura em

Psicologia

Vagas 60 por ano 120 por ano 175 por ano

Turno Noite Tarde e noite Tarde e noite

Duração Mínima 07 semestres 07 semestres 07 semestres Duração Máxima 12 semestres 12 semestres 16 semestres

Em relação ao curso de Pedagogia consta no histórico da faculdade que o mesmo recebeu autorização do MEC em 16 de janeiro de 1973, tendo seu reconhecimento em 05 de novembro de 1976. A concepção do curso está regida por um princípio básico que se fundamenta na formação sintonizada com a identidade do professor que se baseia na tríade:

saberes das áreas específicas; saberes pedagógicos e saberes da experiência. Consta em sua fundamentação teórico-metodológica que o curso está baseado em princípios e procedimentos que visam a valorização da diversidade, reconhecendo a pluralidade cultural brasileira como instrumento de negação à intolerância, à intransigência e à exclusão.

O curso tem como objetivos gerais formar um pedagogo capaz de assumir o trabalho pedagógico como educador estando habilitado a compreender criticamente a realidade e suas perspectivas para transformação. Dentre os objetivos específicos destaca-se o de compreender as especificidades dos portadores de necessidades educacionais especiais, tendo como princípio a inclusão educacional.

Em relação ao perfil geral do egresso, consta no PDI que se deseja formar: profissional habilitado a atuar no ensino de disciplinas de formação pedagógica nível médio, na modalidade normal, tendo a docência como base da sua atuação profissional; conhecimento estrutural, organizacional e cultural da realidade educacional; preparo técnico-pedagógico subsidiado por princípios sócio-histórico, comprometimento com transformações sociais necessárias. O perfil do egresso quanto às Habilitações é definido da seguinte forma:

a) Habilitação em Administração: profissional preparado para realizar o trabalho pedagógico compreendido como exercício da organização e gestão escolar numa perspectiva transformadora;

b) Habilitação em Educação Especial: profissional preparado com conhecimentos e técnicas específicas para atender aos educandos com necessidades especiais [deficiência na áudio-comunicação] para exercer um trabalho numa perspectiva transformadora, desmistificando preconceitos existentes e buscando cada vez mais a inclusão no processo educativo.

Na organização curricular do curso, fica evidente a preocupação com a formação de professores para a educação especial, uma vez que ao longo dos sete semestres são oferecidas

as seguintes disciplinas: Anatomia, Fisiologia e Patologia dos órgãos da Audição e Fonação (quarto período); Língua de Sinais, Aquisição e desenvolvimento da linguagem do DAC, Introdução ao Estudo do Excepcional (quinto período); Estágio Supervisionado de Educação Especial I (sexto período); Problemas Sociais do Deficiente da Audiocomunicação; Estágio Supervisionado de Educação Especial II (sétimo período). É importante ressaltar que somente a partir do quinto período o aluno poderá optar pela habilitação em Educação Especial ou Habilitação em Administração Escolar.

Além dos aspectos didático-pedagógicos foi observado também o espaço físico da instituição, tendo como objetivo prioritário perceber como se organiza o espaço para receber as pessoas com deficiência. Observou-se que a FACHO disponibiliza aos seus alunos Auditórios (2), Biblioteca, Brinquedoteca, laboratório de informática, laboratório de línguas, sala de multimeios, sala de internet, escola de surdos. Pode-se observar também em sua estrutura e em seus recursos físicos uma preocupação com as pessoas com deficiência, já que para ter acesso aos pavimentos superiores existem além das escadas, rampas em todos os andares do prédio. Observou-se também a existência de cadeiras de rodas que podem ser disponibilizadas aos alunos com deficiência física e telefones públicos para surdos.

A escola especial para surdos funciona no horário da manhã, possui 20 alunos, 03 professoras e 03 intérpretes. O objetivo da escola é preparar o aluno com deficiência auditiva para ingressar numa escola comum. A escola especial foi criada para atender os seguintes objetivos:

• Promover o atendimento especializado e a educação integral da criança deficiente auditiva, notadamente as menos favorecidas;

• Efetuar uma prestação de serviços à comunidade através do atendimento às pessoas com deficiência de audição e comunicação, e

• Servir de campo de estágio para alunos de graduação em Pedagogia pela habilitação: Educação de Excepcionais em Deficiência auditiva.

Outro aspecto observado foi a existência de intérpretes em todas as salas de aulas onde estão inseridos alunos com surdez, sendo que alguns desses profissionais são os próprios alunos do curso de Pedagogia. A chefe de departamento de educação destaca que a experiência em ter como intérpretes alunos do próprio curso tem sido bastante positiva, já que há um engajamento maior por parte dos mesmos.

Dessa forma, a análise do Plano de Desenvolvimento Institucional, da grade curricular do curso e da estrutura física da faculdade, nos possibilitou direcionar o nosso olhar no sentido de compreender o nosso objeto de forma mais ampla, sendo, portanto, uma fonte de informação extremamente importante e enriquecedora para o tratamento dos dados.

No entanto, não podemos deixar de salientar alguns aspectos que consideramos interessantes nessa análise inicial. Primeiramente, queremos destacar o fato de que a habilitação em Educação Especial ao priorizar quase que exclusivamente o aluno surdo, revela de certa forma uma concepção excludente em relação às pessoas com deficiência, tendo em vista que a inclusão como afirma Ainscow (1997) refere-se à superação de barreiras para que haja a participação de quaisquer alunos, ou seja, a inclusão não deve e não pode estar restrita apenas aos alunos surdos, mas estende-se a todos aqueles que estão de certa forma excluídos, sejam eles negros, brancos, meninos de rua, pessoas com quaisquer tipos de deficiência, etc. Portanto, quando a faculdade enuncia que os objetivos do curso de Pedagogia estão norteados pelo princípio da inclusão educacional, comete um equívoco tendo em vista que a inclusão é um processo muito mais amplo, não podendo se restringir somente à formação de professores para trabalhar com alunos surdos.

Outro aspecto que gostaríamos de destacar é a preocupação da faculdade apenas com a “inclusão” do aluno surdo na sala de aula regular, o que evidencia também uma concepção excludente, já que os alunos com outros tipos de deficiência ficam a margem do processo, não podendo beneficiar-se de uma educação de qualidade que atenda a necessidade de todos. Essa exclusão encontra-se presente também em relação ao próprio aluno surdo na escolha da habilitação, tendo em vista que, como vimos através dos relatos dos próprios alunos em entrevista, os surdos podem fazer a habilitação apenas em Educação Especial, uma vez que, somente aos alunos que cursam essa habilitação é oferecido o serviço dos intérpretes, portanto, não é possível ao surdo escolher a habilitação em Administração Escolar, já que não teria o suporte necessário para a conclusão do curso.